sábado, janeiro 25, 2025

O VOTO QUE EDUCA PARTE I

O VOTO QUE EDUCA, TAMBÉM “K” DUCA? PARTE I

A reunião plenária ordinária realizada em 14 de dezembro de 2021 na Câmara Municipal de Itaúna teve como tema central o Projeto de Resolução, que buscava criar o Estatuto do Servidor da Câmara Municipal, estabelecendo diretrizes sobre a estrutura organizacional e a política de pessoal do Poder Legislativo Municipal.

O vereador Kaio Guimarães foi o principal proponente de cinco emendas ao projeto, que visavam tornar o ensino superior completo uma exigência obrigatória para determinados cargos de maior responsabilidade. As emendas propuseram alterações nos requisitos para os cargos de Gerente Institucional, Gerente da Unidade Administrativa e Financeira, Gerente da Unidade Legislativa, Chefe de Compras e Chefe de Comunicação.

Durante a discussão, o vereador Kaio defendeu suas emendas argumentando que os cargos de gerência e chefia demandavam uma formação técnica e acadêmica que garantisse maior eficiência e qualidade no desempenho das funções. Ele destacou que as funções mencionadas seriam ocupadas por profissionais com altos salários e que, portanto, deveriam exigir um nível maior de escolaridade, seguindo as diretrizes do Artigo 47 da Lei Orgânica Municipal no seu Parágrafo Único que dizia “Para provimento de Cargo de natureza técnica exigir-se-á a respectiva habilitação profissional”.

O vereador enfatizou que sua proposta não desmerecia profissionais sem formação superior, mas valorizava aqueles que se qualificaram academicamente para exercer funções estratégicas no Legislativo. Ele reforçou que a inclusão do requisito de ensino superior estava alinhada às recomendações do Ministério Público, além de ser uma medida coerente com a responsabilidade das atribuições dos cargos, como o gerenciamento de finanças públicas e processos administrativos.

O vereador Gustavo Dornas manifestou apoio às emendas, argumentando que, quanto maior a qualificação de quem ocupa cargos estratégicos, maior a eficiência no desempenho das funções. Para Dornas, a exigência do ensino superior representava um avanço administrativo, favorecendo a qualidade técnica e a credibilidade do Legislativo Municipal. Além de Gustavo Dornas, é importante registrar que Márcia Cristina e Antônio de Miranda, na época também parlamentares, votaram favoravelmente às emendas apresentadas por Kaio Guimarães. Esse posicionamento reforçou o reconhecimento da importância da qualificação acadêmica para a ocupação de cargos de maior relevância administrativa.

No entanto, o presidente da Câmara, Alexandre Campos, discordou de quatro das cinco emendas propostas por Kaio Guimarães, justificando que as funções de gerência e setor de compras eram, em sua visão, de caráter mais político do que técnico e, portanto, não deveriam ter como requisito obrigatório a formação superior. Campos reforçou que a Constituição Federal não exige qualificação acadêmica para cargos de livre nomeação e que as funções citadas estariam sujeitas ao assessoramento técnico. Contudo, o presidente apoiou a quinta emenda, que previa a obrigatoriedade de ensino superior para o cargo de Chefe de Comunicação, considerando a natureza técnica e estratégica da função.

Após debates acalorados, as emendas foram submetidas à votação, com os seguintes resultados: Gerência Institucional: Rejeitada (9 votos contra – 7 votos favoráveis), Gerência Administrativa e Financeira: Rejeitada (9 votos contra – 7 votos favoráveis), Gerência Legislativa: Rejeitada (9 votos contra – 7 votos favoráveis), Chefe de Compras: Rejeitada (9 votos contra – 7 votos favoráveis), Chefe de Comunicação: Aprovada (1 voto contra – 15 votos favoráveis). 

A decisão revelou um cenário de tensões políticas, no qual a profissionalização e a qualificação técnica enfrentam resistência diante de argumentos que enfatizam a natureza política de determinadas funções administrativas. A rejeição das primeiras quatro emendas revelou uma resistência significativa da maioria dos 16 vereadores à implementação de critérios mais rigorosos de qualificação acadêmica. Por outro lado, a aprovação da quinta emenda indicou consenso quanto à importância de maior profissionalização no setor de comunicação institucional, reconhecendo a necessidade de habilidades técnicas para a função.

A votação do Projeto de Resolução 2021 trouxe à tona questões importantes sobre o equilíbrio entre critérios técnicos e políticos na ocupação de cargos públicos. Enquanto alguns vereadores defenderam a valorização da formação acadêmica como elemento essencial para elevar a qualidade do serviço público, a maioria dos vereadores optou por manter as exigências mais flexíveis.

A postura do presidente de diferenciar funções técnicas de funções políticas destacou a complexidade da discussão, mas também revelou uma visão que poderia ser interpretada como conservadora diante das demandas contemporâneas por maior profissionalização na gestão pública.

A rejeição da maioria das emendas representou uma oportunidade perdida para alinhar a estrutura administrativa da Câmara a critérios técnicos mais rígidos, o que poderia fortalecer a credibilidade e a eficiência das operações legislativas. Por outro lado, a aprovação da quinta emenda marcou um pequeno avanço, estabelecendo um precedente positivo para futuras discussões sobre a valorização da qualificação acadêmica no setor público.

A divergência entre os vereadores na época reflete tensões inerentes ao processo legislativo, no qual interesses políticos e administrativos frequentemente se sobrepõem à busca por maior eficiência e profissionalismo. O resultado da votação evidenciou que, embora houvesse reconhecimento da importância da qualificação em algumas áreas, o Legislativo Municipal de Itaúna ainda enfrentava desafios para implementar mudanças estruturais que promovessem a modernização da administração pública.

A discussão em torno do Projeto de Resolução destacou a relevância do debate sobre a qualificação profissional no serviço público. Apesar de não obter apoio integral, as propostas do vereador Kaio Guimarães trouxeram à tona a necessidade de repensar critérios para ocupação de cargos estratégicos.  

A iniciativa do edil na reunião de 2021 refletiu uma visão voltada à modernização e profissionalização da estrutura administrativa da Câmara, com foco especial nos cargos de alta relevância. Essa postura buscou assegurar que propostas relacionadas à eficiência administrativa fossem amplamente debatidas e, quando necessário, aprovadas.

 

FOLHA DO POVO ✅ 

SAIBA MAIS:

Referências: 

Pesquisa, arte e texto: Charles Aquino 

Reunião Plenária Ordinária da Câmara Municipal de Itaúna/MG, 14/12/2021. Disponível em:   https://www.youtube.com/watch?v=uYzzWwS1x04&t=8186s . Acesso em: 20/01/2025.

Lei Orgânica - Câmara Municipal de Itaúna/MG. Disponível em:   https://www.cmitauna.mg.gov.br/camara/leiOrganica. Acesso em: 15/01/2025.

Câmara Municipal de Itaúna. Resolução 40/2021. Disponível em: https://sapl.itauna.mg.leg.br/media/sapl/public/normajuridica/2021/5948/res_40-2021_-_estatuto_do_servidor_-_nova_estrutura_organizacional_da_cmi_-_atualizada_09-02-2024.pdf . Acesso em: 15/01/2025.

Câmara Municipal de Itaúna. Projeto de Resolução 51/2021. Disponível: https://sapl.itauna.mg.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2021/1363/1404_texto_integral.pdf . Acesso em: 15/01/2015.

quarta-feira, janeiro 15, 2025

EDUCAÇÃO DESEJÁVEL

 “Educação Desejável”: O Debate que Dividiu a Câmara de Itaúna

O Projeto de Resolução nº 02/2025, aprovado durante a Reunião Ordinária no Plenário da Câmara Municipal de Itaúna, realizada em 14 de janeiro de 2025, marcou um capítulo significativo na história do município. A medida promoveu alterações substanciais no Anexo V da Resolução nº 40, de 2021, flexibilizando as qualificações exigidas para cargos comissionados de alto escalão e redefinindo suas atribuições.

Apesar de sua aprovação pela maioria dos vereadores, o projeto enfrentou resistência: 4 vereadores votaram contra e 2 optaram por se abster, evidenciando divergências em relação às mudanças propostas.

As críticas mais contundentes vieram de dois vereadores que, após a votação e aprovação do projeto, utilizaram suas redes sociais para se manifestar publicamente, buscando esclarecer à população os desdobramentos do ocorrido. Os principais pontos levantados por eles foram a falta de exigência educacional superior para ocupantes de cargos estratégicos e o processo legislativo apressado, que, segundo suas declarações, impossibilitou uma análise detalhada e responsável da proposta. Com a nova redação, o nível superior passou a ser apenas “desejável”, e o ensino médio completo tornou-se o requisito mínimo obrigatório.

Segundo Guilherme Rocha, o termo “Desejável” enfraquece a exigência técnica, permitindo que pessoas sem preparo adequado ocupem cargos de alta responsabilidade. Ele usou como exemplo o cargo de Chefe de Comunicação, que anteriormente demandava ensino superior completo, mas agora aceita candidatos com ensino médio, deixando o superior apenas como uma opção adicional, sem obrigatoriedade.

O vereador Wenderson Silva também destacou o precedente perigoso que a retirada de qualificações específicas pode criar. Ele alertou que, futuramente, isso poderia permitir que cargos estratégicos fossem ocupados por pessoas sem o mínimo de qualificação, comprometendo a eficiência da gestão pública. Ele ironizou o impacto dessa mudança, dizendo: "Se seu carro estragou, você vai levá-lo ao mecânico ou ao nutricionista? No mundo real, buscamos a competência adequada para cada função, mas hoje a Câmara mostrou que lá funciona de forma diferente."

Outro ponto de forte insatisfação foi o processo legislativo adotado para a tramitação do projeto. Segundo Wenderson Silva, o texto foi apresentado poucas horas antes da votação, impossibilitando uma análise detalhada das alterações propostas. Guilherme Rocha reforçou essa crítica, relatando que seu pedido de vistas – que adiaria a votação em uma semana para permitir maior debate – foi negado pela maioria do plenário. Silva classificou o processo como “açodado” e Rocha afirmou que “projetos desse tipo, que chegam no mesmo dia para serem votados, acabam sendo engolidos goela abaixo.”

A votação do projeto evidenciou divisões internas na Câmara. Dos 17 vereadores, 10 votaram a favor, garantindo a aprovação; 4 votaram contra, apresentando críticas fundamentadas; e 2 se abstiveram. Um dos vereadores que se absteve justificou que a pressa na tramitação dificultou uma análise completa, embora tenha reconhecido que o projeto trazia pontos positivos e negativos. No entanto, a percepção de que o projeto representava um retrocesso em algumas áreas foi um fator decisivo para a abstenção.

Guilherme Rocha destacou que a flexibilização permite, por exemplo, a nomeação de pessoas sem as qualificações técnicas adequadas para ocupar cargos estratégicos. Ele criticou a abertura para indicações baseadas em critérios pessoais ou políticos, dizendo: “Agora qualquer pessoa pode ocupar um cargo. Isso é transformar um cargo técnico em um cargo político.”

A falta de tempo para análise aprofundada também gerou consequências práticas, com um vereador que votou favoravelmente ao projeto admitindo posteriormente que havia entendido errado o conteúdo da proposta. Esse exemplo reforça a necessidade de mais transparência e prazos mais amplos para a tramitação de projetos que impactam diretamente a estrutura administrativa. Os vereadores contrários ao projeto destacaram que a tramitação apressada, com a apresentação do texto apenas na manhã da votação, enfraqueceu o debate democrático, dificultando a análise detalhada dos possíveis impactos. 

Esse episódio reforça a importância de preservar critérios técnicos e impessoais na ocupação de cargos públicos, especialmente em funções estratégicas. A aprovação do projeto abre um precedente preocupante, evidenciando a necessidade de maior rigor nos processos legislativos, para garantir que mudanças dessa magnitude sejam debatidas de forma ampla e responsável, preservando o compromisso com a eficiência e a credibilidade da administração pública.


ANALISANDO O PROJETO DE RESOLUÇÃO 02/2025 APROVADO

Após analisar o Projeto de Resolução nº 02/2025, que altera o Anexo V da Resolução nº 40, de 15 de dezembro de 2021, verifica-se que ele apresenta mudanças significativas nos cargos comissionados, tanto em suas atribuições quanto nas qualificações exigidas. As justificativas apresentadas no projeto apontam a intenção de adequar as exigências técnicas às funções específicas de cada cargo, promovendo maior eficiência e inovação. No entanto, a análise detalhada revelou aspectos críticos que merecem destaque.

Primeiramente, o texto do projeto carece de uma explicação detalhada sobre como essas mudanças irão, na prática, impactar positivamente a eficiência administrativa. Não foram apresentados estudos ou indicadores que sustentem a necessidade das alterações ou comprovem os benefícios esperados, como aprendizado contínuo e maior qualificação para os ocupantes dos cargos.

Em relação aos requisitos e atribuições dos cargos, a análise comparativa entre as versões do Anexo V revela uma flexibilização dos critérios para ocupação de posições de alta relevância. Essa flexibilização nas qualificações podem comprometer a qualidade técnica da administração pública e prejudicar a eficiência e a eficácia das políticas implementadas.

Diante disso, algumas recomendações se fazem necessárias. Primeiramente, seria prudente implementar critérios claros e objetivos de avaliação para os cargos de confiança, de forma a mitigar possíveis questionamentos sobre a politização dessas funções. Além disso, é fundamental reforçar a transparência na gestão dessas mudanças, promovendo a publicação de relatórios de impacto e auditorias regulares que demonstrem a eficiência das alterações propostas.

Embora o projeto tenha sido aprovado, é importante refletir sobre suas implicações para a administração pública em Itaúna, garantindo que a qualidade técnica e a transparência continuem sendo pilares fundamentais do Legislativo Municipal.

  Charles Aquino

 JORNAL FOLHA DO POVO ✅ 

SAIBA MAIS:

O VOTO QUE EDUCA PARTE 1

O VOTO QUE EDUCA PARTE 2

O VOTO QUE EDUCA PARTE 3 ✅


Referências:

Pesquisa, arte e texto: Charles Aquino

Reunião Ordinária da Câmara Municipal de Itaúna, 14, janeiro de 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tM9pWFdNd6Q&t=1937s. Acesso em: 15/01/2025.  

Câmara Municipal de Itaúna. Projeto de Resolução nº 2 de 2025. Disponível em: https://sapl.itauna.mg.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2025/4518/pjres_02-2025_-_altera_resolucao_40-2021.pdf . Acesso em: 15/01/2025.

Câmara Municipal de Itaúna. Resolução 40/2021. Disponível em: https://sapl.itauna.mg.leg.br/media/sapl/public/normajuridica/2021/5948/res_40-2021_-_estatuto_do_servidor_-_nova_estrutura_organizacional_da_cmi_-_atualizada_09-02-2024.pdf . Acesso em: 15/01/2025.

Vereador Guilherme Rocha. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/DE036-npzgz/?igsh=ZGFwY2JsaGF3b3ky . Acesso em: 15/01/2025.

Vereador Wenderson Silva. Disponível em: https://www.instagram.com/reel/DE2VVGbpYem/?igsh=ZTB4ZTZ3c3p1aHE%3D . Acesso em: 15/01/2025.

terça-feira, janeiro 14, 2025

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE III)


 O CAMINHO DA RESTAURAÇÃO

Ao longo das décadas, o edifício da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, conhecido como "Hospital Velho", permaneceu no centro de debates que refletiram o embate entre memória e modernidade.

Este capítulo aborda as principais etapas dessa jornada, documentadas pela imprensa local, que culminaram na retomada de seu valor histórico e na revitalização do prédio.

Desde os anos 1980, quando a possibilidade de demolição do “Hospital Velho” foi discutida publicamente, o imóvel enfrentou períodos de abandono e degradação.

Reportagens destacaram o prédio como um "fantasma" que assombrava Itaúna, com ruínas pichadas e riscos à segurança​.​ 

Apesar disso, os esforços de preservação nunca cessaram completamente. Em 2021, iniciativas começaram a tomar forma com a apresentação de um projeto de revitalização, que buscava equilibrar memória e funcionalidade​.

Entre 2023 e 2024, uma série de articulações administrativas e políticas marcaram a retomada efetiva do projeto de revitalização. Após longas negociações, o Codempace (Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio). Cultural Artístico e Ecológico de Itaúna) aprovou as obras, permitindo que o Ministério Público e outros parceiros direcionassem recursos para o início das reformas​. A imprensa noticiou atrasos causados por entraves burocráticos, que retardaram o avanço das intervenções, mas também destacou o crescente apoio de empresários e representantes locais​.

A partir de setembro de 2024, reuniões com empresários, engenheiros, agentes políticos e representantes do Hospital culminaram na aprovação final do projeto e na alocação de recursos para o início das obras. Com a fachada tombada e protegida pelo patrimônio histórico, as intervenções planejadas incluíram reforços estruturais, a reconstrução do telhado e a adaptação do interior para abrigar o setor administrativo​.

Em dezembro de 2024, as obras finalmente, começaram trazendo esperança à comunidade e resgatando o simbolismo do edifício como uma obra coletiva de caridade e memória. Jornalistas locais destacaram o impacto histórico desse momento, que não apenas reconstrói um prédio, mas reafirma valores comunitários e o legado de Manoel Gonçalves​.​

A restauração do “Hospital Velho” representa mais do que a recuperação de um patrimônio arquitetônico; é a preservação de uma identidade cultural que une gerações. Apesar das décadas de desafios, o esforço conjunto da sociedade itaunense triunfou sobre as adversidades, transformando o que antes era ruína em um símbolo de resistência e renovação. A trajetória de recuperação deste prédio histórico nos convida a refletir sobre a importância de preservar nossa memória coletiva, mesmo em face das complexidades do progresso.

  PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE I) ✅

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE II) ✅

PRESERVAR X DEMOLIR (PARTE IV) ✅

Referências:

Pesquisa, organização e arte: Charles Aquino

Fontes:

JORNAL FOLHA DO POVO:

Se pode atrapalhar, Por que ajudar? 1 julho 2023.  Disponível em:  https://www.folhapovoitauna.com.br/se-pode-atrapalhar-por-que-ajudar

Aprovada obra no Prédio do Hospital Velho, 19 agosto 2023.Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/aprovada-obra-no-predio-do-hospital-velho

Vai começar a revitalização no Hospital, 19 outubro 2024. Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/vai-comecar-a-revitalizacao-no-hospital

Reconstruindo a História de Itaúna, 28 dezembro 2024. Disponível em: https://www.folhapovoitauna.com.br/reconstruindo-a-historia-de-itauna

 

JORNAL S’PASSO:

Prefeito e empresários firmam parceria para recuperação do prédio do antigo Hospital Manoel Gonçalves, 29, julho 2021. Disponível em: https://jornalspasso.com.br/prefeito-e-empresarios-firmam-parceria-para-recuperacao-do-predio-do-antigo-hospital-manoel-goncalves/

Prédios fantasmas assombram Itaúna, 28 agosto 2023. Disponível em: https://jornalspasso.com.br/predios-fantasmas-assombram-itauna/

Projeto de revitalização do antigo prédio da Casa de Caridade Manoel Gonçalves é retomado, 21 setembro 2024. Disponível em: https://jornalspasso.com.br/projeto-de-revitalizacao-do-antigo-predio-da-casa-de-caridade-manoel-goncalves-e-retomado/

Hospital anuncia obras em prédio antigo da instituição para ampliação do Centro Oncológico, 25 novembro 2024. Disponível em: https://jornalspasso.com.br/hospital-anuncia-obras-em-predio-antigo-da-instituicao-para-ampliacao-do-centro-oncologico/

Hospital Manoel Gonçalves inicia obras das ruínas do prédio antigo, 4 janeiro 2025. Disponível em: https://jornalspasso.com.br/hospital-manoel-goncalves-inicia-obras-das-ruinas-do-predio-antigo/

 

quarta-feira, janeiro 08, 2025

CRUZEIRO DE SANTANENSE

Cruzeiro de Santanense: Missa Inaugural

Em 3 de maio de 1928, um marco na história religiosa e comunitária do bairro Santanense, em Itaúna, Minas Gerais, foi celebrado com a primeira missa no Cruzeiro, presidida por Monsenhor Álvaro Negromonte, então capelão do Hospital Manoel Gonçalves de Souza Moreira, também conhecido como Santa Casa de Itaúna. Erguido em frente à fábrica, acima da linha da Centro-Oeste, o Cruzeiro tornou-se não apenas um símbolo de fé para a comunidade, mas também um testemunho de uma promessa cumprida e de resiliência diante das adversidades.

Onze anos antes, em 1917, o gerente da Companhia de Tecidos Santanense, Sr. Mardoqueo Gonçalves (conhecido como Docha), e sua esposa, Dona Maria Gonçalves, enfrentavam um grande desafio. Durante o período de estiagem, a escassez de água ameaçava o funcionamento dos teares movidos a água, essenciais para a produção. Em meio à preocupação, Dona Maria fez uma promessa: se não faltasse água naquele ano, ela mandaria construir um cruzeiro como demonstração de gratidão. Apesar de seu falecimento antes de cumprir a promessa, o cruzeiro foi finalmente levantado como símbolo de fé e gratidão da comunidade.

A celebração da missa de inauguração, presidida por Monsenhor Álvaro Negromonte, trouxe à comunidade um sentimento de união e renovação espiritual. Com a bênção do cruzeiro e as festividades que acompanharam o evento, aquele marco passou a representar um ponto de encontro não apenas físico, mas também espiritual, consolidando a importância do local para a história religiosa do bairro.

Embora sua passagem por Itaúna tenha sido breve, Monsenhor Negromonte desempenhou um papel fundamental na vida espiritual da cidade. Como capelão da Santa Casa de Caridade, envolveu-se ativamente em atividades paroquiais, como a organização de "missas cantadas", "pregações" e "retiros espirituais". Sua participação na inauguração do Cruzeiro de Santanense não foi apenas um ato litúrgico, mas um gesto que reforçou os laços entre fé e comunidade.

Essa dedicação à fé e à comunidade marcou o início de uma trajetória religiosa notável. Monsenhor Álvaro Negromonte nasceu no Engenho Gameleira, em Timbaúba (PE) em 26 de outubro de 1901, e ingressou no Seminário de Olinda aos 13 anos, sendo ordenado sacerdote em 1924. Iniciou sua trajetória religiosa como diretor do Colégio Diocesano e capelão do Colégio Santa Cristina, ambos em Nazaré da Mata. Em 1927, transferiu-se para Minas Gerais, onde atuou como capelão da Santa Casa de Itaúna, permanecendo na função até o final de 1931. Posteriormente, consolidou sua atuação sacerdotal em Belo Horizonte.

Na capital mineira, destacou-se como secretário do Arcebispado, capelão, professor de catequética e fundador do Instituto Católico de Cultura, onde exerceu o cargo de reitor. Também desempenhou papéis importantes na Sociedade Pestalozzi e no Ensino Religioso Arquidiocesano, ampliando sua influência no campo educacional e religioso.

Como educador e escritor, Monsenhor Álvaro Negromonte deixou um legado significativo. Sua primeira obra, O Caminho da Vida e Pedagogia do Catecismo (1936), marcou o início de uma série de publicações que tiveram grande impacto na renovação da catequese no Brasil. Entre seus principais trabalhos, disponíveis em plataformas e livrarias, estão: A Educação da Sexualidade, Corrija Seu Filho: A Formação dos Homens, A Educação dos Filhos: A Missão dos Pais e Educadores, Meu Catecismo (vols. I a IV), Noivos e Esposos, Preparação para a Primeira Comunhão, Guia do Catequista, A Doutrina Viva, Fontes do Salvador, entre outros. Suas obras abordaram temas como educação religiosa, moral e familiar, consolidando-o como uma referência no campo.

Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu cargos de destaque no Ministério da Justiça e continuou sua produção literária, recebendo elogios de intelectuais como Tristão de Athayde. Em 1950, representou o Brasil no Congresso Internacional de Catequética em Roma e foi nomeado diretor do ensino religioso da Arquidiocese do Rio.

Em 1956, recebeu o título de Monsenhor pelo Papa Pio XII, coroando uma trajetória brilhante no campo educacional e religioso. Monsenhor Álvaro Negromonte permanece como uma figura de grande relevância na história da educação religiosa no Brasil e nas comunidades que beneficiou com sua atuação pastoral. Faleceu em sua residência no Rio de Janeiro, em 17 de agosto de 1964, vítima de síncope cardíaca, encerrando uma vida dedicada à fé, à educação e à formação espiritual.

O Cruzeiro de Santanense e a primeira missa celebrada por Monsenhor Álvaro Negromonte representam dois marcos inesquecíveis na história do bairro, unindo fé, comunidade e memória. O Cruzeiro, erguido como fruto de uma promessa de gratidão e renovado espiritualmente pela missa inaugural, tornou-se um símbolo de esperança e resiliência, permanecendo no local até os dias de hoje como testemunho do tempo e da devoção que moldaram a identidade da região.

Esses eventos não apenas consolidaram o sentido de pertencimento dos moradores, mas também perpetuaram a força da espiritualidade e o papel transformador da fé na vida cotidiana. Ao visitar o Cruzeiro, cada indivíduo pode conectar-se à história e ao legado de uma comunidade que encontrou na fé os alicerces para superar desafios e construir um futuro inspirado por propósitos maiores.

Assim, o Cruzeiro permanece no local, simbolizando uma marca do tempo e registrando a passagem de pessoas movidas por propósitos e fé. Ele está localizado na Alameda José Honório, em frente ao histórico Estádio Victor Gonçalves, próximo à Praça de Esportes Santanense. O Cruzeiro também é visível por meio do recurso "Google Street View", permitindo que sua memória e significado sejam revisitados virtualmente.

Monsenhor Álvaro Negromonte

Referências:

Pesquisa, imagem e texto: CharlesAquino

Acervo: Professor Marco Elísio (In Memoriam)

O Jornal, RJ – Edição nº13261, p.8, 18/08/1964: Hemeroteca Digital Brasileira.

Revista Companhia Tecidos Santanense, 75 anos 1891-1966, não paginado.

ECCLESIAE – Biografia Monsenhor Álvaro Negromonte. Disponível em:

https://ecclesiae.com.br/index.php?route=product/author&author_id=5026  

Logradouro: Alameda José Honório

Associação Santa Zita em Itaúna