Ecos da Gripe Espanhola em Itaúna
No ano de 1918, acabada a grande guerra, como
consequência nos veio de sobra a gripe “espanhola”. ...
Aqui
em Itaúna mesmo, houve muitas vidas sacrificadas. Eu sofri a gripe, ficando
afastada do trabalho por mais de um mês. Quando Dr. Dário me deu alta, fui
trabalhar. Mas a fraqueza era tanta, que não dei conta do serviço. Pedi o chefe
(Augusto Alves) ordem de voltar para casa.
Ele
consentiu. Eu morava na Rua Marechal Deodoro, e no percurso da fábrica até
minha casa, descansei por oito vezes. Ainda não havia automóvel, tinha que
aguentar era a pé mesmo. A saúde Pública não estava preparada. Não havia meios
de enfrentar o surto epidêmico.
Artur
Vilaça receitava remédios improvisados, mandava tomar muito mel, chá de folhas
de pitanga e outros medicamentos que lhe vinham à ideia, mas estava custoso dar
fim à doença. No meio rural, ficava gente morta sem ter quem a sepultasse, pois,
os vizinhos mais próximos estavam também acamados, sem condições de prestar
qualquer socorro. Nesses meios estava o povoado dos Arrudas, ao deus dará.
Moribundos,
impossibilitados de se locomoverem, ficavam entre a agonia e o fim. Senhor
Maurício, um fazendeiro simples, mas a quem a gripe não dera conta de derrubar,
ficou de certo modo responsável pelos infelizes de seus arredores. Pensou de
todo modo como haveria de resolver o problema e teve uma idéia “genial”: tinha
que trazer uma carrada de rapaduras à cidade, e traria também os cadáveres para
serem enterrados.
Encheu
o carro de rapaduras, cobrindo-as com os corpos. Chegando à cidade, um
negociante atravessou-lhe o caminho para escolher rapaduras, quase morrendo de
espanto! .... Estavam todas cobertas por gente morta. Os negociantes deram
alarme, uns aos outros, tendo sido o recurso para o seu Maurício despejar o
produto de seu trabalho da ponte ao Rio São João.
Iracema
Fernandes de Souza
Referências:
Texto:
SOUZA, Iracema Fernandes. Itaúna Através dos Tempos, pg. 93, 1984.
Organização:
Charles Aquino