No
final dos anos cinquenta e até meados da década de sessenta, a cerveja
preferida dos itaunenses era a Brahma. Vinha do Rio de Janeiro em caminhões. A
Antártica, fabricada na av. Oiapoque, onde se localiza o Shopping Oi em Belo
Horizonte, era muito ruim.
Tinha
o nome de "Portuguesa" e fora lançada em homenagem ao presidente
português Craveiro Lopes, por ocasião de sua visita ao Brasil. Além de ruim,
era engarrafada em "cascos verdes”. Um pecado para os bons bebedores.
O
caminhão da Brahma era aguardado com ansiedade. Mais ainda: era véspera de
carnaval e o líquido dourado não podia faltar.
Apareciam
cervejas estranhas. Uma feita em Juiz de Fora, de nome Weiss Export, mais parecia uma água de batata. Apareceu também a Serramalte, hoje ressuscitada. Antártica
boa, só as fabricadas em São Paulo e nunca apareciam na cidade.
O
suspense era grande e o caminhão nunca que chegava. Os estoques nos bares e
botequins estavam baixos. Os bebedores faziam até promessa. Ficar sem beber uma
semana em sacrifício, para que a cerveja não faltasse.
Numa
tarde, o caminhão apontou lá pelas bandas da cooperativa nova. Um pouco mais,
estava em Itaúna, descarregando no depósito dos Irmãos Guimarães.
Na
passagem de nível, aconteceu o desastre. O trem da Rede apanhou o caminhão
Chevrolet Brasil na traseira e o arrastou trilhos afora.
Tudo
destroçado. Os engradados eram de madeira e as garrafas de vidro. Por sorte,
nada aconteceu ao motorista. Da carga de cerveja, pouco ou quase nada restou.
Uma tragédia.
A
notícia se espalhou como rastilho de pólvora. Os amantes da bebida desceram a
Silva Jardim em cortejo. Foram chorar " in loco" a catástrofe. A
saída foi amargar a "Portuguesa", engarrafada na beira do ribeirão
Arrudas. Ou então, beber Cuba Libre, Hi Fi ou Gin Tônica. Carnaval sem bebida,
nem pensar.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 30/08/2017.
Acervo:
Shorpy