sexta-feira, março 07, 2025

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE V)

Entre Ruínas e Memórias

No coração do jovem município de Itaúna, Minas Gerais, erguia-se um edifício que transcendia sua mera estrutura de tijolos e argamassa. 

A Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira ou Santa Casa, edificada nas primeiras décadas do século XX (Pedra Fundamental: 1916  Inauguração: 1919) , representava muito mais do que uma imponente construção de um hospital; era o guardião das memórias de uma cidade e um símbolo perene de sua história.

Por décadas, suas paredes testemunharam o pulsar da vida — os gritos de nascimentos, os suspiros de despedidas, as mãos incansáveis de médicos e enfermeiras que fizeram dele um refúgio de esperança para a comunidade. Mas o tempo, esse artesão cruel, trouxe o abandono, e o que antes era um farol de vida tornou-se uma sombra silenciosa, esquecida pelas ruas que um dia protegeu.

Em 2013, o destino do hospital parecia selado. Uma faixa foi pendurada em sua sacada, carregada de um aviso sombrio: "NÃO ESTACIONE NESTA ÁREA. RUÍNAS COM RISCO IMINENTE DE DESABAMENTO." 

Era mais do que um alerta prático; era um lamento, um grito rouco de um edifício que, outrora majestoso, agora se curvava ao peso do descaso. Essas palavras ecoavam o desespero de um passado à beira do esquecimento, onde o abandono parecia selar o destino de um símbolo que representava a saúde e a esperança da comunidade.

Suas janelas quebradas fitavam o vazio, seus corredores ecoavam apenas o vento, e a ameaça de demolição pairava como uma sentença final. Naquele momento, não havia planos, não havia esperanças — apenas o espectro de um colapso iminente, pronto a engolir séculos de história que ajudaram a moldar Itaúna.

Mas, como em toda história de superação, o fim de um capítulo nunca é a sentença definitiva — Porque o coração de uma comunidade não se rende tão facilmente. O silêncio ensurdecedor das paredes desgastadas deu lugar a um clamor coletivo.  Entre as ruínas e o silêncio, uma faísca de resistência começou a arder.

O povo de Itaúna, unido por um amor profundo por seu passado, recusou-se a deixar que aquele símbolo fosse reduzido a pó. Homens e mulheres, movidos pelo amor à sua história e à convicção de que preservar o passado é cuidar do futuro, se uniram para desafiar a deterioração. Cada esforço, cada gesto de coragem, transformou a incerteza em determinação.

Anos de luta, debates e sonhos culminaram em um marco triunfal. Em 2025, uma nova faixa surgiu na mesma sacada, carregando uma mensagem de redenção e promessa: "ANO NOVO, NOVA DIREÇÃO, FELIZ 2025. ESTAMOS RECUPERANDO NOSSA HISTÓRIA. RECONSTRUINDO O ANTIGO HOSPITAL. VENHA NOS AJUDAR." Era o anúncio de um renascimento, um testemunho da força da preservação sobre a destruição.

Essa transformação não foi um milagre súbito. Foi uma jornada de superação, tecida com o esforço de cidadãos, historiadores e sonhadores que acreditavam em uma verdade essencial: preservar a história é cuidar da saúde de uma sociedade. O hospital, como uma árvore centenária, havia enfrentado tempestades e pragas, mas suas raízes — fincadas nas memórias de gerações — provaram-se mais fortes que o abandono. Cada obstáculo, desde o risco de desabamento até as vozes que clamavam por demolição, foi superado pelo sentimento coletivo de que o passado merece um lugar no futuro.

A restauração do antigo hospital é a prova viva de que, mesmo diante dos desafios, a vontade de preservar a história transforma ruínas em pilares de um futuro mais sólido e humano. Cada tijolo assentado, cada gesto de apoio, ou simplesmente um simples pensamento positivo, resgata a essência de um tempo em que a saúde era sinônimo de cuidado e solidariedade.

A faixa de 2025 não é apenas um comunicado — é um convite, um chamado à ação para que todos se juntem a essa causa. A história e memória da do hospital jamais pertenceu a um único indivíduo; trata-se de um legado coletivo, um tesouro compartilhado que molda nossa identidade e define quem somos.

Faça parte deste renascimento. Restauremos e, se necessário, "reconstruamos" juntos não apenas um edifício, mas a alma de Itaúna. Que as gerações futuras possam caminhar por esses corredores restaurados e sentir o eco do passado, inspirando-se para construir um futuro ainda mais forte. Porque preservar nossa história não é apenas um ato de memória — é um gesto de vida.

Convidamos você a fazer parte dessa jornada de resiliência e amor, onde cada ação reafirma que preservar o passado é, na verdade, cuidar do presente e construir um amanhã mais justo e promissor. Junte-se a nós e seja parte dessa transformação que reafirma: a história de Itaúna, assim como seus moradores, é eterna.

Charles Aquino

Historiador - Registro Nº 343/MG 

  PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE I) ✅