Em anexo, apresentamos uma fotografia que registra um momento especial da celebração da tradicional missa na década de 1960, preservando a memória litúrgica e cultural da cidade.
Esse registro histórico permite vislumbrar a vivência religiosa da época e a importância da Igreja Matriz de Sant’Ana como ponto de referência para gerações de itaunenses.
A tradição de
celebrar voltado para o Oriente remonta aos primeiros séculos do Cristianismo.
Para os cristãos antigos, o Oriente tinha um profundo significado espiritual,
pois era associado à luz, à ressurreição e à Segunda Vinda de Cristo, que,
segundo algumas interpretações bíblicas, viria do Leste (RATZINGER, 2004). Essa
prática foi mantida e oficializada na Missa Tridentina, instituída pelo
Concílio de Trento (1545-1563) e codificada pelo Papa São Pio V em 1570.
Além disso, na
teologia litúrgica tradicional, o altar era visto como o ponto central da
celebração, onde se realizava o Sacrifício Eucarístico. O padre, agindo in
persona Christi (na pessoa de Cristo), oferecia o sacrifício a Deus Pai, e
a posição ad orientem reforçava essa ideia de direção para o divino, em
vez de uma relação meramente horizontal entre o padre e a assembleia (BOUYER,
2017).
Com as reformas
litúrgicas do Concílio Vaticano II, buscou-se uma maior participação dos fiéis
na celebração. Assim, a Missa passou a ser rezada na língua local, e o altar
foi reorganizado para permitir que o sacerdote ficasse voltado para a
assembleia (versus populum). Essa mudança visava tornar a liturgia mais
acessível e envolvente, destacando a Eucaristia como um banquete comunitário,
além de um sacrifício (GAMBER, 1993).
O Papa Bento XVI,
por meio do motu próprio Summorum Pontificum (2007), ampliou a permissão
para a celebração da Missa na forma tradicional. No entanto, em 2021, o Papa
Francisco revogou essa medida com o documento Traditionis Custodes,
restringindo o uso do rito tridentino. Desde então, a celebração da Missa
Tridentina só é permitida com a autorização do bispo diocesano, que, por sua
vez, deve obter permissão direta de Roma para concedê-la (FRANCISCO, 2021).
Assim, a mudança
na posição do sacerdote e as recentes decisões papais refletem não apenas uma
adaptação litúrgica, mas também diferentes ênfases teológicas sobre a forma
como os fiéis se relacionam com a celebração eucarística ao longo da história
da Igreja.
Organização,
arte e pesquisa: Charles Aquino
BOUYER, Louis. A Eucaristia: Teologia e Espiritualidade da Oração Eucarística. South Bend:
University of Notre Dame Press, 2017.
FRANCISCO. Carta
Apostólica Traditionis Custodes (Guardiões da Tradição). Vaticano, 2021. Disponível em: https://www.vatican.va. Acesso
em: 4 mar. 2025.
GAMBER, Klaus. A Reforma da Liturgia Romana: Seus Problemas e Contexto.San Juan
Capistrano: Una Voce Press, 1993.
GUÉRANGER,
Prosper. A Santa Missa. Loreto Publications, 2005.
RATZINGER, Joseph. O Espírito da Liturgia. San Francisco: Ignatius Press, 2004.