Legado da Associação
Santa Zita em Itaúna
A Associação Santa Zita, formada
entre as décadas de 1950 e 1970 na cidade de Itaúna, Minas Gerais, representou
um marco de solidariedade e resistência para um grupo de mulheres
predominantemente afrodescendentes que trabalhavam como empregadas domésticas.
Inspiradas por Santa Zita, padroeira das empregadas domésticas, essas mulheres
encontraram na associação um espaço para crescimento espiritual e apoio mútuo,
demonstrando notável altruísmo e resiliência.
Santa Zita, nascida em 1218 na
Toscana, Itália, simboliza a devoção e a caridade cristã. Sua vida de dedicação
ao serviço dos outros, mesmo sob condições de trabalho duras e análogas à
servidão, ecoou através dos séculos, chegando ao Brasil e inspirando a criação
da associação em Itaúna. Este coletivo não só representava um suporte
espiritual, mas também um movimento de resistência contra as adversidades
enfrentadas pelas trabalhadoras domésticas, uma categoria historicamente
marginalizada e desprotegida.
Através das entrevistas
realizadas com ex-integrantes da Associação Santa Zita, como Dona Edite Marques
de Oliveira Melo, Dona Geni Ferreira Pinto, Dona Vicência Maria de Jesus e Dona
Custódia Maria da Cruz Santos, é evidente o impacto transformador que a
associação teve em suas vidas. Elas relataram como a participação no grupo
proporcionou não apenas crescimento espiritual, mas também desenvolvimento
profissional, fortalecendo suas capacidades e autoestima.
O papel do Padre José Ferreira
Neto foi crucial neste contexto. Descrito com carinho pelas ex-integrantes, ele
atuou como um verdadeiro guardião da associação, proporcionando liderança e
apoio emocional. Sua capacidade de equilibrar rigor com afeto permitiu que
essas mulheres se sentissem valorizadas e protegidas, criando um ambiente de respeito
e solidariedade.
A associação não se limitou a
aspectos espirituais. Em 1960, a aprovação da Lei nº 509 pelo prefeito Dr.
Célio Soares de Oliveira, que doou um terreno para a construção de uma
residência para domésticas idosas e desamparadas, representou um avanço significativo.
Entretanto, a alteração da lei em 1963 e a eventual dispersão do grupo após a
morte da coordenadora Dona Ivolina Gonçalves em 1977, destacam os desafios
enfrentados pelo coletivo para se manter ativo e estruturado.
Além disso, a promulgação da Lei
5.859/1972, que definiu os direitos dos trabalhadores domésticos, foi um marco
histórico. As trabalhadoras de Itaúna, informadas sobre seus novos direitos
através do rádio, começaram a ver mudanças concretas em suas condições de
trabalho, um reflexo direto de suas lutas e da influência da Associação Santa
Zita.
O legado da Associação Santa Zita
perdura até hoje. A instituição do "Dia Municipal da Empregada
Doméstica" em 27 de abril, através da Lei nº 4.545 de 2011, reforça o
reconhecimento oficial do papel crucial dessas mulheres na sociedade de Itaúna.
A preservação de artefatos e a veneração da imagem de Santa Zita na Igreja
Matriz de Sant'Ana simbolizam a importância cultural e espiritual da
associação.
A história da Associação Santa
Zita em Itaúna é um testemunho poderoso da capacidade de organização e
resiliência das trabalhadoras domésticas. Seu compromisso com a caridade,
espiritualidade e apoio mútuo não só melhorou suas próprias vidas, mas também contribuiu
para a construção de uma comunidade mais justa e solidária. É essencial
reconhecer e valorizar esse legado, que continua a inspirar gerações futuras na
luta por direitos e dignidade.