Convido você a
analisar a reportagem publicada no jornal Estado de Minas em 14 de julho de
1982, escrita pelo jornalista João Gabriel, que aborda um importante dilema
enfrentado pela cidade de Itaúna/MG na época: a preservação ou a demolição da
Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o prédio mais antigo da
cidade. A discussão é enriquecida com diferentes pontos de vista, envolvendo
várias figuras influentes como um promotor, um arquiteto, um escritor, médicos
e professores, que expuseram suas opiniões sobre o valor histórico e cultural
do edifício, em contraste com a necessidade urgente de modernizar as
instalações hospitalares para melhor atender à população.
Solicito você a
refletir sobre esse episódio histórico e se colocar no lugar das pessoas
envolvidas no debate: se fosse sua decisão, você optaria por preservar o
edifício histórico, com seu valor simbólico e cultural, ou priorizaria a
demolição, visando o desenvolvimento e a modernização das instalações
hospitalares, essenciais para a comunidade? Agora, você tem a oportunidade de
revisitar essa discussão, refletindo sobre como esses diferentes pontos de
vista moldaram o embate entre memória e progresso. Vamos analisar as posições
dos principais personagens mencionados.
1. Médico José Juarez Silva (Provedor da Casa de Caridade):
José Juarez
Silva, que estava à frente da Casa de Caridade, adota uma postura pragmática
quanto à preservação do prédio. Ele acredita que, se os recursos estivessem
disponíveis para restaurar o edifício, essa seria a solução ideal. No entanto,
após consultar engenheiros, ficou claro que a restauração não era
economicamente viável, levando-o a sugerir a demolição. Sua preocupação maior
está em otimizar os recursos para melhorar as condições do hospital e adquirir
novos equipamentos para a cidade, como um CTI e raios-X, que são necessidades
mais urgentes para o atendimento à população.
2. Promotor Faiçal David Freire Chequer (Representante do Ministério Público):
O promotor Faiçal
David Freire Chequer adota uma posição realista. Essa visão reflete sua
preocupação em equilibrar passado e futuro: ele defende a preservação do
patrimônio, mas dentro de um contexto onde o avanço do hospital e o bem-estar
social não sejam prejudicados. Contudo, ele
considera essa preservação válida "desde que não implique em barrar o
desenvolvimento do hospital". Ou seja, ele vê a preservação do patrimônio
como relevante, mas subordinada às necessidades práticas e funcionais do
hospital. Ao propor que o laudo técnico sobre o prédio inclua uma análise de
viabilidade, Chequer demonstra sua intenção de aguardar uma avaliação detalhada
antes de tomar uma decisão final.
3. Médico Peri Tupinambás:
Peri Tupinambás tem uma postura clara em
defesa da preservação do prédio. Ele acredita que o prédio da Casa de Caridade
é um marco histórico de Itaúna e, portanto, deve ser restaurado para preservar
a memória da cidade. Como candidato à prefeitura, seu posicionamento parece
refletir um respeito pelo patrimônio histórico, e ele argumenta que o valor
simbólico do edifício transcende seu estado atual de ruínas.
4. Escritor e
Pesquisador David de Carvalho:
David de Carvalho é outro defensor da
preservação, argumentando que não se pode permitir que a cidade perca um prédio
tão carregado de ideais e história. Ele vê na recuperação do prédio uma
oportunidade para atender a comunidade em diferentes aspectos, inclusive como
espaço cultural, fortalecendo assim o espírito de pertencimento da população
com seu passado.
5. Professor
Guaracy de Castro Nogueira (Reitor da Universidade de Itaúna e Ex-Provedor da
Casa de Caridade):
O professor
Guaracy de Castro Nogueira adota uma postura mais técnica. Ele considera o
prédio irrecuperável devido ao seu estado avançado de deterioração. Para ele, a
prioridade deve ser dada a investimentos na infraestrutura educacional e
hospitalar da cidade, como a expansão do atual hospital e a criação de novas
instalações acadêmicas na Universidade de Itaúna. Ele se opõe ao uso de
recursos públicos para tentar salvar o prédio, que, segundo ele, está muito
danificado para justificar sua restauração.
6. Arquiteto Hélio Ferreira Pinto:
O arquiteto Hélio
Ferreira Pinto, uma autoridade no estilo neoclássico no Brasil, defende que o
prédio é perfeitamente recuperável. Ele valoriza a história arquitetônica da
Casa de Caridade, destacando o estilo neoclássico da construção e sua
importância para a memória coletiva. Para ele, destruir o prédio seria um
grande erro, e ele defende a restauração como algo não apenas possível, mas
também necessário.
7. Professor Marco Elísio Chaves Coutinho:
Professor Marcos
Elísio Coutinho, ligado à área de cultura e turismo de Itaúna, também advoga
pela recuperação do prédio. Para ele, a restauração é urgente para que a cidade
preserve sua memória e identidade cultural. Ele argumenta que, além de ser um
bem arquitetônico, a Casa de Caridade representa a herança de Manoel Gonçalves,
um importante benfeitor da cidade, cuja memória deve ser preservada.
Comparação das Posições:
As opiniões variam bastante entre os personagens. De um lado, temos os que defendem ativamente a preservação do prédio, que ressaltam a importância histórica, arquitetônica e cultural do edifício. Esses personagens acreditam que a recuperação é viável e essencial para a preservação da memória de Itaúna.
Por outro lado,
temos aqueles que, embora reconheçam a importância histórica do prédio,
priorizam questões práticas e de desenvolvimento da cidade. Eles consideram que a
prioridade deve ser o investimento em novas estruturas que atendam melhor às
necessidades da população, como a ampliação do hospital e novas instalações
universitárias. Para eles, o estado avançado de deterioração do prédio e a
falta de recursos disponíveis tornam sua preservação inviável.
A reportagem ilustra um dilema comum em muitas cidades: o equilíbrio entre a preservação do patrimônio histórico e o desenvolvimento urbano. Em Itaúna, o debate de 1982 sobre a Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira mostra as tensões entre memória, cultura e progresso, refletidas nas diferentes visões dos personagens envolvidos.
Nota
Agora, em 2024,
mais de quarenta anos após o embate sobre a preservação e demolição da Casa de
Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, o edifício ainda "permanece de pé",
mesmo com avisos de “risco iminente de desabamento”. Até o presente momento, o
monumento histórico não foi demolido, o que sugere que, na
época, a preocupação com a preservação prevaleceu. Acredita-se que, naquela
ocasião, tenha surgido um sentimento coletivo de esperança de que, em algum momento,
o prédio fosse restaurado, mantendo viva a memória e a história que ele
representa para a cidade de Itaúna.
PRESERVAR X DEMOLIR PARTE II ✅
Referências:
Organização, arte
e pesquisa: Charles Aquino
Fonte impressa:
Jornal Estado de Minas, 1982.
Casa de Caridade
Manoel Gonçalves de Souza Moreira: Disponível em:
https://itaunacaridade.blogspot.com/2014/12/dilema-preservar.html
https://itaunacaridade.blogspot.com/2014/12/blog-post_17.html
Risco iminente:
https://itaunaemdecadas.blogspot.com/2024/01/risco-iminente.html
Imagem: Meramente ilustrativa