O texto relata um trágico acidente ocorrido no dia 7 de fevereiro de 1933, em Itaúna, durante a construção da nova Matriz. Trabalhadores extraíam pedras para os alicerces quando uma explosão inesperada de dinamite ocorreu. O acidente feriu gravemente Antônio Martins, que perdeu três dedos da mão esquerda e sofreu lesões no ventre. Dois de seus colegas, Zeno Pereira e Alfredo Morais, estavam presentes, mas tiveram menos danos—Zeno sofreu um leve ferimento e Alfredo saiu ileso.
Antônio Martins, um trabalhador pobre com família para sustentar, compartilha sua experiência de sujeitar-se a perigos para prover sustento, refletindo a dura realidade dos operários da época. Ele narra com gratidão o atendimento médico que recebeu e expressa alívio por estar se recuperando.
O texto destaca o sacrifício desses trabalhadores anônimos, cujas vidas e esforços ajudaram a erguer a nova igreja da cidade. O autor faz um apelo para que as gerações futuras se lembrem do suor e sangue desses homens na construção desse importante marco da cidade de Itaúna.
CATÁSTROFE NA PEDREIRA DE ITAÚNA
Terça-feira do ano de 1933 do dia 7 de fevereiro, o velho
relógio da Matriz realejava 2
horas da tarde. Ao sopé da colina do rosário, alguns trabalhadores suavam e
tressuavam sob a soalheira do estival , na extração de pedras para a nova
Matriz, quando lhes interrompeu a labuta súbita uma explosão.
A notícia
alarmou logo a cidade. Fomos entrevistar na Santa Casa uns dos feridos. Na
portaria, recebeu-nos amavelmente o dr. José Drumond,
que nos conduziu até a enfermaria dos homens, onde, entre outros leitos
ocupados por enfermos, nos mostrou um , cheio de ataduras. É este, disse-nos o
dr. Drumond. E fiquem à vontade.
Antônio
Martins, o nosso entrevistado, assim nos narrou a catástrofe:
- O sr.
sabe, diz ele. Quem é pobre e tem família que criar, filhinhos ainda pequenos,
há de sujeitar a serviços perigosos, como trabalhar em pedreiras. Faltava material
para os alicerces da nova Matriz. Depois de bloquear a rocha, eu e mais dois
companheiros – Zeno Pereira e Alfredo Morais – preparávamos a dinamite para ser
colocada na mina. De repente, não sei por efeito do calor , a bomba explodiu em
minas mãos. Não sei como,
dei um salto enorme. Caí a alguma distância, sentindo-me gravemente ferido e
banhado em sangue. Zeno e
Alfredo desapareceram para mim. Os outros companheiros, após um momento de
hesitação, acudiram nos gritando socorro. Fui levado à Farmácia Brasil, onde o
dr. Hely Nogueira me medicamentou ligeiramente.
Às 3 horas
da tarde , eu entrava carregado na Santa Casa. Aqui estou até hoje, sentindo-me
bem melhor, graças a Deus.
- E os seus
dois companheiros. É grave o estado deles?
-Não senhor.
Estiveram aqui. Zeno Pereira sofreu ligeiro ferimento. O outro Alfredo, dizem
que não ficou ferido.
Antonio
Martins , o nosso entrevistado ficou com ambas as mãos feridas. Delas , a
esquerda muito estragada, da qual três dedos foram amputados. A explosão
alcançou-lhe também o ventre.
Antonio ,
como os seus companheiros de serviços, é homem trabalhador. Tem as faces
encovadas e tristes. O corpo, amorenado de sol, mostra algumas cicatrizes dos
acidentes de que tem sido vítima , no seu penoso mourejar diurno.
Sobre o casario branco de Itaúna, alvejar a expressão ascética da Nova Matriz, é
preciso que nosso pósteros se lembrem de que aqueles alicerces, aquelas
paredes, foram argamassa das
também com o suor e o sangue desses heróis anônimos do trabalho ...
Fonte: Jornal de Itaúna, Ano I, 12 de
fevereiro de 1933, nº 29.
Pesquisa: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro
Nogueira - ICMC