MATINÊ NO CINE REX
Domingo
às 10 horas. Dia de matinê no cine Rex. A missa das crianças e jovens era às 8:00.
Depois do dever religioso devidamente cumprido, direto para o vetusto cinema à
espera da matinê. Ingresso comprado e quando podíamos, os bolsos recheados de
bala Chita, que aliás existe até hoje.
A
molecada lotava o "poleiro". Um prosaico balcão de madeira,
alcançável por um lance de uma escada rangedeira. Cadeiras de madeira e
assoalho, idem . O melhor lugar da sala de espetáculos.
Dia
de assistir Rocky Lane, Hoppalong Cassidy, Roy Rogers e Dale Evans, Búfalo Bill
e outros menos cotados. Com direito a seriado do dr. Magoo e do Tarzan o homem
macaco. Pendurado nos cipós, a berrar selva afora com a macaca Chita (que deu
nome à bala) em busca de aventuras.
Sessão
de cinema com direito a jornais. Sem cinejornal não tinha graça. Graça que por
sinal estava na hora em que terminava. Hora de um gaiato gritar: " acabou
o jornal!!!!!" E outro gaiato responder de pronto: " limpa com o
dedo."
Tínhamos
direito a trailers. De preferência, filmes da Condor. Pelos simples fatos de
espantarmos a ave que mais se parecia um urubu, pousada em seu sossego. A sala
inteira vinha abaixo: " shiii, shiii, shiiii, shiiii, até o bicho bater as
asas e alçar voo. Era a glória.
Nos
filmes, os melhores momentos eram aqueles de perseguição do bandido pelo
mocinho. Batíamos os pés no assoalho e o velho "puleiro" quase vinha
abaixo. Finda a perseguição, hora da luta. O mocinho tira as luvas (pretas de
preferência) e esmurra o bandido. Luta limpa, sem pontapés e golpes baixos.
Finda a refrega, bandido devidamente amarrado e jogado na cela, toca pra cidade
entregar a encomenda para o Xerife. Serviço rápido e sem sangue. Com muita onomatopeia,
simulação sonora de socos. Estrelas ao redor da cabeça de quem levava os
sopapos. Uma beleza.
Domingo
era um dia muito especial. Roupa de " ver Deus", matinê cine Rex e
depois, picolé de groselha do Bar Azul.
Em
casa já nos esperava o ajantarado. Frango assado ou lombo de porco, macarronada
e arroz de forno. Nada de verduras e saladas. Dia de comida especial, com
direito ainda a guaraná champagne
Antártica e soda limonada Gato Preto. Bons tempos, nos quais nos contentávamos
com pouco.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog
Itaúna Décadas em 16/09/2017.