terça-feira, setembro 17, 2024

CAFÉ DERRAMADO

Manhã de inverno incomumente quente. A previsão dizia que a mínima seria de 18º e a máxima de 32º, com o céu limpo e sem possibilidade de chuva. Eu me levantei e, como de costume, fui direto para a cozinha preparar meu próprio café — o cheiro fresco preencheu o ar. Com a xícara pela metade, ainda liberando aquele aroma característico, caminhei até a mesa onde estavam meus pertences e materiais de trabalho. Havia papéis, documentos e equipamentos espalhados. Sentei e, depois de um gole saboroso de café, o imprevisto aconteceu. Não sei exatamente como, mas esbarrei na xícara. O que parecia ser uma pequena quantidade de café se multiplicou de maneira absurda pela mesa.

Naquele instante, não consegui dizer nada. Apenas olhei, tentando processar a cena e me concentrar em salvar o que fosse mais importante. Com cuidado, comecei a separar cada item da mesa. Havia papéis antigos que ainda precisava ler para resolver pendências, os equipamentos eletrônicos que uso todos os dias no trabalho, e mais documentos que representavam compromissos futuros.

Conforme eu limpava tudo, algo curioso começou a acontecer. Percebi que, de algum modo, o caos daquele café derramado, ou melhor, entornado sobre a mesa representava muito mais do que apenas uma bagunça. Aqueles papéis antigos que estavam ali eram o passado, um passado que eu insistia em manter por perto, mesmo que já não tivesse utilidade. Os aparelhos eletrônicos e ferramentas de trabalho que molharam eram meu presente, o agora, aquilo que realmente importa e que eu preciso para funcionar. E os papéis de compromissos futuros estavam ali, aguardando serem organizados, assim como as tarefas e os planos que ainda preciso estruturar.

Enquanto secava cada um desses itens, notei que, de maneira simbólica, eu estava reorganizando minha vida. O passado, representado por aqueles documentos velhos, precisava ser eliminado. Não havia mais sentido em mantê-los ali, ocupando espaço. O presente, que estava logo ali diante de mim, exigia ação, cuidado e foco. E o futuro, embora incerto, era algo que eu precisava apenas planejar, sem ansiedade.

O que começou como uma simples manhã rotineira, com um pequeno acidente, acabou me levando a uma reflexão maior. Aquela confusão sobre a mesa me fez enxergar que, muitas vezes, eu carrego mais do que o necessário. E que, com um pouco de organização, posso simplificar minha vida. O passado já não precisava mais estar ali, o presente merecia minha atenção imediata, e o futuro, bem, ele só exigia que eu respirasse fundo e planejasse com calma. No final, com a mesa limpa e tudo em seu devido lugar, eu percebi que o derramamento do café não foi um desastre, mas uma oportunidade.

 

REFLEXÃO

Essa história do café derramado revela uma rica oportunidade para uma reflexão sobre a vida, o tempo e a forma como lidamos com o cotidiano. À primeira vista, o episódio pode parecer uma situação comum e corriqueira — um café derramado acidentalmente sobre uma mesa —, mas a narrativa vai muito além desse pequeno desastre matinal. A partir dessa simples ação, a história conduz para uma percepção mais profunda sobre o passado, o presente e o futuro.

O derramamento do café, que inicialmente causa uma reação de surpresa e inação, leva a um processo quase meditativo. Ao limpar os objetos, a atribuir a eles um significado simbólico: os papéis antigos representam o passado, os equipamentos de informática remetem ao presente, e os compromissos futuros, expressos em documentos a serem organizados, apontam para o futuro. Esse ato físico de limpeza se transforma em uma metáfora para o processo mental de reestruturação e clareza.

A reflexão que surge desse episódio cotidiano é poderosa: muitas vezes, a vida se derrama, espalhando-se de maneiras inesperadas. Nesses momentos, nossa reação inicial pode ser de frustração ou paralisia, mas o que realmente importa é como escolhemos agir em seguida. O café derramado força a se concentrar no que está diante de si, a organizar seus pensamentos e a redefinir as prioridades. Ao separar os objetos da mesa em ordem de importância temporal — passado, presente e futuro — se dá conta de algo fundamental: as coisas do passado precisam ser deixadas para trás, o presente exige ação, e o futuro demanda planejamento, mas sem a carga de ansiedade.

Essa reflexão nos convida a uma abordagem mais consciente e tranquila da vida. Muitas vezes, carregamos conosco problemas do passado que já deveriam ter sido resolvidos, ou nos preocupamos excessivamente com o futuro, o que gera estresse e ansiedade. A mensagem aqui é clara: devemos lidar com o passado apenas para aprender e deixar ir viver o presente com presença e atenção, e planejar o futuro sem pressa ou excesso de expectativa.

O "café entornado torna-se", assim, um lembrete simbólico de que a vida, apesar de seus acidentes e imprevistos, pode ser reorganizada com calma e clareza. O importante é estar presente no momento, sem se prender ao que passou ou temer o que está por vir. Às vezes, o caos, como um simples café derramado, nos oferece a oportunidade de parar, respirar e reorganizar nossa própria mesa mental.

CharlesAquino

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