quarta-feira, novembro 07, 2012

JOÃO GUIMARÃES ROSA, MEU PAI


Em 1973, idealizada pelo escritor David de Carvalho, a programação cultural desta semana festiva foi dedicada à memória de João Guimarães Rosa, que de lá saíra há quarenta anos, mas prometendo se conservar “itaguaro-itaunense” de coração, para sempre.
  Eu fora convidada a participar, fazendo uma conferência sobre a obra e a personalidade de meu pai.  Desde o momento em que o comitê de recepção nos recebeu à porta da cidade, com ramos de flores e aplausos, Peter e eu nos sentimos itaunenses também, e vivemos dias maravilhosos, ambiente de grande carinho.
  Tudo perfeito. A gentil hospitalidade da família Guaracy de Castro Nogueira, na sua bela mansão às margens da barreira de Benfica. Dona Ivete mandara enfeitar de rosas desde a entrada até a suíte que ocupamos. Garçons enluvados serviram-nos gostosos pratos típicos mineiros. Amigos antigos, que me haviam visto pela última vez quando eu tinha apenas dois anos, foram, pressurosos, me beijar. Estudantes nos entrevistando, gravadores ligados, fotografias, conversas e risos, amizade, curiosidade e uma emoção.
  De parabéns a comissão organizadora, constituída pelo próprio David de Carvalho, José Waldemar Teixeira de Melo, chefe de gabinete do prefeito Hidelbrando Canabrava Rodrigues, os professores Marco Elísio Chaves Coutinho, Francisco De Filippo, José Gomes Miranda, Jefferson Ribeiro de Andrade, diretor da revista literária bel’Contos, e a jornalista e escritora Carmem Schneider Guimarães, casada com o primo de papai, José Luiz Gonçalves, que é advogado e professor. Carmita, como a chamamos na intimidade, é conhecedora entusiasta da obra de meu pai, e muito a tem divulgado, em Minas, com excelentes artigos.

  A programação começou inaugurando o minimuseu Guimarães Rosa, com livros, algumas cartas, fotografias e objetos-lembranças. O seu retrato foi descerrado. Professores fizeram conferências diárias sobre a sua obra, e também falou o tio Vicente Guimarães, que estava com tia Miretta. Ele lançou então o livro infantil Joãozito, Infância de Guimarães Rosa, autografando-o para os alunos de vários grupos escolares da cidade.
  O reitor Guaracy de Castro Nogueira e o diretor da Faculdade de Filosofia, professor Antônio de Oliveira, receberam-nos com muita simpatia. E, para um auditório lotado de alunos, professores e convidados, fiz a conferência de encerramento.  Antes, uma bonita missa celebrada pelo padre que havia sido porteiro do Colégio Arnaldo, onde Joãozito estudara, em Belo Horizonte. E à saída da igreja, uma alegre surpresa: a banda de música de Itaguara – e como papai apreciava uma bandinha ...
  Um dos músicos, velhinho simpático de úmidos olhos verdes, se adiantou, me abraçando: Seu pai, o querido dr. Rosa, salvou a vida de meu filho! Foi um dos melhores momentos ouvir esta frase feliz de um homem cuja gratidão ainda persistia muito forte após quarenta anos.  O enorme sucesso dessa promoção, cultural, a beleza da homenagem, a bondade do povo de Itaúna, permanecerão entre as minhas lembranças mais gratas e queridas.

Vilma Guimarães Rosa

FONTE: ROSA, VILMA GUIMARÃES. Relembramentos: João Guimarçaes Rosa, Meu Pai. Ed. Nova Fronteira S.A., 2008. p.410-411.