Prof.
Luiz MASCARENHAS*
Outro dia, navegando pela Internet, deparei-me com um interessante
texto, atribuído a Drummond: “Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a
que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão”. Contudo, ao verificar no site
oficial do poeta Carlos Drummond de Andrade, constatei a inverdade: este
escrito não é da autoria do mesmo. E isto acontece amiúde. Feitas estas
considerações literárias, passemos ao cerne da questão: as fatias do tempo e a
nossa existência espraiada sobre o mesmo.
No Livro do Eclesiastes
podemos ler: “Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito
debaixo do céu. Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de planta e tempo
de arrancar o que se plantou” (Ecl. 3:1,2). Assim se transcorre a nossa
existência: feita de nossas próprias escolhas e que em dado momento, passamos a
colher os frutos das mesmas; ora doces, ora amargos...
Ora, tudo no mundo em que
vivemos é obra do pensamento humano. Ou seja, existe o mundo físico, real e o
mundo dos significantes e significados que o próprio homem imaginou. Não estou
aqui eximindo a ideia do Deus Onipotente e Criador de tudo, mas, milhares de
questões foram resolvidas pelas interpretações, significados e simbolismos
outorgados pelo próprio ser humano.
Uma dessas questões é o próprio
tempo, sobre o qual falamos. Temos notícia de tentativas de medições e
organização do tempo em calendários há milênios. No ano 46 a.C., Júlio César
promoveu uma reforma do antigo calendário lunar e fixou o ano com 365 dias e 12
meses e este vigorou até o séc. XVI da Era Cristã. Por volta do ano de 1582, o
Papa Gregório XIII reuniu um grupo de especialistas para corrigir o calendário
juliano. O objetivo da mudança era fazer regressar o equinócio da primavera
para o dia 21 de março e desfazer o erro de 10 dias existente na época.
Trata-se do famoso calendário gregoriano, ainda utilizado por milhares de
países até os dias que correm.
Portanto, por entre números e datas e comemorações e
efemérides, escoa a existência humana sobre a Terra. E o viver requer de nós
esperanças. E ainda há os que vivem (pouquíssimos) e a imensa maioria que
apenas sobrevive...
Ao observar o
burburinho, a correria, a afoiteza das pessoas nesta época – transeuntes do
tempo e do espaço; assoberbados de “nada” e atarefados de grandes “vazios”;
impõe-se a reflexão sobre o desafio de se estar vivo e de dotar esta vida de
razões, de significados e a partir desta instrumentação ser capaz de sorrir, de
amar, de sentir ou de apenas ver o vento passar...
Pois como diria Fernando
Pessoa: “`as vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a
pena ter nascido ”.
Feliz Ano! Novo ou velho, dependerá da acuidade de sua
escolha e vontade.
*Professor,
Historiador, Escritor / Da Academia Itaunense de Letras.
Acervo: Shorpy