sexta-feira, maio 31, 2024

IRMÃS AUXILIARES DA PIEDADE

IRMÃ BENIGNA: O LEGADO DAS IRMÃS AUXILIARES EM ITAÚNA

Em 7 de junho de 1916, foi lançada “a pedra basilar” de um hospital — Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — na cidade de Itaúna/MG, em homenagem ao seu fundador. Em 14 de novembro de 1919 a “bênção do prédio” foi presidida por Dom Silvério Gomes Pimenta, professor, poeta e arcebispo de Mariana com um grande “número de pessoas gradas” e autoridades. O primeiro Conselho deliberativo reuniu-se em 14 de dezembro de 1920. Este ato transformou a “Santa Casa de Itaúna” em um importante centro médico da região. O estabelecimento contava com uma equipe qualificada de médicos e cirurgiões, além de uma farmácia abastecida com diversos insumos — o que atraiu muitos pacientes que o consideravam de fácil acesso devido à proximidade com a linha férrea.

O Pároco da cidade era o Padre João Ferreira Álvares da Silva, “amigo sincero” de Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, fundador da CIANSP — Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade — em Caeté/MG em 1892. E “pela sua intervenção consegui e foram contratadas as Irmãs Auxiliares da Piedade para administração interna, no dia 21 de fevereiro de 1921 com todo o conforto espiritual e material”. 

Segundo os estatutos da Casa de Caridade de Itaúna, a partir desta data, foram designadas para trabalhar no hospital as primeiras irmãs — Irmã Superiora Natividade e suas auxiliares: Irmã Dolores, Irmã Inácia, Irmã Margarida e Irmã Nazareth. Aproximadamente em 1922, foi construída uma capela no interior do hospital. Nesta Capela da Casa de Caridade, meticulosamente ornada pelas devotas Irmãs Auxiliares da Piedade, era celebrado todos os dias com alegria o Santo Sacrifício da Missa. Os fiéis se reuniam para rezar o terço, e receber a benção do S.S. Sacramento aos domingos, quintas-feiras, primeira sexta-feira de cada mês e nos dias santos de guarda. Diariamente, as Irmãs, juntamente com os doentes e todos os membros do pessoal interno e externo, participavam na distribuição da “Santa Comunhão”.

 Foi instituída a adoração mensal do S.S. Sacramento, durante a qual as Irmãs se uniam aos enfermos e aos devotos em uma hora solene de oração. Neste momento sagrado, era dirigido as súplicas ao santo Padre, ao estimado Dom Antônio dos Santos Cabral, ao Monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro, a todas as ordens religiosas, ao fundador Manoel Gonçalves de Souza Moreira e a todos aqueles que governavam e trabalhavam na Casa de Caridade. Para garantir a lembrança eterna do sacrifício do Redentor, as Irmãs ministravam diligentemente o catecismo, preparando os enfermos para a primeira comunhão, ao mesmo tempo que expressavam gratidão ao Altíssimo, à S.S. Virgem da Piedade e ao glorioso São José. Todos os indivíduos que morreram na Santa Casa de Itaúna, receberam o sacramento da Sagrada Comunhão e a unção reconfortante da Unção Eterna, acompanhados de orações e apoio compassivo.

Já final de 1923, a primeira administração foi substituída pela Irmã Superiora Vicência e suas auxiliares: Irmãs Isabel, Celeste e Inácia. Em 1925, como Irmã Superiora Cândida e suas auxiliares: Irmãs Mercês, Natividade, Isabel, Inácia e Celeste. Em 1932, como Irmã Superiora Dolores e suas auxiliares: Irmãs Celeste, Cecília, Marta e Josefa. 

As Irmãs Auxiliares da Piedade passaram a desempenhar na Casa de Caridade um importante papel na promoção da saúde e do bem-estar da comunidade itaunense e cidades adjacentes. O comprometimento e a competência das irmãs na gestão das atividades do hospital e no cuidado aos pacientes conquistaram grande reconhecimento e eterna gratidão por parte dos enfermos e necessitados. Em 1939, as irmãs assumiram a liderança de uma escola, promovendo a formação moral e acadêmica dos alunos. Paralelamente, a congregação assumiu o controle do internato vinculado à Escola Normal Manoel Gonçalves de Souza Moreira, uma instituição importante para a educação da região, fundada pela Casa de Caridade — hoje conhecida como Escola Estadual de Itaúna.

Em 24 de maio de 1942, foram registradas informações sobre os trabalhos realizados ao longo dos 21 anos de serviços prestados no Hospital de Itaúna — o estabelecimento atendeu um total de 7.409 pacientes, dos quais 6.917 tiveram alta após recuperação total. Esses dados servem como evidência para enfatizar a eficácia e o significado dos esforços realizados pelo corpo clínico em conjunto com as Irmãs Auxiliares da Piedade.  Além disso, ocorreram 492 mortes de pacientes, sublinhando a gravidade das condições abordadas.

A prestação de serviços externos gratuitos pela policlínica também desempenhou um papel crucial, pois houve um aumento substancial do atendimento. Os procedimentos ambulatoriais dignos de nota incluíram 46.628 curativos, 48.910 injeções e 38.912 consultas, além de outros serviços essenciais, como 9.112 pequenas cirurgias, 10.590 radiações-ultra-violeta, 12.997 exames de urina e 8.267 lavagens vaginais.

Em termos de serviços internos da enfermaria os números foram igualmente impressionantes, com 62.240 injeções, 50.108 curativos, 10.201 pequenas cirurgias, 12.000 cirurgias de grande porte, 11.212 lavagens vaginais, 13.402 exames de urina e 1.190 radiações-ultra-violeta, entre outros procedimentos. Estas estatísticas demonstram não só o volume de trabalho realizado, mas também a natureza abrangente e complexa dos cuidados de saúde prestados.

Ao todo, durante 21 anos, 40 irmãs se dedicaram às suas nobres funções na Santa Casa de Itaúna. A partir de 1942, a Irmã Superiora Delfina (falecida em julho de 1944) e suas competentes Auxiliares, Irmãs Josefa, Benigna, Noême e Ubaldina, estiveram envolvidas no serviço e no cumprimento destas funções. Ao lado das Irmãs, os Revs. Capelães desempenharam um papel crucial no fornecimento de conforto espiritual. O Reverendo Padre João Ferreira Álvares da Silva serviu como o primeiro capelão, e foi graças à sua presença que as Irmãs Auxiliares da Piedade “devem a sua existência nesta digna Casa de Caridade”, o que garantiu que a congregação continuasse a experimentar o conforto ilimitado dos atos de beneficência.

Irmã Dolores: Um Legado de Fé e Sacrifício

O relato detalhado deste momento final da vida de sacrifício e devoção de Irmã Dolores, foi cuidadosamente registrado pelo Padre José Netto em 1946:

“Confortada com os sacramentos da Igreja, e assistida nos seus últimos momentos por quatro sacerdotes, deu a alma a Deus, numa morte tranquila e santa, a Reverenda Irmã Dolores da Congregação das Irmãs Auxiliares da Piedade, falecida na Santa Casa, onde estava num leito e dores havia mais de 10 anos. Foi resignada em seus padecimentos, oferecendo tudo pela conversão dos pecadores, pela santificação dos sacerdotes. [...] Seu corpo tomara-se em ferida viva. Foi solenemente encomendada na capela da Santa Casa pelo Capelão Revmo. Pe. Ubaldo Silveira, na matriz pelo vigário e no cemitério pelo vigário cooperador. Foram celebradas 4 missas de corpo presente. Seu falecimento se verificou no dia 12 de dezembro deste ano, as 6h da tarde, quando os sinos anunciavam a hora de Ângelus.”

A dedicação da Irmã Dolores, mesmo diante do sofrimento excruciante, serviu como um testemunho de sua devoção e sacrifício, servindo de inspiração e exemplo para todos que a conheceram.

Irmã Benigna: Devoção e Liderança de uma mulher negra

Negra e pobre enfrentou a rejeição da congregação inicial à qual procurou ingressar. Porém, uma virada ocorreu quando Dom Carlos de Carmelo Mota, nomeado Bispo Auxiliar em Diamantina, estabeleceu um vínculo com sua família. Reconhecendo a sua vocação, ligou-a às Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, onde encontrou o seu lugar e se dedicou a uma vida de santidade. Em 1935, Maria da Conceição Santos, devota de Nossa Senhora de Lourdes, tornou-se membro da Congregação. Em 1936, abraçou formalmente a obediência ao fazer seus votos religiosos iniciais. A partir desse momento, adquiriu o nome de Irmã Benigna Víctima de Jesus, marcando o início de sua jornada missionária ao se dedicar à prestação de serviços espirituais em áreas designadas pela Congregação.

Em 1941, participando de cerimônia em Itaúna, fez os votos perpétuos. Durante este significativo evento, a Superiora da Congregação e outras religiosas, estiveram presentes para testemunhar o seu compromisso. A partir de uma investigação realizada neste ano, com considerável abrangência, é altamente provável que tenha concluído com êxito um curso de três anos na "Escola de Enfermagem do Estado de São Paulo", obtendo o prestigiado título de "Enfermeiro Prático Licenciado". A conceituada instituição era conhecida pela adesão aos padrões de ensino europeus e norte-americanos, e havia uma lista de formandos daquele ano que incluía seu nome.

Em 1943, foi nomeada Irmã Superiora, onde atendeu diligentemente às necessidades de suas irmãs. Irmã Benigna, na qualidade de diretora da Santa Casa em Itaúna, criou uma maternidade dedicada a prestar assistência às mães desfavorecidas. Ela não apenas ofereceu apoio durante o parto, mas também transmitiu conhecimentos valiosos sobre a educação dos filhos, abrangendo aspectos como saúde, higiene, nutrição e cuidados emocionais. Em 1946, participou ativamente na cerimônia de lançamento da pedra fundamental do recém-construído edifício hospitalar em Itaúna, atualmente reconhecido como Hospital Manoel Gonçalves, abençoado pelo padre Waldemar Antônio de Pádua Teixeira e pelo padre José Ferreira Netto.

Em 1947, Irmã Benigna concluiu seu mandato de doze anos como superiora do hospital, deixando uma profunda influência na comunidade itaunense e um legado duradouro de melhores serviços de saúde. Ao lado das Irmãs Auxiliares da Piedade, o seu compromisso compassivo em prestar cuidados humanos e eficazes contribuiu grandemente para o bem-estar dos doentes e desfavorecidos. No mesmo ano, em de 16 de novembro, registrou informações sobre os serviços prestados no Hospital de Itaúna ao longo dos anos — em 1943, o movimento do estabelecimento incluía 62 cirurgias de grande porte, 6.558 consultas, 7.861 curativos, 2.207 injeções, 366 pequenas cirurgias e 5.138 receitas. Em 1944 foram 8.376 consultas, 84 cirurgias de grande porte, 8.146 curativos, 6.796 injeções, 482 pequenas cirurgias, 8.167 prescrições. Em 1945 foram 7.849 consultas, 76 cirurgias de grande porte, 7.842 curativos, 6.425 injeções, 436 pequenas cirurgias, 7.948 prescrições. De 1946 até outubro de 1947 foram 8.264 consultas, 69 grandes cirurgias, 7.896 curativos, 5.904 injeções, 392 pequenas cirurgias, 6.948 prescrições.

Em 1948, Irmã Benigna Víctima de Jesus completou sua missão em Itaúna. Seu legado é definido pelo amor, fé e compaixão, que ela demonstrou através de dedicação inabalável e altruísmo. Uma das observações finais da Irmã capta o seu compromisso — “procurei cumprir o dever que me foi imposto como também na medida de minhas forças, mantive como foi possível a minha capacidade, a ordem e o respeito dentro do Hospital”.

Sua passagem por Itaúna foi marcada por um profundo impacto, consolidando-se como um período de significativa evolução e humanização no atendimento à saúde da comunidade. Os efeitos das ações caritativas estenderam-se além dos cuidados médicos para abranger a espiritualidade, atraindo inúmeras pessoas a procurarem consolo em Deus. No hospital, desempenhou com diligência todos os trabalhos essenciais, auxiliando os pacientes e seus entes queridos, oferecendo acomodações, sustento e encorajamento. Através da sua organização nas tarefas cotidianas juntamente com as orações, bem como da sua abordagem compassiva para com os pacientes, familiares e funcionários, ela irradiava a sua santidade, resultando numa multidão de conversões e num aumento de pedidos de orientação e intercessão.

Na prática de enfermagem, demonstrou também um compromisso inabalável com o bem-estar dos familiares dos pacientes, garantindo-lhes muitas vezes auxílio no hospital ou na comunidade local, assegurando a sua proximidade durante o tratamento. Ela não apenas ofereceu provisões como alimentos, roupas e remédios, mas também deu orientações valiosas sobre como manter os cuidados adequados em casa.

Irmã Benigna, uma líder negra e resiliente, transcendeu as dificuldades impostas pela pobreza para se tornar uma figura de grande impacto na sociedade. Desde jovem, demonstrou uma fé profunda e um desejo intenso de ajudar os mais necessitados, onde se dedicou a cuidar de doentes, idosos, órfãos e marginalizados. Ao enfrentar inúmeras adversidades com resiliência, nunca permitindo que as barreiras sociais a impedissem de cumprir sua vocação. Sua determinação em servir aos outros se manifestava em atos concretos de amor e caridade, evidenciando uma espiritualidade enraizada no serviço ao próximo. Ela não apenas atendia às necessidades físicas das pessoas, mas também oferecia conforto espiritual, promovendo a dignidade humana e a esperança.

Nos registros oficiais do hospital de Itaúna, a dedicação da Irmã Benigna em manter a disciplina e a reverência dentro da instituição é expressa de forma eloquente, destacando a sua devoção, liderança e compromisso em cumprir diligentemente as suas responsabilidades. Nas décadas de 1930 e 1940, Irmã Benigna – uma mulher negra – deixou um legado imensurável de liderança e comprometimento não só na Santa Casa, mas no Município de Itaúna (MG).

 A Saúde, o Espírito e a Educação: O legado das Irmãs Auxiliares

 O legado de caridade deixado pelas Irmãs Auxiliares da Piedade em Itaúna é profundo, abrangendo tanto a área da saúde quanto o conforto espiritual. Durante anos, as Irmãs da Piedade demonstraram notável competência na gestão dos assuntos internos do Hospital — Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — estendendo assistência médica e apoio emocional a inúmeros pacientes. A dedicação não teve limites, pois realizavam incansavelmente uma infinidade de procedimentos, desde cuidar de pacientes até auxiliar os médicos em cirurgias, entre outras aplicações.

Em 1923, como por exemplo, uma paciente chegou à Santa Casa de Itaúna após suportar seis dias de trabalho de parto em casa. Apesar de uma noite repleta de tentativas frustradas, uma cesariana foi realizada no outro dia às 7h pelo Dr. Dorinato de Oliveira Lima, cirurgião do hospital, com auxílio do Dr. Antônio de Lima Coutinho e do Dr. Dario Gonçalves. Desempenhando um papel crucial no procedimento, Irmã Vicência administrou habilmente “anestesia clorofórmica”. A correta aplicação da anestesia foi fundamental para garantir a segurança da paciente e evitar dores adicionais durante a operação, permitindo aos cirurgiões realizar a cesariana com eficiência e segurança. Suas ações não apenas aliviaram o sofrimento da paciente, mas também contribuíram muito para o sucesso do procedimento cirúrgico. Este compromisso contínuo com o bem-estar da comunidade é uma prova dos extraordinários serviços prestados pelas irmãs.

A comunidade de Itaúna foi profundamente influenciada pelas contribuições duradouras das Irmãs Auxiliares da Piedade. Os seus esforços foram fundamentais para melhorar não só o bem-estar físico dos indivíduos, mas também para oferecer consolo e orientação àqueles que enfrentavam adversidades. Além de suas responsabilidades na área da saúde, as irmãs também fizeram uma contribuição integrando cuidados médicos de excelência e educação de qualidade. Elas ajudaram a transformar o hospital em um centro de referência na saúde, enquanto contribuíam significativamente para a educação e o bem-estar social da comunidade, refletindo seu compromisso humanitário e espiritual.

O resultado duradouro da sua devoção e cuidado inabaláveis ​​no cumprimento das suas responsabilidades hospitalares sublinha a importância de um sistema de saúde compassivo e eficaz. O seu notável legado serve como testemunho da sua compaixão, compromisso e experiência, e ainda é apreciado pela comunidade com profundo apreço.

 História narrada em vídeo. Imperdível!



 Referências:

Organização, arte e pesquisa: Charles Aquino - Historiador Registro nº 343/MG

COUTINHO. Antônio Augusto de Lima. A mésse de um decênio. Algumas observações clínico cirúrgicas em dez anos de atividades profissional. Tip. São João, Itaúna, MG, 1932, p.12-15. 

Ata da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira — Itaúna/MG. Registrado sob nº 16.539 às fls 272 vº do Livro A-XI, p.5-15.

Jornal Correio Paulistano, 15 de junho de 1941, Ed. 26.158, p.25. Hemeroteca Digital.

Jornal Correio Paulistano, 02 de fevereiro de 1941, Ed. 26.047, p.11. Hemeroteca Digital.

Jornal A Noite, Rio de Janeiro, 16 de outubro de 1925, Ed.4.994, p.7. Hemeroteca Digital.

Jornal Lar Católico, Minas Gerais, 30 de julho de 1944, Ed.31, p. 11. Hemeroteca Digital.

Jornal O Apostolo, Rio de Janeiro, 6 de dezembro, 1895, Ed.139, p.3. Hemeroteca Digital.

Livro Tombo I: Paróquia de Sant’Ana de Itaúna — 1902 a 1947, p. 94.

Jornal Irmã Benigna notícias Ed. nº77, p.4-5. Disponível em: https://www.irmabenigna.org.br/novo/pt/edicao.php?e=77.

CIANSP — Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade em Caeté/MG. Disponível em: https://www.ciansp.com.br/fundador/.

AMAIBEN - Biografia da serva de Deus Irmã Benigna, Disponível em: https://www.irmabenigna.org.br/novo/pt/biografia.php.

Acervo fotográfico: Prof. Marco Elísio Coutinho (In Memoriam) 


Disponível também em: 

Jornal Folha do Povo -  27 Julho,2024 (Primeira Parte)

Jornal Folha do Povo - 3 Agosto, 2024 (Segunda Parte)

Jornal Folha do Povo - 10 Agosto, 2024 (Terceira Parte) 



domingo, maio 26, 2024

SANTA ZITA ITAÚNA - TABLOIDE

Legado da Associação Santa Zita em Itaúna

   A Associação Santa Zita, formada entre as décadas de 1950 e 1970 na cidade de Itaúna, Minas Gerais, representou um marco de solidariedade e resistência para um grupo de mulheres predominantemente afrodescendentes que trabalhavam como empregadas domésticas. Inspiradas por Santa Zita, padroeira das empregadas domésticas, essas mulheres encontraram na associação um espaço para crescimento espiritual e apoio mútuo, demonstrando notável altruísmo e resiliência.

   Santa Zita, nascida em 1218 na Toscana, Itália, simboliza a devoção e a caridade cristã. Sua vida de dedicação ao serviço dos outros, mesmo sob condições de trabalho duras e análogas à servidão, ecoou através dos séculos, chegando ao Brasil e inspirando a criação da associação em Itaúna. Este coletivo não só representava um suporte espiritual, mas também um movimento de resistência contra as adversidades enfrentadas pelas trabalhadoras domésticas, uma categoria historicamente marginalizada e desprotegida.

   Através das entrevistas realizadas com ex-integrantes da Associação Santa Zita, como Dona Edite Marques de Oliveira Melo, Dona Geni Ferreira Pinto, Dona Vicência Maria de Jesus e Dona Custódia Maria da Cruz Santos, é evidente o impacto transformador que a associação teve em suas vidas. Elas relataram como a participação no grupo proporcionou não apenas crescimento espiritual, mas também desenvolvimento profissional, fortalecendo suas capacidades e autoestima.

   O papel do Padre José Ferreira Neto foi crucial neste contexto. Descrito com carinho pelas ex-integrantes, ele atuou como um verdadeiro guardião da associação, proporcionando liderança e apoio emocional. Sua capacidade de equilibrar rigor com afeto permitiu que essas mulheres se sentissem valorizadas e protegidas, criando um ambiente de respeito e solidariedade.

   A associação não se limitou a aspectos espirituais. Em 1960, a aprovação da Lei nº 509 pelo prefeito Dr. Célio Soares de Oliveira, que doou um terreno para a construção de uma residência para domésticas idosas e desamparadas, representou um avanço significativo. Entretanto, a alteração da lei em 1963 e a eventual dispersão do grupo após a morte da coordenadora Dona Ivolina Gonçalves em 1977, destacam os desafios enfrentados pelo coletivo para se manter ativo e estruturado.

   Além disso, a promulgação da Lei 5.859/1972, que definiu os direitos dos trabalhadores domésticos, foi um marco histórico. As trabalhadoras de Itaúna, informadas sobre seus novos direitos através do rádio, começaram a ver mudanças concretas em suas condições de trabalho, um reflexo direto de suas lutas e da influência da Associação Santa Zita.

   O legado da Associação Santa Zita perdura até hoje. A instituição do "Dia Municipal da Empregada Doméstica" em 27 de abril, através da Lei nº 4.545 de 2011, reforça o reconhecimento oficial do papel crucial dessas mulheres na sociedade de Itaúna. A preservação de artefatos e a veneração da imagem de Santa Zita na Igreja Matriz de Sant'Ana simbolizam a importância cultural e espiritual da associação.

   A história da Associação Santa Zita em Itaúna é um testemunho poderoso da capacidade de organização e resiliência das trabalhadoras domésticas. Seu compromisso com a caridade, espiritualidade e apoio mútuo não só melhorou suas próprias vidas, mas também contribuiu para a construção de uma comunidade mais justa e solidária. É essencial reconhecer e valorizar esse legado, que continua a inspirar gerações futuras na luta por direitos e dignidade.

Você está convidado a ler a mais recente edição do Tabloide Pedra Negra, que destaca a rica história da Associação Santa Zita de Itaúna. Nesta edição, são explorados os valiosos testemunhos das ex-integrantes dessa importante associação, que prestou apoio espiritual e profissional às empregadas domésticas da cidade entre as décadas de 50 e 70. 

A história de Santa Zita, padroeira das empregadas domésticas, inspira a narrativa, que também relembra a dedicação do Padre José Ferreira Neto e o impacto da legislação em favor dos trabalhadores domésticos. Leia o tabloide e conheça mais sobre este notável legado de fé, solidariedade e trabalho comunitário que moldou parte da história de Itaúna. Não perca a oportunidade de mergulhar nesse capítulo essencial da nossa memória coletiva.
Tabloide Pedra Negra  Edição 6 - 
Versão completa:  Associação Santa Zita em Itaúna



Organização, arte e elaboração: Charles Aquino

FUNDO JOÃO DORNAS - FJD

   Abrangendo um período substancial que vai de 1925 a 1972, o Fundo João Dornas Filho (FJD), salvaguardado pelo Arquivo Público Mineiro (APM), abriga um rico acervo textual e visual. Dornas Filho, figura versátil no âmbito da política, da história, do folclore e da literatura, fez contribuições significativas para diversos jornais e revistas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, foi membro de organizações conceituadas como o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e a Academia Mineira de Letras.

   João Dornas Filho, autor prolífico, contribuiu para a reforma das artes e da literatura em Minas Gerais através de seu envolvimento no renomado periódico "Leite Criôlo". Ao lado de Aquiles Viváqua e Guilhermino César, liderou um movimento que buscava revitalizar o cenário cultural e literário da região.

   Além de suas atividades literárias, Dornas Filho mergulhou em extensas pesquisas sobre questões étnicas e culturais, com foco especial nas comunidades negra, indígena e cigana. Sua dedicação a esses tópicos demonstrou seu profundo interesse em explorar e compreender diferentes etnias e culturas.

   A extensa compilação de materiais escritos do Fundo João Dornas Filho abrange uma ampla gama de conteúdos, como entrevistas, folhetos de propaganda política, poemas, recortes de jornais e correspondências. Essa correspondência inclui intercâmbios com editores, revistas e diversas pessoas sobre assuntos literários, bem como materiais de pesquisa, expressões de felicitações, convites e mensagens de condolências. Coletivamente, esses documentos oferecem uma perspectiva abrangente sobre os esforços e conexões de Dornas Filho ao longo de sua vida.

   O acervo de materiais iconográficos é extenso, abrangendo um total de 409 fotografias, 52 desenhos, 24 cartões postais e um mapa. Dentro desse vasto acervo de documentação visual, é possível encontrar diversos assuntos, incluindo políticos, artistas, intelectuais, povos indígenas, criações artísticas e diversos aspectos do interior de Minas Gerais, como rios, pontes, praças e monumentos.

   Ao lado das fotografias, o acervo também conta com pinturas, cartões postais, desenhos, litografias e mapas, que proporcionam um vislumbre visual cativante do cenário cultural e histórico da vida de Dornas Filho.

   A organização do acervo está dividida em nove séries distintas: Documentos Pessoais, Trajetória Intelectual (que inclui tanto os Escritos do Autor quanto os Escritos de Outros Autores), Correspondência, Recortes de Jornais, Folhetos, Periódicos, Volantes, Iconográfico (que consiste em Desenhos, fotografias e cartões postais) e documentos diversos. Para auxiliar no processo de pesquisa, estão disponíveis recursos úteis, como o inventário do Fundo João Dornas Filho e um sistema informatizado de acesso ao acervo fotográfico. Os próprios documentos originais são utilizados para fins de consulta, garantindo a preservação e autenticidade do material.

   Além disso, fazem parte do sortimento registros que vão além do falecimento de João Dornas Filho, servindo como prova do impacto duradouro que ele deixou. Em 1959, sob a liderança de João Gomes Teixeira, o acervo foi generosamente contribuído para o Arquivo Público de Minas Gerais, transformando-se em um recurso precioso para estudiosos intrigados com a existência e realizações de João Dornas Filho, bem como com a narrativa cultural e política de Minas Gerais durante o século XX.

   Após o seu falecimento, a família Dornas contribuiu generosamente com numerosos documentos inéditos para o Instituto Maria de Castro Nogueira (ICMCI) em Itaúna/MG, ampliando assim a disponibilidade da sua obra e salvaguardando ativamente o seu legado duradouro.

 Saiba mais 




Referências:

Pesquisa, arte e elaboração: Charles Aquino

APM – Arquivo Público Mineiro. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fundos_colecoes/brtacervo.php?cid=118 

 

O PADROADO E A IGREJA BRASILEIRA

   Esta obra de João Dornas Filho, publicada pela Companhia Editora Nacional em 1938, discute o sistema de padroado eclesiástico que representa a relação da Igreja Católica com o Estado no Brasil, durante sua história colonial e imperial, especificamente do ponto de vista político.

   O estudo é visto como um trabalho fundamental para compreender a teia entrelaçada do poder religioso e do poder político no Brasil, uma visão de como essas forças teceram a estrutura da sociedade brasileira ao longo dos tempos. Dornas Filho investiga o impacto do clientelismo na composição estrutural do catolicismo no Brasil – ponderando sobre suas repercussões para a autonomia institucional sem marginalizá-lo das influências políticas que o elaboram.

   Um ensaio que discute a divisão entre assuntos da Igreja e do Estado remonta às origens do que é conhecido como regime do Padroado, iniciado pela Bula Inter Coetera em 1455. Durante um período em que a influência e o poder da Igreja eram sinônimos de autoridade temporal, o Padroado surgiu como uma contrapartida ao “regalismo” – uma ideologia que concede aos reis a autoridade para se envolverem em assuntos eclesiásticos internos. O ápice desse conflito ocorreu no início da década de 1870, quando bispos de Pernambuco e do Pará foram presos, solidificando ainda mais o impasse em relação às questões relacionadas à soberania e à autonomia entre essas duas entidades na sociedade brasileira.

   Padroado é o termo introduzido para explicar um sistema em que a Coroa Portuguesa recebia autoridade para administrar e financiar a Igreja Católica no Brasil e, em troca desse ato, era obrigada a nomear clérigos, bem como providenciar para que igrejas fossem construídas. Este sistema surgiu com base num acordo conhecido como Tratado de Patronato, celebrado entre a Santa Sé e a monarquia portuguesa. Dornas Filho pinta um quadro vívido de como o clientelismo foi colocado em prática no Brasil colonial, ilustrando como a administração eclesiástica entrelaçou estreitamente seus fios com os da governança colonial. Através do seu domínio sobre a Igreja, a Coroa podia agora ditar termos não apenas sobre questões religiosas, mas também sobre questões políticas e sociais.

   O estudo investiga a relação entre Igreja e Estado, com foco específico na Igreja Católica e no Estado brasileiro. Ele retrata como a Igreja atuou como uma ferramenta política para a Coroa, ilustrando casos em que os bispos entraram em conflito ou conspiraram com os governadores coloniais e discutindo os efeitos em cascata dessas dinâmicas na estrutura da sociedade brasileira.

   Em seu estudo sobre o padroado, o autor investiga seus efeitos na autonomia da Igreja no Brasil. Ele postula que, apesar dos benefícios – tanto econômicos como logísticos – que o sistema concedeu, a independência eclesiástica foi de facto dificultada em grande medida. Este compromisso levou a conflitos internos e lutas pelo poder dentro da instituição que são vividamente delineados por Dornas após o declínio do clientelismo após a conquista da independência do Brasil e a subsequente metamorfose sócio-política.

   O texto discute as reformas do século XIX que conduziram a uma separação entre a Igreja e o Estado, posteriormente declarada na proclamação da República, encerrando assim oficialmente o padroado. Ao longo de sua obra, o autor faz uma crítica ao padroado valorizando os aspectos positivos e condenando os negativos, sem esquecer como ele impactou a história eclesiástica e política do Brasil. O legado resultou desta formação mesmo depois de ter cessado oficialmente: retransmitindo complexidades formadas durante aqueles períodos cujos ecos ainda eram sentidos muito além do seu encerramento.

   João Dornas Filho foi um intelectual e historiador de Minas Gerais, tendo um impacto significativo na literatura. Além deste trabalho, foi autor de muitos outros livros que destacaram sua profunda pesquisa e grande interesse pelas questões históricas e sociais do Brasil.

   A síntese resume a essência dos principais tópicos e controvérsias apresentadas em "O padroado e a igreja brasileira". Se desejar fazer uma leitura completa com todas as complexidades intactas, recomendamos que você acesse os links abaixo.

 Referências:

Síntese e organização: Charles Aquino

FILHO, João Dornas. O padroado e a igreja brasileira. Brasiliana eletrônica. Disponível em: http://brasilianadigital.com.br/brasiliana/colecao/obras/211/o-padroado-e-a-igreja-brasileira. Acesso em: 25/05/2024.

FILHO, João Dornas. O padroado e a igreja brasileira. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em: https://bdor.sibi.ufrj.br/handle/doc/207 . Acesso em: 25/05/2024.

 Saiba mais sobre João Dornas Filho






sexta-feira, maio 24, 2024

VENTOS SOPRAM PERSPECTIVAS OPOSTAS


   Numa plataforma musical, duas almas contemplando a imagem de uma fotografia relatam as suas perspectivas opostas ao som de uma música intensamente profunda:

   Primeira alma - O vento é forte, fazendo as árvores tremerem e a grama mergulhar em um oceano de incertezas. Enquanto isso, um homem, perdido em seus pensamentos, atravessa campos, montanhas e pequenas aldeias, mergulhando em narrativas de solidão e tristeza. Ele se move lentamente, oprimido pelo peso do mundo, o olhar fixo para baixo, como se buscasse uma pausa em seus pensamentos. Seus olhos, claros e inabaláveis, examinam o chão, como se este fosse a chave para restaurar sua tranquilidade interior. Suas roupas tremulam ao vento, refletindo a turbulência que parece engolir sua própria alma.

   Segunda alma - Nesta manhã de domingo, enquanto o final do outono se funde com o início do inverno, o homem acorda ansioso. Ele acorda cedo e embarca em uma viagem pela estrada que o levará até a fazenda de seus pais, localizada a pouca distância de sua casa. Hoje, ele pretende passar o dia inteiro com eles, valorizando sua companhia. Apesar do vento cortante que sopra em seus ombros e da umidade da grama sob seus pés, ele permanece inalterado. A expectativa de ver os rostos amados que aguardam ansiosamente sua chegada lança um brilho caloroso no horizonte, proporcionando-lhe uma força inabalável.

   Duas almas apresentam duas narrativas diferentes sobre um homem enfrentando a natureza e suas emoções internas. No primeiro texto, o homem caminha lentamente, carregado por uma profunda melancolia e introspecção. Ele atravessa paisagens, lidando com um sentimento de solidão e tristeza, enquanto seu olhar fixo no chão sugere uma busca constante por paz interior. O vento que faz as árvores tremerem e a grama mergulhar em incertezas parece ecoar a turbulência interna do homem, refletindo uma alma em conflito e um espírito opresso.

   No segundo texto, o mesmo homem, em uma manhã de outono que se funde com o início do inverno, embarca em uma jornada até a fazenda de seus pais. Apesar das adversidades climáticas, ele é impulsionado pela expectativa de encontrar seus entes queridos, que lhe conferem uma força e determinação inabaláveis. A presença de seus pais e a antecipação de passar o dia com eles iluminam seu caminho e proporcionam-lhe uma resistência notável contra os elementos naturais.

   O pensamento filosófico que emerge dessas duas perspectivas revela uma dicotomia interessante: enquanto no primeiro texto o homem é retratado como um ser introspectivo, imerso em seus pensamentos e sofrendo sob o peso do mundo, no segundo ele encontra motivação e vigor na expectativa de reconectar-se com sua família. Essa dualidade sugere que a experiência humana pode oscilar entre a introspecção solitária e a busca de consolo nas relações interpessoais.

   De uma perspectiva existencialista, o primeiro texto ilustra a luta do indivíduo contra a própria angústia e o sentimento de desamparo, onde o homem busca significado em sua solidão. Já o segundo texto, de forma quase contrária, destaca a importância das conexões humanas e como elas podem proporcionar um sentido de propósito e resiliência. Assim, essas duas narrativas paralelas enfatizam que, embora a existência humana possa ser marcada por momentos de profunda solidão e introspecção, ela também pode ser iluminada pelo calor das relações e do afeto, fornecendo um contraste filosófico sobre a complexidade das experiências humanas.

Um itaunense... C. Aquino, 24/5/2024.

 

Lost in thoughts
Imagem: Henri Prestes – um português.

quinta-feira, maio 23, 2024

IRMÃ BENIGNA: LEGADO DAS IRMÃS

Irmãs Auxiliares da Piedade em Itaúna/MG: além de suas responsabilidades na área da saúde, as irmãs também fizeram uma contribuição integrando cuidados médicos de excelência e educação de qualidade. Elas transformaram o hospital em um centro de referência na saúde, enquanto contribuíam significativamente para a educação e o bem-estar social da comunidade, refletindo seu compromisso humanitário e espiritual.


sexta-feira, maio 17, 2024

EFEMÉRIDES ITAUNENSES - AML

EFEMÉRIDES ITAUNENSES DA ACADEMIA MINEIRA DE LETRAS

A Academia Mineira de Letras (AML) é uma instituição literária que desempenha um papel crucial na preservação, estudo e divulgação das línguas, literaturas, culturas e artes em Minas Gerais. Ao longo dos anos, notáveis escritores de Itaúna fizeram parte dessa prestigiosa academia, contribuindo significativamente para o enriquecimento cultural e literário da região e do estado. Entre eles destacam-se:

Mário Gonçalves de Mattos —  é um nome de destaque entre os intelectuais itaunenses. Sua obra abrange diversos gêneros literários, incluindo poesia e crítica literária. Durante os tempos de estudante, começou a trabalhar e atuar nas áreas de jornalismo e arte. Mattos é reconhecido por sua contribuição para a compreensão da literatura mineira e brasileira, tendo participado ativamente da AML, onde suas obras são celebradas pelo rigor e profundidade analítica.

João Dornas Filho — foi um historiador e escritor que deixou uma marca indelével na literatura mineira. Sua pesquisa e escrita sobre a história de Minas Gerais e do Brasil são consideradas referências importantes. Dornas Filho é valorizado na AML por suas obras que oferecem uma compreensão rica e detalhada do passado mineiro, promovendo uma conexão mais profunda com as raízes culturais do estado. Dornas Filho se destacou não apenas por suas contribuições literárias e históricas, mas também por seu empenho em promover a inclusão das mulheres nas atividades acadêmicas da AML.

Oscar Dias Corrêa —  foi um professor, jurista, ministro de Estado, parlamentar, magistrado e escritor cujo trabalho abrangia tanto o direito quanto a literatura. Sua abordagem multidisciplinar trouxe uma perspectiva única à AML, onde suas contribuições são lembradas tanto pela erudição jurídica quanto pela sensibilidade literária. Corrêa é celebrado por suas análises críticas e sua habilidade em entrelaçar as complexidades do direito com as sutilezas da literatura.

Miguel Augusto Gonçalves de Sousa — também é um personagem presente na literatura mineira. Sua obra se caracteriza por uma linguagem lírica e introspectiva, trazendo contribuições significativas. Na AML, Sousa é apreciado não só pelo seu empenho na promoção da cultura literária, mas também por participar ativamente na divulgação da história itaunense.

A participação desses escritores itaunenses na Academia Mineira de Letras reforça a missão da instituição de ser um polo irradiador de educação, inclusão e cidadania. Eles não apenas enriqueceram o panorama literário e cultural, mas também ajudaram a fomentar um ambiente de diálogo e aprendizado contínuo. A AML continua a honrar o legado desses autores, promovendo eventos, publicações e iniciativas que incentivam a leitura, a escrita e a apreciação das artes, fortalecendo assim o tecido cultural e educacional de Minas Gerais e do Brasil.

 

Mário Gonçalves de Mattos (1891-1966)
“ A Academia vale como uma das instituições fundamentais de Minas, porque existirá enquanto houver na nossa gente o culto da literatura, o amor da arte e o valor do pensamento. Centro de estudo e preservação da vida cultural, aqui se apurará com o tempo a tradição mineira pelo cuidado da língua, pela nossa vocação humanista, pela poesia da terra, pela função mediadora de minas em relação a unidade da Pátria”. (Discurso 13/05/1950)

João Dornas Filho (1902 - 1962
“Aqui estou para integrar-me na fortuna do vosso convívio, as mãos vazias de merecimento, mas repleta a alma do desejo de ser, entre os menores, o mais diligente dos confrades.” (Discurso: 31/05/1952)



Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Souza (1926 - 2010)
".... Sou o quarto itaunense, por ordem cronológica, a chegar aos umbrais desta Casa, precedido e seguindo os ilustrados passos de João Dornas Filho, Mário Gonçalves de Mattos e Oscar Dias Corrêa, seguramente as mais altas expressões intelectuais de minha terra natal, fato de que confessadamente me ufano. ” (Discurso: 22/10/1991)



SAIBA MAIS:
Referência:
 Academia Mineira de Letras. Disponível em: http://academiamineiradeletras.org.br/
Organização e pesquisa : Charles Aquino -  Historiador Registro nº 343/MG
Logo AML - Academia Mineira de Letras


segunda-feira, maio 13, 2024

DESASTRE FERROVIÁRIO

Um trem da RMV — Rede Mineira de Viação — descarrilou entre as estações de Angicos e Santanense, resultando na morte de oito pessoas e deixando mais de cinquenta feridos. O acidente ocorreu devido ao excesso de velocidade, com três vagões descarrilados. O maquinista fugiu após o ocorrido. O resgate dos corpos durou doze horas, com algumas vítimas presas entre as ferragens. A maioria dos passageiros estava a caminho de assistir a um jogo de futebol em Itaúna. Parentes das vítimas acenderam fogueiras nas proximidades enquanto aguardavam o reconhecimento dos corpos. A RMV atribuiu a principal causa do acidente à inadaptação dos velhos carros ao novo traçado da linha.

O desastre aconteceu quando o trem entrou em alta velocidade numa curva. O acesso ao local era difícil, o que complicou os esforços de resgate. O pânico se espalhou entre os passageiros após o descarrilamento, com muitos tentando fugir. Oito pessoas foram identificadas como mortas, incluindo funcionários da RMV, um gerente de banco e um jogador de futebol juvenil. Alguns passageiros deixaram familiares, incluindo crianças órfãs. Os feridos foram levados para o hospital de Itaúna, incluindo um menino chamado Gerson, cujos pais não foram encontrados.

O prefeito de Carmo do Cajurú prestou homenagem a um amigo falecido, enquanto uma mulher que estava no trem foi recebida pelo marido na estação com o corpo da esposa. Um conferente da RMV e um jovem jogador de futebol estavam entre os mortos. Um relatório sobre as causas do desastre foi preparado, mas não divulgado. O fiscal que estava no trem escapou ileso e planeja relatar o incidente à direção da empresa.

*Nota: Este resumo é baseado no texto original do trágico acidente, onde os leitores podem verificar com mais detalhes a reportagem feita na época.

BELO HORIZONTE, 21 (UH) — Oito pessoas morreram, e mais de cinquenta ficaram feridas, no desastre ocorrido na tarde de domingo, entre as estações de Angicos e Santanense, quando o trem elétrico da RMV — Rede Mineira de Viação — de prefixo PB-3, que saiu de Divinópolis às 13:30h com destino a Belo Horizonte, teve três vagões descarrilados, por excesso de velocidade. O maquinista, L.H. fugiu, ao flagrante.

Só na madrugada de ontem — doze horas depois do desastre — a turma do socorro conseguiu retirar os cadáveres que estavam imprensados entre as ferragens. Um casal morreu abraçado, deixando órfãos um menino de quatro anos e uma menina de dois. Uma criança, de 4 anos, está internada no Hospital de Itaúna, mas não sabe dizer os nomes de seus pais que estavam no trem PB-3. Algumas enfermeiras já querem criá-lo, caso seus pais não apareçam.

A maioria dos passageiros ia de Divinópolis para Itaúna, assistir ao jogo de futebol do Guarani contra o campeão da 1ª Divisão. Enquanto esperavam o guindaste suspender o vagão onde estavam imprensados os mortos, parentes das vítimas acendiam fogueiras nas proximidades, aguardando o momento do reconhecimento dos corpos. A direção da RMV — Rede Mineira de Viação — diz que a causa principal do desastre é a inadaptação dos velhos carros ao novo traçado da linha.

O DESASTRE — O desastre ocorreu às 14:20h, quando um trem elétrico, de prefixo PB-3, entrou em alta velocidade numa curva disfarçada. Pessoas que viajavam no elétrico afirmam que, desde a estação de Divinópolis, o trem PB-3 estava em alta velocidade. O local é de difícil acesso, pois não possui estrada de rodagem, o que prejudicou muito a ida da turma de socorro. Depois do descarrilamento do primeiro vagão, o pânico se estabeleceu dentro dos outros, levando muitos passageiros a pelarem fora. O choro de algumas crianças contrastava com os pedidos de socorro dos mais velhos, que se encontravam imprensados, entre as ferragens.

MORTOS — Às duas horas da madrugada, o sargento Antônio Ferreira da Silva identificou os mortos. Eis a relação: Olavo dos Santos (conferente da RMV), Maria José Carvalho, Elísio Guimarães (gerente do Banco da Lavoura, em Passa Tempo), Teresa Guimarães de Oliveira (esposa de Elísio), Dionísio da Silva Araújo (sapateiro e jogador do juvenil do Guarani), Osvaldo Tarcísio Moreno, lavrador), Joaquim Lopes Goulart (aposentado da RMV), e Origenes Paranhas (pedreiro em Carmo do Cajurú).

DESTINO — O prefeito de Carmo do Cajurú, Sr. João da Mata Nogueira, oi ver o cadáver de seu amigo de infância Elísio Guimarães, que era gerente do Banco da Lavoura em Passa Tempo. Não resistiu e lágrimas desceram de seus olhos, quando se aproximou do corpo de Teresa Guimarães de Oliveria, esposa de seu amigo Elísio. O casal deixa dois filhos menores, ainda não sabem da morte de seus pais e acreditam que eles estão fazendo uma longa viagem. Elísio Guimarães tinha 36 anos, e vinha a Belo Horizonte para uma consulta médica.

Uma visita de consolo à uma comadre foi o que levou dona Maria José de Carvalho, a Divinópolis. Lá ficou um dia e, na estação daquela cidade, despediu-se dizendo “até a próxima semana”. Seu marido, o operário Francisco Pereira de Carvalho, esperou-a na estação de Bernardo Monteiro, recebendo o cadáver sob os olhares curiosos de alguns desconhecidos. Sua vizinha, mulher do Sr. José Diniz, viajava ao lado de dona Maria José, e diz que ela foi valente até na hora da morte: Pedia que seus filhos fossem amparados, e gritava para ser retirada dali.   

  MÉDICO — Olavo dos Santos era conferente da RMV, e queria chegar domingo à noite a Belo Horizonte. Quando os gritos e choro das mulheres e crianças, saltou do trem em busca da salvação, e isso para ele significou a morte. Sua morte foi sentida por todos os ferroviários da região, pois Olavo dos Santos era muito estimado pelos colegas.

O SONHO — No caminho, o jovem de 20 anos, Dionísio ia contado ao seu companheiro de poltrona alguns dos seus sonhos: queria servir ao Exército e depois ser jogador profissional do Guarani, time de futebol que defendia como juvenil. Seu irmão, José Pedro da Silva foi busca-lo, depois de morto, chorando. Como torcedor do Guarani, Dionísio viajava para assistir ao jogo com o time de Itaúna. Já o sr. Joaquim Lopes Goulart, não teve parentes para chorar sua morte. Não sabiam que ele era um dos passageiros do PB-3. A polícia tirou de seus bolsos uma carteira contendo Cr$ 1.500,00 cruzeiros, um relógio que marcava a hora do desastre — 14h 20m — uma penca de chaves e uma caneta.

INQUÉRITO — A Rede Mineira mandou transportar os corpos para as casas de seus parentes, e deu toda a assistência às famílias das vítimas. O delegado de Itaúna, Afonso de Figueiredo Murta, acompanhado do Sargento Antônio Ferreira e de dois soldados, permaneceu no local até às 3 horas da madrugada, quando os trabalhos foram suspensos. O engenheiro Jôfre Loureiro ali esteve durante o dia e a noite, dirigindo os trabalhos de remoção dos cadáveres e concerto da linha. O diretor da RMV, o sr. Roberto Carneiro, compareceu ao local do desastre, e disse que o inquérito vai mostrar quais foram as causas do acidente, para que os responsáveis sejam punidos.  

FERIDOS — Estão internados no hospital de Itaúna, as seguintes pessoas: Otacir Nunes Contagem, Wilson Pereira da Silva, Osvaldo de Araújo, Geraldo Joaquim dos Santos, Maria José de Jesus e Alcides Antunes, além do mesmo Gerson. Os feridos foram atendidos por quatro médicos, todos da cidade de Itaúna: Virgílio Gonçalves de Souza, Ronaldo Aguiar, José de Campos e José Simonini. Mais tarde, chegaram outros quatro médicos de Belo Horizonte e Divinópolis.

O MENINO GERSON — Um menino pretinho, com aparência de quatro anos, chorava muito no hospital de Itaúna, chamando por seus pais. Os médicos e as enfermeiras, não sabem explicar como o menino Gerson foi parar sozinho no Hospital. Apresenta queimaduras na cabeça e num dos braços. O menino não diz os nomes de seus pais, e grita sempre por “mamãe”. As enfermeiras já gostam dele, e muitas já querem criá-lo caso seus pais não apareçam.

RELATÓRIO — O fiscal Cincinato Alves, que viajava no trem PB-3, já preparou um relatório para a direção da Rede Mineira de Viação, mostrando quais foram as causas do desastre. Embora nada queira adiantar, o fiscal Cincinato diz que escapou por milagre e que o trem viajava cheio. Conta que há 38 anos viaja nos trens da RMV, e que tem três filhos menores. 





Referências:

Pesquisa, arte e elaboração: Charles Aquino - Historiador nº 343/MG

Fonte impressa Jornal: Última Hora, 21 de janeiro, 1964, ed.04261, p.7. Hemeroteca Digital Brasileira.

Apoio Cultural & Histórico: Itaúna Décadas - Maio/2024 

 

quinta-feira, maio 09, 2024

SAÚDE MENTAL

Descrição: O objetivo deste novo projeto de iniciação científica de pesquisa é examinar os principais obstáculos que impedem os professores de buscar assistência profissional quando observam indícios de adoecimento mental. Esta proposta de pesquisa é significativa, pois oferece uma oportunidade para promover a contemplação sobre a importância de os professores reconhecerem esse sofrimento psíquico, pois muitas vezes a ajuda profissional só é procurada quando a situação atinge um estado incontrolável.

Assim, o foco principal deste estudo é explorar as razões subjacentes que dificultam o acesso dos professores à assistência especializada. A investigação central gira em torno da compreensão das barreiras que impedem os professores de buscar apoio profissional aos primeiros indícios de adoecimento mental.

Integrante: Charles Aquino
Coordenadora: Marilene Nunes
Faculdade Única.
Local de Pesquisa: Itaúna/MG