Ao longe, ela avistou a entrada
da floresta. As árvores, altas e imponentes, formavam uma cortina de sombras
densas que escondiam os mistérios por trás delas. Mary sabia que não devia
entrar, mas seus pés a conduziram, e as vozes insistiam para que ela entrasse:
"Venha, Mary", diziam as vozes. Ela estava com medo, mas continuou
caminhando.
Quando entrou na floresta, o
silêncio tomou conta de seu ser. Era um silêncio pesado, que parecia pesar
sobre seus ombros e penetrar seus ouvidos como um pano escuro. Ela sentiu o ar
fresco da noite, carregado de odores terrosos e de algo inusitado que não sabia
definir. A vegetação ao redor estava densa, mas o caminho à frente parecia
aberto, como se estivesse sendo preparado para ela, um convite sutil para
seguir em frente.
Ela deu o primeiro passo, depois
outro, e logo percebeu que estava imersa na escuridão suave da floresta. Cada
folha farfalhava com o vento, mas, no fundo, ela sabia que não estava sozinha.
De repente, as vozes voltaram, e a cada passo que ela dava ficavam ainda mais
altas. Algo a observava, algo que parecia conhecê-la mais do que ela mesma.
Assustada, Mary olhou para frente.
Uma figura apareceu diante dela.
Era uma presença inconfundível, misteriosa e intensa, com olhos que brilhavam
como estrelas na noite. Ela não sabia o que era, mas sentiu uma força
indescritível emanando daquela figura, e percebeu que as vozes vinham dela.
A figura falou com uma voz suave,
mas firme:
— Você chegou, Mary. Eu sabia que
viria. O que a trouxe até aqui?
Embora assustada, Mary não
conseguiu recuar. Algo dentro dela dizia que precisava ficar. Havia uma
urgência em sua alma que a impedia de ir embora.
— Eu... não sei exatamente —
disse Mary, a voz tremendo levemente. — Algo me trouxe aqui. Algo que não
consigo explicar.
A figura sorriu levemente, mas
seus olhos permaneciam fixos, como se observassem todos os detalhes da alma de
Mary.
— Você pensa que não sabe, mas
sempre soube. Cada passo que deu até aqui foi guiado por algo que você não
entende. Já se perguntou por que a vida parece sempre desviar-se para este
ponto? Está à procura de respostas, não está?
Mary engoliu em seco. As palavras
da figura eram como flechas acertando seu coração, atingindo pontos
vulneráveis. Ela sempre buscou respostas sobre sua própria vida, sobre a perda
de seu pai, Gael, e as questões que envolviam sua mãe, Estela. Sentia que algo
estava escondido delas, algo que nunca havia sido dito, algo que ainda
precisava ser revelado.
— O que você sabe sobre mim? —
Mary perguntou, a voz quase inaudível.
A figura não respondeu de
imediato. Apenas olhou profundamente nos olhos de Mary, como se lesse cada
pensamento, cada emoção. Então, falou quase num sussurro:
— Sei o que você guarda dentro de
si. Vejo o que não diz, o que esconde até de si mesma. Pensa em seu pai, Gael,
com tanta saudade... Sente a falta dele todos os dias, não é? Mas há algo mais,
Mary. Você carrega a dor da perda, o peso da ausência. Cada vez que fecha os
olhos, ainda sente a presença dele, mas como se fosse uma ilusão. E sua mãe,
Estela... você a observa, tentando entender os segredos que ela guarda. Ela é
forte, mas você sente que há algo que nunca compartilhou. Algo do passado, que
a consome e a afasta de você. E você quer saber o que é, não quer? Quer
respostas, mas quanto mais busca, mais se perde.
Mary sentiu um frio percorrer sua
espinha. Era impossível negar o que a figura dizia. Cada palavra atingia seus
sentimentos mais profundos, suas inseguranças, seus medos.
— Como sabe disso? — Mary
perguntou, agora sentindo um calafrio mais forte. — Como sabe tudo isso sobre
mim?
A figura sorriu, a expressão mais
enigmática.
— Não preciso de respostas, Mary.
Vejo tudo. Vejo o que você não consegue ver, o que está oculto dentro de você.
Sou as árvores, o vento, o chão sob seus pés. Sou a memória das coisas que
foram perdidas, das coisas que deixou de lado.
Mary sentiu a pressão aumentar. O
medo tomava conta dela, mas algo dentro dela parecia despertar. Sabia que não
podia permitir que aquela figura invadisse ainda mais sua mente. Precisava ser
forte.
Respirou fundo e, com firmeza,
disse:
— Saia da minha cabeça! Não
aceito que vasculhe minha mente! Eu sou a dona dos meus pensamentos! Você não
tem acesso a mim! Saia agora!
Os olhos da figura se
estreitaram, cheios de uma fúria silenciosa. O ar ao redor de Mary parecia
vibrar com a intensidade de suas palavras, como se a própria floresta reagisse
à sua determinação. As vozes vindas da floresta aumentaram, agora parecendo um
apoio à sua coragem.
— Continue, Mary! — diziam as
vozes. — Continue assim!
Mary não hesitou. Deu um passo à
frente e, com um grito firme, disse:
— Saia agora! Acha que tenho medo
de você? Não tenho! Só sei que você está nos meus pensamentos, e meus
pensamentos quem controla sou eu. Eu te expulso agora!
A figura, antes tão poderosa,
começou a recuar. Seus olhos estavam cheios de surpresa e fúria, mas, conforme
Mary continuava a gritar, sua silhueta começou a se desfazer, como se estivesse
perdendo a força que a sustentava, sendo empurrada para longe pela mente de
Mary.
Com um último grito, a figura
desapareceu completamente, deixando Mary sozinha na floresta. O silêncio tomou
conta novamente, mas desta vez era acolhedor, como se a floresta permitisse que
ela se restabelecesse.
Mary ficou ali por um momento,
respirando pesadamente. Sentia a presença da figura desaparecer, mas também
sentia que algo dentro dela havia mudado. Uma sensação de clareza, de
liberdade, tomou conta de seu ser. Olhou ao redor e viu que o caminho à sua frente
estava mais claro. As árvores pareciam afastar-se, dando-lhe passagem. Era como
se a floresta estivesse esperando por ela para tomar a próxima decisão.
Mary começou a caminhar, os
passos agora mais firmes. Sabia que sua jornada não havia terminado. Estava
pronta para descobrir mais, para enfrentar o que fosse necessário e, talvez,
finalmente encontrar as respostas que tanto procurava.
A história termina aqui, mas a
jornada de Mary continua. A floresta tem muitos segredos a revelar, e Mary está
pronta para desvendar cada um deles.
"Escritoras Contemporâneas"
História e
direção narrativa: Josyane Mara
Arte e design:
Charles Aquino
Ilustração criada com IA, inspirada no conteúdo do texto.