Era uma vez um
garoto de seis anos chamado Lucas. Ele vivia em uma casa tranquila com seus
pais e sua irmã mais velha, e, como qualquer criança, tinha seus interesses. No
entanto, um deles se destacava mais que os outros: os ventiladores de teto.
Lucas era absolutamente fascinado por eles. Quando entrava em um cômodo, sua
atenção imediatamente era capturada pelo ventilador. Seus olhos brilhavam, e
ele podia passar longos minutos observando as hélices girarem, como se o movimento
suave e constante fosse a coisa mais hipnotizante do mundo.
Sempre que sua
mãe ia ao supermercado ou visitava a casa de algum parente, Lucas perguntava,
antes de qualquer coisa, se havia ventiladores de teto no local. Se a resposta
fosse sim, ele já sabia o que faria: ficaria debaixo do ventilador,
observando-o rodar, enquanto todos ao redor continuavam suas conversas e
atividades.
O curioso era
que, mesmo sendo tão novo, Lucas entendia como os ventiladores funcionavam.
Sabia de cor quantas lâminas cada modelo tinha e até os diferentes sons que
cada um fazia. Quando as pessoas perguntavam sobre sua paixão por ventiladores,
ele simplesmente sorria e continuava a observar, talvez sem conseguir explicar
em palavras o motivo de seu encantamento.
Seus pais, a
princípio, achavam que a obsessão de Lucas era uma fase. "Ele vai se
interessar por outra coisa em breve", diziam entre si. Mas com o tempo,
perceberam que era mais do que um simples fascínio. Era uma forma de Lucas
encontrar conforto e segurança em um mundo que, às vezes, parecia muito grande
e confuso para ele.
As pessoas ao
redor, no entanto, nem sempre entendiam. "Por que ele não brinca com
outras crianças?" perguntavam os vizinhos. "Ele nunca responde quando
falamos com ele." No parque, enquanto as outras crianças corriam e
brincavam, Lucas preferia sentar-se sob o quiosque, onde havia um ventilador.
Não era que ele não gostasse de companhia, mas o som constante e repetitivo das
lâminas cortando o ar o ajudava a organizar os pensamentos e a acalmar o
coração.
Sua mãe, sempre
observadora, notou que, quando Lucas estava agitado ou confuso, ligar um
ventilador era como acender uma luz em um quarto escuro. O movimento circular e
previsível parecia alinhar as emoções de Lucas, trazendo-o de volta ao
equilíbrio. Ela começou a entender que o ventilador de teto era mais do que um
simples objeto: era o refúgio de seu filho, sua âncora em meio ao caos.
Quando Lucas
completou seis anos, seus pais decidiram matriculá-lo em uma escola especial,
onde ele frequentaria as aulas três vezes por semana. Lá, as crianças recebiam
atenção individualizada e atividades que respeitavam seus ritmos e formas de
aprendizado. Lucas foi para sua primeira aula com curiosidade e, logo que
entrou na sala, seus olhos se iluminaram ao ver dois ventiladores: um instalado
no teto, girando silenciosamente, e outro fixado na parede, mais alto, lançando
uma brisa suave.
Naquela sala,
Lucas encontrou seu novo refúgio. Ele passava os primeiros minutos de cada aula
observando os ventiladores, com um sorriso suave no rosto. As outras crianças
se ocupavam com atividades diversas, mas Lucas permanecia atento ao movimento
constante e rítmico das hélices. Era como se aquele simples ato de contemplação
o ajudasse a se organizar em meio a tantas novidades.
A professora
Esperança, uma mulher atenta e carinhosa, logo percebeu esse fascínio. Ao invés
de apressar Lucas ou forçá-lo a se envolver imediatamente nas atividades, ela
teve a sensibilidade de entender o que aquilo significava para ele. Observando
como os ventiladores o acalmavam, ela decidiu que aquela seria sua ponte de
comunicação com Lucas. Ela começou a se sentar ao lado dele, sem pressão, e
comentava suavemente sobre o ventilador: “Você sabia que esse ventilador tem
três lâminas? Gosto do som suave que ele faz, e você?”. Lucas, inicialmente em
silêncio, olhava para ela de relance, como se estivesse processando o que ela
dizia. A cada semana, a professora continuava a conversar com ele nesse ritmo
tranquilo, respeitando o tempo que ele precisava para processar as informações
e se sentir seguro para interagir.
Rosa, uma
monitora dinâmica e sempre presente, trabalhava ao lado da professora, ajudando
em todos os momentos. Ela era uma pessoa cheia de energia e com um sorriso
acolhedor, que conseguia acalmar as crianças apenas com sua presença. Rosa e a
professora Esperança formavam uma equipe dedicada, e Rosa, com sua paciência,
também percebia o fascínio de Lucas pelos ventiladores. Juntas, elas
desenvolveram uma estratégia para se comunicar e envolver Lucas, sem apressá-lo
ou pressioná-lo.
Rosa
frequentemente preparava o ambiente para Lucas, organizando atividades com a
professora e garantindo que ele tivesse o tempo e espaço de que precisava. Ela
notava cada pequena conquista, comentando com a professora: “Hoje, ele sorriu
quando falei sobre as lâminas do ventilador. Acho que estamos ganhando sua
confiança”. A conexão de Lucas com os ventiladores tornou-se o ponto de partida
para suas interações com o mundo ao seu redor, e Clara e a professora Esperança
sabiam que era preciso respeitar esse ritmo.
Com o passar das
semanas, Lucas começou a responder, às vezes com um aceno de cabeça, outras
vezes com palavras curtas. Ele ainda preferia contemplar os ventiladores, mas
agora compartilhava esse momento com sua professora Esperança e Rosa, que,
pacientemente, encontravam formas de envolver Lucas nas atividades, sempre
respeitando seu tempo e seu espaço. Em vez de afastá-lo de sua paixão, elas
usaram essa conexão para abrir portas para novas interações e aprendizado.
O que a
professora Esperança e a monitora Rosa entenderam — e o que é uma lição para
todos nós — é que cada criança tem uma forma única de se comunicar e interagir
com o mundo. No caso de Lucas, os ventiladores eram sua forma de encontrar
calma e sentido em meio ao que, para ele, podia ser um ambiente cheio de
estímulos. Elas não o julgaram por isso, nem tentaram mudar seu comportamento,
mas aceitaram sua maneira de ser e usaram essa afinidade para criar uma ponte
de comunicação.
A história de
Lucas, no fundo, não era sobre ventiladores. Era sobre a importância de
enxergar o que está além do óbvio, de perceber que cada criança tem seu próprio
jeito de se conectar com o mundo. Às vezes, isso acontece de maneiras que não
entendemos de imediato, mas basta um pouco de sensibilidade e atenção para
descobrir que, por trás daquele olhar fixo em algo aparentemente simples, há um
universo inteiro de sentimentos e experiências esperando para ser descoberto.
Essa história
fictícia nos lembra da importância de ter paciência, sensibilidade e respeito
quando lidamos com crianças que, muitas vezes, enxergam o mundo de um jeito
diferente. Nem sempre as palavras são o primeiro caminho de comunicação; às
vezes, são os gestos, os interesses ou os pequenos rituais que nos mostram como
podemos nos conectar com elas. Entender e reconhecer esses sinais,
especialmente em crianças com autismo, é um ato de cuidado e respeito à sua
singularidade.
E assim, Lucas
crescia, com seus ventiladores de teto sempre por perto, lembrando todos ao seu
redor que cada criança tem sua própria forma de ver o mundo — e que, com
paciência e amor, é possível entender e celebrar essas formas únicas de ser.
A história
imaginária de Lucas nos lembra da importância de reconhecer e valorizar as
singularidades de cada criança, especialmente daquelas que possuem maneiras
únicas de se conectar com o mundo, mesmo que, por vezes, o façam em silêncio.
Assim como Lucas encontrou conforto e segurança em algo simples como o
movimento de ventiladores, muitas outras crianças com Transtorno do Espectro
Autista (TEA) e outras deficiências precisam de um ambiente acolhedor e de
pessoas sensíveis que as ajudem a florescer.
A APAE de Itaúna
desempenha um papel fundamental nessa jornada, oferecendo um atendimento
completo para crianças e adultos com deficiência, incluindo serviços como
terapia ocupacional, fisioterapia, psicologia, psicopedagogia, oficinas de
artes e música, atividades físicas, assistência social e o Atendimento
Educacional Especializado (AEE). Através de projetos como a Escola de Família,
a APAE também orienta os pais sobre como melhorar a comunicação com seus filhos
e fortalecer o vínculo familiar, essencial para o sucesso no desenvolvimento
dessas crianças.
Assim como na
história de Lucas, acompanhado por sua dedicada professora e a atenciosa monitora,
a APAE de Itaúna atua diariamente com dedicação e sensibilidade, assegurando
que cada pessoa receba o suporte necessário para desenvolver seu potencial ao
máximo. A instituição está comprometida a promover a inclusão, oferecendo um
ambiente acolhedor e transformando vidas por meio de seu trabalho incansável e
humanizado.
Referências:
Elaboração,
narrativa imaginária e arte: Charles Aquino
Imagem: Fita
quebra-cabeças de conscientização do autismo. Disponível em: Wikipédia
APAE – Itaúna/MG: Disponível em: https://apaeitaunamg.org.br/site/educacao/