Pequeno
resumo de sua história
Fora eleito prefeito de Itaúna o ilustre
médico, dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho, sendo que há 17 anos o povo não
votava - Dr. Coutinho governou o município de 15 de dezembro de 1947 a 31 de
janeiro de 1951.
Em 1948, ocorreu surpreendente enchente no
rio São João, causando enormes danos à comunidade. Dr. Coutinho declarou o
município em estado de calamidade pública e dirigiu um memorial ao Presidente
da República, General Eurico Gaspar Dutra, solicitando providências relativas
ao problema das inundações.
Dr. Camilo Menezes, diretor geral do
Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), veio a Itaúna, fez os
estudos necessários e comunicou ao Ministro da Viação e Obras Públicas, General
João Valdetaro de Amorim e Mello, que o problema se resolveria com a construção
de um reservatório no rio São João, à montante da cidade, com o fim de
controlar as enchentes e aumentar o potencial hidroelétrico do rio.
Dr. Camilo informou ainda ao ministro, que
os estudos necessários deveriam ser executados sob o patrocínio da Companhia
Industrial Itaunense, concessionária do serviço de força e luz no município e José
de Cerqueira Lima, diretor da Itaunense, assumiu o compromisso de tomar as
necessárias providências, serviço demorado, que implicava em profundos estudos
para localizar o lago, levantamento topográfico de toda área com curvas de
nível de metro em metro e, afinal, determinar com precisão onde construir a barragem.
Por sua vez, o prefeito, para cumprir
dispositivo da nova constituição estadual, conseguiu com seu compadre dr. Pedro
Aleixo, então secretário do Interior e Justiça, a elaboração de um Plano
Diretor para a cidade. Exigiu-se da Prefeitura o levantamento topográfico de
toda a área urbana e de expansão urbana do município o que se fez por uma
equipe liderada pelo topógrafo Roberto Rodrigues do Vale ao longo de dois anos.
Sobre este levantamento, o governo estadual elaborou a planta baixa para do
plano diretor.
O dr. Osmário Soares Nogueira, engenheiro,
itaunense, com grande espírito comunitário, colaborando, com o aval
profissional da Companhia Imobiliária Construtora Belo Horizonte (CICOBE),
indicou uma firma especializada para o estudo do sistema viário, construção de
pontes, escoamento de águas pluviais, canalização de esgotos e abastecimento de
água. Tudo ficou pronto e foi aprovado pela Câmara Municipal na sua última
reunião de trabalho, realizada em 23 de dezembro de 1950.
O prefeito seguinte, Vítor Gonçalves de
Souza (1951/1955), empossado em 1º de fevereiro do ano seguinte, não executou o
plano por dois motivos: primeiro não havia verba para pagar os honorários da
firma especializada, particular, que o projetou, por falta de previsão
orçamentária; segundo, o plano jamais poderia ser executado sem a prévia
construção da barragem.
Esta teve sua construção iniciada, depois
de enfrentar um mundo de dificuldades, em 1954, na gestão do então prefeito dr.
Milton de Oliveira Penido (1955/1959), que muito colaborou, decretando de
utilidade pública os terrenos inundáveis e os necessários para a construção de
novas estradas que desapareceram sob o lago artificial.
No Plano Diretor do dr. Coutinho a parte
baixa da cidade, sujeita às enchentes, seria urbanizada, com a canalização do
rio, uma avenida perimetral em torno da várzea, construção de uma dezena de
pontes, e acesso ao centro justamente sob a ponte da estrada de ferro.
Acesso este com e abertura da avenida
sobre a cobertura, ao meio, do córrego da praia e duas pistas laterais, que
hoje é a Jove Soares, já prevista no Plano Diretor do dr. Coutinho. A Companhia
Industrial Itaunense, através de seu diretor, José de Cerqueira Lima, ao ser
informado pelo prefeito Lima Coutinho de que o Plano Diretor estava quase pronto,
contratou em 1950, o engenheiro eletricista, dr. Nelson Faria de Toledo, para
assessorar o engenheiro dr. Rubens Vaz de Mello, então gerente da empresa, no
levantamento topográfico da área onde seria instalada a Barragem.
Adquiriu-se a fazenda de Henrique Alves de
Magalhães, um dos filhos do famoso fazendeiro Benfica Alves de Magalhães, na certeza de que o bloco de concreto,
barragem do lago artificial a ser construído, nela se localizaria. Ciente, Zezé
Lima, hábil político, de que a maioria dos terrenos da área a ser inundada
saíra, no passado, de ancestrais do velho Benfica e das mãos de seus herdeiros,
determinou que o logradouro chamar-se-ia “Barragem do Benfica”, homenagem ao
patriarca, querido e respeitado na comunidade.
A Itaunense, comprometida com o
fornecimento de energia à cidade, desde 1911. Dr. Osmário, após tentativas,
resolveu estudar a solução de regularizar a vazão do rio São João, aproveitando
os estudos topográficos feitos pelos engenheiros eletricistas. A Barragem
tornou-se necessária, imprescindível. Guardaríamos o excesso das águas das
chuvas, para gastá-las parcimoniosamente nas secas, em típico regime de
poupança.
Dr. Osmário Soares Nogueira, depois de
decidir pela construção da barragem, certo de que a vazão do rio São João era
de apenas um metro cúbico por segundo, na divisa do nosso município com
Itatiaiuçu, onde começaria o represamento das águas, iniciou, com sua equipe,
os cálculos para projetar o tamanho do lago e a dimensão do bloco de concreto
da barragem propriamente dita.
Tecnicamente projetada, o problema era
arranjar o dinheiro para construí-la. Uma obra que devia ser pública, seria
construída pela iniciativa privada, sob responsabilidade da Companhia
Industrial Itaunense, concessionária do serviço de força e luz no município.
Como a Santanense participava das mesmas
dificuldades, com referência à energia elétrica, pois possuía também uma usina
a jusante da cidade, dr. Osmário procurou o dr. Alcides Gonçalves de Sousa, no
entender dele o mais sensível às dificuldades da época, e capaz de levar seus
pares a um entendimento com a Itaunense.
Dr. Osmário levou-lhe a seguinte proposta,
já que a barragem, no consenso das duas empresas tinha que ser construída de
qualquer maneira: a Itaunense pagaria 60% e a Santanense 40% do ônus financeiro
da obra, uma vez que a Itaunense possuía duas usinas e a Santanense somente
uma.
Esta não havia ainda adquirido a Usina dos
Britos. Vale dizer: a Barragem seria de propriedade da Itaunense e a Santanense
pagaria 40% da obra para ganhar a metade da água na Usina do Cachão.
A Santanense não aceitou e fez uma
contraproposta: a Itaunense pagaria 65%, ficaria com a usina no pé da barragem
e a Santanense pagaria 35%, ficaria com a metade da água no cachão.
Nos dias de hoje, em que a Barragem é
vista apenas como o bom lugar para se construir uma casa e passar horas de
lazer, não se pode avaliar a gravidade do problema de Itaúna em 1954.
Atualmente, a cidade desfruta de uma excelente qualidade de vida, com grande
parte da várzea urbanizada, livre das enchentes, água corrente e tratada em
todos os lares, graças ao nível praticamente fixo e permanente da barragem dr.
Augusto, de baixo, alimentada constantemente pela do Benfica.
E mais: com o Projeto Soma e a ETE,
estação de tratamento de efluentes líquidos, projeto também já aprovado,
prestes a ser executado, Itaúna estará despoluindo o rio São João. Imensa
dificuldade foi conseguir um engenheiro qualificado para fazer a planta da
Barragem, de blocos de concreto, a ser erguida pelos responsáveis, a custa da
Itaunense e da Santanense.
A Companhia Industrial Itaunense, como
concessionária do serviço público de força e luz no município, tinha em seu
poder um decreto do Prefeito Milton de Oliveira Penido que havia declarado de
utilidade pública todos os terrenos inundáveis e os necessários para construir
ou reconstruir estradas na mesma situação.
Ficaram debaixo d´água a que dava acesso a
Serra Azul e às fazendas da margem direita do São João, nos Tabuões e Beira do
Rio. Trechos da chamada estrada do minério, em direção a Itatiaiuçu, foram
interrompidos.
No povoado da Beira do Rio a maioria dos
moradores não tinha escritura, mas apenas posse em seus terrenos. Um salão
comunitário que servia de local para as aulas da escola rural e capela para as
missas e atos litúrgicos lá realizados, obrigou-nos a assumir o compromisso de,
no futuro, oferecer-lhes uma capela e uma escola. Lá estão, no pé da Barragem a
Escola Municipal “João Luís da Fonseca” e a Capela de “Santo Antônio da
Barragem”. Todos os compromissos foram honrados.
Com a barragem inacabada, na cota 18, sem
as comportas, tendo em seu lugar pranchões de madeira (stop-log), fez-se a
primeira inundação da área, na tentativa de evitar os apagões na cidade na
época da seca, liberando-se, aos poucos, água acumulada para a barragem de
baixo.
Havia inclusive, à margem esquerda do São
João, ao lado do povoado da Beira do Rio, uma considerável área de terra de
cultura, cercada por um antigo muro de pedras, onde morava a família dos
Rodrigues, todos da raça negra, um quilombo remanescente.
Assim
que a Barragem ficou pronta a população itaunense reagiu de duas maneiras:
muitos acreditaram que jamais haveria enchentes na parte baixa da cidade.
Entendiam que era possível segurá-las com o paredão construído.
A Barragem tem conseguido, de forma
segura, controlar a vazão do rio na época de chuvas torrenciais, mas, estando
cheia, como já aconteceram três vezes em 50 anos, ocorrendo uma “tromba d'
água” à montante, nada se pode fazer.
Durante o período de chuvas, há que se
acompanhar cautelosamente a precipitação pluviométrica, abrir e fechar as
comportas, de forma a manter o rio, à jusante, dentro de seu leito, sem que
provoque danos nas margens. Sabe-se, por exemplo, que as águas do Benfica
gastam seis horas para chegar ao Cachão. Mas há que se ter uma ideia segura do
comportamento dos córregos do Soldado, da Vargem da Olaria e dos Capotos.
Eis assim, uma pequena síntese dessa
grande obra, que hoje assegura ao povo itaunense o abastecimento de água e
ainda proporciona uma belíssima área de mata, esportes náuticos e o espelho
d’água que reflete os sonhos e esperanças de nossa gente.
E como vale a pena desfrutar o lindo
estoque de nascer e pôr do sol nas cercanias da Barragem do Benfica.
REFERÊNCIAS:
SÍNTESE
DO FASCÍCULO: ITAÚNA EM DETALHES - Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa, 2003, p.33,34 - Professor Luiz
Mascarenhas.
ACERVO FAMILIAR: Giancarlo Teles
de Magalhães
ORGANIZAÇÃO: Charles
Aquino