No
final de 1948 e até março de 1949 as chuvas foram ininterruptas, e não somente
em Itaúna, como em todo o Estado. E como a rodovia era ainda de terra, ficou
praticamente intransitável por toda parte e durante uma semana de março, o
trecho de Itaúna a Belo Horizonte ficara mesmo paralisado, porque o "Morro Grande" não dava condições para o trânsito de veículos, quer subindo ou
descendo. ...
Decorrida
uma semana, depois de uns dois dias de estiagem, embora a estrada continuasse
intransitável, com lamaçais e atoleiros por toda parte, resolvi tentar trazer o
leite à Cooperativa em Itaúna e me arrependi muito daquele meu arrojo, porque, por
incrível que pareça, gastei 5 horas de Azurita a Itaúna.
Nas
baixadas, formavam-se ali e acolá, atoleiros de até trinta metros de extensão.
A caminhoneta era baixa; quando enfrentava aqueles atoleiros, os pneus
deslizavam no barro, e não avançavam nem pra a frente nem para trás, em
marcha-ré; cada vez que forçava mais o motor da Studebaker, a situação ia
piorando sempre. Trouxera comigo um ajudante e um enxadão, mas isto auxiliava
pouco.
E
assim que conseguia sair de um atoleiro depois de muito cansaço da máquina e do
homem, logo à frente aparecia outro lamaçal. Na descida do morro grande a coisa
ficara preta de verdade!
Embora as jardineiras dos Irmãos Lara tivessem deixado de transitar durante uma semana ou mais, caminhões de outras cidades e mesmo daqui tentavam vencer as dificuldades da estrada, apesar da chuvarada.
Embora as jardineiras dos Irmãos Lara tivessem deixado de transitar durante uma semana ou mais, caminhões de outras cidades e mesmo daqui tentavam vencer as dificuldades da estrada, apesar da chuvarada.
No
morro grande, as rodas dos caminhões formavam aquelas locas profundas na
rodovia, ficando no meio e nas laterais do terreno aqueles facões. Na descida
eu procurava equilibrar as rodas da camioneta naquele facão central e outro da
lateral, mas, como a estrada estava escorregadia, certa hora as rodas da
camioneta deslizaram e caíram dentro daquelas valetas profundas.
E
sendo baixa a camioneta, o seu eixo agarrou-se no facão central do terreno e
pneus passaram a rodar em falso. Eu ainda tive muita sorte, porque subia
naquele momento um carro-de-bois do Sr. Juca Gonçalves, que se destinava lá pra
as bandas do Morro das Laranjeiras e eu pedira então ao carreiro que fizesse a
caridade de me ajudar a sair dali.
Atendendo
ao meu pedido, ele encostou o seu carro-de-bois para um lado, cujo local lhe
permitia fazer isso e retirando da sua boiada carreira a junta de bois-de-guia, amarrara a correia do cambão
ao para-choque da camioneta e enquanto a junta de ruminantes, ia puxando a Studebaker morro abaixo, através do volante,
eu ia procurando equilibrá-lo sobre os facões da estrada.
Assim fomos descendo até o final do morro
grande, onde a estrada se tornou plana. Dei uma gorjeta ao carreiro e lhe
fiquei devendo um grande favor, porque se não fora a sua boa vontade em
ajudar-me, certamente eu não teria saído dali naquele dia.
Na
frente, nas baixadas da estrada, ainda encontramos outros atoleiros, mas aos
poucos íamos vencendo um a um. Assim que atingimos o vargedo do Sr. Artur
Contagem Vilaça, a gasolina acabara!
Eu exclamei então: E mais essa! Mandei o ajudante vir até a cidade e levar um pouco de gasolina num balde, o que demorou uma hora mais ou menos. Cheguei à Cooperativa em já depois das 13 horas e o leite já devia estar azedando.
Eu exclamei então: E mais essa! Mandei o ajudante vir até a cidade e levar um pouco de gasolina num balde, o que demorou uma hora mais ou menos. Cheguei à Cooperativa em já depois das 13 horas e o leite já devia estar azedando.
O
ajudante regressou de trem, à tarde até Azurita, enquanto eu pernoitava na
cidade. Como não choveu mais naquele dia da tormentosa viagem, no dia seguinte,
o meu retorno à fazenda foi menos trabalhoso.
Realmente fora uma experiência, bastante amarga o ter vindo à cidade daquele dia, quando a estrada se achava intransitável ainda. Como o tempo foi-se firmando, os carros da Empresa Irmãos Lara e caminhões diversos voltaram a transitar novamente pela estrada, embora com certa dificuldade no começo.
Realmente fora uma experiência, bastante amarga o ter vindo à cidade daquele dia, quando a estrada se achava intransitável ainda. Como o tempo foi-se firmando, os carros da Empresa Irmãos Lara e caminhões diversos voltaram a transitar novamente pela estrada, embora com certa dificuldade no começo.
Referência:
Texto:
FAGUNDES. Osório Martins. Fragmentos De Um Passado, pgs. 419/420, 1977.
Organização:
Charles Aquino