Itaúna sempre foi uma comunidade que cultivou, com
muita devoção, a sua Fé. A cidade nasceu às margens do rio São João, à sombra
de um velho cruzeiro plantado pelos pioneiros de nossa povoação, lá no
longínquo séc. XVIII, no alto de um monte, hoje denominado Morro do Rosário.
O povoamento se deu, principalmente, devido ao fluxo
entre dois grandes centros mercantis daquele tempo: Bonfim e Pitangui. E uma de
nossas denominações mais antigas, remete-nos a esta Fé: “Sant’Anna do São João
Acima de Pitanguy”. O arraial
desenvolveu-se até ser elevado à paróquia. Em meados do séc. XIX (1841) era
criada a Paróquia de Sant’Ana – genitora da própria cidade de Itaúna e hoje
desdobrada em outras cinco paróquias (Fátima, Coração de Jesus, Piedade, Nossa
Senhora Aparecida e São José).
Esta Fé, viva e
muito presente no seio da sociedade itaunense foi produzindo seus frutos de
esperança e de amor e transformando as realidades. Haja visto o significativo
número de itaunenses que ao longo dos tempos tomou sacerdócio católico para
suas vidas – em torno de trinta padres!
Entretanto, um fato assinala de maneira indelével, as
páginas de nossa História. Uma história
de Fé, de conversões e de filial amor à Nossa Senhora. O ocorrido deu-se no dia 27 de julho
de 1955, um dia após a cidade comemorar sua excelsa
padroeira a: Senhora Sant'Ana. Naquele
dia, a bucólica Itaúna, abalou-se com a notícia de uma possível aparição de
Nossa Senhora a três garotos, em uma mata fechada próxima da antiga Vila
Mozart, hoje Bairro de Lourdes.
Filhos das primeiras famílias a habitarem o local,
Eduardo Vasconcelos, Antônio Nunes e José Rita eram amigos e gostavam de
brincar na mata perto de suas casas. Tarzan era um dos personagens preferidos
dos meninos, e a mata fechada era o cenário ideal para suas brincadeiras e
estripulias. Em uma manhã, ao sair para procurar o cavalo do pai de Eduardinho,
os três garotos se assustaram com um “macaco de aspecto tenebroso". Ao clamarem
desesperados pela Mãe Santíssima, logo perceberam uma luz forte descendo do
céu.
Na época com 8 anos, o bombeiro hidráulico aposentado
Eduardo Vasconcelos lembra-se bem daquele dia. “Vimos descendo do céu uma nuvem
branca brilhante, que foi parar sobre um cupinzeiro na mata. Apareceu Nossa
Senhora, toda bonita, como se fosse um raio de luz. Ficamos assustados e fomos
procurar o padre José Netto”, conta.
A notícia se espalhou rapidamente pela cidade e a Vila
Mozart passou a ter um intenso movimento de curiosos e fiéis em busca das
bênçãos da Virgem Maria. As pessoas foram abrindo caminho na mata para
facilitar o acesso ao cupinzeiro e o local da aparição foi se transformando.
Eduardinho, Totõe e José Rita continuaram a visitar o local por vários meses, e
as aparições continuaram. Outros videntes surgiram, e a história foi ganhando
força. De boca em boca, o fato extraordinário ganhou até mesmo as páginas de jornais
da capital mineira, o que fez atrair fiéis e curiosos para o local durante
muito tempo.
Sempre mantendo muita discrição sobre o acontecido,
Eduardo Vasconcelos descreve com clareza a figura de Nossa Senhora: “Ela tinha
a pele morena clara, cabelos pretos compridos caídos sobre os ombros, mãos e
dedos compridos. Seu vestido era branco e brilhante e, sobre ele, havia um
manto azul. Ela não usava véu. Na mão direita, sobre o peito, carregava um
terço com contas que pareciam diamantes. Na mão esquerda, tinha uma flâmula
branca em formato de triângulo”. Sua última visão da santa foi aos 18 anos.
Naquele tempo, sem acreditar muito no burburinho que
acontecia na cidade, um farmacêutico de nome Ovídio Alves de Souza começou a
fazer visitas ao local da aparição por curiosidade. No dia 2 de agosto de 1955,
durante uma de suas visitas à gruta, surgiu em seu pensamento as palavras: “ó
Virgem Maria Santíssima, em honra e glória ao Divino Espírito Santo,
concedei-me uma graça. Fazei com que eu note a vossa presença, não só para
aumentar a minha fé, mas também para a conversão dos que não creem”.
Poucos segundos depois de repetir algumas vezes a
prece, para memorizá-la, ele vê a Virgem Maria ao lado do cupinzeiro. Achando
que poderia ser uma ilusão de ótica, o farmacêutico mudou de posição diversas
vezes, contudo continuou a ver-
estupefato- aquela figura feminina radiante como o sol.
Ele, que chegou
a considerar exagerada a reação das pessoas, acabou se tornando um dos mais
importantes videntes das aparições em Itaúna. Portou-se como os outros; com
delicada discrição – fato que marca muito toda essa história- e em contato
constante com o padre José Ferreira Netto, então o pároco da Paróquia de
Sant'Ana. Nos meses seguintes Ovídio seguiu visitando o local e tendo diversas
visões. A última visão de Nossa Senhora que teve foi em 15 de agosto de 1961.
Ovídio Alves de
Souza – o farmacêutico - registrou toda a experiência em um diário. Em 27 de
novembro de 1955, ele descreveu mais uma aparição, detalhando pela primeira vez
a mensagem escrita na flâmula que Nossa Senhora trazia: “JESUS CHRISTO, ETERNO
DEUS. O PAGANISMO AMEAÇA O MUNDO. ERGUEI O ALTAR, ORAI COM FÉ E VÓS VEREIS O
MILAGRE DA CONVERSÃO”.
A atuação do farmacêutico nessa história não ficou
restrita apenas a ter as visões, registrá-las e manter-se, até o fim da vida,
frequentador assíduo do local. Ele ajudou a população e a Igreja a levantar o
dinheiro para a aquisição do lote e construção e preservação da gruta.
As obras da Gruta de Nossa Senhora de Itaúna começaram
em 1956, sendo concluídas no ano seguinte. Em 1958, foi entronizada no altar
construído no mesmo local do cupinzeiro a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, e
missas começaram a ser celebradas.
“Quando das
aparições, nosso padre era muito pragmático. Ele seguiu tudo de perto, mas
pediu cautela e que não se explorasse comercialmente o acontecido”, recorda a
Escritora Maria Lúcia Mendes, que publicou recentemente uma obra sobre o
assunto. Todos os párocos que sucederam o venerando Cônego José Ferreira Netto,
seguiram o seu exemplo pastoral. Um deles, hoje bispo auxiliar de Curitiba, Dom
Francisco Cota, explicou o seu raciocínio: “Ainda é uma aclamação popular e
respeitamos a fé do povo. ”
Já no ano de 2001, Dom José Belvino do Nascimento – de
feliz e saudosa memória- então bispo de Divinópolis, deu autorização para a
reprodução da imagem de Nossa Senhora de Itaúna – conforme descrita pelos
videntes- mas a aparição e a imagem ainda não foram reconhecidas pela Santa Sé,
mesmo preenchendo os requisitos necessários e se desenvolvendo de maneira muito
espontânea”, explicou nosso então bispo diocesano.
Nossa Senhora pediu em sua mensagem: ‘erguei o altar’; e construíram a gruta.
Recomendou: ‘orai com fé’ e anos depois de tanta devoção, surgiu o grupo
“Filhos de Maria”. E concluiu Maria Santíssima: “e vós vereis o milagre da
conversão’. Penso que o terço dos homens é o cumprimento dessa profecia. Toda
quarta-feira, às 20h, a Gruta de Nossa Senhora de Itaúna recebe o primeiro e um
dos maiores grupos do terço dos homens do país.
A Gruta de Nossa Senhora de Itaúna – um oásis de Fé e
de Esperança- no coração da cidade, continua aberta, a atrair as pessoas para o
aconchego do colo da Mãe, entre o frescor das árvores, como um novo Éden, aonde
Deus passeia no meio dos homens.
SALVE MARIA!