PRESENTE
DE DEUS PARA ITAÚNA
Theodorus
Maria Turkemburg, este é o verdadeiro nome do Padre Luiz. Theo (Deus) Dorus (presente)
= presente de Deus. Expressa bem o que a comunidade itaunense sentia por ele:
foi um verdadeiro presente para Itaúna. Holandês, nascido em Hillegon no dia 06
de Maio de 1926, filho de Nicolaas Gerardus Turkemburg e Alberdina Kroom Van
Diest, ordenou-se sacerdote pela Congregação do Espírito Santo, em 20 de Julho
de 1952. No ano seguinte veio para Itaúna. Inicialmente professor de música e
canto no Colégio Santana. Regente de banda de música, pelas quais era
apaixonado, ensaiava corais, compunha peças musicais e executava vários
instrumentos, exímio pianista e organista, vibrava com os dobrados marciais. Na
Holanda, obteve diploma de nível superior em um Conservatório Musical.
Tão
competente nessa área, que a pedido do Diretor, para suprir uma necessidade de
ter um professor titular na Escola Normal, naturalizou-se brasileiro a fim de
ser nomeado funcionário público e responder pela cadeira de Música e Canto
Orfeônico. Graças a ele a Prefeitura de Itaúna doou um piano para o
educandário. Grande sensibilidade, modelar ministro de Deus, semeou muito
amor e colheu inúmeros admiradores e amigos entre alunos, professores e pessoas
da comunidade.
Em 1º de Janeiro de 1960, assumiu a Paróquia
de Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Padre Eustáquio. Ali fez desabrochar sua
personalidade, mostrou todo o seu caráter e a bondade que sempre teve no
coração. Revelou-se, ainda, ser um homem empreendedor, preocupado com as
condições sociais de seus paroquianos, principalmente, pobres, doentes e
crianças. Para estas dedicou esforços na construção de várias creches, escolas,
como as da Vila Tavares, Padre Eustáquio e Várzea da Olaria.
Desde
que assumiu a Paróquia do Pe. Eustáquio, não parou de trabalhar. Na construção
da Igreja Matriz do Bairro, ajudou a fazer massa para os pedreiros, carregou
tijolos e latas de concreto, "bateu" laje, incansavelmente. Foram
inúmeras obras. Para conseguir tantas melhorias em suas comunidades, Pe. Luiz
teve que trabalhar demais. Não media esforços. Atuava como servente de
pedreiro, pintor e, desta maneira, dava exemplo para a comunidade que o seguia.
Envolvia todos num mutirão. Viam-se crianças, adultos e idosos colaborando. Era
uma verdadeira festa a construção de uma nova Igreja, de uma nova Escola.
Impressionante, ele sempre à frente de tudo
Além
das obras religiosas e educacionais, não se descuidava das caritativas. No
Bairro Pe. Eustáquio fundou um refeitório que fornece alimentação gratuita para
as crianças carentes. Nos fins de semana dá alimentação para toda a família
dessas crianças. No local também funciona um gabinete dentário, mantido pela
Igreja. Era responsável por aproximadamente quinze comunidades, dentre elas
Várzea da Olaria, Irmãos Auler, Vila Tavares, Carneiros, Itatiaiuçu, Pinheiros,
Santo Antônio da Barragem, Vieiros e Arrudas. Achava tempo para coordenar todas
as obras, assistir religiosamente suas comunidades, celebrar missas, casamentos
e batismos, visitar doentes e pobres, apoiar e promover reuniões de
cursilhistas, de jovens, de casais, de todos os inúmeros movimentos de sua
Igreja. Parecia biônico, nunca demonstrava cansaço ou irritação. Quando alguma
coisa não o agradava, fazia silêncio. Depois procurava explicar o seu
desagrado, com justificadas razões. Para conseguir fazer tantas coisas em tão
pouco tempo, rodava pela cidade com uma velha "Lambreta", fizesse sol
ou chuva. Ganhou um Fusca, da Holanda, o que veio facilitar sua maratona.
Vicente
Ventura, um dos grandes amigos do Pe. Luiz, diz que muitas vezes ele ficou
atolado nas estradas ruins por onde passava, e "voltava enlameado, mas
feliz". Desde há alguns anos, vinha lutando contra uma dolorosa doença no
maxilar, um terrível câncer que lhe corroía o físico, mas não abatia seu vigor
intelectual e espiritual. Chegou a sair do Brasil, indo para a Holanda, fazer o
tratamento e, segundo alguns, "viajou pra morrer em seu país". Os
médicos deram-lhe três meses de vida. Quando ficou doente, recebeu a moléstia
com tranquilidade, resignando-se ao árduo caminho que iria percorrer. Porém, a
resignação não significou entrega. Pe. Luiz com esperanças redobradas em Deus,
conseguiu suplantar os piores momentos de sua jornada. Surpreendentemente
voltou ao Brasil com a doença sob controle.
Para
definir sua luta, e porque não dizer, seu triunfo sobre a doença, é importante
relembrar uma afirmação do médico que o atendia em Belo Horizonte, citada por
Dona Zulmira Antunes: "na sua cura entrou um pouco de medicina: o restante
é algo que não se explica, algo divino, onde a ciência não entra". Na
década de 90, continuou entre nós, trabalhando, como se nada tivesse
acontecido, muitas vezes contrariando as recomendações médicas. A sua força de
vontade, a crença em Deus, que o premiou com uma graça sublime, a de servir
seus paroquianos, o mantinha vivo e atuante.
Vê-lo
alimentar-se através de uma sonda, como auxílio de uma dedicada paroquiana,
enfermeira Maria das Graças, era um bálsamo para quantos, desesperados, não
aceitam os desígnios da Providência. Debilitado pela doença, Pe. Luiz lia
diariamente, celebrava (fazia a consagração), dava aulas de música, fazia
ensaios do Coral. De vez em quando, "assustando" a todos que cuidavam
dele, pegava o carro da Paróquia e punha-se a dirigir, principalmente para
visitar doentes.
Ele era muito amigo do Dr. José Campos, seu
colega de magistério na Escola Normal, marido de Dª Alba Regina, esposa desse
ilustre médico e professor. Dª Alba, em decorrência de diabetes, foi ficando
cega. Padre Luiz escreveu-lhe, em 24 de Abril de 1993, uma carta consoladora,
da qual extraio alguns trechos: "é uma cruz pesada que Deus reservou para
a senhora e toda a família, sem dúvida! Mas com seus méritos, costumeira
alegria e poder de comunicação, conseguirá aliviar o sofrimento. Seu problema,
suponho igual ao meu, surgiu de repente, mudando profundamente nossas vidas.
Temos agora muito tempo para refletir e descobrir que há outras pessoas
sofrendo mais, nos dão grande exemplo e não perdem a vontade de viver,
continuam participando e convivendo com a família e a comunidade.
Rezo para a senhora, celebro missa na sua intenção e estou certo de que o bom Deus atenderá nossos pedidos, aumentando nossa alegria de viver dia após dia". Grande e Santo Padre Luiz. Em 1989, no 1º Encontro de Bandas de Itaúna, Pe. Luiz deu, mais uma vez, exemplo de força de vontade, de sua crença na vida, sua fé inabalável nos desígnios divinos, e regeu o "Bandão" (união de todas as Bandas participantes do evento), na Praça da Matriz, emocionando a todos. Compôs um Credo novo para a Paróquia.
Em Outubro de 1991, teve suas
músicas escolhidas para serem executadas no Congresso Eucarístico
Internacional, na cidade de Natal. Na sua humildade, mandou as músicas sob
pseudônimo, não quis se identificar, apenas colaborar para o maior brilhantismo
do evento. Padre Luis Turkemburg completou 40 anos de sacerdócio em 20 de Julho
de 1992, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, que lhe tributou as maiores
homenagens pela dedicação com que dirigiu os destinos da Igreja no Bairro Padre
Eustáquio.
Pela
Resolução nº 06/80, a Câmara Municipal de Itaúna concedeu-lhe o título de Cidadão
Honorário, entregue solenidade ocorrida no dia 20 de Novembro de 1980.
Faleceu em 23 de Junho d e 1994, deixando consternada toda a comunidade católica
itaunense. Enterrado no cemitério local, teve seus restos mortais transferidos
para a Igreja Matriz de sua paróquia. THEO-DORUS, nosso presente de
Deus, foi para a Casa do Pai, aureolado de santidade.
Referências:
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC
Digitalização
para o blog: Juarez Nogueira Franco (In Memoriam)
Organização para o blog: Charles Aquino, graduando em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / FUNEDI - Campus da Fundação Educacional De Divinópolis.