sábado, abril 07, 2018

ACERVO MUSEOLÓGICO ITAÚNA

ITAÚNA SÉCULO XIX

O acervo museológico de Itaúna, preservado pelo Coronel Francisco Manoel Franco, era uma coleção impressionante e diversificada que refletia tanto a história local quanto elementos de culturas distantes e épocas variadas. Franco, conhecido por sua hospitalidade e entusiasmo, gostava de compartilhar seu vasto museu com os visitantes, oferecendo-lhes uma visão singular de artefatos raros e curiosidades históricas.

Entre os itens mais notáveis, estavam duas estatuetas esculpidas por Aleijadinho, um tinteiro feito de lavas do Vesúvio, uma taça de Pompéia e uma caixa com a primeira Constituição do Império do Brasil, em letras microscópicas. O acervo também incluía talismãs incas, telas retratando figuras históricas como Napoleão e D. Pedro II, e uma máscara de um rei da China.

Franco também colecionava objetos mais exóticos, como um leque de ouro com as armas do Império em filigrana, e uma vasta coleção de armas antigas, incluindo maças, espingardas e lanças. Suas coleções de borboletas e insetos, assim como uma variedade de moedas romanas e brasileiras, demonstravam um interesse amplo por história natural e numismática.

Livros raros e preciosos também faziam parte do acervo, com obras de autores renomados como Shakespeare, Goethe, Cervantes e uma bíblia do século XVII. Além disso, Franco possuía peças singulares como um armário cheio de joias, louças da China e da Índia, e instrumentos de tortura de escravos, refletindo um período sombrio da história brasileira.

O acervo do Coronel Francisco Manoel Franco não só preservava uma rica herança cultural e histórica, mas também revelava o caráter multifacetado e o espírito curioso de seu proprietário. Seu museu era um testemunho de seu desejo de reviver o passado e apreciar o presente, oferecendo aos visitantes uma janela única para épocas e lugares diversos, tudo isso sob a sombra de sua personalidade marcante e entusiástica.


Quando ainda bem criança, passando pelo “beco do padre João”, minha atenção invariavelmente se voltava para a casa do cel. Francisco Manoel Franco, despertada que era pelo canto estridente de uma araponga na varanda de sua magnífica vivenda, onde também se salientava, pela originalidade, um deslumbrante globo de cristal azul opalescente (CAMARGOS, p.65).

O cel. Franco Chico Franco é amável e tem prazer em mostrar aos visitantes o seu museu de artes. Assim é que com entusiasmo, naqueles gestos de expansões muito seus, nos vai guiando e dizendo:

1) Duas estatuetas esculpidas em madeira por Aleijadinho
2) Um Tinteiro feito de lavas do Vesúvio
3) Uma taça encontrada nas ruínas de Pompéia
4) Uma caixa diminuta com estampa de D. Pedro I, contendo, em páginas e letras microscópicas, a primeira “Constituição do Império do Brasil” 1824.
5) Um talismã de esteatita dos Incas
6) Uma tela feita de cabelos reproduzindo Napoleão em seu degredo, na ilha de Santa Helena.
7) Uma tela de D. Pedro II na Quinta da Boa Vista
8) Uma tela do julgamento da célebre cortesã grega Frinéia no Areópago.
9) Uma tela com moldura artística contendo a fotografia dos 31 membros do primeiro Congresso Nacional.
10) Trabalhos em madrepérola.
11) Uma máscara de um rei da China.
12) Um par de alpercatas, vendidos pela famosa Chica da Palha.
13) Um armário grande e sólido com joias.
14) Um leque de ouro com as armas do Império em filigrana.
15) Objetos em ouro: brincos, braceletes, facas, colheres, garfos, bules açucareiros, coroas e castiçais.
16) Armas: Maças, tacapes, flechas, pequeno canhão, espingardas, dardos, trabucos, mosquetes, bacamartes de mecha, adagas, alabardas (pretorianos do tempo de César), abuses e lanças.
17) Coleções de Borboletas
18) Coleções de Insetos
19) Livros: Humolt, Martius, Saint-Hilaire, Fábulas do Esposo, Walter Scott, Shakespeare, São Tomás de Aquino, Dante com a sua divina comédia, Goethe, Cervantes e uma bíblia do século XVII.
20) Peso padrão que pertenceu a Intendência de Vila Rica usado para pesar ouro.
21) Um livro sendo a 1ª Constituição Política do Brasil, dentro de um estojo de ouro, com 3 centímetros de dimensão.
22) Um álbum com incrustação a ouro das celebridades mundiais, com 360 retratos, colecionados pelo Márquez da Penha.
23)Uma vara do Ouvidor de Sabará, com armas portuguesas e uma lança da Guarda Pretoriana de César com efígie de Nero. 
24) Um tamanquinho com que o cel. João Lima (fundador da fábrica da Itaunense) veio de Portugal 
25) Moedas de cobre do Império Romano e Colônia do Brasil
26) Moedas de prata e de ouro do Império Brasileiro
27) Uma lança autêntica usada por cavaleiros da Idade Média
28) Louças da China e da Índia
29) Uma bengala de madeira feita a canivete
30) Uma caveira de veado com chifres de pelo
31) Dois machados de pedra indígena
32) Uma palma marítima
33) Uma peia de Ferro (Instrumento para tortura de escravos. Constava de uma espécie de algema ou corrente que prendia os pés do escravo).
34) Um Libambo (Que em língua bunda significa corrente que era colocado ao pescoço. Nesta corrente de ferro, vai-se perdendo de pouco em pouco espaço cada um dos pretos escravos da maneira seguinte: pelo anel da corrente no espaço competente fazem os sertanejos, e os do comboio passar um pedaço de ferro e com ele à força de pancada fazem outro anel; e sobrepondo as pontas de ferro uma a outra, fica a mão do escravo presa, e metida nesta nova argola).

O museu do cel. Francisco Manoel Franco é de fato admirável e é também admirável a figura cavalheiresca do seu possuidor. Dentro do seu museu ele revive o passado e goza como nenhum outro o presente. Pois que ele é, na verdade, um emérito gozador da vida (Jornal de Itaúna, 1934). 



Para auxiliar minha pesquisa, foi realizado um levantamento do acervo baseado nas informações das referências bibliográficas e fontes abaixo relacionadas:


Fotografia: Biblioteca Nacional. Disponível em :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.asp?codigo_sophia=80582

FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936,p.34.

FILHO, João Dornas. Efemérides Itaunenses,1951, p.13-14

MOURA, Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164

CAMARGOS, Mozart Smith. Itaúna Humana e Pitoresca: O Museu do Chico Franco, p.65,66.

Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248

Jornal: Província de Minas. Ouro Preto, 5 de dezembro de 1885 N° 294

Jornal de Itaúna. Itaúna, 15 de maio de 1934 nº 83, p.3.

Pesquisa e Organização: Charles Aquino.  Pós-Graduação em andamento pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para o curso de História e Cultura no Brasil Contemporâneo. Possui graduação em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Divinópolis MG

Colaboração: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira