Nogueira ressalta a necessidade de preservar os nomes tradicionais das ruas como uma forma de honrar a memória e a história da comunidade. Ele critica a prática de renomear esses espaços públicos de acordo com interesses políticos momentâneos, destacando casos em que isso ocorreu, muitas vezes sob regimes autoritários. O autor também lamenta a perda de espaços públicos que outrora tinham significado histórico, como o antigo Largo da Matriz, que foi transformado em outras estruturas, negligenciando sua importância cultural e social.
Ao destacar a imposição de nomes de ruas e praças durante períodos ditatoriais, como as avenidas Getúlio Vargas e a Praça Benedito Valadares, Nogueira ressalta a complexidade política por trás dessas decisões e a importância de se avaliar criticamente o legado desses líderes políticos. Por fim, o autor conclui que a falta de valorização e conhecimento da história local reflete uma lacuna cultural na sociedade, enfatizando que a verdadeira expressão de um povo está enraizada em sua cultura e conhecimento de sua própria história.
É lamentável o que ocorre em Itaúna. A vida de uma cidade está na sua alma, a qual, ao longo de sua existência, vai-se vitalizando pelo potencial da gente que se destaca por entre a urdidura humana que a compõe e impele. As personalidades marcam um povo, uma localidade. Pará de Minas é apontada como a terra de Benedito Valadares; Três Corações nos lembra de Pelé; Pitangui nos traz às memórias de dona Joaquina do Pompéu e dona Maria Tangará; Bom Despacho recorda Olegário Maciel; Araxá não deixa dona Beja ser esquecida e São João Del Rei é a terra de Tancredo Neves. Estas comunidades se ufanam quando lembradas pelo valor de seus filhos. Nos meus encontros com os jovens que me procuram para saber um pouco da história de Itaúna, faço questão de lhes perguntar: Onde você mora?
Na Rua João de Cerqueira Lima, na Rua Josias Nogueira
Machado, na Rua Gonçalves da Guia, na Praça Luís Ribeiro e citam, sem dúvida,
nomes de pessoas ilustres que ajudaram a construir a grandeza de nossa
comunidade. Quando lhes pergunto quem
foram tais personalidades que deixaram seus nomes em ditas ruas, nada explicam,
nada sabem, tudo ignoram. Ninguém está mais aí, para essa do quem é ou quem
foi. E, lamentavelmente, há nomes que todos ignoram e que me surpreendem, só
conhecidos do autor da lei que os propôs.
Melhor
seria, quem sabe, trocar os nomes dos logradouros públicos de nossa cidade que
não cultua seus líderes dos idos passados, para coisas que o povo conhece,
porque não, delas dependem para orientar e circular: Rua Direita, Beco da
Caridade, Rua do Comércio, Porteira do Mirante, Bairro da Ponte, Beco do Jota,
Travessa 2 de Janeiro, Rua das Viúvas, Bairro do Serrado, Rua São Vicente, Rua
da Harmonia, Bairro da Vargem, Rua do Rosário, Rua da Linha e tantas outras das
quais não me lembro, nomes que fazem parte de nossa história e ainda povoam
nossa memória.
Defendo
intransigentemente a manutenção dos nomes dos logradouros públicos. Não será
por mera bajulação ou mesmo para homenagear mortos ilustres que se lhes trocará
a denominação. Não faltam logradouros públicos novos para se utilizarem no
preito àqueles que o merecem. Quem dá nome a logradouros públicos é o povo,
através dos vereadores e do consenso da Câmara Municipal. Só em regimes
autoritários é que o Prefeito ou a autoridade executiva dá nomes às coisas. Os
nomes antigos foram batizados pelo uso e costume dos cidadãos. A lei apenas
homologava a vontade popular.
Até por
respeito à história, conveniente seria que se preservassem os nomes antigos
muitos dos quais mais saborosos. Onde estão a Rua do Cascalho, a Rua do Canto,
a Rua das Piteiras e o Alto da Laje?
A política é terrível. O nosso Largo da Matriz já se
chamou Praça João Pessoa, Praça Mário Matos, Praça Benedito Valadares e agora
se chama Praça Dr. Augusto Gonçalves. Extinto o velho cemitério, onde se tentou
construir a nova Matriz, boicotada pelos ricos da época, contra a bela planta
do arquiteto italiano Rafello Berti, o logradouro ia se transformar numa praça
ajardinada em respeito aos mortos que lá foram sepultados, a ele deu-se o nome
de Praça Mário Matos.
A política destruiu a praça lá edificando o Grupo José Gonçalves de Melo, um clube dançante, um sindicato, e o prédio dos Correios e
Telégrafos. Não arrancaram o nome de
Mário Matos, mas destruíram a praça com seu nome, porque todos o consideravam
como o autor intelectual do fechamento de nossa Escola Normal.
Dois nomes em Itaúna foram impostos pelo governo
ditatorial: Avenida Getúlio Vargas e Praça Benedito Valadares. A avenida, que
era rua, e a praça principal se tornaram nomes dos detentores do poder na
época, por força de um decreto do ditador. Os udenistas radicais, que depuseram
Getúlio e Benedito, arrancaram o nome do Benedito da praça principal, porque
ele havia fechado nossa Escola Normal e só não arrancaram as placas da Avenida
Getúlio Vargas, porque o líder queremista Zé Biscoitão, à frente dos operários,
se opôs à turba da UDN.
No fundo foi um ato de coragem do líder dos
trabalhadores e a perspectiva histórica nos diz hoje que Getúlio, no balanço de
sua passagem pelo governo, foi um estadista, responsável pela implantação da
legislação social em benefício dos mais humildes e dos trabalhadores de um modo
geral.
Trata-se de um problema cultural. Às vezes somos progressistas e até
civilizados, mas pouco cultos. Cultura é a expressão máxima de um povo!
Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira
Acervo: Imagens da internet
Organização, pesquisa e síntese: Charles Aquino