Prof.
Luiz MASCARENHAS*
Trata-se de verdade inexorável. Tão logo o firmamento concentra-se de nimbus, cirrocumulus e cirrostratos, que a forte precipitação pluviométrica desaba imperiosa sobre as barrancas de Sant'Ana e o rego entope.
Ei-lo: o rego atochado! De água....
Nas peripécias da modernidade, o rego
entumecido pelas torrentes vira alvo fácil de selfies e pequenos vídeos de
incautos transeuntes ou moradores das cercanias, que o vislumbram das lentes de
seus celulares e o postam de inopino nas múltiplas redes sociais como películas
hollywoodianas da tragédia barranqueira.
O rego entupido! “Ó tempore! Ó mores! ”
De súbito, erguem-se as mais variadas e
pitorescas ponderações. Ora, ora, afinal, porque o rego entope?
Nada mais desconfortável do que o rego
obstruído. Desembargue-se o rego!
As autoridades constituídas da
municipalidade logo se reunirão em torno do rego. O rego será estudado,
esquadrinhado, pesquisado...milimétrica e cartesianamente! Talvez até uma
legislação surja para regular o uso do rego.
O que é preocupante, em um país
tão engarrafado por um cipoal de leis que surja mais uma – mesmo que municipal
– regulando os regos por aí. Emergirão passeatas pelo “rego livre”. Bem, sendo
um rego público, deverá mesmo vir regulado. Já os regos privados, que sejam
utilizados como se aprouver a seus proprietários- desde que, sem prejuízo para
as regueiras públicas de Blackstone City. Enfim, chega-se ao conclusório de que
cada um cuide do seu rego e deixe a vala do outro em paz.
O rego da Jove é antológico. Já foi
aberto. Desnudo aos olhos do público, sem causar vexames; contudo causava náuseas
devido ao odor pútrido que se lhe exalava. Era um rego mau cheiroso. Contudo,
veio do ilustre Prefeito Antônio Augusto de Lima Coutinho o sonho visionário de
que ali, nos fundos dos quintais, brotaria entre as bananeiras e os frondosos pés
de manga, a mais concorrida via da cidade. E o rego seria devidamente tapado.
Mal sabia que tapado e entupido...
Pobre Cel. Jove Soares (1868-1953) ver seu
nome associado a enchentes de águas furtadas nada poéticas e empesteadas. Pois
a tempo seco, vê-se ratazanas e baratas e outros indivíduos do reino dos
artrópodes e afins, disputando o espaço com os viandantes da prainha. Isso sem
falar dos fiéis discípulos da seita “crossfit”, que anda operando milagres na
terrinha, que por ali correndo, desviam dos camundongos como se barreiras
móveis fossem- deve ser bem divertido!
Não nos cabe apurar os culpados. Não são
de agora os problemas da Avenida Jove Soares. Colhe-se hoje a má ocupação do
solo das adjacências do Córrego do Sumidouro. O nosso “Arrudas” tupiniquim.
Toma-se da Natureza e ela requer de volta seu espaço.
Cuidemos, pois, do rego da Jove. Afinal de contas, durma-se com um barulho
desses.
Rego limpo, povo feliz!
“Après nous le déluge...”
*Bacharel em Direito / Licenciado em
História pela UNIVERSIDADE DE ITAÚNA Historiador/ Escritor/ Membro Fundador da
ACADEMIA ITAUNENSE DE LETRAS/ Autor de “Crônicas Barranqueiras” e coautor de
“Essências”, “Olhares Múltiplos” e “O que a vida quer da gente é coragem”/ Diretor
da E.E. “Prof. Gilka Drumond de Faria” Cidadão Honorário de Itaúna