ITAÚNA
SÉCULO XIX
O acervo museológico de Itaúna, preservado pelo Coronel Francisco Manoel Franco, era uma coleção impressionante e diversificada que refletia tanto a história local quanto elementos de culturas distantes e épocas variadas. Franco, conhecido por sua hospitalidade e entusiasmo, gostava de compartilhar seu vasto museu com os visitantes, oferecendo-lhes uma visão singular de artefatos raros e curiosidades históricas.
Entre os itens mais notáveis, estavam duas estatuetas esculpidas por Aleijadinho, um tinteiro feito de lavas do Vesúvio, uma taça de Pompéia e uma caixa com a primeira Constituição do Império do Brasil, em letras microscópicas. O acervo também incluía talismãs incas, telas retratando figuras históricas como Napoleão e D. Pedro II, e uma máscara de um rei da China.
Franco também colecionava objetos mais exóticos, como um leque de ouro com as armas do Império em filigrana, e uma vasta coleção de armas antigas, incluindo maças, espingardas e lanças. Suas coleções de borboletas e insetos, assim como uma variedade de moedas romanas e brasileiras, demonstravam um interesse amplo por história natural e numismática.
Livros raros e preciosos também faziam parte do acervo, com obras de autores renomados como Shakespeare, Goethe, Cervantes e uma bíblia do século XVII. Além disso, Franco possuía peças singulares como um armário cheio de joias, louças da China e da Índia, e instrumentos de tortura de escravos, refletindo um período sombrio da história brasileira.
O acervo do Coronel Francisco Manoel Franco não só preservava uma rica herança cultural e histórica, mas também revelava o caráter multifacetado e o espírito curioso de seu proprietário. Seu museu era um testemunho de seu desejo de reviver o passado e apreciar o presente, oferecendo aos visitantes uma janela única para épocas e lugares diversos, tudo isso sob a sombra de sua personalidade marcante e entusiástica.
Quando
ainda bem criança, passando pelo “beco do padre João”, minha atenção
invariavelmente se voltava para a casa do cel. Francisco Manoel Franco,
despertada que era pelo canto estridente de uma araponga na varanda de sua
magnífica vivenda, onde também se salientava, pela originalidade, um
deslumbrante globo de cristal azul opalescente (CAMARGOS, p.65).
O
cel. Franco Chico Franco é amável e tem prazer em mostrar aos visitantes o seu
museu de artes. Assim é que com entusiasmo, naqueles gestos de expansões muito
seus, nos vai guiando e dizendo:
1) Duas estatuetas esculpidas em madeira por
Aleijadinho
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2) Um Tinteiro feito de lavas do Vesúvio
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3) Uma taça encontrada nas ruínas de Pompéia
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4) Uma caixa diminuta com estampa de D. Pedro I,
contendo, em páginas e letras microscópicas, a primeira “Constituição do
Império do Brasil” 1824.
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5) Um talismã de esteatita dos Incas
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6) Uma tela feita de cabelos reproduzindo
Napoleão em seu degredo, na ilha de Santa Helena.
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7) Uma tela de D. Pedro II na Quinta da Boa
Vista
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8) Uma tela do julgamento da célebre cortesã
grega Frinéia no Areópago.
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9) Uma tela com moldura artística contendo a
fotografia dos 31 membros do primeiro Congresso Nacional.
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10) Trabalhos em madrepérola.
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11) Uma máscara de um rei da China.
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12) Um par de alpercatas, vendidos pela famosa
Chica da Palha.
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13) Um armário grande e sólido com joias.
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14) Um leque de ouro com as armas do Império em
filigrana.
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15) Objetos em ouro: brincos, braceletes, facas,
colheres, garfos, bules açucareiros, coroas e castiçais.
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16) Armas: Maças, tacapes, flechas, pequeno
canhão, espingardas, dardos, trabucos, mosquetes, bacamartes de mecha,
adagas, alabardas (pretorianos do tempo de César), abuses e lanças.
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17) Coleções de Borboletas
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18) Coleções de Insetos
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19) Livros: Humolt, Martius, Saint-Hilaire,
Fábulas do Esposo, Walter Scott, Shakespeare, São Tomás de Aquino, Dante com
a sua divina comédia, Goethe, Cervantes e uma bíblia do século XVII.
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20) Peso padrão que pertenceu a Intendência de
Vila Rica usado para pesar ouro.
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21) Um livro sendo a 1ª Constituição Política do
Brasil, dentro de um estojo de ouro, com 3 centímetros de dimensão.
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22) Um álbum com incrustação a ouro das
celebridades mundiais, com 360 retratos, colecionados pelo Márquez da Penha.
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23)Uma vara do Ouvidor de Sabará, com armas
portuguesas e uma lança da Guarda Pretoriana de César com efígie de
Nero.
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24) Um tamanquinho com que o cel. João Lima
(fundador da fábrica da Itaunense) veio de Portugal
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25) Moedas de cobre do Império Romano e Colônia
do Brasil
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26) Moedas de prata e de ouro do Império
Brasileiro
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27) Uma lança autêntica usada por cavaleiros da
Idade Média
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28) Louças da China e da Índia
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29) Uma bengala de madeira feita a canivete
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30) Uma caveira de veado com chifres de pelo
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31) Dois machados de pedra indígena
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32) Uma palma marítima
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33) Uma peia de Ferro (Instrumento para tortura
de escravos. Constava de uma espécie de algema ou corrente que prendia os pés
do escravo).
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34) Um Libambo (Que em língua bunda significa
corrente que era colocado ao pescoço. Nesta corrente de ferro, vai-se
perdendo de pouco em pouco espaço cada um dos pretos escravos da maneira
seguinte: pelo anel da corrente no espaço competente fazem os sertanejos, e
os do comboio passar um pedaço de ferro e com ele à força de pancada fazem
outro anel; e sobrepondo as pontas de ferro uma a outra, fica a mão do
escravo presa, e metida nesta nova argola).
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O
museu do cel. Francisco Manoel Franco é de fato admirável e é também admirável
a figura cavalheiresca do seu possuidor. Dentro do seu museu ele revive o
passado e goza como nenhum outro o presente. Pois que ele é, na verdade, um
emérito gozador da vida (Jornal de Itaúna, 1934).
Para auxiliar minha pesquisa, foi realizado um levantamento do acervo baseado nas informações das referências bibliográficas e fontes abaixo relacionadas:
Fotografia: Biblioteca Nacional.
Disponível em :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=80582
FILHO, João Dornas. Itaúna:
Contribuição para história do município. 1936,p.34.
FILHO, João Dornas. Efemérides
Itaunenses,1951, p.13-14
MOURA, Clóvis: Dicionário da
escravidão negra no Brasil, p.164
CAMARGOS, Mozart Smith. Itaúna
Humana e Pitoresca: O Museu do Chico Franco, p.65,66.
Jornal: O Estado de Minas. Ouro
Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248
Jornal: Província de Minas. Ouro
Preto, 5 de dezembro de 1885 N° 294
Jornal de Itaúna. Itaúna, 15 de
maio de 1934 nº 83, p.3.
Pesquisa
e Organização: Charles Aquino.
Pós-Graduação em andamento pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF) para o curso de História e Cultura no Brasil Contemporâneo. Possui
graduação em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) –
Divinópolis MG
Colaboração:
Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira