Minha
família mudou-se para Itaúna em 1951. Mais precisamente em fevereiro. Ficamos
uns dois meses no Hotel do Sinval, na rua Estrada de Ferro, ao lado da estação
ferroviária. Eu tinha sete anos e vivia às voltas com uma amigdalite que sempre
me levava para a cama. Vindo de cidades menores, sem médicos, em Itaúna eles já
eram fartos.
Se
a memória não me trai, o primeiro que conheci foi o dr. José Drumond. A
penicilina era o " santo milagroso " e era receitada sem limites.
Medida em milhares de unidades e administradas com injeções. Fiquei milionário
em antimicrobianos. Lembro-me também do dr. Thomaz Andrade, com consultório na
rua Arthur Bernardes. Vizinho do dr. José Campos, este, também professor de
Filosofia na Escola Normal. Na mesma rua morava o dr. Coutinho, ex-prefeito,
casado com a d. Nair, então diretora da Escola Normal.
O
dr. Ademar morava na rua Antônio de Mattos e o dr. Virgílio numa casa senhorial
na mesma rua do Ginásio Sant’Ana. O Dr. Hely Gonçalves morava na rua Capitão
Vicente. Se não me engano, era ginecologista e obstetra.
Inesquecível
para toda a família, foi o dr. Oliveiros Rodrigues. Natural de Itaguara, entrou
na nossa vida um ou dois anos depois de nossa chegada. Casado com a d.Marta de
Oliveira Guimarães, diretora do Grupo Escolar dr.Augusto Gonçalves. Tornou-se
grande amiga de minha mãe e o seu marido, amigo de meu pai. Frequentaram-se durante anos e anos. Nos
sábados, o casal ia na nossa casa. No domingo, a visita era retribuída.
O
dr. Oliveiros, sem desdouro para os outros citados era um excelente
profissional. Formado em Farmácia e posteriormente em Medicina, na antiga
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Colega de turma do político paulista
Adhemar Ferreira de Barros. Era também um ótimo " papo", frequentou
rodas boêmias no Rio de Janeiro e entre suas proezas, nos contou que foi
namorado de Aracy de Almeida, a maior intérprete de Noel Rosa, segundo os entendidos.
Aliás, Noel Rosa também começou a estudar Medicina. Trocou o estetoscópio e o
bisturi pela boemia e música. Morreu tuberculoso.
Dr.
Oliveiros e d.Marta não tinham filhos. Nós, eu e meus irmãos éramos tratados
como tal. Por ter sido bom boêmio, entendia bem os nossos excessos juvenis. Que
Deus o tenha.
Texto:
Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que
viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente
para o blog Itaúna Décadas em 19/12/2017.
Acervo:
Shorpy