NISE ÁLVARES DA SILVA CAMPOS
Escola Normal Manoel Gonçalves de Itaúna/MG - Normalista de 1925
Acervo: Escola Estadual de Itaúna
R. Prof. Francisco Santiago, 275 - Centro, Itaúna - MG, 35680-058
DÉCADA 50
TIME DOS FUNCIONÁRIOS DA CIA. INDUSTRIAL ITAUNENSE - ITAÚNA/MG
Em pé: Calmo, Iraci Morais, Valtinho, Alberto Corradi, Coreia e Toninho.
Agachados: Argeo da Santa, Tito Leite, Tião, Léo e Eli.
Referências:
Arte: Charles Aquino
Acervo: Eli, Charles Aquino
Homenagem a Leonardo Custódio de Aquino (In Memoriam) e demais jogadores
Em 1985, o
Carnaval de Itaúna começou em meio a um cenário de mudanças políticas no
Brasil. Este foi um momento de transição, marcado pelo fim do regime militar e
pela restauração da democracia através da eleição de Tancredo Neves, embora
este tenha falecido tragicamente antes de assumir o cargo. Este período de
transformação deu início a um sentimento de libertação e rejuvenescimento
cultural, que ficou evidente nas vibrantes celebrações do Carnaval.
O objetivo
principal do evento, organizado pela ABESI e Prefeitura de Itaúna, foi comemorar a rica cultura e a antiga
tradição do Carnaval, ao mesmo tempo em que promovia um ambiente de alegria e
união. A multidão era composta por moradores e turistas, todos participando
avidamente das vibrantes celebrações do carnaval.
A comunicação
sobre o início do Carnaval de Itaúna foi apresentada de forma informativa,
utilizando uma linguagem concisa e direta. Ofereceu informações completas sobre
os principais eventos e atividades, incluindo o processo seletivo da Rainha,
Rei Momo e Passistas, além do envolvimento de blocos e escolas de samba. A
estrutura do texto seguiu uma sequência lógica, começando com uma introdução ao
evento e posteriormente fornecendo listas de participantes nos vários blocos.
O anúncio
transmitiu a mensagem implícita de que o Carnaval possuia imenso valor cultural
e social para a comunidade de Itaúna. Isso fica evidente na seleção de
representantes como a Rainha, Rei Momo e Passistas, bem como no envolvimento
ativo de blocos e escolas de samba, que mostraram os preparativos vibrantes e
entusiasmados que a cidade fez para esta ocasião festiva.
O início do
Carnaval de Itaúna em 1985 trouxe inúmeros resultados positivos. Do ponto de
vista social, promoveu a inclusão e o reforço dos laços comunitários. Em termos
culturais, apresentou e comemorou as variadas e vibrantes tradições do samba
local. A participação ativa de múltiplos grupos e a seleção criteriosa dos
representantes serviram como indícios de uma comunidade unida que se orgulha
dos seus costumes. O envolvimento de membros comunitários e regionais nas
bancas julgadoras, aliado à presença de blocos de samba e escolas, ressaltaram
o profundo engajamento da comunidade. O foco inabalável no samba, nos desfiles
e em outros espetáculos carnavalescos demonstrou um compromisso firme em honrar
a cultura local. Além disso, a inclusão de diversos grupos e a coroação de
Rainhas, Reis Momo e Passistas refletiram a celebração da diversidade e riqueza
cultural da festa.
Em contraste com
outras celebrações carnavalescas daquela época, o Carnaval de Itaúna se destacou
pela preservação de elementos tradicionais e comunitários, em oposição às
exibições mais extravagantes e comercializadas vistas em outros lugares. Esta
distinção pode ser vista como uma prova da sua força na defesa do património
cultural.
O início do
Carnaval de Itaúna em 1985 foi uma festa animada e comunitária que incorporou a
essência da cultura e tradição local durante uma era crucial de revitalização
política e cultural no Brasil. Através do envolvimento ativo da comunidade e de
um vasto leque de participantes, a ocasião sublinhou a importância do Carnaval
como plataforma de alegria, unidade e comemoração de diversas culturas. Viva o carnaval de Itaúna! Vida longa à
liberdade!
Neste sábado à
noite, em promoção da ABESI e Prefeitura de Itaúna, acontece a abertura oficial
do carnaval de 1985, com as escolhas das Rainha; Rei Momo e Passistas. Os
candidatos sertão julgados por dois júris; compostos de representantes da
comunidade e região. Os escolhidos desfilarão pelos blocos.
Participarão os
blocos e escolas de samba de Itaúna, em uma festa que deverá ser o carnaval de
nossa cidade, e o show contará com samba; desfiles e mulatas na passarela, além
de muitas atrações. Para todos os efeitos, apresentaremos os nomes dos
candidatos dos blocos que nos foram enviados:
BLOCOS |
RAINHAS |
REIS MOMO |
PASSISTAS |
Já Xegó |
Valéria Márcia de Oliveira |
Vitório Torres |
Andréia Soares, Ronaldo Soares |
Demorô |
Gislene |
|
Wilson José Isaías, Simone Aparecida de Souza,
Alvimar Aparecido de Souza e Sílvia Isaías de Souza |
Império da Vila |
Aparecida Castanheira Pimenta |
Mário José Donato Ramos |
Luís Amaro e Sônia Tomás de Aquino |
Referências:
Organização, arte e análise: Charles Aquino
Fonte: Folha
do Oeste, Ano XLI nº 1721, Itaúna, sexta-feira, 25 de janeiro de 1985. p.1.
Acervo:
ICMC - Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira
Acervo: O Paiz, 1º de fevereiro de 1910.
Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=178691_04&pagfis=492
DA FAZENDA DAS PEIXOTAS E DA CAPELA DO ROSÁRIO
O
carneiro de Ouro
João Dornas Filho
chama a atenção para uma lenda que envolve Felipa Peixota (ou Peixoto), antiga proprietária
da fazenda das Peixotas no arraial de Santana do Rio São João Acima, hoje
Itaúna/MG. Segundo o historiador, a fazendeira teria adquirido uma vasta
sesmaria ao presentear o Príncipe Regente D. João (mais tarde Rei D. João VI)
com um “carneirinho” feito de ouro proveniente de uma das suas lavras das
Lavrinhas. Essa sesmaria, abrangia Santana e se estendia ao longo do rio de São
João Acima até Lavrinhas, do Barreiro até Cajurú e Rio Pará, e mais acima pelo
Rio São João em direção a Santana. Segundo o historiador João Dornas é
evidente, apenas pelo seu tamanho, que esta tradição é altamente implausível,
especialmente quando se consideram as cartas de sesmaria documentadas de Manoel
Teixeira Sobreira e Antônio Gonçalves da Guia, bem como as de Manoel Teixeira
Mossa - todas elas enquadradas no suposto território de Felipa Peixota,
conforme tradição.
A
Capela do Rosário
Os antigos
habitantes do arraial de Santana foram avisados de que a Capela “ia ser
fundada no chapadão dos Capotes”. Porém, devido a doenças prevalentes,
decidiu-se construí-lo no morro que hoje é o Rosário. Esta escolha foi
influenciada por um certo Torquato Alves, agricultor residente nas
proximidades. Reza a lenda que uma próspera fazendeira chamada Felippa Peixoto (Santiago
– não sei onde ele tirou esse sobrenome), moradora da fazenda Peixotas, doou
generosamente a propriedade à capela. Este lugar sagrado serpenteava ao longo
do morro da Laje e dos riachos aninhados nas cristas onduladas que circundavam
a humilde igreja. A doação abrangeu inclusive as terras agrícolas pertencentes
ao Coronel Quintiliano Lopes Cançado que 1855, registou a Capela “já como sua”,
fazendo este significativo registro no livro oficial da Paróquia, conforme
estabelecia a Lei de 1850, que atualmente se encontra arquivado no APM -
Arquivo Público Mineiro.
Testamento de Felipa Peixota 1804 ITAÚNA - MG
Sant'Anna
de São João Acima
TTro:
O filho Domingos Francisco Peixoto
“Em nome de
Deos amem=Saybam quantos este testamento virem que sendo no anno de Nascimento
de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e quatro aos vinte e hum dias
do mes de Julho do ditto anno nesta Fazenda do Corgo do Soldado Termo da Villa
de Pitangui em casas de morada do Alferes Antonio Soares Braga onde eu Filippa
Peixota me achava, que por estar em meu perfeito Juiso quero fazer as minhas
dispoziçoens de ultima vontade na forma seguinte= Declaro que sou natural da
Cidade da Bahia filha legitima de João Peixoto e de Theresa Crioulla já
falescidos= Declaro que fui casada com Manoel Francisco Simião já falescido, de
cujo matrimonio tivemos os filhos seguintes= Martinho= Domingos= Antonio= Maria
já falescida casada com Luis Moreira e deixou huma filha por nome Genovefa=
Theresa também falescida casada com Antonio Peixoto e deixou dous filhos por
nomes Jose e Anna= Izabel solteira também falescida e deixou hum filho por nome
Antonio que todos são meus universais erdeiros asim como he de minha meação do
casal= Manoel e Rosa casada com Domingos da Silva Porto, os quais dous filhos
são adulterinos pellos haver concebido durante o Matrimonio em ausência do dito
falescido meu marido= Declaro, instituo por meus testamenteiros em primeiro
lugar a meu filho Domingos Francisco Peixoto, em segundo a outro meu filho
Antonio Francisco Simião, e em terceiro lugar a meu neto Jose Francisco e lhes
deixo hum anno para dar contas deste testamento= Declaro que por meu
falescimento sera meu corpo amortalhado
no habito de Nossa Senhora do Monte do Carmo por ser irmaa professa na
ordem Terceira da Villa Rica e sepultada na Capella de Nossa Senhora Santa Anna
de São João Asima desta Freguesia de Pitangui e acompanhara meu corpo o
Reverendo Capellam e outros sacerdotes que comodamente se ajuntar a quem se
dara cera de meya [?] e se distribuira no dito meu enterro meya arroba de cera
= Declaro que se dirão por minha Alma vinte missas e outras tantas pella Alma
de meu falescido marido de esmolla costumada= Declaro que pellos bons serviços
que me tem feito minha escrava Custodia crioulla a deixo forra e meu
testamenteiro lhe passara logo depois do meu falescimento sua Carta de
liberdade asim como tambem fara o mesmo a Rita crioulla e Joanna crioulla que
sera incluido na minha terça os seus valores= Declaro que meu testamenteiro
dara a cada huma das duas filhas de Antonio de Medeiros Rosa por nomes de
Rufina e Manuella desasseis oitavas de ouro para ambas como tambem a Dona
Bernarda Maria orfa irmãa do Capitam João Baptista Leite des oitavas de ouro. E
nesta forma hei por acabado este meu testamento de ultima vontade que o mandei
escrever pelo Tabeliam Jose Moreira de Carvalho no mesmo dia mes e anno asima
declarado, e por não saber ler nem escrever mandei que asignase a meu rogo meu
filho Martinho Francisco Simião.” A rogo de minha mãe Filippa Peixota= Martinho
Francisco Simião=
APROVAÇÃO: em
21 de Julho de 1804 na Fazenda do Corgo do Soldado Termo da Cidade de Pitangui
em casa do Alferes Antonio Soares Braga;
ABERTURA: em
26 de Julho de 1808 em Santa Anna de São João Acima pelo Capelão Jose
Bernardino de Sousa;
ACEITAÇÃO: em
22 de Agosto de 1808 pelo filho Domingos Francisco Peixoto;
O historiador e genealogista
Guaracy de Castro Nogueira em suas pesquisas a família Gonçalves de Souza,
destaca que no arraial de Sant'Ana, (hoje Itaúna/MG), Manoel Gonçalves Cançado
alcançou grande prosperidade e riqueza como fazendeiro. Seus sobrinhos,
naturais do Bonfim e filhos de sua irmã Maria Sabina do Nascimento, chegaram a
Sant'Ana. Maria Sabina era casada com o estimado guarda-mor Antônio de Sousa
Moreira. Um por um, esses sobrinhos casaram-se com as filhas de Manoel, suas
primas, e receberam dotes substanciais. Fruto dos casamentos entre os cinco
irmãos Souza Moreira e os seus cinco primos Gonçalves Cançado, surgiu a
estimada família conhecida como Gonçalves de Souza de Itaúna.
Manoel Gonçalves Cançado faleceu em Sant'Ana e o inventário de seus bens foi iniciado em Pará de Minas em 6 de outubro de 1877. O valor total de seus bens atingiu impressionantes 49:576$864 (quarenta e nove contos, quinhentos e setenta e seis mil e oitocentos e sessenta e quatro réis), que incluíam numerosos móveis, escravos, propriedades, dotes e dívidas pendentes. Notavelmente, seus bens abrangiam três fazendas e seis casas. Após cuidadoso exame, apurou-se que a Fazenda dos Campos, avaliada em 2.870$000 (dois contos e oitocentos e setenta mil réis), foi herdada pela viúva Dona Tereza Maria de Jesus.
Quanto à Fazenda das Peixotas, anteriormente propriedade de Felipa Peixota, parece que Antônio José Lício, através de suas comparações, revelou que na verdade pertencia à família Fernandes. Dentro desta propriedade, Manoel Gonçalves Cançado tinha a propriedade partilhada de cinco alqueires, indicando que a adquiriu e posteriormente a repassou ao seu genro, José Gonçalves de Sousa Moreira, durante o processo de inventário, pelo valor de 3: 700$000 (Três contos e setecentos mil réis). Passando para a Fazenda da Cachoeira, originalmente propriedade de Manoel Jacinto Madeira e Antônio Gonçalves Bonfim, foi posteriormente transferida para os quatro genros de Manoel Gonçalves Cançado, recebendo cada um quarto de participação. O valor total deste imóvel ascendeu a 5.500$000 (Cinco contos e quinhentos mil réis).
Os genros em causa eram Manoel
José de Sousa Moreira, Vicente Gonçalves de Sousa, Francisco Gonçalves de Sousa
e José Alves Moreira. Após o falecimento de Dona Teresa Maria de Jesus, em 13
de abril de 1880, três anos após a morte de seu marido, em Pará de Minas, foi
realizado seu inventário amigável.
CRISTAL
DE ROCHA NAS PEIXOTAS
Nas pesquisas
sobre a Fazenda das Peixotas, encontramos uma autorização dada a José Gonçalves
Franco, que obteve permissão para investigar cristais de rocha através da
assinatura de um decreto em 1942, conforme registro abaixo:
Decreto
nº 9.449, de 22 de Maio de 1942
Autoriza o
cidadão brasileiro José Gonçalves Franco a pesquisar cristal de rocha no
município de Itaúna do Estado de Minas Gerais. O Presidente da República,
usando da atribuição que lhe confere o artigo 74, letra a, da Constituição e
nos termos do decreto-lei n. 1.985, de 29 de janeiro de 1940, (Código de
Minas), DECRETA:
Art. 1º. Fica
autorizado o cidadão brasileiro José Gonçalves Franco a pesquisar cristal de
rocha numa área de dez hectares e trinta e um ares (10,31 Ha) situada na
"Fazenda das Peixotas", município de Itaúna do Estado de Minas Gerais
e delimitada por um retângulo que tem um vértice a trezentos e dez metros (310
m), na direção três graus nordeste (3º NE) magnético, da confluência dos
córregos "Peixotas" e "Tamancas" e cujos lados adjacentes a
esse vértice têm os seguintes comprimentos e rumos magnéticos: trezentos e
quarenta e sete metros (347 m) e vinte oito graus e trinta minutos noroeste
(28º 30' NW); trezentos metros (300 m) e sessenta e um graus e trinta minutos nordeste
(61º 30' NE).
Art. 2º. Esta
autorização é outorgada nos termos estabelecidos no Código de Minas.
Art. 3º. O título
da autorização de pesquisa, que será uma via autêntica deste decreto, pagará a
taxa de cento e dez mil réis (110$0) e será transcrito no livro próprio da
Divisão de Fomento da Produção Mineral do Ministério da Agricultura.
Art. 4º.
Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro,
22 de maio de 1942, 121º da Independência e 54º da República.
GETULIO
VARGAS.
Apolonio
Salles.
Organização,
pesquisa e texto: Charles Aquino - Historiador Registro nº 343
Paleografia do
Testamento de Felipa Peixota: Genealogista Dr. Alan Penido
Testamento Felipa Peixota - AJP – Arquivo Judicial de Pitangui - Processo V,109-1810-G.1-Pitangui
– In IPH – Instituto Histórico de Pitangui.
Testamento Felipa
Peixota, Cx91/Dc3164, 1804. ICMC. Instituto Cultural Maria de Castro.
Câmara dos
Deputados - Palácio do Congresso Nacional - Praça dos Três Poderes.
Legislação Informatizada - Decreto nº 9.449, de 22 de Maio de1942 - Publicação
Original. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-9449-22-maio-1942-471084-publicacaooriginal-1-pe.html
NOGUEIRA,
Guaracy de Castro. In Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa: Itaúna
em detalhes. Ed. Jornal Folha do Povo, 2003, fascículo 26.
FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a história do município, 1936,
págs. 14-16.
Acervo: ICMC.
Instituto Cultural Maria de Castro.
ESCOLA NORMAL DE ITAÚNA - 1946
Nogueira ressalta a necessidade de preservar os nomes tradicionais das ruas como uma forma de honrar a memória e a história da comunidade. Ele critica a prática de renomear esses espaços públicos de acordo com interesses políticos momentâneos, destacando casos em que isso ocorreu, muitas vezes sob regimes autoritários. O autor também lamenta a perda de espaços públicos que outrora tinham significado histórico, como o antigo Largo da Matriz, que foi transformado em outras estruturas, negligenciando sua importância cultural e social.
Ao destacar a imposição de nomes de ruas e praças durante períodos ditatoriais, como as avenidas Getúlio Vargas e a Praça Benedito Valadares, Nogueira ressalta a complexidade política por trás dessas decisões e a importância de se avaliar criticamente o legado desses líderes políticos. Por fim, o autor conclui que a falta de valorização e conhecimento da história local reflete uma lacuna cultural na sociedade, enfatizando que a verdadeira expressão de um povo está enraizada em sua cultura e conhecimento de sua própria história.
É lamentável o que ocorre em Itaúna. A vida de uma cidade está na sua alma, a qual, ao longo de sua existência, vai-se vitalizando pelo potencial da gente que se destaca por entre a urdidura humana que a compõe e impele. As personalidades marcam um povo, uma localidade. Pará de Minas é apontada como a terra de Benedito Valadares; Três Corações nos lembra de Pelé; Pitangui nos traz às memórias de dona Joaquina do Pompéu e dona Maria Tangará; Bom Despacho recorda Olegário Maciel; Araxá não deixa dona Beja ser esquecida e São João Del Rei é a terra de Tancredo Neves. Estas comunidades se ufanam quando lembradas pelo valor de seus filhos. Nos meus encontros com os jovens que me procuram para saber um pouco da história de Itaúna, faço questão de lhes perguntar: Onde você mora?
Na Rua João de Cerqueira Lima, na Rua Josias Nogueira
Machado, na Rua Gonçalves da Guia, na Praça Luís Ribeiro e citam, sem dúvida,
nomes de pessoas ilustres que ajudaram a construir a grandeza de nossa
comunidade. Quando lhes pergunto quem
foram tais personalidades que deixaram seus nomes em ditas ruas, nada explicam,
nada sabem, tudo ignoram. Ninguém está mais aí, para essa do quem é ou quem
foi. E, lamentavelmente, há nomes que todos ignoram e que me surpreendem, só
conhecidos do autor da lei que os propôs.
Melhor
seria, quem sabe, trocar os nomes dos logradouros públicos de nossa cidade que
não cultua seus líderes dos idos passados, para coisas que o povo conhece,
porque não, delas dependem para orientar e circular: Rua Direita, Beco da
Caridade, Rua do Comércio, Porteira do Mirante, Bairro da Ponte, Beco do Jota,
Travessa 2 de Janeiro, Rua das Viúvas, Bairro do Serrado, Rua São Vicente, Rua
da Harmonia, Bairro da Vargem, Rua do Rosário, Rua da Linha e tantas outras das
quais não me lembro, nomes que fazem parte de nossa história e ainda povoam
nossa memória.
Defendo
intransigentemente a manutenção dos nomes dos logradouros públicos. Não será
por mera bajulação ou mesmo para homenagear mortos ilustres que se lhes trocará
a denominação. Não faltam logradouros públicos novos para se utilizarem no
preito àqueles que o merecem. Quem dá nome a logradouros públicos é o povo,
através dos vereadores e do consenso da Câmara Municipal. Só em regimes
autoritários é que o Prefeito ou a autoridade executiva dá nomes às coisas. Os
nomes antigos foram batizados pelo uso e costume dos cidadãos. A lei apenas
homologava a vontade popular.
Até por
respeito à história, conveniente seria que se preservassem os nomes antigos
muitos dos quais mais saborosos. Onde estão a Rua do Cascalho, a Rua do Canto,
a Rua das Piteiras e o Alto da Laje?
A política é terrível. O nosso Largo da Matriz já se
chamou Praça João Pessoa, Praça Mário Matos, Praça Benedito Valadares e agora
se chama Praça Dr. Augusto Gonçalves. Extinto o velho cemitério, onde se tentou
construir a nova Matriz, boicotada pelos ricos da época, contra a bela planta
do arquiteto italiano Rafello Berti, o logradouro ia se transformar numa praça
ajardinada em respeito aos mortos que lá foram sepultados, a ele deu-se o nome
de Praça Mário Matos.
A política destruiu a praça lá edificando o Grupo José Gonçalves de Melo, um clube dançante, um sindicato, e o prédio dos Correios e
Telégrafos. Não arrancaram o nome de
Mário Matos, mas destruíram a praça com seu nome, porque todos o consideravam
como o autor intelectual do fechamento de nossa Escola Normal.
Dois nomes em Itaúna foram impostos pelo governo
ditatorial: Avenida Getúlio Vargas e Praça Benedito Valadares. A avenida, que
era rua, e a praça principal se tornaram nomes dos detentores do poder na
época, por força de um decreto do ditador. Os udenistas radicais, que depuseram
Getúlio e Benedito, arrancaram o nome do Benedito da praça principal, porque
ele havia fechado nossa Escola Normal e só não arrancaram as placas da Avenida
Getúlio Vargas, porque o líder queremista Zé Biscoitão, à frente dos operários,
se opôs à turba da UDN.
No fundo foi um ato de coragem do líder dos
trabalhadores e a perspectiva histórica nos diz hoje que Getúlio, no balanço de
sua passagem pelo governo, foi um estadista, responsável pela implantação da
legislação social em benefício dos mais humildes e dos trabalhadores de um modo
geral.
Trata-se de um problema cultural. Às vezes somos progressistas e até
civilizados, mas pouco cultos. Cultura é a expressão máxima de um povo!
Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira
Acervo: Imagens da internet
Organização, pesquisa e síntese: Charles Aquino
Escola Rural do “Povoado de Pedra” do
Município de Itaúna.
A Escola Rural do povoado de Pedra, deste Município de
Itaúna, vem funcionado há longos anos, prestando inestimáveis serviços à
comunidade. Os registros revelam que centenas de pessoas nascidas e criadas nas
imediações, tiveram a alfabetização realizada naquela Escola. Principalmente no
princípio, quando a dificuldade de comunicação era imensa, quando as famílias
se fixavam no local com os seus componentes, a Escola exercia uma função muito
importante.
A Professora liderava todos os movimentos e estava na frente
de todas as programações, colaborando de maneira decisiva na formação das
gerações que passavam pela Escola. No povoado de pedra há uma situação especial
a ser considerada, que é a dedicação de uma grande mestra: DONA DOLORES
NOGUEIRA PENIDO.
A referida Professora exerceu o magistério naquela Escola
durante 21 anos e 25 dias, revelando uma dedicação impressionante. Era a mestra
dos alunos, a orientadora dos pais, a conselheira das autoridades no local.
Exercia tudo isto com muito carinho e ainda lhe sobrava tempo para cuidar de
sua própria família. Os mais antigos radicados no povoado poderão dar notícia
do trabalho de Dona Dolores como educadora e líder na
região. De maio de 1926 a abril de 1954, viveu os problemas daquela comunidade
como se fossem os seus, colaborando em todos os empreendimentos da época, não
se limitando às funções do magistério.
Deixa Dona Dolores numerosa descendência, bastando considerar
que a mesma se casou por duas vezes e estão vivos uns 400 (quatrocentos)
bisnetos e uns 200 (duzentos tataranetos, todos residentes nesta cidade e
imediações.
Primeiro casamento: Dolores Nogueira Penido e Horário Lopes
de Araújo, o casal teve 5 filhos (Coriolano Nogueira de Araújo, Maria Nogueira
de Araújo, Luiza Nogueira de Araújo, Ana Nogueira de Araújo e Geraldo Nogueira
de Araújo) e 49 netos.
Segundo casamento: Dolores Nogueira dos Santos e Antônio
Gonzaga dos Santos, o casal teve 3 filhos (Antonieta Nogueira dos Santos,
Antônio Nogueira dos Santos e Dolores Nogueira dos Santos) e 14 netos.
Dona Dolores Nogueira Penido nasceu em 1877 no arraial de
Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna/MG e faleceu em 22 de maio de 1954
com 77 anos de idade.
Tamanha a sua dedicação ao ensino que trabalhou até pouco
antes de morrer, pois esteve em pleno exercício do magistério até maio de 1954, mesmo com a avançada idade e sempre firme no cumprimento de seu dever,
aconselhando, ensinando, participando de todos os acontecimentos. Foi uma vida
inteiramente voltada para a comunidade e por isto está credenciada a ser
homenageada com a indicação de seu nome para a Escola da povoação de “Pedra”. A
sugestão de se dar a Escola do povoado de Pedra o nome de Dolores Nogueira
Penido será um ato de justiça a quem deu a vida pelo ensino e pela comunidade
onde exerceu com exigência o magistério.
Itaúna, 23 de junho de 1982 - Pesquisa
feita por Agostinho Nogueira Araújo
LEI No 1.625, de 20 de agosto de 1982
Dá denominação a Escola
Municipal, situada na Zona Rural.
O Povo do Município de Itaúna, por seus representantes decreta, e eu, em seu nome, sanciono a seguinte lei:
Art. 1o Denominar-se-á “Dolores Nogueira Penido” a escola municipal do povoado de Pedra, no Município de Itaúna.
Art. 2o Revogadas as disposições em contrário e derrogada a Lei n.º 1.179, de 25/10/1974, esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Prefeitura Municipal de Itaúna,
20 de Agosto de 1.982
Célio Soares de Oliveira
Prefeito Municipal
CERTIDÃO
Certifico que, revendo os Livros e Arquivos, Ordens e
Folhas de pagamento desta Prefeitura, delas constam que, a senhora Dolores
Nogueira Penido, trabalhou nesta prefeitura com as funções de professora da
zona rural, na “Escola Rural Mista” do Povoado de “Pedra” sendo professora substituta
do período de : 1/5/1926 a 31/12/1927; e do período de 1/03/1933 a 30/04/1954,
sendo professora titular, perfazendo um total de 7.690 dias (sete mil
seiscentos e noventa dias) conforme a discriminação no quadro anexo, de ano,
mês e dia.
Por ser verdade, firmo a
presente certidão
Itaúna 14 de junho de 1982
José Alves Capanema >
Chefe da Seção de Protocolo e Arquivo reg. Nº 2664
Visto: Célio Soares de
Oliveira > Prefeito Municipal.
Projeto de Lei nº 06/82 / Lei
Municipal nº 1.625 / Em: 20/08/1982
Assunto: Da denominação a Escola
Municipal situada na zona rural
Autoria: Vereador Dorinato Moreira
da Silva
Relatora: Vereadora Elza Alves
Nogueira
Presidente da Comissão de
Justiça e Redação: Joaquim Antônio Diniz
Membro: Pedro Alberto
Primeira discussão: Aprovado (17/08/1982)
Relator: João Viana da Fonseca
Presidente da Comissão: Elza
Alves Nogueira
Membro: Nelson Bernardes Alves
Segunda discussão: Aprovado
(18/08/1982)
Presidente da Comissão: Joaquim
Antônio Diniz
Secretária: Elza Alves Nogueira
Membro: Pedro Alberto
Terceira discussão: Aprovado
(19/08/1982)
Prefeito Municipal e Presidente
da Câmara
TRONCO DOS
NOGUEIRA PENIDO
Breve
genealogia da Professora Dolores Nogueira Penido
Manoel Nogueira
e Maria Francisca (Hexavós)
Manoel Nogueira
Penido e Luísa Rodrigues Sousa (Pentavós)
Capitão Custódio
Nogueira Penido e Maria Angélica dos Serafins (Tetravós)
Maria Custódia
Nogueira Penido e Ajudante Camilo Coelho Duarte (Trisavós)
Alferes Custódio
Coelho Duarte e Ana Maria Vilela (Bisavós)
Custódio Coelho
Duarte (Custodinho da Bagagem) e Diolinda de Faria (Pais)
Manoel Nogueira Penido, que se
crê ter nascido no início dos anos 1700 em Guardão, freguesia de São Miguel de Gandra, conselho
de Paredes, comarca de Penafiel, distrito e bispado do Porto, província do
Douro, era filho de Manoel Nogueira e Maria Francisca. O seu pai, nascido por
volta de 1660, era também natural de Guardão e sua mãe da aldeia de “Penedos-Pedras” (daí o topônimo Penido), da freguesia de Santo André de
Sobrado, concelho de Valongo, mesma comarca, distrito e bispado do Porto.
No início do século XVIII, Manoel
Nogueira Penido rumou para Minas (como atesta a sua presença no censo de 1731
em Vila Rica), onde casou com Luísa Rodrigues Sousa em primeiro de agosto de 1746, em
Mariana; ele faleceu na sua Fazenda de Porto Alegre em 11/5/1785. Luísa nasceu em São Sebastião Vila do Carmo e recebeu o batismo em 25
de agosto de 1729, na Igreja de São Sebastião, que fica no distrito e diocese
de Mariana. Era filha de Pedro Dias Teixeira e de Santa Rodrigues de Sousa.
O casal instalou-se na fazenda Porto Alegre, na freguesia de Itabira do Campo e tornou-se progenitor da família Nogueira Penido em nossa região, dando origem a numerosos filhos e filhas, dos quais dezesseis nos são conhecidos: 1. Joana Maria Nogueira; 2. Maria Nogueira Rodrigues; 3. Rosa Maria Nogueira - ou de Jesus; 4. Padre Manoel Nogueira Rodrigues 5. Padre José Nogueira Penido; 6. Ana Nogueira Rodrigues 7. Inácia Nogueira Penido; 8. Teresa Nogueira Penido; 9. Custódia Maria Nogueira; 10. João; 11. Antônio Nogueira Penido; 12. Custódio Nogueira Penido; 13. Sargento-mor Agostinho Nogueira Penido; 14. Sargento-mor Inácio Nogueira Penido; 15. Francisca Nogueira Rodrigues; 16. Feliciana Nogueira Penido.
Observações: no inventário de Manoel Nogueira Penido, há participação de 2 inconfidentes;
1. A viúva fez procuração para seu procurador em Ouro Preto, Cláudio Manoel da Costa;
2. No inventário de Manoel, seu sobrinho Capitão João Nogueira Duarte assinou a rogo da viúva e de algumas filhas;
3. O juiz que deferiu o inventário em Ouro Preto foi Tomaz Antônio Gonzaga, o inconfidente;
Referências:
Organização e arte: Charles Aquino - Historiador Registro nº 343/MG
Pesquisa genealógica: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam), Dr. Alan Penido, Aureo Nogueira da Silveira.
Andrade, Elias Alves de. Os Nogueira Penido: a descendência de Aurora Alves Penido e Aladim de Aguiar Vieira, SP, Paruna Ed, 2021, p.7-8, 11.
Acervo e brasão do município: Prefeitura e Câmara Municipal de Itaúna.