A própria terra
ostentava solo fértil e água abundante, resultando em colheitas variadas. Sob a
sábia liderança do velho Belmiro, as provisões eram distribuídas de acordo com
as necessidades individuais de cada membro da comunidade, garantindo a sua
sobrevivência coletiva. Os habitantes desta comunidade tinham interação mínima
com a cidade; eles eram quase totalmente autossuficientes. Envolvidos em
atividades como agricultura, colheita e tecelagem, não tinham interesse em
documentos de propriedade ou dinheiro. Em vez disso, o seu desejo era encontrar
uma nova terra onde pudessem manter o seu modo de vida atual.
Guaracy, em seu
caráter informativo, revela que obteve com sucesso autorização de diversas
empresas e procedeu à compra do restante da Fazenda do João Alves de Morais
(vulgo João do Aarão). Neste terreno foram construídas seis casas, cada uma com
sua área cercada e escritura oficial. Além disso, foi proporcionado
a eles acesso à água, garantindo que tivessem tudo o que desejavam. Como gesto
de compensação, cada casal também recebeu Cr$ 10.0000,00 (dez mil cruzeiros) em
26 de janeiro de 1956.
Em certas
ocasiões, o historiador atravessava o lago de barco, acompanhado de alguns
amigos, e comemorava com “foguetes, bebidas e biscoitos” junto com os
quilombolas. Estas confraternizações
festivas prolongavam-se até altas horas da manhã, com danças animadas no
terreiro ao ritmo da cabecinha de égua, acompanhadas pelos sons melodiosos dos
oito contrabaixos de Vicente Ventura. Os indivíduos expressaram profunda
gratidão, no entanto, constataram de que a terra em si não era tão fértil como
esperavam. Consequentemente, tomaram a decisão de vender suas propriedades.
Inicialmente, aqueles que procuravam um retiro à beira do lago eram os
principais compradores. Infelizmente, a cidade não se mostrou benéfica para
muitos deles e apenas alguns fizeram algum progresso significativo.
Às vezes, ainda segundo
Guaracy, recebia mensagens solicitando transporte de barco para levar Belmiro
ao hospital, pois foi um amigo fiel até sua morte. A companheira de Belmiro,
Dona Conceição, também faleceu na cidade após viver uma vida marcante e longa
ao lado do patriarca. O historiador ainda ressalta que as histórias de todos
aqueles habitantes permaneceram intacta em suas memórias, incluindo Joaquim
Rodrigues (viúvo), João Rodrigues casado com Mercês Maria Rodrigues; Marinho Rodrigues c/c Maria Severina de Jesus; Francisco Rodrigues c/c Vicentina
Rodrigues de Paula; José Rodrigues c/c Maria Alves Rodrigues;
Divino Rodrigues c/c Raimunda Vieira Rodrigues, bem como outros
indivíduos ainda menores de idade. Destaca que se tratava de pessoas de bom
caráter, honrados, humildes, indiferentes às agruras da vida, exemplificando a
natureza pacífica e vida dinâmica daqueles verdadeiros quilombolas.
Hipótese
Após realizar uma breve investigação sobre o líder quilombola Belmiro, estou confiante de que as informações que encontrei estão alinhadas com as conclusões do pesquisador Guaracy. Para verificar ainda mais a veracidade, seria necessário o acesso às escrituras de terra daquela época. Com base nos documentos que examinei posso fornecer os seguintes dados: o nome completo do patriarca era Belmiro Severino Rodrigues, natural de Itaúna. Faleceu em 17 de abril de 1968, aos 78 anos, no dia seguinte foi sepultado no Cemitério Central do município de Itaúna. O registro de óbito o categoriza como filho de Carlota de tal, o que é bastante intrigante. Vale ressaltar que o nascimento de Belmiro ocorreu por volta de 1890, período pós-abolição. A partir disto, pode-se razoavelmente presumir que a sua mãe provavelmente tinha sido escravizada antes deste ato significativo de mobilização.
Pesquisa e
organização: Charles Aquino - Historiador Registro Profissional nº 343/MG
Fonte Impressa: NOGUEIRA, Guaracy de Castro. In
Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em detalhes. Ed. Jornal Folha
do Povo, 2003, fascículo 34.
Imagem Ilustrativa: Autor Johann Moritz Rugendas, Escravidão, Habitation de négres, 1827. Brasiliana Iconográfica, Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana/Fundação Estudar. Doação da Fundação Estudar, 2007. Disponível em: https://www.brasilianaiconografica.art.br/obras/19497/habitation-de-negres
Cemitérios
Municipais: Prefeitura Municipal de Itaúna. Registro de óbito. Disponível em: https://www.itauna.mg.gov.br/portal/cemiterios/7207/
Certidão de óbito MG Cidadão: Disponível em: https://cidadao.mg.gov.br/#/login