A reportagem tem como pauta principal “o destino do prédio velho do Hospital, a seção examinou duas propostas: A demolição até o limite de segurança e a interdição até realização das obras, mas somente da fachada”.
Essa análise apresenta argumentos e posições dos participantes, que variam entre a demolição completa e a preservação parcial do prédio, destacando as complexidades técnicas e financeiras envolvidas.
Antônio Peres
Guerra - Provedor da Fundação Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza
Moreira decidiu pela demolição do "Hospital Velho". Ele argumenta que o edifício ficou
inativo por mais de 50 anos, o que torna inviável a restauração completa.
Segundo Guerra, o prédio se encontra em condições estruturais insustentáveis, e
os recursos financeiros disponíveis são insuficientes para um projeto de
preservação. Ele sugere que a verba existente seja direcionada para a expansão
do "Hospital Novo", enfatizando uma visão pragmática, onde a
funcionalidade e segurança são prioridades sobre a preservação histórica.
Irdevan
Nogueira Júnior - Arquiteto presente na reunião, que sugere uma solução
intermediária: manter a fachada do prédio e reconstruir o restante. Ele defende
a ideia de preservar ao menos uma parte do patrimônio, conciliando a
preservação histórica com a necessidade de modernização e uso prático. Sua
sugestão representa um ponto de equilíbrio, tentando atender tanto às demandas
dos defensores do patrimônio quanto às limitações financeiras.
Doutor José
Campos: Médico que também contribuiu com um ponto de vista prático,
afirmando que o problema é "técnico, embora de ligações afetivas".
Ele reconhece o valor afetivo do hospital, especialmente para o Instituto
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), mas coloca a questão
estrutural como prioridade. Sua posição sugere uma preocupação com a segurança,
embora reconheça a importância simbólica do prédio.
Instituto
Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA): Embora não tenha sido
representado diretamente na reunião, o IEPHA é mencionado pelo Dr. Campos como
uma entidade que vê o prédio como patrimônio de “muito valor”. Isso reflete o
interesse do instituto em preservar a estrutura como parte da memória cultural
de Itaúna, contrastando com a posição dos gestores locais que priorizam a
viabilidade técnica e financeira.
Juarez Campos
(Diretor do ITA VOX): Como diretor do jornal que publicou a matéria, sua
presença pode indicar um interesse em documentar e divulgar o debate sobre o
destino do hospital. A cobertura jornalística enfatiza a importância do
hospital para a comunidade e pode refletir uma visão crítica à falta de
políticas de preservação do patrimônio histórico da cidade.
Dr. Peri
Tupinambás, médico, se posiciona firmemente contra a demolição do
antigo hospital Manoel Gonçalves em Itaúna, fazendo uma crítica incisiva às
decisões que, segundo ele, refletem uma falta de respeito pela história e
memória da cidade. Ele considera a demolição como uma "profanização"
da história de Itaúna, enfatizando a importância de manter o prédio como um
símbolo da identidade e do passado coletivo dos itaunenses.
Principais
Pontos da Crítica de Peri Tupinambás:
Desvalorização
da História: Peri Tupinambás destaca que a decisão de demolir o hospital é
uma violação ao patrimônio cultural de Itaúna. Para ele, o hospital não é
apenas um edifício antigo, mas uma peça fundamental da história da cidade,
construída com propósito e valor emocional. A ideia de "profanizar" a
história ao demolir o prédio demonstra a sua visão de que esse ato representa
um desrespeito aos valores e tradições locais.
Crítica ao
Abandono e às Decisões do Passado: Peri afirma que o "erro começou
quando resolveram tirar de lá o hospital" e transferi-lo para outro
edifício, deixando o antigo hospital ao abandono. Segundo ele, a decisão de
construir um novo prédio e deixar o anterior à própria sorte foi um sinal claro
da falta de compromisso dos governantes com o patrimônio e a história. Essa
crítica revela sua visão de que, se o antigo hospital tivesse sido mantido em
funcionamento ou restaurado na época, a discussão sobre demolição não estaria
ocorrendo.
Ausência de
Cidadania e Participação Popular: Tupinambás destaca a falta de
envolvimento da população nas decisões sobre o hospital, sugerindo que a
demolição foi decidida de maneira arbitrária, sem ouvir a voz dos cidadãos. Ele
acredita que o poder público deveria ter consultado a comunidade e promovido um
debate mais amplo, ao invés de impor uma decisão sem levar em conta o desejo
coletivo de preservação histórica.
Potencial de
Restauração: Ao declarar que “ainda poderia se fazer de novo o que era,
bastando que houvesse a vontade de executar”, Tupinambás deixa claro que ele
acredita na viabilidade de restaurar o edifício. Ele indica que, com empenho e
investimento adequado, o prédio poderia ser revitalizado, preservando sua
importância histórica e cultural.
Críticas à
Administração Local: Peri critica a atitude das autoridades municipais da
época, acusando-as de "calhordas" e de falta de comprometimento com
Itaúna. Ele vai além e critica a "classe dominante e
intelectualidade" que, segundo ele, apoiavam a demolição, questionando seu
compromisso com os interesses culturais e patrimoniais da cidade.
Menção a
Outros Defensores do Tombamento: No final, Peri menciona o professor Marco
Elísio e Dona Arthurina como vozes que também defendem o tombamento e
preservação do hospital. Isso indica que ele não está sozinho em sua posição e
que há outros cidadãos influentes que compartilham a mesma visão de proteção ao
patrimônio histórico.
Crítica ao
Conselho do Hospital: Tupinambás também se refere de forma crítica ao
conselho do hospital, que teria mantido uma postura inflexível contra o
tombamento, evidenciando que a batalha pela preservação do prédio envolvia
conflitos não apenas de opinião, mas de status e poder na cidade.
No encerramento dos debates, os participantes concluíram que a recuperação do edifício já deveria ter ocorrido há cerca de 30 anos. Estiveram presentes na sessão: o médico Helênio Eustáquio, o vice-provedor Dalmo Coutinho, o membro do Conselho Consultivo Waldemar Gonçalves de Souza e os conselheiros Ary Carvalho, Petrônio Nogueira Guimarães, José Joarez Silva, Afonso Henrique Silva Lima, Roberto Soares Nogueira, Affonso Cerqueira Lima, Mério Alves de Souza, Délcio Drummond, Elisa Tarabal, João Afonso Guimarães, Sebastião Miamoto, Professor Marco Elias, Augusto Machado, Luiz Guimarães, Meroveu Camargos e Geraldo Augusto Silveira.
Ao que tudo indica, a decisão de não demolir o antigo Hospital Velho prevaleceu. Passados aproximadamente 37 anos desde a publicação da matéria, o edifício permanece de pé, embora não tenha recebido nenhuma intervenção de restauração até o presente momento. Sua permanência sugere um compromisso com a preservação do patrimônio, mesmo que ainda não tenha se concretizado em ações de revitalização.
Aparentemente, a comunidade e os administradores da época reconheceram a importância cultural do prédio, ainda que a restauração tenham sido indefinidamente adiados. A estrutura permanece até hoje como testemunho do patrimônio histórico de Itaúna e de seu fundador, Manoel Gonçalves de Souza Moreira, carregando consigo um valor simbólico de resistência e memória para as gerações presentes e futuras.
PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE III) ✅
Referências:
Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino
Fonte impressa: Jornal Ita Vox, 29 de dezembro de 1987 a 05 de janeiro de 1988
Reportagem original disponível no blog: Casa de Caridade Manoel Gonçalves
Imagem: Meramente ilustrativa