terça-feira, outubro 28, 2025

GABRIEL: O FUNDADOR

Gabriel da Silva Pereira: o Fundador de Sant’Ana do Rio São João Acima (Itaúna/MG)

A história de Itaúna — antigo arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima — nasce das trilhas abertas pelos desbravadores que, no início do século XVIII, deixaram o litoral e adentraram os sertões em busca de ouro, terras e novas devoções. 

Entre esses pioneiros, um nome ergue-se como símbolo da origem da cidade: Gabriel da Silva Pereira, português da província do Minho, homem de fé, minerador, sertanista e fundador do núcleo que se tornaria o coração de Itaúna/MG.

Mais que um simples colonizador, Gabriel representou o elo entre dois mundos: o europeu e o bandeirante, a disciplina régia e a religiosidade popular. Sua trajetória, assim como a de sua esposa Florência Cardoso de Camargo, descendente direta do bandeirante João Lopes de Camargo, uniu as tradições de Portugal e São Paulo, fixando em terras mineiras o início de uma longa linhagem que moldou a sociedade itaunense.

Gabriel da Silva Pereira era natural de Barcelinhos, freguesia às margens do rio Cávado, no Concelho de Barcelos, Arquidiocese de Braga, província do Minho, norte de Portugal — região de antigas tradições rurais e religiosas. Consta, embora sem comprovação documental definitiva, que era filho do Juiz de Vintena Joaquim Pereira, homem de posição e influência local.

Chegou ao Brasil ainda jovem, com menos de vinte anos, no final do século XVII, em meio ao movimento migratório de portugueses atraídos pelas recém-descobertas minas de ouro. Por volta de 1720, Gabriel encontrava-se firmemente estabelecido nos sertões do rio São João, em território que mais tarde formaria Itaúna, possuindo escravos e trabalhando na mineração aurífera e na ocupação das margens dos rios São João, Manso e Paraopeba.

Gabriel fixou residência definitiva na paragem do rio São João, onde ergueu as primeiras moradias e roças, abrindo a picada que ligava Bonfim a Pitangui, percurso de dezoito léguas (cerca de 108 km). Essa antiga rota, margeando o rio São João até a foz do rio Pará, foi o caminho que deu origem ao núcleo do atual município de Itaúna.

Naquela época, o sertão mineiro era território de risco e de promessas. Gabriel manteve estreitas relações com os desbravadores Thomaz Teixeira, Manoel Neto de Mello e Manoel Teixeira Sobreira, todos ligados à família do bandeirante João Lopes de Camargo — cujas filhas vieram a casar-se com esses pioneiros, estabelecendo alianças familiares e econômicas que estruturaram o domínio da região.

Florência Cardoso de Camargo: Herdeira do Sangue Bandeirante

Gabriel casou-se com Florência Cardoso de Camargo, descendente direta do bandeirante João Lopes de Camargo, unindo, assim, as tradições portuguesas de Barcelos ao sangue bandeirante paulista. O casal teve filhos legítimos e também filhos naturais, aos quais Gabriel concedeu terras e dotes, garantindo-lhes sustento e posição. 

Entre eles destacam-se Timóteo da Silva Pereira, casado com Antônia Maciel, e Francisca da Silva Pereira, esposa de Manoel Pinto Madureira, ambos estabelecidos nas sesmarias do Pará e São João.

Esses filhos e genros herdaram as propriedades que originaram fazendas, sítios e povoados rurais que se tornaram o embrião do território itaunense. Os filhos legítimos receberam as principais terras como dote e herança, perpetuando o patrimônio da família Pereira-Camargo-Madureira.

Casada com Gabriel da Silva Pereira em 12 de agosto de 1739, na Capela de São Francisco Xavier, freguesia de Cachoeira do Campo, Florência Cardoso de Camargo nasceu em 1719, na Fazenda Ribeirão do Gama, freguesia de São Sebastião (atual distrito de Bandeirantes, Mariana/MG). Era filha do bandeirante João Lopes de Camargo, um dos grandes desbravadores do interior mineiro.

Florência faleceu em 25 de setembro de 1800, sendo sepultada na Capela de Santana, em Santana do Rio São João Acima — local onde hoje se ergue a Igreja Matriz de Itaúna, símbolo da continuidade da fé e da memória da fundadora.


Seu inventário, arquivado no Instituto Histórico de Pitangui, teve sentença de partilha proferida em 22 de novembro de 1834. Entre os descendentes, destaca-se o Padre José Teixeira de Camargo, que em 1814 figurava como administrador e testamenteiro, reforçando a vocação religiosa que atravessou gerações.

A tradição local registra que, por volta da terceira década do século XVIII, Gabriel da Silva Pereira foi o responsável pela fundação do povoado da “Paragem do São João Acima” ao erguer um oratório. Esse gesto de fé, típico dos fundadores do período colonial, representou não apenas um ato devocional, mas o verdadeiro marco simbólico do nascimento do arraial. Em torno desse templo primitivo cresceram as casas, as lavras, as famílias e a fé — base sobre a qual se edificaria o futuro município de Itaúna/MG.

LEGADO HISTÓRICO

Gabriel da Silva Pereira recebeu o posto de Sargento-Mor, título dado a homens de reconhecido prestígio, posses e serviços à Coroa. Em 1724, já figura como irmão da Irmandade do Santíssimo Sacramento de Cachoeira do Campo, fundada em 1716, o que confirma sua inserção no universo religioso e político da época.

Em 1741, já como morador de Cachoeira do Campo, Gabriel obteve uma sesmaria de meia légua em quadra no Paraopeba, em terras limítrofes às de Manoel Teixeira Sobreira, Manoel Pereira da Cruz, Domingos de São José e Silva e outros. A carta de concessão menciona que as medições foram feitas “fazendo pião em um pau grosso de gameleira”, descrição típica das demarcações coloniais do período.

Posteriormente, entre 1751 e 1754, recebeu outras duas sesmarias: uma nas cabeceiras do rio São João, termo de Pitangui, e outra na Paragem do Rio Pará, onde estabeleceu seus filhos e genros. Nessas terras, desenvolveram-se lavras de ouro, currais e roças, que se tornariam o embrião econômico e social do futuro arraial de Santana do Rio São João Acima.

Homem de ação, Gabriel participou de movimentos de defesa e ocupação da região. Em 1758, organizou uma expedição contra quilombolas, que ameaçavam os primeiros povoadores de Minas, partindo de Pitangui com conterrâneos portugueses como Antônio Rodrigues da Rocha, Domingos Gonçalves Viana, Antônio Dias Nogueira e Luiz da Silva, acompanhados de escravos e guias. O grupo combateu os quilombos entre os rios Lambari e São Francisco, garantindo a segurança das lavras e das fazendas e permitindo a posterior ocupação por mineradores e lavradores.

Esses feitos, reconhecidos pelas autoridades, levaram à concessão de novas sesmarias em retribuição aos serviços prestados à Coroa, consolidando o prestígio e a liderança de Gabriel no território que ajudava a moldar.

A atuação de Gabriel da Silva Pereira não se limitou a Itaúna. Fontes históricas apontam sua presença decisiva na formação do Espírito Santo do Itapecerica (atual Divinópolis). Segundo o historiador Flávio Flora, foi ele quem levou a imagem de São Francisco de Paula, vinda de Ouro Preto, para a nova capela construída em 1763, e incentivou o crescimento do povoado, já então vinculado às rotas entre Pitangui, Tamanduá e São João del-Rei.

A narrativa local preserva a lembrança de que o Juiz de Vintena Joaquim Pereira enviou seu filho, o Sargento-Mor Gabriel da Silva Pereira, à frente de camaradas e vizinhos, para fixar moradia e fundar o marco civilizatório na região — o que demonstra seu papel pioneiro também na expansão de outros núcleos do centro-oeste mineiro.

Na Revista do Arquivo Público Mineiro (1907, ano XIII, folha 77), consta a existência de uma Capela de São Vicente Ferrer, situada em sua fazenda, no alto do Morro do Gabriel, posteriormente substituída, em 1904, por uma capela de pedra erguida no mesmo local. Esse dado reforça a perenidade de sua influência e a memória devocional que o nome “Gabriel” manteve na paisagem local por mais de um século.

Durante o século XIX, os descendentes de Gabriel continuaram entre as famílias mais influentes da freguesia. Seus nomes aparecem em inventários, batismos e casamentos da comarca de Pitangui, confirmando sua presença constante no espaço social e religioso.
Com o passar do tempo, as gerações seguintes fundiram-se com outros troncos familiares, como os Rodrigues da Silva, Penido, Fonseca, Nogueira e Camargos, perpetuando a linhagem fundadora até o século XX.

Em 1761, Gabriel exercia o cargo de Presidente do Senado da Câmara de Pitangui, o que confirma seu reconhecimento político e econômico. Faleceu provavelmente em 1762, com cerca de setenta anos, deixando viúva Florência, que sobreviveria mais trinta e dois anos.

A trajetória de Gabriel da Silva Pereira representa o elo entre o bandeirismo paulista e a fixação luso-brasileira no interior de Minas. Sua vida reflete o tripé que moldou o território mineiro: a fé, o trabalho e a posse da terra.

Fundador, sertanista e devoto, ele não apenas desbravou as matas e as margens do rio São João, mas lançou os alicerces da comunidade que, séculos depois, daria origem à cidade de Itaúna — espaço de fé, memória e identidade. Seu nome permanece como símbolo da coragem e da esperança que ergueram, sobre a antiga picada dos desbravadores, o coração de uma cidade mineira.




Referências:

Elaboração e Pesquisa: Charles Aquino

 SILVA, Edward Rodrigues da. O bandeirante João Lopes de Camargo. Revista da ASBRAP – Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, n. 20, p. 348–350, 2022. Disponível em: https://asbrap.org.br/artigos/rev20_art16.pdf  Acesso em: 28 out. 2025.

NOGUEIRA, Guaracy de Castro. Itaúna em Detalhes - Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa. Edição: Jornal Folha do Povo, 2003, Fascículos, 6-9, 16-18.

DIOCESE DE DIVINÓPOLIS. Histórico da Paróquia de Sant’Ana – Itaúna. Diocese de Divinópolis, [s.d.]. Disponível em: https://diocesedivinopolis.org.br/historico-da-paroquia-de-santa-ana-itauna/  Acesso em: 28 out. 2025. 

Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.

terça-feira, outubro 21, 2025

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE VII)

Das Ruínas à Forma — dia após dia, o renascer de uma história!

Por muitos anos, o antigo prédio da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira foi lembrado apenas como “as ruínas do hospital”. Paredes abertas, janelas vazias e o silêncio de um tempo que parecia ter se encerrado marcaram por décadas a paisagem do local.

Mas hoje, esse cenário mudou. O que antes simbolizava o abandono, agora revela um novo tempo: o tempo da reconstrução, da esperança e do renascimento da memória.

Dia após dia, o antigo hospital vai tomando forma. É o labor das mãos trabalhadoras que substitui o eco do esquecimento por sons de reconstrução.

Em cada marco de porta ou janela, assentado cuidadosamente pelas mãos dos operários e sob o olhar atento dos responsáveis pela obra, a restauração vai dando forma e robustez ao edifício. Cada detalhe recuperado é mais do que uma ação técnica — é um gesto de respeito à memória e à história do município de Itaúna.

Um patrimônio que volta a respirar. As obras de revitalização seguem em ritmo acelerado e já alcançaram importantes etapas. A parte interna do prédio histórico foi totalmente recuperada, incluindo laterais e fundos, e as equipes agora concentram esforços na recuperação da fachada frontal, que começa a revelar, novamente, o traçado original do edifício.

A próxima fase será a instalação do novo telhado, devolvendo ao prédio a proteção e a imponência que o tempo havia levado. O projeto respeita cada linha e proporção da construção original, mantendo intactas as estruturas principais — um testemunho da qualidade e da solidez da obra erguida há mais de um século.

O objetivo é que o edifício, antes tomado pelas ruínas, abrigue o novo centro administrativo do Hospital Manoel Gonçalves, devolvendo-lhe função, vida e relevância comunitária. Mais que uma restauração arquitetônica, trata-se de um ato de reverência à história da saúde e da caridade em Itaúna — respeito à origem e à fé.

O altar centenário da antiga capela, que está aos cuidados do museu do município, retornará ao local, compondo a nova capela que será erguida no interior do prédio restaurado.
Será, ao mesmo tempo, um retorno físico e simbólico — o reencontro entre o espaço e a fé que lhe deu origem.

 Guardiões da memória — por trás das paredes recompostas, há rostos e mãos que trabalham com devoção. Cada registro fotográfico, cada pedra recolocada, cada traço de tinta que devolve cor ao reboco é testemunha viva desse novo tempo. Os restauradores, o arquiteto, historiadores, parlamentares colaboradores e gestores que acompanham a obra tornam-se, assim, guardiões da história — fiéis à missão de preservar o que o tempo tentou apagar.

O símbolo que se recusa a desaparecer — o antigo hospital foi, por muitos anos, o coração da solidariedade itaunense. Agora, ele volta a pulsar — não mais como ruína, mas como símbolo de continuidade e de esperança. A cada novo dia, o passado se reconcilia com o presente; e a paisagem que um dia foi de abandono, hoje é de reconstrução.

O tempo das ruínas ficou para trás — o tempo agora é outro: tempo de forma, de fé e de futuro. E no horizonte de Itaúna das Minas Gerais, entre andaimes e fachadas recompostas, o velho hospital se ergue novamente — como quem volta a respirar depois de um longo silêncio.

VEJA MAIS: FOTOGRAFIAS DO HOSPITAL ANTIGO

 Referência:

Organização e arte: Charles Aquino

Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto. 

sexta-feira, outubro 17, 2025

ITAÚNA A ROMA

Em breve...

Uma travessia de fé que ligou Itaúna a Roma

O Itaúna em Décadas trará ao público uma história inesquecível — a jornada do Padre José Ferreira Neto e dos fiéis itaunenses que, em 1950, cruzaram o oceano a bordo do Vapor Duque de Caxias rumo a Roma, no Ano Santo proclamado pelo Papa Pio XII.

Foi uma verdadeira epopeia de fé e coragem. Da missa de envio celebrada na Matriz de Itaúna à audiência com o Papa, passando pelos dias em alto-mar e pelas emoções do retorno, essa viagem marcou para sempre a memória religiosa da cidade.

Com base em registros originais, relatos de Dom Helder Câmara e documentos históricos sobre o navio Duque de Caxias, reconstruímos essa travessia que uniu o sertão mineiro à Cidade Eterna — uma história de devoção, esperança e encontro espiritual.

Acompanhe em breve esta publicação exclusiva e descubra como, há mais de setenta anos, Itaúna levou sua fé até Roma — e trouxe de volta um legado que ainda ecoa nas páginas da nossa história. 



sábado, outubro 11, 2025

PRAÇA DA MATRIZ 1929

Um dos trabalhos mais antigos atribuídos a Júlio R. Steinmetz — técnico em jardins e paisagista alemão em Minas Gerais — foi o projeto do jardim público da Praça João Pessoa, hoje Praça Dr. Augusto Gonçalves, em Itaúna, inaugurado parcialmente em outubro de 1929, durante o governo do coronel Arthur Vilaça.

O historiador João Dornas Filho, em Itaúna: contribuição para o município (1936), registra que Steinmetz, identificado como “construtor e técnico alemão”, foi o responsável pelo traçado do jardim. 

O projeto, contudo, não foi concluído em sua totalidade à época: apenas uma parte da concepção original foi inaugurada, revelando tanto as limitações financeiras quanto a ambição estética da obra.

Dornas Filho ainda destaca um aspecto importante: os fundos para a construção foram obtidos por meio de uma quermesse, que em uma única noite rendeu cerca de quinze contos de réis — valor significativo para a época. 

O episódio mostra como a sociedade itaunense se engajou na criação de um espaço público de lazer e convivência, articulando a contribuição comunitária ao projeto técnico de Steinmetz.

Esse jardim, ainda que posteriormente alterado por reformas urbanas, foi um marco na modernização da paisagem urbana de Itaúna e constitui a entrada de Steinmetz na história do paisagismo mineiro.

A história urbana de várias cidades mineiras da primeira metade do século XX está diretamente ligada ao trabalho do paisagista alemão Júlio R. Steinmetz, que se autodenominava “técnico em jardins” e circulava entre Belo Horizonte e o interior de Minas, oferecendo serviços de ajardinamento moderno, arborização e remodelamento de praças públicas. 

Seu nome aparece tanto em registros documentais quanto em propagandas de jornal, revelando não apenas sua atividade profissional, mas também a forma como se apresentava em um campo que ainda não tinha regulamentação consolidada no Brasil: o paisagismo.

Na década de 1930, Steinmetz ampliou sua atuação, deixando registros em várias localidades:

Campo Belo (1934) – participou do novo traçado da Praça Cônego Ulisses, atribuído à sua orientação paisagística.

Lavras (1936–1937) – apresentou ao prefeito Pedro Salles o projeto de reforma da Praça Dr. Augusto Silva, que incluía tanque ornamental de 8 × 5 metros, caminhos e plantas aquáticas, sendo a obra iniciada em 1937.

Andradas (1936) – documentos fotográficos do Arquivo Público Mineiro mostram o “Jardim Público de Andradas” em construção e depois concluído, com carimbo de Steinmetz – Technico em Jardins em Belo Horizonte/Minas.

Uberlândia (1938) – contratado pelo interventor Vasco Giffoni, elaborou o projeto de remodelamento da Praça Tubal Vilela, concebida em estilo classicizante, com quadrículas de canteiros, eixos de circulação, lago ornamental e seleção de espécies vegetais.

Steinmetz soube explorar os meios de comunicação de sua época. Em jornais e revistas regionais, publicava anúncios oferecendo seus serviços como especialista em ajardinamentos modernos, destacando-se pela atuação em praças públicas, parques e arborização em geral, “segundo os mais modernos princípios de urbanismo”.

Um desses anúncios, datado dos anos 1930, registra sua presença em Uberlândia, hospedado no Palace Hotel, embora sua sede principal fosse em Belo Horizonte (Caixa Postal 335). O texto revela tanto o caráter itinerante de seu ofício — deslocando-se conforme as encomendas — quanto sua tentativa de associar seu trabalho às tendências mais avançadas do urbanismo e paisagismo da época.

Essa oscilação entre os títulos de “paisagista” e “técnico em jardins” mostra que sua identidade profissional transitava em um período em que a disciplina do paisagismo ainda não possuía formalização acadêmica no Brasil.

Os projetos de Steinmetz revelam predileção por um estilo formal e classicizante, com ênfase em geometria, simetria e ordenação de canteiros. Fontes, lagos, coretos, bustos e arborização ornamental eram elementos recorrentes em suas propostas. Esse repertório europeu dialogava com os ideais de modernização urbana das cidades mineiras, que buscavam dotar seus centros de praças ajardinadas como símbolos de progresso e civilidade.

Sua contribuição foi, portanto, duplamente significativa: embelezou as cidades com espaços de lazer planejados e introduziu conceitos de desenho urbano que marcaram a fisionomia de Minas nas décadas de 1920 a 1940.

De nacionalidade alemã, Steinmetz radicou-se em Minas Gerais, onde construiu toda a sua carreira. No entanto, sua vida terminou de forma trágica. Em 2 de fevereiro de 1956, em seu escritório em Belo Horizonte, Steinmetz atentou contra a própria vida, vindo a falecer às primeiras horas da madrugada seguinte. Apesar da intervenção médica e de uma operação de emergência, não resistiu.

A repercussão foi grande: jornais de Belo Horizonte e até do Rio de Janeiro noticiaram o episódio, o que demonstra a notoriedade que alcançara como profissional. Steinmetz tinha apenas 54 anos. Foi sepultado no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, na sepultura nº 263 da quadra 35.

Legado

Embora sua morte precoce tenha interrompido uma carreira promissora, o legado de Steinmetz permanece vivo nos espaços que ajudou a desenhar. Mais do que um simples executor de jardins, o paisagista alemão foi um mediador entre tradição europeia e modernidade brasileira, traduzindo, em praças mineiras, os ideais de beleza, ordem e progresso que marcaram a urbanização do início do século XX.

No município de Itaúna, a Praça passou, ao longo dos anos, por diversas denominações: Largo da Matriz, Praça João Pessoa, Praça Mário Matos, Praça Benedito Valadares e, atualmente, Praça Dr. Augusto Gonçalves. Cada nome guarda em si um fragmento da memória coletiva, refletindo os diferentes contextos políticos, sociais e culturais que marcaram a trajetória da cidade.

O espaço ainda preserva traços significativos da concepção original de Steinmetz, perceptíveis a um olhar atento, que confirmam sua relevância como testemunho da história urbana e cultural de Itaúna. Assim, a Praça, popularmente conhecida como Praça da Matriz, permanece como símbolo central da vida pública, um espaço que acompanha as transformações do tempo e que, a cada mudança, conserva e transmite uma parte da rica história local.

Em Itaúna, sua marca está ligada à memória da Praça Dr. Augusto Gonçalves, concebida a partir de um esforço coletivo da comunidade aliado à técnica europeia que ele representava. Em Lavras, Uberlândia, Andradas e Campo Belo, as praças por ele remodeladas se tornaram símbolos de identidade local e pontos de referência na vida urbana.

Dois aspectos, por si só, justificam a urgência desse reconhecimento: a presença de uma majestosa "Caesalpinea ferrea", plantada em 1935 pelo então prefeito Arthur Contagem Vilaça, que se tornou verdadeiro cartão-postal da praça; e o fato de que, em breve, esse logradouro completará um século de existência, carregando consigo a memória, a tradição e o afeto de várias gerações de itaunenses.

Assim como já ocorre em outras cidades mineiras, onde praças projetadas ou remodeladas por Steinmetz foram reconhecidas e protegidas como patrimônio histórico, a Praça da Matriz de Itaúna também merece ter seu valor oficialmente consagrado por meio do tombamento. 

Esse gesto garantiria não apenas a preservação material do espaço, mas também a salvaguarda de sua dimensão simbólica, assegurando que sua história e sua identidade coletiva permaneçam vivas para as gerações futuras.

Referências:

Realização, pesquisa e arte: Charles Aquino

ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO (APM). Fundo João Dornas Filho, série fotografias, “Jardim Público de Andradas – obras concluídas/construção”, 27 ago. 1936. Belo Horizonte: APM.

CEMITÉRIO DO BONFIM. Registro de sepultamento de Júlio R. Steinmetz, sepultura nº 263, quadra 35. Belo Horizonte/MG. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:7BYT-BTPZ?lang=pt. Acesso em: 19 set. 2025.

CORREIO DA MANHÃ. Engenheiro urbanista Júlio R. Steinmetz falece em Belo Horizonte. Rio de Janeiro, 4 fev. 1956. p. 5.

DORNAS FILHO, João. Itaúna: contribuição para a história do município. Belo Horizonte: [s.n.], 1936. p. 93.

JORNAL DE LAVRAS. História da Praça Dr. Augusto Silva. Lavras, 2020. Disponível em: https://www.jornaldelavras.com.br/instagram/instagram/index.php?c=16556&catn=1&p=10&tc=4. Acesso em: 19 set. 2025.

NOGUEIRA, Guaracy de Castro. Homenagem ao 60º aniversário da ordenação sacerdotal do Pe. José Ferreira Neto. Itaúna: Vile Editora e Escritório de Cultura, 1997. p. 60-61.

PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA. Praça Tubal Vilela – Patrimônio Histórico. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, s.d. Disponível em: https://www.uberlandia.mg.gov.br/prefeitura/secretarias/cultura-e-turismo/patrimonio-historico/bens-tombados-e-registrados/praca-tubal-vilela/. Acesso em: 19 set. 2025.

STEINMETZ, Júlio R.. Anúncio publicitário em jornal: “Especialista em ajardinamentos modernos”. Década de 1930. Localização: coleção de jornais mineiros (Uberaba/Uberlândia). 


segunda-feira, setembro 29, 2025

MÉDICOS ITAUNENSES (UFMG)

Dr. Dario e Dr. Lincoln: a trajetória dos primeiros itaunenses formados na UFMG

A fundação da Escola de Medicina de Belo Horizonte em 1911, representou um marco no ensino superior de Minas Gerais.

Instalando-se em um palacete no centro da jovem capital, a instituição se tornaria, anos mais tarde, a renomada Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Em dezembro de 1917, no período da Primeira República, concluiu-se a primeira turma de formandos, cuja diplomação oficial ocorreu em março de 1918, após o reconhecimento pelo Conselho Superior de Ensino. 

Entre os alunos pioneiros desse grupo estavam dois jovens de Itaúna: Dario Gonçalves de Souza e Lincoln Nogueira Machado.

A presença desses dois itaunenses nesse seleto grupo evidencia a inserção precoce do município nos caminhos da ciência médica e destaca o protagonismo de suas trajetórias na saúde e na vida pública da região.

Dr. Dario Gonçalves de Souza: Medicina, Indústria e Vida Pública

Nascido em Itaúna, em 15 de novembro de 1893, Dario Gonçalves de Souza seguiu o pioneirismo na Medicina de seu pai, o médico Dr. Augusto Gonçalves de Souza, que se formou em 1888 pela Faculdade do Rio de Janeiro, no final do Brasil Império. Formado pela Universidade de Minas Gerais, fixou-se em sua terra natal, onde honrou o juramento médico com dedicação integral, conquistando a confiança e o reconhecimento da população. 

Em 1923, além de contrair matrimônio com D. Judith Camardel Gonçalves — cujo nome hoje é preservado em Itaúna pela Escola Estadual Dona Judith Gonçalves, situada no bairro Santanense — foi eleito "Presidente da Câmara Municipal e Agente Executivo, como à época se denominava o atual cargo de Prefeito", promovendo obras relevantes para a cidade.

Na década de 1930, sua atuação se ampliou para o setor industrial, ao assumir a presidência da Companhia Industrial Itaunense, cargo que exerceu por décadas. Também dedicou parte significativa de sua vida ao Hospital Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, do qual foi provedor por mais de trinta anos.

Homem de visão empresarial e social, também participou de importantes instituições de Minas Gerais. Seu legado é lembrado até hoje, sendo patrono da unidade Escola SESI Itaúna "Dario Gonçalves de Souza". Faleceu em 15 de novembro de 1970, aos 77 anos, justamente no dia de seu aniversário.

Dr.Lincoln Nogueira Machado: Medicina, Literatura e Política

Também nascido em Itaúna, em 15 de junho de 1893, Lincoln Nogueira Machado destacou-se como médico, poeta, educador e homem público. Após estudos em São João del-Rei, ingressou na Escola de Medicina de Belo Horizonte. Sua carreira, porém, transcendeu o consultório.

Na saúde, atuou desde a fundação da Casa de Caridade Manoel Gonçalves, em 1919, sendo médico dedicado até o fim da vida. Exerceu cargos públicos de destaque: foi Chefe do Posto de Profilaxia de Itaúna, vereador, presidente da Câmara Municipal e, entre 1936 e 1947, prefeito de Itaúna, nomeado por Benedito Valadares e depois eleito pelo povo.

Intelectual refinado, era também poeta e escritor. Em 1947, lançou o livro “Médicos de 1917”, obra em que, com lirismo e erudição, retratou seus colegas da primeira turma. Além disso, lecionou Língua Portuguesa na Escola Normal Manoel Gonçalves e escreveu artigos para a imprensa local.

Na vida pessoal, constituiu família com Laudelina de Carvalho Machado, com quem teve quatro filhos. Faleceu em 6 de abril de 1968, deixando um legado de amor à medicina, à literatura e ao serviço público.

Em reconhecimento à sua contribuição para a cidade, uma instituição de ensino leva o seu nome: a Escola Municipal Doutor Lincoln Nogueira Machado, perpetuando sua memória junto às novas gerações de itaunenses.

O Legado

A presença de dois filhos de Itaúna na primeira turma de médicos de Belo Horizonte é motivo de orgulho histórico. Ambos uniram a vocação médica a papéis de liderança comunitária e política, participando ativamente da construção do município e de suas instituições.

Enquanto o Dr. Dario Gonçalves de Souza simboliza a fusão entre medicina, política e indústria, sendo lembrado como patrono e líder empresarial, o Dr. Lincoln Nogueira Machado personifica a síntese entre ciência, literatura e vida pública, eternizado como médico humanista, poeta e administrador.

Suas trajetórias, entrelaçadas desde a juventude acadêmica até a atuação em Itaúna, confirmam que a primeira turma de medicina de Belo Horizonte não apenas formou médicos, mas também líderes e visionários que moldaram o futuro das cidades mineiras.

Primeira Turma de Medicina de Belo Horizonte de 1917

Casimiro Laborne Tavares, Dario Gonçalves de Souza, Francisco de Arêa Leão, Gumercindo do Couto e Silva, Honorico Nunes de Oliveira, Irineu Lisboa, João Affonso Moreira, José Argemiro de Moura, José Camillo de Castro e Silva,  Lincoln Nogueira Machado, Luiz Gonzaga de Moura, Manoel Taurino do Carmo, Olavo de Sá Pires, Olyntho Orsini de Castro, Pedro Versiani dos Anjos, Plínio Moraes, Rivadávia Versiani Murta de Gusmão, Sóter Ramos Couto.

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MÉDICOS ITAUNENSES

JORNAL FOLHA DO POVO

SAIBA MAIS

BENEMÉRITOS

QUARTO PREFEITO ITAÚNA

SEXTO PREFEITO ITAÚNA

ESCOLA SESI ITAÚNA

ESCOLA LINCOLN NOGUEIRA

LINCOLN NOGUEIRA MACHADO

HISTÓRIA DA SAÚDE EM ITAÚNA

IRMANDADE CASA DE CARIDADE


Referências:

Pesquisa, elaboração e arte: Charles Aquino – Historiador Registro nº 343/MG

Imagem meramente ilustrativa criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.     

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Boletim comemorativo Nº 10 [PDF]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG, ago. 2018. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/wp-content/uploads/sites/51/2018/08/bolteim-cememor-n10.pdf. Acesso em: 16 set. 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Formados – Medicina, Fonoaudiologia, Radiologia [PDF]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG, 3 out. 2018. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/wp-content/uploads/sites/51/2018/10/FORMADOS-MEDICINA-FONOAUDIOLOGIA-RADIOLOGIA-03-10-2018.pdf. Acesso em: 16 set. 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. História – Faculdade de Medicina da UFMG [online]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/institucional/historia/. Acesso em: 16 set. 2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. História – Faculdade de Medicina da UFMG [online]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG. Disponível em: linha do tempo. Acesso em: 16/09/2025.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Turma 1917 [PDF]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina da UFMG, nov. 2016. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/wp-content/uploads/sites/51/2016/11/TURMA_1917.pdf. Acesso em: 16 set. 2025.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna, BH, Ed. Littera Maciel Ltda, 1986, p. 223-228.

Revista Acaiaca: Dr. Dario Gonçalves de Souza, p. 106. Ano: 1954, Org. Celso Brant, BH/MG.


segunda-feira, setembro 22, 2025

A CAPELA EM VISTA ALEGRE

Mais de um século de História, Fé e Memória na vida religiosa de Itaúna

No dia 22 de setembro de 1915, foi concedida, em Mariana/MG, a licença eclesiástica para a bênção da Capela de Santo Antônio do Campo Alegre, hoje conhecida como Capela de Santo Antônio de Vista Alegre, em Itaúna/MG. 

O ato, registrado em documento oficial, foi assinado por Dom Silvério Gomes Pimenta, então Arcebispo Metropolitano de Mariana, e redigido por Monsenhor José Silvério Horta, secretário da Cúria. 

O pedido partiu do vigário local, Padre João Ferreira Álvares da Silva, que buscava oficializar a capela erguida pela comunidade, a fim de nela se celebrar a missa e administrar os sacramentos.

À época, o vigário registrava que a freguesia de Sant’Ana de Itaúna contava com uma população de “aproximadamente sete mil almas” e dispunha dos seguintes templos: na sede, além da matriz, a antiga matriz, então transformada em Igreja do Rosário; a Igreja do Monte; e a Capela do Senhor dos Passos

Havia ainda, nas zonas rurais, a Capela de Nossa Senhora de Lourdes, a 14 km ao sul da sede; a Capela de Santo Antônio do Campo Alegre, a 12 km a oeste; a Capela de Santo Antônio do Brejo Alegre, a 16 km a noroeste; e a Capela de São Sebastião dos Paulas, a 12 km ao norte.

O documento determinava que o templo deveria ser sólido, decente e dotado do necessário para o culto, bem como possuir patrimônio suficiente para a sua manutenção. Somente após a devida regularização e bênção, os sacramentos poderiam ser administrados no local. Esse ato representou não apenas a institucionalização do espaço religioso, mas também o reconhecimento da fé e da mobilização comunitária no arraial de Campo Alegre.

Em 2025, celebram-se 110 anos da bênção da capela, um marco que une a história da Arquidiocese de Mariana e a fé popular de Itaúna. O documento de 1915 não é apenas um registro burocrático, mas um testemunho da articulação entre comunidade, pároco e hierarquia eclesiástica para consolidar um espaço sagrado que permanece vivo na memória coletiva.

Assim, ao recordar este centenário e uma década, resgatamos também as trajetórias de Dom Silvério, Monsenhor Horta e Padre João Ferreira, cujas vidas se cruzaram nesse episódio e que, cada um a seu modo, contribuíram para a história da Igreja e da religiosidade no interior de Minas Gerais.

Os protagonistas deste registro histórico

Padre João Ferreira Álvares da Silva (1862–1950)

Natural de Abadia de Pitangui (atual Martinho Campos/MG), nasceu em 13 de dezembro de 1862. Iniciou seus estudos de humanidades em Pitangui e os concluiu no tradicional Colégio do Caraça, onde também cursou o primeiro ano do Seminário Maior. Posteriormente, transferiu-se para Mariana, onde concluiu a formação sacerdotal em 1885.

Exerceu o ministério em diversas paróquias do interior mineiro, atuando como vigário em Morada Nova de Minas, Paranaíba, Abaeté, Chapéu d’Uvas e São Miguel do Anta, até assumir, em 1902, a paróquia de Itaúna, onde deixou forte marca pastoral. 

Em sua trajetória no município, destacou-se especialmente em 1919, quando participou, ao lado de Dom Silvério Gomes Pimenta, da solenidade de bênção do Hospital da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, instituição que se tornaria referência na assistência à saúde da região.

Dom Silvério Gomes Pimenta (1840–1922)

Natural de Congonhas (MG), foi o primeiro bispo negro do Brasil, além de notável intelectual, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Destacou-se pela erudição, pelo latim impecável e pelo papel ativo na vida da Igreja. Foi Bispo de Mariana (1896–1906) e, depois, Arcebispo Metropolitano (1906–1922). É lembrado como uma figura “além do seu tempo”, defensor da fé, da educação e da dignidade humana.

Monsenhor José Silvério Horta (1859–1932)

Nascido em Barra Longa (MG), dedicou 47 anos ao sacerdócio, atuando como secretário do bispado e vigário-geral da Arquidiocese de Mariana. Reconhecido pela dedicação pastoral e pela assistência aos pobres, tornou-se figura venerada, chegando a ter processo de beatificação iniciado em 2010. Foi ele quem redigiu o documento de 1915, registrando oficialmente a concessão da licença para a bênção da capela.

 Documento histórico

Segue a transcrição da carta oficial de 1915, assinada por Dom Silvério Gomes Pimenta e lavrada por Monsenhor José Silvério Horta, a pedido do vigário Padre João Ferreira Álvares da Silva:

D. Silverio Gomes Pimenta pela graça de Deus e da Santa Sé Apostolica arcebispo Metropolitano de Marianna Prelado Domestico de Sua Santidade Bento XV e Assistente ao Solio Pontificio, etc. etc.

Aos Fieis Christãos saudação paz e benção em J. C.

FAZEMOS saber que tendo os fieis de Santa Antonio do Campo Alegre freguezia de Santa Anna do Itauna, deste Arcebispado, edificado uma Capella para facilitar a administração dos Sacramentos e funções do culto divino, e havendo o Rvmo. Vigario Pe. João Ferreira Alvares da Silva, requerido licença Nossa para benzel-a.

HAVEMOS por bem lhe conceder a licença pedida, como pela presente lhe concedemos, contanto que esteja decente, solida e provida do necessario para o culto e tenha suficiente patrimonio, cujo titulo legal deverá ser exhibido em Nossa Curia Archiepiscopal.

Só então podem ser nessa Capella celebrados o santo sacrificio da Missa e administrados os sacramentos por qualquer sacerdote approvado neste Arcebispado, servatis servandis, e salvos os direitos parochiaes. Ao pé desta se lavrará a acta da benção da qual se remetta copia authentica á Nossa Curia Ecclesiastica. Registre-se na Camara Ecclesiastica e no livro da Matriz.

Dada em Marianna sob Nosso Signal e Sello de Nosso Vigario Geral aos 22 de Setembro de 1915. Eu Monsenhor José Silverio Horta Escrevão da Camara Ecclesiastica, a escrevi. <Monsenhor Horta>.


Referências

Realização: Charles Aquino – Historiador Registro nº 343/MG

Colaboração e apoio a pesquisa: Professor Luiz Mascarenhas

ARQ. MARIANA. Processo de Monsenhor Horta. Disponível em: https://arqmariana.com.br/processo-de-monsenhor-horta/. Acesso em: 14/09/2025.

ARQ. MARIANA. Um bispo além do seu tempo: Arquidiocese de Mariana celebra o centenário de falecimento de Dom Silvério. Disponível em: https://arqmariana.com.br/noticia/um-bispo-alem-do-seu-tempo-arquidiocese-de-mariana-celebra-o-centenario-de-falecimento-de-dom-silverio/. Acesso em: 14/09/2025.

ARQUIVO ECLESIÁSTICO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA. Licença e bênção da Capela de Santo Antônio do Campo Alegre, Itaúna/MG. Cúria Metropolitana, 1915. Documento manuscrito.

LIVRO TOMBO PARÓQUIA SANT’ANA — 1902 a 1947, p. 1v. 

Imagem meramente ilustrativa criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.