A obra critica a
exploração colonial portuguesa, que canalizou os recursos do ouro para
sustentar extravagâncias reais e financiar a Revolução Industrial na
Inglaterra, em detrimento do desenvolvimento autônomo da colônia. Dornas Filho
também enfatiza o legado cultural deixado pela mineração, que, mesmo após o
esgotamento das jazidas, permitiu a continuidade de uma civilização rica em
cultura, com impactos nas artes e na educação.
Publicada em 1957
como parte da coleção "Brasiliana", a obra refuta teses anteriores,
especialmente as de Oliveira Lima, que minimizavam a importância econômica do
ouro de Minas Gerais. Dornas Filho sustenta que a exploração aurífera em Minas
Gerais foi um fenômeno crucial para a história brasileira, gerando um excedente
que, apesar dos tributos à Metrópole, proporcionou o desenvolvimento de uma
"civilização de altiplano", com impactos duradouros nas artes,
ciências e administração pública.
A sociedade
mineira, estruturada em torno da economia do ouro, criou uma classe de
"nouveaux riches" (novos ricos), promovendo urbanização e
industrialização em certas áreas, como a indústria pastoril, têxtil e
siderúrgica. Exemplos como o do Barão de Catas-Altas e Chica da Silva ilustram
as transformações sociais trazidas pelo ouro, evidenciando o contraste entre o
luxo dos ricos e as dificuldades da população em geral.
Dornas Filho
critica a canalização dos recursos auríferos para os delírios megalomaníacos de
D. João V, como a construção do Convento de Mafra, e o desvio desses recursos
para a Inglaterra, fomentando a Revolução Industrial. A obra também aborda as
políticas fiscais opressivas e a legislação colonial que impediram o
desenvolvimento econômico autônomo da colônia.
Além da análise econômica, Dornas Filho aborda as consequências culturais e sociais da mineração, descrevendo a formação de uma elite cultural em Minas Gerais. Apesar do esgotamento das jazidas, essa elite preservou uma civilização vibrante, com forte influência nas artes e na educação.
"O Ouro das
Gerais e a Civilização da Capitania" é uma obra fundamental para a
compreensão do papel da mineração na formação do Brasil colonial. João Dornas
Filho oferece uma visão crítica e bem fundamentada, desafiando interpretações
anteriores e destacando a importância econômica, social e cultural de Minas
Gerais durante o ciclo do ouro. Sua análise reavalia a história sob uma
perspectiva que valoriza o impacto duradouro da exploração aurífera na
identidade e na economia brasileira.
MEMORIAL JOÃO DORNAS
Referências:
FILHO, João Dornas.O ouro das Gerais e a civilização da Capitania / João Dornas Filho ; tradução C. da Silva Costa. Publicação: São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1957. Biblioteca Pedagógica Brasileira: Brasiliana, Vol 293.
Organização, arte
e roteiro: Historiador Charles Aquino
Apoio a cultura: Itaúna Décadas