sexta-feira, novembro 01, 2024

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE II)

O texto oferece um recorte detalhado de uma reunião sobre o destino do antigo hospital de Itaúna/MG. A reportagem é do jornal Ita Vox, publicada entre 29 de dezembro de 1987 e 5 de janeiro de 1988, com uma manchete que destaca a ameaça de demolição do imóvel então conhecido como Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira. 

O título impactante "HOSPITAL SERÁ “TOMBADO” A PICARETA" transmite a ideia de uma destruição iminente, em vez de um "tombamento" que garantiria sua preservação histórica.

A reportagem tem como pauta principal “o destino do prédio velho do Hospital, a seção examinou duas propostas: A demolição até o limite de segurança e a interdição até realização das obras, mas somente da fachada”. 

Essa análise apresenta argumentos e posições dos participantes, que variam entre a demolição completa e a preservação parcial do prédio, destacando as complexidades técnicas e financeiras envolvidas.

 Participantes e suas Posições

Antônio Peres Guerra - Provedor da Fundação Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira decidiu pela demolição do "Hospital Velho". Ele argumenta que o edifício ficou inativo por mais de 50 anos, o que torna inviável a restauração completa. Segundo Guerra, o prédio se encontra em condições estruturais insustentáveis, e os recursos financeiros disponíveis são insuficientes para um projeto de preservação. Ele sugere que a verba existente seja direcionada para a expansão do "Hospital Novo", enfatizando uma visão pragmática, onde a funcionalidade e segurança são prioridades sobre a preservação histórica.

Irdevan Nogueira Júnior - Arquiteto presente na reunião, que sugere uma solução intermediária: manter a fachada do prédio e reconstruir o restante. Ele defende a ideia de preservar ao menos uma parte do patrimônio, conciliando a preservação histórica com a necessidade de modernização e uso prático. Sua sugestão representa um ponto de equilíbrio, tentando atender tanto às demandas dos defensores do patrimônio quanto às limitações financeiras.

Doutor José Campos: Médico que também contribuiu com um ponto de vista prático, afirmando que o problema é "técnico, embora de ligações afetivas". Ele reconhece o valor afetivo do hospital, especialmente para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), mas coloca a questão estrutural como prioridade. Sua posição sugere uma preocupação com a segurança, embora reconheça a importância simbólica do prédio.

Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA): Embora não tenha sido representado diretamente na reunião, o IEPHA é mencionado pelo Dr. Campos como uma entidade que vê o prédio como patrimônio de “muito valor”. Isso reflete o interesse do instituto em preservar a estrutura como parte da memória cultural de Itaúna, contrastando com a posição dos gestores locais que priorizam a viabilidade técnica e financeira.

Juarez Campos (Diretor do ITA VOX): Como diretor do jornal que publicou a matéria, sua presença pode indicar um interesse em documentar e divulgar o debate sobre o destino do hospital. A cobertura jornalística enfatiza a importância do hospital para a comunidade e pode refletir uma visão crítica à falta de políticas de preservação do patrimônio histórico da cidade.

Dr. Peri Tupinambás, médico, se posiciona firmemente contra a demolição do antigo hospital Manoel Gonçalves em Itaúna, fazendo uma crítica incisiva às decisões que, segundo ele, refletem uma falta de respeito pela história e memória da cidade. Ele considera a demolição como uma "profanização" da história de Itaúna, enfatizando a importância de manter o prédio como um símbolo da identidade e do passado coletivo dos itaunenses.

Principais Pontos da Crítica de Peri Tupinambás:

Desvalorização da História: Peri Tupinambás destaca que a decisão de demolir o hospital é uma violação ao patrimônio cultural de Itaúna. Para ele, o hospital não é apenas um edifício antigo, mas uma peça fundamental da história da cidade, construída com propósito e valor emocional. A ideia de "profanizar" a história ao demolir o prédio demonstra a sua visão de que esse ato representa um desrespeito aos valores e tradições locais.

Crítica ao Abandono e às Decisões do Passado: Peri afirma que o "erro começou quando resolveram tirar de lá o hospital" e transferi-lo para outro edifício, deixando o antigo hospital ao abandono. Segundo ele, a decisão de construir um novo prédio e deixar o anterior à própria sorte foi um sinal claro da falta de compromisso dos governantes com o patrimônio e a história. Essa crítica revela sua visão de que, se o antigo hospital tivesse sido mantido em funcionamento ou restaurado na época, a discussão sobre demolição não estaria ocorrendo.

Ausência de Cidadania e Participação Popular: Tupinambás destaca a falta de envolvimento da população nas decisões sobre o hospital, sugerindo que a demolição foi decidida de maneira arbitrária, sem ouvir a voz dos cidadãos. Ele acredita que o poder público deveria ter consultado a comunidade e promovido um debate mais amplo, ao invés de impor uma decisão sem levar em conta o desejo coletivo de preservação histórica.

Potencial de Restauração: Ao declarar que “ainda poderia se fazer de novo o que era, bastando que houvesse a vontade de executar”, Tupinambás deixa claro que ele acredita na viabilidade de restaurar o edifício. Ele indica que, com empenho e investimento adequado, o prédio poderia ser revitalizado, preservando sua importância histórica e cultural.

Críticas à Administração Local: Peri critica a atitude das autoridades municipais da época, acusando-as de "calhordas" e de falta de comprometimento com Itaúna. Ele vai além e critica a "classe dominante e intelectualidade" que, segundo ele, apoiavam a demolição, questionando seu compromisso com os interesses culturais e patrimoniais da cidade.

Menção a Outros Defensores do Tombamento: No final, Peri menciona o professor Marco Elísio e Dona Arthurina como vozes que também defendem o tombamento e preservação do hospital. Isso indica que ele não está sozinho em sua posição e que há outros cidadãos influentes que compartilham a mesma visão de proteção ao patrimônio histórico.

Crítica ao Conselho do Hospital: Tupinambás também se refere de forma crítica ao conselho do hospital, que teria mantido uma postura inflexível contra o tombamento, evidenciando que a batalha pela preservação do prédio envolvia conflitos não apenas de opinião, mas de status e poder na cidade.

No encerramento dos debates, os participantes concluíram que a recuperação do edifício já deveria ter ocorrido há cerca de 30 anos. Estiveram presentes na sessão: o médico Helênio Eustáquio, o vice-provedor Dalmo Coutinho, o membro do Conselho Consultivo Waldemar Gonçalves de Souza e os conselheiros Ary Carvalho, Petrônio Nogueira Guimarães, José Joarez Silva, Afonso Henrique Silva Lima, Roberto Soares Nogueira, Affonso Cerqueira Lima, Mério Alves de Souza, Délcio Drummond, Elisa Tarabal, João Afonso Guimarães, Sebastião Miamoto, Professor Marco Elias, Augusto Machado, Luiz Guimarães, Meroveu Camargos e Geraldo Augusto Silveira.

Ao que tudo indica, a decisão de não demolir o antigo Hospital Velho prevaleceu. Passados aproximadamente 37 anos desde a publicação da matéria, o edifício permanece de pé, embora não tenha recebido nenhuma intervenção de restauração até o presente momento. Sua permanência sugere um compromisso com a preservação do patrimônio, mesmo que ainda não tenha se concretizado em ações de revitalização.

Aparentemente, a comunidade e os administradores da época reconheceram a importância cultural do prédio, ainda que a restauração tenham sido indefinidamente adiados. A estrutura permanece até hoje como testemunho do patrimônio histórico de Itaúna e de seu fundador, Manoel Gonçalves de Souza Moreira, carregando consigo um valor simbólico de resistência e memória para as gerações presentes e futuras.

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE III) ✅


Referências:

Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino

Fonte impressa: Jornal Ita Vox, 29 de dezembro de 1987 a 05 de janeiro de 1988

Reportagem original disponível no blog: Casa de Caridade Manoel Gonçalves

Imagem: Meramente ilustrativa 


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