Creio
que pouca gente em Itaúna se lembra que o Esporte Clube de Itaúna foi
vice-campeão da segunda divisão do certame mineiro.
Naquele
tempo, não se falava em series A,B,C, etc.. Tempo de aspirantes, amadores e
profissionais. O Esporte era profissional. Jogou as semifinais contra o
Paraense de Pará de Minas. Disputa dura e muita briga. As duas cidades tinham
uma velha rixa. Assisti a segunda partida. Na beira do alambrado. O Esporte
ganhou e os "Patafufos" saíram corridos.
A
final foi jogada contra o Nacional de Uberaba, time que talvez ainda exista. O
Esporte, não sei. A primeira partida foi em Itaúna. Jogo empatado. O segundo
embate foi na Terra do Zebu. Viagem longa a ser feita por avião.
Na
véspera os atletas do Esporte foram de ônibus para Belo Horizonte. No dia
seguinte, um sábado, embarque para Uberaba. Dizem os fofoqueiros que teve
"cartola" que levou guarda-pó. Intriga dos paraenses. Que eu saiba,
no céu nunca teve poeira.
Embarcaram
na Pampulha num DC3 da Real Aerovias. Primeira viagem de avião na vida. Muito
emoção e tremedeira. Correu tudo muito bem. Acrescente-se que o DC3 foi um
avião que marcou época. Dos mais seguros já construídos.
Em
Uberaba, a brava equipe itaunense hospedou-se no Grande Hotel, na avenida
principal. O melhor da cidade. Existe ainda nos dias atuais. O jogo seria no
domingo, às dez da manhã. Para não coincidir com os jogos da primeira divisão. Na
hora do jantar, desceram todos para o refeitório. Todo mundo "
varado" de fome. Afinal, não tinham almoçado e o lanche do avião mal dera
para tampar os buracos dos dentes.
Naquele
tempo, no jantar, era costume servir uma sopa de entrada. João Aprigio, grande
e forte, " beque de espera" ao ver a sopa reclamou com os colegas:
"sem
almoço e tendo jogo amanhã de manhã e só uma sopinha. É muito pouco!!!"
Dito
isso, apanhou uma farinheira e despejou farinha a vontade no prato. Fez um
baita grude e comeu tudo. Depois da sopa, aparece de novo o copeiro a retirar
os pratos e colocar outros, bem limpos e talheres. O Aprigio então se dirigiu
aos colegas: " vamos desocupar a mesa, pois parece que tem mais gente para
jantar".
Foi
aí que veio a grande surpresa. Um dos "cartolas" informou para o
atleta que o que seria servido era para o time. A sopa era só a entrada. Aprigio
não pestanejou. Procurou o banheiro mais próximo, enfiou o dedo na goela e
botou toda sopa com farinha pra fora. Lavou a boca e voltou pra mesa. Comeu de
tudo e ainda repetiu.
Uma nota:
se não me trai a memória, o Esporte perdeu a partida. O segundo jogo foi em
Itaúna. Os de casa ganharam. O desempate foi em Belo Horizonte, no campo do
Cruzeiro, no Barro Preto. No dia primeiro de abril de 1964. O País
convulsionado pelo Movimento de 31 de março. O Esporte Clube de Itaúna perdeu o
jogo e o campeonato.
*Urtigão
(desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em
Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo enviado especialmente para o blog Itaúna
Décadas em 08/07/2017.
Acervo: Prof. Marco Elísio