A fundação da Escola de Medicina de Belo Horizonte em 1911, representou um marco no ensino superior de Minas Gerais.
Instalando-se em um palacete no centro da jovem capital, a instituição se tornaria, anos mais tarde, a renomada Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em dezembro de 1917, no período da Primeira República, concluiu-se a primeira turma de formandos, cuja diplomação oficial ocorreu em março de 1918, após o reconhecimento pelo Conselho Superior de Ensino.
Entre os alunos pioneiros desse grupo estavam dois jovens de Itaúna: Dario Gonçalves de Souza e Lincoln Nogueira Machado.
A presença desses dois itaunenses nesse seleto grupo evidencia a inserção precoce do município nos caminhos da ciência médica e destaca o protagonismo de suas trajetórias na saúde e na vida pública da região.
Dr. Dario Gonçalves de Souza: Medicina, Indústria e Vida Pública
Nascido em Itaúna, em 15 de novembro de 1893, Dario Gonçalves de Souza seguiu o pioneirismo na Medicina de seu pai, o médico Dr. Augusto Gonçalves de Souza, que se formou em 1888 pela Faculdade do Rio de Janeiro, no final do Brasil Império. Formado pela Universidade de Minas Gerais, fixou-se em sua terra natal, onde honrou o juramento médico com dedicação integral, conquistando a confiança e o reconhecimento da população.
Em 1923, além de contrair matrimônio com D. Judith Camardel Gonçalves — cujo nome hoje é preservado em Itaúna pela Escola Estadual Dona Judith Gonçalves, situada no bairro Santanense — foi eleito "Presidente da Câmara Municipal e Agente Executivo, como à época se denominava o atual cargo de Prefeito", promovendo obras relevantes para a cidade.
Na década de 1930, sua atuação se ampliou para o setor industrial, ao assumir a presidência da Companhia Industrial Itaunense, cargo que exerceu por décadas. Também dedicou parte significativa de sua vida ao Hospital Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, do qual foi provedor por mais de trinta anos.
Homem de visão empresarial e social, também participou de importantes instituições de Minas Gerais. Seu legado é lembrado até hoje, sendo patrono da unidade Escola SESI Itaúna "Dario Gonçalves de Souza". Faleceu em 15 de novembro de 1970, aos 77 anos, justamente no dia de seu aniversário.
Dr. Lincoln Nogueira Machado: Medicina, Literatura e Política
Também nascido em
Itaúna, em 15 de junho de 1893, Lincoln Nogueira Machado destacou-se como
médico, poeta, educador e homem público. Após estudos em São João del-Rei,
ingressou na Escola de Medicina de Belo Horizonte. Sua
carreira, porém, transcendeu o consultório.
Na saúde, atuou
desde a fundação da Casa de Caridade Manoel Gonçalves, em 1919, sendo médico
dedicado até o fim da vida. Exerceu cargos públicos de destaque: foi Chefe do
Posto de Profilaxia de Itaúna, vereador, presidente da Câmara Municipal e,
entre 1936 e 1947, prefeito de Itaúna, nomeado por Benedito Valadares e depois
eleito pelo povo.
Intelectual
refinado, era também poeta e escritor. Em 1947, lançou o livro “Médicos de
1917”, obra em que, com lirismo e erudição, retratou seus colegas da
primeira turma. Além disso, lecionou Língua Portuguesa na Escola Normal Manoel
Gonçalves e escreveu artigos para a imprensa local.
Na vida pessoal,
constituiu família com Laudelina de Carvalho Machado, com quem teve quatro
filhos. Faleceu em 6 de abril de 1968, deixando um legado de amor à medicina, à
literatura e ao serviço público.
Em reconhecimento à sua contribuição para a cidade, uma instituição de ensino leva o seu nome: a Escola Municipal Doutor Lincoln Nogueira Machado, perpetuando sua memória junto às novas gerações de itaunenses.
O
Legado
A presença de dois
filhos de Itaúna na primeira turma de médicos de Belo Horizonte é motivo de
orgulho histórico. Ambos uniram a vocação médica a papéis de liderança
comunitária e política, participando ativamente da construção do município e de
suas instituições.
Enquanto o Dr.
Dario Gonçalves de Souza simboliza a fusão entre medicina, política e
indústria, sendo lembrado como patrono e líder empresarial, o Dr. Lincoln
Nogueira Machado personifica a síntese entre ciência, literatura e vida
pública, eternizado como médico humanista, poeta e administrador.
Suas trajetórias,
entrelaçadas desde a juventude acadêmica até a atuação em Itaúna, confirmam que
a primeira turma de medicina de Belo Horizonte não apenas formou médicos, mas
também líderes e visionários que moldaram o futuro das cidades mineiras.
Primeira Turma de Medicina de Belo Horizonte de 1917
Casimiro Laborne Tavares, Dario Gonçalves de Souza, Francisco de Arêa Leão, Gumercindo do Couto e Silva, Honorico Nunes de Oliveira, Irineu Lisboa, João Affonso Moreira, José Argemiro de Moura, José Camillo de Castro e Silva, Lincoln Nogueira Machado, Luiz Gonzaga de Moura, Manoel Taurino do Carmo, Olavo de Sá Pires, Olyntho Orsini de Castro, Pedro Versiani dos Anjos, Plínio Moraes, Rivadávia Versiani Murta de Gusmão, Sóter Ramos Couto.
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SAIBA MAIS
Pesquisa,
elaboração e arte: Charles Aquino – Historiador
Registro nº 343/MG
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meramente ilustrativa criada com IA, inspirada no conteúdo do
texto.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS
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Medicina da UFMG, ago. 2018. Disponível em: https://www.medicina.ufmg.br/wp-content/uploads/sites/51/2018/08/bolteim-cememor-n10.pdf.
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SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna, BH, Ed. Littera Maciel Ltda, 1986, p. 223-228.
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