Cine Paroquial
de Santanense: quando a fé se encontrou com o cinema em Itaúna
Em meados do
século XX, o bairro Santanense abrigou uma das iniciativas mais curiosas e
criativas da história religiosa e cultural de Itaúna: o Cine Paroquial de
Santanense.
Idealizado pelo vigário
Pe. José Ferreira Netto, o projeto nasceu em 1953 como uma forma
engenhosa de gerar recursos para a construção da nova igreja matriz e da
casa paroquial da comunidade. Inspirado em experiências semelhantes em
outras cidades, o pároco organizou um cinema paroquial e adquiriu uma moderna
máquina de projeção, avaliada em Cr$ 22.000,00 (vinte e dois mil
cruzeiros) — valor expressivo para a época. O pagamento seria feito com a
própria renda obtida nas exibições.
O cinema
funcionava no prédio dos Vicentinos, e as sessões eram aguardadas com
entusiasmo pelos moradores. Eram três exibições por semana, com média
anual de 21 sessões e público aproximado de 892 espectadores. A
sala dispunha de 150 lugares e exibia filmes em 16 mm, tecnologia
comum nas projeções paroquiais e cineclubes do período.
Sob o comando de Raimundo
Soares, o cinema logo se tornou ponto de encontro e lazer da comunidade,
mesclando o entretenimento com a dimensão social e religiosa da vida paroquial.
As sessões não eram apenas momentos de diversão, mas também ocasiões de
convivência, campanhas beneficentes e integração entre as famílias do bairro.
Entretanto, a
curta duração do funcionamento — encerrado em 30 de março (ano não
especificado, possivelmente 1955 ou 1956) — mostra as dificuldades de manter a
estrutura em um bairro operário ainda em consolidação. Mesmo assim, há
registros que indicam a intenção de retomar as atividades em 1959, o que
demonstra o impacto positivo que o cinema causou na memória dos moradores.
O Cine
Paroquial de Santanense representa, assim, mais do que uma curiosidade do
passado: ele é símbolo de uma época em que fé, cultura e solidariedade se uniam
para construir sonhos coletivos. No escuro da pequena sala, iluminada pelos
feixes da projeção, Santanense viveu momentos de magia e esperança — e cada
sessão ajudava, literalmente, a erguer as paredes da igreja que se tornaria o
coração espiritual do bairro.
Pesquisa: Charles
Aquino
Acervo
fotográfico: Itatiaia – Bons Tempos / Hamilton Pereira
Acervo
documental: Paróquia de Sant’Ana de Itaúna – Livro do Tombo II (1953), p. 27
Registro técnico: Cine Paroquial de Santanense – Prop. Raimundo Soares, Pça. da Matriz s/n, fund. 1953, 150 lugares, 16 mm.
https://orcid.org/0009-0002-8056-8407
