Nascido no arraial de Santana do Rio São João Acima,
hoje Itaúna (MG), em 7 de agosto de 1902, João Dornas Filho despontou como uma
figura literária multifacetada, destacando-se como romancista, contista,
ensaísta, historiador e biógrafo. Crescendo em uma família de 12 irmãos - Maria (1893), Umbelina (1895), Blandina (1897), Manoel (1898), Helena (1900), Laura (1903), Abel (1905), Noêmia (1906), Margarida (1908), Eunice (1916), Renê (1914) e Suzana (1918) - era
filho de João Dornas dos Santos (1858-1938), defensor da emancipação do município, e de
Maria Eugênia de Mello Vianna (1874-1960).
João Dornas, conhecido pelo apelido de Záu, era um
indivíduo autodidata e com profunda paixão pela literatura e pelo conhecimento.
Apesar de ter frequentado apenas a escola primária no Grupo Escolar Dr. Augusto
Gonçalves, conseguiu cultivar uma cultura vasta e refinada através do seu
próprio esforço. Considerado por muitos uma excentricidade intelectual, Dornas
Filho foi descrito como uma pessoa humilde e afável por seus entes queridos e
amigos.
O Suplemento Literário Mineiro de 1977, publicou um
artigo intitulado "Literatura Mineira: João Dornas Filho e Júlio
Ribeiro", que traz um retrato detalhado do escritor que o descreve como
uma pessoa de temperamento extrovertido, era companheiro de todos, abraçando um
estilo de vida boémio que lhe era único. Ele foi um estudioso diligente e
curioso, receptivo a todas as formas de expressão artística e ressonância
emocional. Ele defendeu destemidamente suas crenças, disposto a se envolver em
debates controversos quando necessário. Um modelo de responsabilidade e
integridade intelectual inabalável.
Na década de 1920, Dornas mudou-se para a capital mineira com o intuito de buscar oportunidades de trabalho e estabelecer conexões na
área do jornalismo. Foi nesta movimentada capital mineira que fez amizade com
conceituados intelectuais e artistas, tanto locais como de todo o mundo.
Notavelmente, o renomado pintor Di Cavalcante chegou a imortalizar Dornas por
meio de uma caricatura cativante, hoje valorizada e protegida pela Prefeitura
de Itaúna.
Em 1928, Dornas colaborou com Guilhermino César e
Aquiles Vivacqua para estabelecer ligações com Mário de Andrade, contribuindo
ativamente para o avanço do movimento modernista em Belo Horizonte. Seus
esforços incluíram a edição do influente panfleto Leite Criôlo, uma importante
publicação alternativa dentro da imprensa modernista. Essa publicação não só
teve profundo impacto em Minas Gerais, mas também repercutiu em São Paulo e no
Rio de Janeiro.
João Dornas Filho é uma figura
proeminente na história literária de Itaúna e de Minas Gerais. Ele foi eleito
para a cadeira número 12 da Academia Mineira de Letras (AML) em 1945, cujo
patrono é Alvarenga Peixoto, um renomado poeta do período colonial brasileiro.
Dornas Filho se destacou não apenas por suas contribuições literárias e
históricas, mas também por seu empenho em promover a inclusão das mulheres nas
atividades acadêmicas da AML.
Durante sua trajetória na AML,
João Dornas Filho enfrentou desafios significativos ao tentar modificar os
estatutos da instituição para permitir uma maior participação feminina. Ele
acreditava na importância da inclusão das mulheres no campo literário e
acadêmico, reconhecendo o valor e as contribuições que poderiam trazer para a
academia. Apesar de seus esforços persistentes, Dornas encontrou resistência
entre seus colegas e não conseguiu implementar as reformas desejadas durante
seu tempo na AML.
Dornas Filho é amplamente
reconhecido como uma das figuras mais destacadas de Itaúna, expressando
continuamente um profundo respeito e apreço por sua cidade natal. Sua obra
reflete os valores culturais de Itaúna, e ele usou suas palavras para celebrar
e preservar a história e as tradições locais. Como historiador e escritor, João
Dornas Filho contribuiu significativamente para o entendimento da história de
Minas Gerais e do Brasil, e suas publicações são consideradas referências
fundamentais nesse campo.
Além de sua atuação na AML, Dornas Filho deixou um legado duradouro em Itaúna, onde seu compromisso com a cultura e a educação continua a ser lembrado e valorizado. A sua dedicação à inclusão e à promoção da diversidade literária reflete a missão da Academia Mineira de Letras de ser um polo irradiador de educação, inclusão e cidadania. Sua história serve como inspiração para futuras gerações de escritores e acadêmicos, tanto homens quanto mulheres, a continuarem a lutar pela igualdade e pela valorização das contribuições literárias de todos.
"Desafortunadamente", faleceu em 11 de dezembro de 1962, sendo sepultado no Cemitério Bonfim , em Belo Horizonte/MG, na Quadra 16, Jazigo 271.