sábado, novembro 30, 2019

ISAURINO DO VALE


 Lei Municipal 1286/76 / CEP 35680-071
Denomina logradouro público: Rua Isaurino do Vale / Bairro Vila Tavares


Pedreiro, arquiteto, cartógrafo, topógrafo, músico ...

Isaurino do Vale, vibrante personalidade humana e pioneiro do abastecimento d’agua potável em Itaúna, era um cidadão que impressionava a todos pela sua bondade altruística, pela maneira oculta que praticava a caridade.
Nasceu aos 21 de janeiro de 1899 em Queluz de Minas, hoje Conselheiro Lafaiete. Foram seus pais o sr. Manoel do Vale e Dona Maria Petrina Menezes do Vale, possuindo quatro irmãos, com os quais se entendia muito bem e com afinidades fraternais: José Miguel do Vale, Dolores do Vale Gomes, Augusto do Vale e Maria do Vale.
Em 1925 a convite do então Prefeito Municipal, Dr. Dario Gonçalves de Souza, saiu de sua terra natal para o município de Itaúna, com a importante missão de construir uma represa para captação de um novo manancial de água potável para a cidade.
Firmara contrato com o engenheiro Dr. José da Silva Brandão, que recrutara o Dr. Miguel e este, por sua vez, arrebatara daquelas encostas e ladeiras os irmãos Vale — Isaurino e Augusto, para que o auxiliassem na missão da grande empreitada.
A comitiva instalara-se na Rua Direita, hoje, avenida Getúlio Vargas, no casarão azulado e antigo do Vigário Pe. João Pereira, que o alugara para aqueles benfeitores. Dona Maria Petrina de Menezes, mãe dos irmãos Vale, vinha como administradora do lar. Excelente “relações públicas”, logo fez um vasto círculo de amizades na cidade, tornando-se muito admirada.
Daquela equipe fazia parte: pedreiros, cabouqueiros, um carroceiro, um ferreiro, além do carroção que trouxeram para tração da represa. Formavam todos uma só família, obedecendo ordens e aos comandos de Dona Maria Petrina Menezes Vale.
Com muitos sacrifícios até mesmo riscos de vida, iam edificando a represa, dinamitando a pedreira, batendo brocas ferrando bigornas; material transportado à distância pela caravana.
Isaurino e Augusto eram pedreiros competentes. Isaurino chefiava a turma com grande empenhado em um serviço rápido, mas, com segurança. Simpáticos, logo caíram nas graças do povo itaunense, que os acolheram com grande hospitalidade. 
Durante o dia, prestavam serviços à represa. À noite, reunidos no solar antigo, encantavam os moradores com seus instrumentos. Isaurino era exímio ao violão, violino e bandolim. Augusto era igualmente, dedilhava o violão. Um cunhado de ambos, que viera em visita à família ali permanecendo por algum tempo, era clarinetista. Os demais cantavam inclusive Dona Petrina.
Assim, uma orquestra se formara naquela casa para embevecimento de seus vizinhos. Era corrente afinar instrumentos e valsas que enchiam o ar com a harmonia. Modinhas eram ali revividas para alegria geral dos coirmãos. As composições românticas deleitavam ouvidos e corações. Os chorinhos estridentes e brejeiros, como “Sururu na cidade” e “Tico-Tico no Fubá”, eram igualmente interpretadas. Aqueles homens que, durante o dia ofereciam as mãos às marretas, colheres de pedreiro, alavancas e brocas, à noite dedilhavam instrumentos com sabedoria e sensibilidade.
Na luta do homem contra a natureza, conseguiram aproveitar da rocha o que desejavam — perfurações foram obtidas através de explosões e alimentadas pelo grande açude, amparada pelos “ladrões” mecânicos, avançando para as valas previamente abertas e para o paredão levantado. A represa nascia consciente de sua maternal tarefa de alimentar com águas puras, a população da cidade. 
Isaurino, sempre atento no comando de seus homens, liderava ao mesmo tempo, dois grupos diferentes — durante o dia a força física e o cérebro e a noite as emoções com sua música.
Desde o início de seu trabalho na represa fora admitido como funcionário da Prefeitura Municipal. Terminados os trabalhos, não mais voltou a residir em Queluz de Minas. Permaneceu em Itaúna. Seu irmão Augusto mudou-se para o Japão de Oliveira, hoje Carmópolis de Minas, onde casou-se e constituiu família.
Isuarino continuava laborioso, nos quadros da Prefeitura. Era um urbanizador admirável. Autodidata em engenharia. Sempre em ascensão em seus postos, prestava relevantes serviços à comunidade com eficiência e brilhantismo.
Casara-se com Dona Raquel Nogueira do Vale filha de Antônio Esteves Gaio e de Dona Osória Nogueira Soares, nascendo-lhes, apenas uma filha —Inês Antunes do Vale, professora primária, casada com o sr.  Walter Antunes, próspero comerciante e fazendeiro abastado, sendo filhas deste casal, Soraya Antunes do Vale e Silvana Antunes do Vale.
Isaurino do Vale ocupou os mais expressivos cargos na Câmara Municipal de Itaúna:
Ø    1925 — Admitido como Encarregado dos Serviços de Abastecimento de Água e esgoto;
Ø    1928 — Assume a direção dos referidos serviços como administrador;
Ø    1937 — Legalizado para o exercício da profissão, caderneta nº 131;
Ø    1938 — Designado par servir como membro do Diretório Municipal de Geografia;
Ø    1940 — Designado para proceder à revisão da Carta Geográfica do Território do Município e Auxiliar do Serviço de Recenseamento Geral do Brasil;
Ø    1941 —Designado para elaborar uma monografia do Município, no concurso instituído pelo Conselho Nacional de Geografia. Concluído este trabalho e entregue para julgamento, foi aprovado ainda no mesmo ano e foi designado para proceder ao Recenseamento com Base para Elaboração da Monografia Histórico Corográfico do Município de Itaúna. Realizada a obra que deu entrada no Departamento estadual de Estatística de Belo Horizonte. Foi muito felicitado pelo Diretor do Departamento;
Ø    1942   — Designado para as funções de Fiscal do Distrito da Cidade, pelo falecimento do antigo ocupante do cargo. Também neste ano foi designado para chefiar os serviços de Estatística Municipal;
Ø    1944 — Volta a ocupar a chefia dos Serviços de Obras;
Ø    1945 — Designado por ordem do sr. Prefeito para auxiliar ao engenheiro topógrafo, no levantamento da Planta Cadastral da cidade;
Ø    1946 — Assume o cargo de Chefe de Serviços de Obras, por haver concluído os trabalhos designados por Portaria Oficial;
Ø    1954 — Aposenta-se de acordo com as leis vigentes na época.

Isaurino do Vale foi um grande benemérito e Itaúna muito lhe deve. Um precursor do progresso local, colocou todas as suas energias ao labor constante da edificação do município. Faleceu aos 3 de outubro de 1969, em Belo Horizonte, havendo sido trasladado para Itaúna, onde foi sepultado segundo seu desejo. A figura inesquecível do batalhador permanece — pedreiro, arquiteto, cartógrafo, topógrafo, músico e funcionário público de inédito valor e de invulgar talento.


REFERÊNCIAS:
PAULA. Almênio José de. Figuras Notáveis de Minas Gerais, 1973, p.230,231.
Pesquisa: Charles Aquino, Patrícia Gonçalves Nogueira.
Organização & Fotografia: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria Castro Nogueira
Projeto de Lei dos Logradouros: Prefeitura Municipal de Itaúna
Texto 1: Guaracy de Castro Nogueira  (In Memoriam)


INFORMAÇÕES SOBRE O RESERVATÓRIO E BARRAGEM:

SOBRE O RESERVATÓRIO: Nos anos de 1925 e 1926 foi construído o primeiro reservatório da cidade, localizado na antiga Rua das Viúvas, hoje Agripino Lima, esquina com Rua São Vicente. Os responsáveis pela construção foram Isaurino do Vale e Dr. Alcindo Vieira. Pela Portaria nº 137 de 1928 o Sr. Isaurino do Vale foi nomeado Fiscal de Obras Públicas Municipais. Além de trabalhar na Prefeitura o Sr. Isaurino fazia projetos. Dezenas de casas em Itaúna, inclusive duas para meu pai, foram projetadas pelo mesmo. Isaurino era sogro do Sr. Walter Antunes, proprietário da Granja Maçaranduba.
SOBRE A BARRAGEM: Logo acima do Bairro Nogueirinha, na estrada para o Córrego do Soldado, há ainda hoje, os restos de uma pequena barragem que servia para captação das águas do Ribeirão do Sumidouro donde vinha por gravidade, em grossos tubos de ferro até o Reservatório da Rua das Viúvas.

Pesquisa: Charles Aquino
Fonte: Arquivo Municipal Câmara de Itaúna
Revisão: Prof. Marco Elísio Chaves Coutinho
Texto 2: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)

quarta-feira, novembro 27, 2019

ITAÚNA: SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Muitos foram até a Itália, ficando outros no Rio de Janeiro, aguardando a ordem de partir. José Soares Filho foi um dos que esperavam no depósito do Rio de Janeiro para seguir.

A hora de despedir-se de sua mãe, sua garganta apertava de pena por vê-la chorar, sem saber se ele voltaria a seu lado ou se tombaria ao lado dos outros, em defesa do Brasil.
Mas, partindo de Itaúna, só um pensamento o devorava: “lutar e vencer”, cumprindo sua missão patriótica.

Afinal, não foi preciso seguir, porque os que o precederam, já haviam vencido, e voltaram cheios de glórias para suas cidades de origem.
Como José Soares, foram muitos itaunenses mas só alguns seguiram à frente da batalha.

Até a Itália foram os seguintes; Antônio Lopes de Morais, Elídio Afonso Guimarães, José Ferreira de Matos, Valdemar e AmadoE também os radicados em Itaúna: Major Rui Machado, Geraldo Rodrigues China e Inácio Campos Cordeiro.

Valdemar e um outro, apelidado por “Mula Manca”, acabaram seus dias sofrendo das faculdades mentais, ou melhor dizendo, de neuroses de guerra.

“Mula Manca” vivia cantando pelas ruas da cidade coisas desconexas, mas que lembravam os dias de combate. Por exemplo: “o navio de guerra quer falar contigo”, ou então: “o navio de guerra e o paraquedista”. E assim, esses dois foram-se desaparecendo, no turbilhão da vida.

Maria Magdalena Carneiro e Geralda Garcia Braz Também se ofereceram “voluntárias”, como enfermeiras da Cruz Vermelha, mas só ficaram em Belo Horizonte tratando dos soldados feridos que regressavam da frente de batalha.

Afinal, no dia 18 de julho de 1945, chegavam à Itaúna. Foi uma apoteose. A cidade soube receber os filhos que souberam honrar seu nome.

O povo se aglomerava na praça Dr. Augusto, dando vivas, ao som da banda de música, toques de sinos, todos cantando o Hino dos Pracinhas: “Você sabe de onde eu venho? É de uma pátria que eu tenho”.

Antônio Lopes de Morais e José Ferreira de Matos foram carregados aos ombros por populares, desde a praça da estação até a Praça da Matriz.

Soldado Amado
Soldado Antônio Lopes de Moraes
Soldado Elídio Afonso Guimarães
Enfermeira Geralda Garcia Braz
Soldado Geraldo Rodrigues China
Soldado Inácio Campos Cordeiro
Soldado José Ferreira de Matos
Soldado José Soares Filho
Enfermeira Maria Magdalena Carneiro
Soldado Mula Manca
Soldado Jovelino Olympio Guimarães
Soldado Paulo da Fonseca
Major Rui Machado
Soldado Valdemar
Soldado Antunes Pinto



COMEMORAÇÃO DO FIM DA GUERRA EM ITAÚNA

Na praça da matriz, foi armado um belíssimo altar da Pátria, ricamente ornado com as cores nacionais. A praça, toda estava enfeitada com bandeirolas e com as bandeiras das Nações Unidas.

Celebrei a Santa Missa às 8 horas. Compareceram todos os sacerdotes presentes na paróquia, autoridades civis e militares, Escola Normal, Ginásio e Academia Comercial Santana, Grupo escolar, destacamento militar e grande massa de povo.

Na hora segunda — consagração das duas bandas, itaunense e Santanense que cantavam festivamente o Hino Nacional, enquanto, o destacamento apresentava às suas armas ao Deus infinitamente poderoso.

À noite, solene procissão do Santíssimo Sacramento até ao altar, onde teve lugar a oração congratulatória de Ação de Graças pelo Revmo. Pe. José Nobre e em seguida, Te Deum e benção do Santíssimo Sacramento.

Foi um momento de entusiasmo pelas aclamações ao Santíssimo Sacramento e pelo povo agitando os seus lenços brancos. Quase cinco mil pessoas agrupavam a praça da Matriz.


REFERÊNCIAS:
Texto 1: Iracema Fernandes de Sousa
Fonte Impressa: SOUSA, Iracema Fernandes de. Itaúna através dos tempos, Ed. LEMI S.A., BH, 1984, págs. 105,106
Pesquisa, Elaboração e Arte 1: Charles Aquino
Texto 2: Padre José Ferreira Netto
Fonte Impressa: Livro do Tombo da Paróquia de Sant’Anna de Itaúna - 1902 a 1947, p. 84v,85.
Acervo: Charles Aquino
Pesquisa & Elaboração 2: Charles Aquino.
Informações sobre Óbitos: Prefeitura Municipal de Itaúna: https://www.itauna.mg.gov.br/portal/servicos/402/cemit%C3%A9rios-municipais


terça-feira, novembro 26, 2019

quinta-feira, novembro 21, 2019

CENSO 1831



A freguesia foi dividida em 16 quarteirões, cada um com 25 fogos, totalizando 400 fogos. Em cada fogo[1] fazia-se o levantamento de todos residentes, inclusive filhos casados e escravos.

O recenseamento buscava conseguir os seguintes dados:

Número de quarteirões em cada freguesia; 25 fogos em cada quarteirão; nome dos habitantes de cada fogo; a qualidade do habitante, se era branco, pardo, preto, africano, crioulo ou cabra; sua condição, se era livre ou escravo; legítimo ou exposto[2]; idade, estado, se casado ou solteiro e ocupação.

BRANCOSA
843
MULATOSB
869
CRIOULOSC
552
PRETOSD
448
AFRICANOSE
45

TOTAL

2.757

A: Descendentes de portugueses;
BMiscigenação brancos/africanos;
CFilhos de africanos ou pretos nascidos no Brasil;
D: Africanos trazidos em navios negreiros contrabandeados;
E: Nascidos no continente africano trazidos em navios e registrados.



[1] Casa de residência ou que pertencia à casa ou família, lareira, fogão e por extensão, lar ou domicílio.

[2] Recém-nascido abandonado pela mãe em outra casa; enjeitado. Geralmente eram colocados na portas das casas, entregues a orfanatos administrados por freiras.  


Referências:

Fonte/texto impresso: ITAÚNA: Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna em Detalhes. 2003, p.22.

Fonte: http://www.nphed.cedeplar.ufmg.br/

Acervo: Shorpy ( Fotografia meramente ilustrativa)

Pesquisa & Organização: Charles Aquino

quinta-feira, novembro 14, 2019

REPUBLICANOS EM ITAÚNA

A República em Itaúna: Um Pioneirismo Inquestionável

O texto de João Dornas Filho não é apenas um registro histórico, mas uma janela para compreender a paixão e o comprometimento dos itaunenses com os ideais republicanos. Rico em detalhes, ele oferece uma visão viva e emocionante de um momento decisivo na história brasileira, destacando o papel singular de Itaúna nesse processo. Com gestos simples, mas de grande impacto, os habitantes do arraial de Sant'Anna do Rio São João Acima ajudaram a lançar as bases da República no Brasil. 

No texto do historiador João Dornas Filho, você mergulhará em um relato fascinante sobre como Itaúna se destacou no cenário político brasileiro, marcada por um fervor que, na época da proclamação da República, talvez a tenha tornado única em Minas por não contar com um único monarquista em seu território.

Itaúna destacou-se como um dos primeiros redutos republicanos em Minas Gerais, manifestando-se com fervor pela nova forma de governo antes mesmo da Proclamação da República. Tanto era intenso esse espírito republicano que, por volta de 1885, ainda sob a vigência da Monarquia, já não se encontrava um monarquista sequer na região. 

O entusiasmo pela causa era tamanha que o tenente-coronel Zacharias Ribeiro de Camargos ousou nomear sua fazenda de “República”, enquanto Aureliano Nogueira Machado, maestro da banda de música local, chegou a escrever em letras garrafais a frase "VIVA A REPÚBLICA!!" no lombo de um animal, em um gesto simbólico de afirmação política.

Esse engajamento tomou forma institucional em 21 de abril de 1889, quando um grupo de cidadãos ilustres, incluindo Dr. Augusto Gonçalves, Manoel Gonçalves, Francisco Manoel Franco, João Dornas dos Santos, Josias Nogueira Machado, João de Araújo Santiago e Cassiano Dornas dos Santos, fundou o “Club Republicano 21 de Abril”, uma organização vinculada ao Centro Republicano de Ouro Preto, então a capital da província. Essa iniciativa reforçava o compromisso da cidade com os ideais republicanos e sua participação ativa no movimento político que culminaria na deposição da Monarquia.

Quando, em 15 de novembro de 1889, a notícia da Proclamação da República finalmente chegou ao arraial de Sant’Ana do Rio São João Acima, o que se seguiu foi uma explosão de entusiasmo popular. Comemorou-se com grandes festas e manifestações de regozijo. 

Um dos episódios mais pitorescos dessa celebração envolve o republicano fervoroso Cassiano Dornas dos Santos, que, tomado pelo entusiasmo, retirou seu paletó e o estendeu no chão para que o burro que transportava as malas do Correio passasse por cima – um gesto simbólico de deferência à mensagem revolucionária que chegava à cidade.

A recepção calorosa ao estafeta do Correio, no entanto, causou um breve mal-entendido: sem compreender o motivo da euforia, o mensageiro, envolto pela multidão em festa, chegou a temer que estivesse sendo vítima de alguma agressão. Logo, porém, entendeu que se tratava de uma demonstração de júbilo coletivo pelo novo regime que se instaurava no Brasil.

A exaltação republicana não se limitou às festividades do dia da proclamação. Na noite de 20 de novembro, os cidadãos organizaram uma grandiosa passeata cívica. Um dos momentos mais marcantes foi a condução de um andor decorado com as cores da bandeira republicana, sobre o qual foi colocada uma criança – filha de Arthur de Mattos – vestida simbolicamente como a personificação da República. Curiosamente, o mesmo andor, que simbolizava a renovação política do país, acabou servindo também para um propósito mais prático e humanitário naquela mesma noite: transportar uma parteira idosa e debilitada, que precisava atender com urgência a um chamado.

O “Club Republicano 21 de Abril” consolidou-se, assim, como um dos primeiros clubes republicanos de Minas Gerais, demonstrando o pioneirismo de Itaúna na adesão ao novo regime e sua participação ativa na transição política do Brasil. O engajamento dos itaunenses não foi apenas um reflexo dos ventos da mudança, mas um testemunho do compromisso da cidade com os ideais republicanos muito antes que eles se tornassem realidade em todo o país. 

    

Organização e elaboração: Charles Galvão de Aquino
FONTE: FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a História do Município.
Belo Horizonte. 1936, p.33-34.
FOTOGRAFIA ORIGINAL: Wikipédia
ACERVO:https://pt.wikipedia.org/wiki/Deodoro_da_Fonseca 

segunda-feira, novembro 11, 2019

sexta-feira, novembro 08, 2019

AFRESCOS DE SANT'ANA


Afrescos de Sant’Ana na Velha Matriz 

A história da antiga Matriz de Sant’Ana de Itaúna está profundamente ligada ao desenvolvimento religioso, social e artístico da cidade. Originalmente fundada como Capela do Rosário em 1840, foi edificada com o esforço dos pretos em suas horas de folga, testemunhando a devoção e a resiliência da comunidade local. 

Em 1853, ocorreu a permuta das capelas, e o templo foi elevado à condição de matriz, mantendo-se como um marco religioso até os dias atuais. Sob a supervisão do padre Antônio Domingues Maia, a matriz passou por sucessivas ampliações e transformações ao longo de quase um século, até ser demolida em 1934, para dar lugar a uma nova edificação, mais condizente com o crescimento e as demandas da cidade em constante transformação.

A Matriz original, concluída em 1875, era uma construção simples em sua aparência exterior, mas seu interior surpreendia pela riqueza das pinturas e elementos decorativos. Pedro Campos, de Sabará, auxiliado por Antônio José dos Santos (Tonho do Bá), realizou as primeiras pinturas internas, embora sua qualidade tenha sido considerada medíocre. Os reparos realizados em 1916 e 1926 acabaram eliminando grande parte dessa obra inicial.

O edifício, contudo, era marcado não apenas por suas belezas artísticas, mas também por tragédias. Durante as obras de ampliação em 1857, o carpinteiro João Júlio César Silvino perdeu a vida ao cair da cobertura. Em homenagem ao seu trabalho, foi o primeiro sepultado no interior da igreja.

Entre os afrescos, destacavam-se representações bíblicas, como a degolação dos inocentes, a fuga para o Egito e o casamento de Nossa Senhora. A qualidade de algumas dessas obras chamou a atenção, especialmente pela similaridade da tonalidade azul utilizada com a técnica do renomado Mestre Ataíde. Em 1917, o pintor Otávio Vítor, ao restaurar a igreja, decidiu preservar uma dessas telas, acreditando tratar-se de uma obra excepcional, mesmo sem conhecer seu autor.

Mais tarde, foi revelado que uma das pinturas — o casamento de Nossa Senhora com São José — era uma réplica de uma obra de Rafael, originalmente pintada para a Igreja de São Francisco em Città di Castello, em 1504. Essa descoberta reforça a influência do Renascimento italiano no imaginário religioso local e no repertório artístico da época.

Entre os elementos icônicos da Matriz estava o galo de lata, instalado em uma das torres. De significado litúrgico, o galo era objeto de superstição: acreditava-se que, se apontasse seu bico para o cemitério devido ao vento, grandes tragédias e mortes ocorreriam na cidade.

Os sinos e o relógio da torre foram adquiridos graças a uma subscrição pública liderada por João Antônio da Fonseca, um grande benemérito da igreja. Esses objetos testemunhavam o esforço comunitário em torno da construção e manutenção do espaço religioso.
A demolição da Matriz em 1934, conduzida pelo padre Ignácio Campos, marcou o fim de um ciclo histórico e o início de uma nova era para Itaúna. Embora a igreja antiga não tenha sobrevivido, seu legado persiste na memória coletiva, nas histórias sobre seus afrescos e nos elementos preservados, como a estampa do casamento de Nossa Senhora encontrada no Lar Católico.

A velha Matriz de Sant’Ana, apesar de simples por fora, era um verdadeiro repositório de história, fé e arte, representando o desenvolvimento espiritual e cultural de Itaúna no século XIX e início do século XX.


"Numa das torres da velha matriz existia um galo de lata, de significação litúrgica. Se caso esse galo, por efeito do vento, voltava o bico para o lado do cemitério, grandes mortandades se verificavam na cidade" ... (DORNAS, pág. 99).  "Os sinos e relógio da torre foram adquiridos por subscrição pública, iniciada por um grande benemérito de Sant’Anna — João Antônio da Fonseca" ... (DORNAS, pág. 24).

Antiga Igreja Matriz Sant'Ana de Itaúna(MG)

"A ampliação da matriz custou a vida de João Júlio Cesar Silvino, carpinteiro, que trabalhava nas obras de cobertura, em 1857, e que precipitara ao solo. No Livro de óbitos nº 1 consta o lançamento do seu enterramento no interior da igreja, em homenagem ao fato de trabalhar nas obras, parecendo ser o primeiro sepultado ali" (DORNAS, pág. 24).
(clicar para ampliar)

"Só em 1875 é que terminaram as obras com a pintura interna feita pelo artista Pedro Campos, de Sabará, auxiliado por Antônio José dos Santos (Tonho do Bá, como o chamavam).  Era uma pintura medíocre, que os consertos de 1916 e 1926 fizeram desaparecer" (DORNAS, pág. 24).

"Era uma igreja de linhas simples por fora, não tendo nada de arte. Simples por fora, mas pomposa por dentro; era bem pintada, com lindas telas, tinha no teto anjinhos e medalhões nas paredes do lado direito do altar-mor era a tela da degolação dos inocentes, a fuga para o Egito e, do lado esquerdo, o casamento de Nossa Senhora" ... (Sousa, pág.37).


"No ano de 1917, quando o pintor Otávio Vítor (o Otavinho) restaurou a pintura da igreja, não quis tocar nem de leve na tela, por se tratar de obra de arte de algum pintor famoso como mestre Ataíde. Ele ignorava quem havia pintado um azul tão parecido como o desse mestre. Só ele sabia misturar aquela cor, só ele conhecia o segredo" (Sousa, pág.37).

"Passados muitos anos da demolição da velha Matriz, encontrei no Lar Católico a estampa do casamento de Nossa Senhora com São José. O quadro é o mesmo da pintura de nossa igreja. É de *Rafael e foi pintado para a igreja de São Francisco em Cittá di Castello no ano de 1504" (Sousa, pág.38).


*Raffaello Sanzio


As colinas vão ser abaixadas / Memórias Sonoras e Afetivas

Referências:
Organização, Pesquisa e Arte: Charles Aquino
TEXTOS DE: João Dornas Filho e Iracema Fernandes de Sousa.
FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a história do município, 1936, págs. 22-24,99.
SOUSA, Iracema Fernandes de. Itaúna através dos tempos, Ed. LEMI S.A., BH, 1984, págs. 37-38.
Fotografias meramente ilustrativas disponíveis em : Anjos& Medalhões, Casamento da Virgem, Massacre dos Inocentes e Fuga para oEgito.
Acervo:  Charles Aquino, Paróquia Sant'Anna de Itaúna.
Family Search disponível em:
"Brasil, Minas Gerais, Registros da Igreja Católica, 1706-1999," database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-D791-R9?cc=2177275&wc=M5FD-2NP%3A370882003%2C369941902%2C370938801: 22 May 2014), Itaúna > Santana > Óbitos 1840, Jan-1888, Fev > image 78 of 92; Paróquias Católicas (Catholic Church parishes), Minas Gerais.