Cruzeiro de Santanense: Missa
Inaugural
Em 3 de maio de 1928, um marco na
história religiosa e comunitária do bairro Santanense, em Itaúna, Minas Gerais,
foi celebrado com a primeira missa no Cruzeiro, presidida por Monsenhor Álvaro
Negromonte, então capelão do Hospital Manoel Gonçalves de Souza Moreira, também
conhecido como Santa Casa de Itaúna. Erguido em frente à fábrica, acima da
linha da Centro-Oeste, o Cruzeiro tornou-se não apenas um símbolo de fé para a
comunidade, mas também um testemunho de uma promessa cumprida e de resiliência
diante das adversidades.
Onze anos antes, em 1917, o
gerente da Companhia de Tecidos Santanense, Sr. Mardoqueo Gonçalves (conhecido
como Docha), e sua esposa, Dona Maria Gonçalves, enfrentavam um grande desafio.
Durante o período de estiagem, a escassez de água ameaçava o funcionamento dos
teares movidos a água, essenciais para a produção. Em meio à preocupação, Dona
Maria fez uma promessa: se não faltasse água naquele ano, ela mandaria
construir um cruzeiro como demonstração de gratidão. Apesar de seu falecimento
antes de cumprir a promessa, o cruzeiro foi finalmente levantado como símbolo
de fé e gratidão da comunidade.
A celebração da missa de
inauguração, presidida por Monsenhor Álvaro Negromonte, trouxe à comunidade um
sentimento de união e renovação espiritual. Com a bênção do cruzeiro e as
festividades que acompanharam o evento, aquele marco passou a representar um
ponto de encontro não apenas físico, mas também espiritual, consolidando a
importância do local para a história religiosa do bairro.
Embora sua passagem por Itaúna
tenha sido breve, Monsenhor Negromonte desempenhou um papel fundamental na vida
espiritual da cidade. Como capelão da Santa Casa de Caridade, envolveu-se
ativamente em atividades paroquiais, como a organização de "missas
cantadas", "pregações" e "retiros espirituais". Sua
participação na inauguração do Cruzeiro de Santanense não foi apenas um ato
litúrgico, mas um gesto que reforçou os laços entre fé e comunidade.
Essa dedicação à fé e à
comunidade marcou o início de uma trajetória religiosa notável. Monsenhor
Álvaro Negromonte nasceu no Engenho Gameleira, em Timbaúba (PE) em 26 de
outubro de 1901, e ingressou no Seminário de Olinda aos 13 anos, sendo ordenado
sacerdote em 1924. Iniciou sua trajetória religiosa como diretor do Colégio
Diocesano e capelão do Colégio Santa Cristina, ambos em Nazaré da Mata. Em
1927, transferiu-se para Minas Gerais, onde atuou como capelão da Santa Casa de
Itaúna, permanecendo na função até o final de 1931. Posteriormente, consolidou
sua atuação sacerdotal em Belo Horizonte.
Na capital mineira, destacou-se
como secretário do Arcebispado, capelão, professor de catequética e fundador do
Instituto Católico de Cultura, onde exerceu o cargo de reitor. Também
desempenhou papéis importantes na Sociedade Pestalozzi e no Ensino Religioso
Arquidiocesano, ampliando sua influência no campo educacional e religioso.
Como educador e escritor,
Monsenhor Álvaro Negromonte deixou um legado significativo. Sua primeira obra, O
Caminho da Vida e Pedagogia do Catecismo (1936), marcou o início de uma
série de publicações que tiveram grande impacto na renovação da catequese no
Brasil. Entre seus principais trabalhos, disponíveis em plataformas e
livrarias, estão: A Educação da Sexualidade, Corrija Seu Filho: A
Formação dos Homens, A Educação dos Filhos: A Missão dos Pais e
Educadores, Meu Catecismo (vols. I a IV), Noivos e Esposos,
Preparação para a Primeira Comunhão, Guia do Catequista, A
Doutrina Viva, Fontes do Salvador, entre outros. Suas obras
abordaram temas como educação religiosa, moral e familiar, consolidando-o como
uma referência no campo.
Em 1945, mudou-se para o Rio de
Janeiro, onde assumiu cargos de destaque no Ministério da Justiça e continuou
sua produção literária, recebendo elogios de intelectuais como Tristão de
Athayde. Em 1950, representou o Brasil no Congresso Internacional de Catequética
em Roma e foi nomeado diretor do ensino religioso da Arquidiocese do Rio.
Em 1956, recebeu o título de
Monsenhor pelo Papa Pio XII, coroando uma trajetória brilhante no campo
educacional e religioso. Monsenhor Álvaro Negromonte permanece como uma figura
de grande relevância na história da educação religiosa no Brasil e nas comunidades
que beneficiou com sua atuação pastoral. Faleceu em sua residência no Rio de
Janeiro, em 17 de agosto de 1964, vítima de síncope cardíaca, encerrando uma
vida dedicada à fé, à educação e à formação espiritual.
O Cruzeiro de Santanense e a
primeira missa celebrada por Monsenhor Álvaro Negromonte representam dois
marcos inesquecíveis na história do bairro, unindo fé, comunidade e
memória. O Cruzeiro, erguido como fruto de uma promessa de gratidão e renovado
espiritualmente pela missa inaugural, tornou-se um símbolo de esperança e
resiliência, permanecendo no local até os dias de hoje como testemunho do tempo
e da devoção que moldaram a identidade da região.
Esses eventos não apenas
consolidaram o sentido de pertencimento dos moradores, mas também perpetuaram a
força da espiritualidade e o papel transformador da fé na vida cotidiana. Ao
visitar o Cruzeiro, cada indivíduo pode conectar-se à história e ao legado de
uma comunidade que encontrou na fé os alicerces para superar desafios e
construir um futuro inspirado por propósitos maiores.
Assim, o Cruzeiro permanece no
local, simbolizando uma marca do tempo e registrando a passagem de pessoas
movidas por propósitos e fé. Ele está localizado na Alameda José Honório, em
frente ao histórico Estádio Victor Gonçalves, próximo à Praça de Esportes
Santanense. O Cruzeiro também é visível por meio do recurso "Google Street
View", permitindo que sua memória e significado sejam revisitados
virtualmente.
Referências:
Pesquisa, imagem e texto: CharlesAquino
Acervo: Professor Marco Elísio (In Memoriam)
O Jornal, RJ – Edição nº13261, p.8, 18/08/1964:
Hemeroteca Digital Brasileira.
Revista Companhia Tecidos
Santanense, 75 anos 1891-1966, não paginado.
ECCLESIAE – Biografia Monsenhor
Álvaro Negromonte. Disponível em:
https://ecclesiae.com.br/index.php?route=product/author&author_id=5026
Logradouro: Alameda José Honório