sábado, fevereiro 16, 2019

CINE PAROQUIAL SANTANENSE


Cine Paroquial de Santanense: quando a fé se encontrou com o cinema em Itaúna

Em meados do século XX, o bairro Santanense abrigou uma das iniciativas mais curiosas e criativas da história religiosa e cultural de Itaúna: o Cine Paroquial de Santanense.

Idealizado pelo vigário Pe. José Ferreira Netto, o projeto nasceu em 1953 como uma forma engenhosa de gerar recursos para a construção da nova igreja matriz e da casa paroquial da comunidade. Inspirado em experiências semelhantes em outras cidades, o pároco organizou um cinema paroquial e adquiriu uma moderna máquina de projeção, avaliada em Cr$ 22.000,00 (vinte e dois mil cruzeiros) — valor expressivo para a época. O pagamento seria feito com a própria renda obtida nas exibições.

O cinema funcionava no prédio dos Vicentinos, e as sessões eram aguardadas com entusiasmo pelos moradores. Eram três exibições por semana, com média anual de 21 sessões e público aproximado de 892 espectadores. A sala dispunha de 150 lugares e exibia filmes em 16 mm, tecnologia comum nas projeções paroquiais e cineclubes do período.

Sob o comando de Raimundo Soares, o cinema logo se tornou ponto de encontro e lazer da comunidade, mesclando o entretenimento com a dimensão social e religiosa da vida paroquial. As sessões não eram apenas momentos de diversão, mas também ocasiões de convivência, campanhas beneficentes e integração entre as famílias do bairro.

Entretanto, a curta duração do funcionamento — encerrado em 30 de março (ano não especificado, possivelmente 1955 ou 1956) — mostra as dificuldades de manter a estrutura em um bairro operário ainda em consolidação. Mesmo assim, há registros que indicam a intenção de retomar as atividades em 1959, o que demonstra o impacto positivo que o cinema causou na memória dos moradores.

O Cine Paroquial de Santanense representa, assim, mais do que uma curiosidade do passado: ele é símbolo de uma época em que fé, cultura e solidariedade se uniam para construir sonhos coletivos. No escuro da pequena sala, iluminada pelos feixes da projeção, Santanense viveu momentos de magia e esperança — e cada sessão ajudava, literalmente, a erguer as paredes da igreja que se tornaria o coração espiritual do bairro.

 

 Fontes e créditos

Pesquisa: Charles Aquino

Acervo fotográfico: Itatiaia – Bons Tempos / Hamilton Pereira

Acervo documental: Paróquia de Sant’Ana de Itaúna – Livro do Tombo II (1953), p. 27

Registro técnico: Cine Paroquial de Santanense – Prop. Raimundo Soares, Pça. da Matriz s/n, fund. 1953, 150 lugares, 16 mm.