Análise “Coplas
Afro-Brasileiras" de João Dornas Filho
João Dornas Filho publicou "Coplas Afro-Brasileiras" em 1935, uma época em que a literatura brasileira estava muito voltada para a busca de identidade nacional. Este período, pós-modernista, viu um movimento em direção à valorização das raízes culturais brasileiras, incluindo as influências africanas. O título "Coplas Afro-Brasileiras" sugere um foco nas tradições afro-brasileiras, o que é relevante para entender o contexto e a intenção do autor.
O poema é composto por quatro
estrofes de quatro versos cada uma (quadras), o que é típico das
"coplas" - uma forma poética tradicional que remonta à Península
Ibérica, mas aqui adaptada ao contexto afro-brasileiro. A métrica é simples, e
o ritmo é marcado por rimas alternadas (ABAB), conferindo musicalidade e leveza
ao texto. A linguagem usada por Dornas Filho é coloquial e rica em termos de
origem africana, como "tundá" (talvez referindo-se a um tambor ou
dança) e "tatú-peba" (um tipo de tatu encontrado no Brasil). Este uso
de termos regionais e africanos não só enriquece o texto, mas também reforça a
autenticidade e a vivacidade cultural das personagens retratadas.
Cotidiano Afro-Brasileiro: A
primeira estrofe mostra uma cena simples e bucólica do cotidiano, com Maria
preparando-se para ir à beira do rio. Esse retrato de uma vida simples e
conectada à natureza é um tema recorrente na literatura que busca valorizar as
tradições populares.
Identidade e Origem: Na
segunda estrofe, há uma referência a "quindimba" e
"timbiri", que são elementos cuja significação exata pode não ser
clara para todos, mas que evocam uma forte sensação de identidade cultural
específica. A menção ao "tatú-peba" também é uma alusão à fauna local
e às práticas culturais afro-brasileiras.
Sofrimento e Resiliência:
A terceira estrofe é mais introspectiva, com o eu lírico refletindo sobre sua
condição de vida. Nascido "no mês de maio", tradicionalmente um mês
associado a Maria e à maternidade, e "cumprindo sina de pobre", o
poema toca em questões de pobreza e destino, comuns em narrativas
afro-brasileiras que refletem as dificuldades enfrentadas por essa comunidade.
Desejo e Frustração: A última estrofe usa a imagem da aranha que tece para expressar um desejo profundo de conexão e cuidado. A metáfora de tecer os cabelos de alguém amado, que "vivem me maltratando", sugere tanto uma relação de desejo quanto de dor, uma dualidade comum na poesia de amor.
Cabelos: Frequentemente
associados à identidade, beleza e cultura na tradição afro-brasileira, os
cabelos aqui simbolizam não só o amor e o cuidado, mas também as dificuldades e
os desafios de se conectar profundamente com outra pessoa.
Aranha e Tecer: A aranha é um
símbolo tradicional de paciência, habilidade e criatividade. Comparar-se a uma
aranha que tece é expressar um desejo de habilidade e paciência para lidar com
os desafios emocionais.
"Coplas
Afro-Brasileiras" de João Dornas Filho é um poema que, através de uma
estrutura simples e uma linguagem rica em elementos culturais, oferece um
vislumbre da vida e da identidade afro-brasileira. Ele capta as nuances do
cotidiano, os desafios da pobreza, o desejo e a resiliência, tudo isso enquanto
celebra a riqueza cultural e as tradições. A combinação de temas universais com
elementos específicos da cultura afro-brasileira faz deste poema uma obra
significativa no panorama literário brasileiro.