João
Guimarães Rosa escreve ao amigo, Dr. Antônio A. de Lima Coutinho de Itaúna.
Assis, 4 de novembro de 1949
Meu Caro Coutinho,
Em viagem de férias pela Itália, estou
passando dia e meio nesta bela, estranha e mística cidade de Assis, toda
impregnada ainda do grande santo. Vem – nos a ideia de que aqui é uma das
portas, um dos lugares onde será mais fácil e direto o caminho da Terra ao Céu.
Pois bem, ontem à tarde, na basílica de São Francisco, ganhei uma relíquia; depois, na igreja de Santa Clara, uma freira, velhinha e boa como se já vivesse entre isto aqui e o Paraíso, incorrupto, da primeira franciscana. Perguntou-me de onde eu era, de onde vinha, e, ao ouvir o nome Brasil, pôs-se a repetir, mansamente: - " De “tão longe ... De tão longe ... Precisa de levar também uma relíquia, para uma pessoa amiga ... “ imediatamente, no instante mesmo, lembrei-me de você, assim sem mais, sem outra explicação.
Por que, logo naquele momento? Não sei. A saudade tem suas surpresas, e há muita coisa misteriosa, que a gente não sabe. Assim decidi-me logo a enviar-lhe as piedosas lembranças, que, estou certo, hão de fazer prazer a Dona Dulce, cujas mãos beijo e de quem guardo sempre uma muito grande recordação. Como você sabe, estou na Embaixada em Paris, para onde estou regressando, hoje, via Perugia, Florença e Pisa.
Lá, estarei sempre a postos, para o que você desejar. Transmita um forte e saudoso abraço meu ao Ary e minhas recordações à Dona Nair. E acolha outro grande abraço, muito amigo do seu
Pois bem, ontem à tarde, na basílica de São Francisco, ganhei uma relíquia; depois, na igreja de Santa Clara, uma freira, velhinha e boa como se já vivesse entre isto aqui e o Paraíso, incorrupto, da primeira franciscana. Perguntou-me de onde eu era, de onde vinha, e, ao ouvir o nome Brasil, pôs-se a repetir, mansamente: - " De “tão longe ... De tão longe ... Precisa de levar também uma relíquia, para uma pessoa amiga ... “ imediatamente, no instante mesmo, lembrei-me de você, assim sem mais, sem outra explicação.
Por que, logo naquele momento? Não sei. A saudade tem suas surpresas, e há muita coisa misteriosa, que a gente não sabe. Assim decidi-me logo a enviar-lhe as piedosas lembranças, que, estou certo, hão de fazer prazer a Dona Dulce, cujas mãos beijo e de quem guardo sempre uma muito grande recordação. Como você sabe, estou na Embaixada em Paris, para onde estou regressando, hoje, via Perugia, Florença e Pisa.
Lá, estarei sempre a postos, para o que você desejar. Transmita um forte e saudoso abraço meu ao Ary e minhas recordações à Dona Nair. E acolha outro grande abraço, muito amigo do seu
Guimarães Rosa
Acervo: Prof. Marco Elísio