domingo, março 22, 2015
sábado, março 21, 2015
Década 20
A imagem resgata
um dos momentos mais emblemáticos da antiga Vila de Itaúna, já consolidada como
município, na década de 1920. O cenário é dominado pela imponência do Morro
do Bonfim (1), marco natural e espiritual da paisagem itaunense, que se
ergue como guardião silencioso da história e da fé local. À sua sombra, pulsa o
centro urbano em formação, onde as primeiras ruas e edificações públicas
revelam o vigor de uma cidade que crescia sem perder o elo com suas raízes
religiosas e comunitárias.
À esquerda,
destaca-se o antigo Cemitério (2), delimitado por muros baixos e árvores
esparsas, símbolo da transição entre o sagrado e o cotidiano. Logo acima,
ergue-se a Cadeia Pública (3) — construção de linhas sóbrias,
representando a autoridade e o controle municipal, tão característicos das
vilas mineiras do período pós-império. Ao lado, o Fórum (4) completa o
conjunto institucional, compondo, junto à Igreja Matriz (6), o núcleo
político, jurídico e religioso da urbe.
A Rua Silva
Jardim (5), que passa ao lado da Matriz, surge como um dos primeiros eixos
urbanos do município, ligando a vida cotidiana aos espaços de poder e devoção.
É nessa via que se consolidava o comércio e a sociabilidade da população, entre
casarões de alvenaria e sobrados de traçado colonial.
O olhar se detém
na Igreja Matriz de Sant’Ana (6) — epicentro espiritual e urbano de
Itaúna. Com sua arquitetura imponente e paredes espessas, a Matriz simbolizava
a centralidade da fé católica e o poder da Irmandade que, desde o século XIX,
articulava tanto a vida religiosa quanto as decisões comunitárias. Atrás dela,
ergue-se o Grupo Escolar (7), símbolo da modernidade republicana e do
avanço da instrução pública, projetando no alto da colina a nova face de uma
Itaúna que se abria à educação e ao progresso.
Mais ao fundo, o Casarão
do Dr. Augusto Gonçalves (8) surge como testemunho do prestígio das elites
locais, que entre a medicina, a política e o comércio, formavam a base do poder
social e econômico da cidade. A Rua Antônio de Matos (9), repleta de
pequenas residências, costura a malha urbana, conectando o centro à zona
periférica e revelando o traçado irregular típico das vilas mineiras de
topografia acidentada.
Em primeiro
plano, destaca-se uma das curiosidades da época: o Circo Arethusa (10) —
estrutura circular de lona clara, instalada para apresentações que encantavam o
público itaunense. O circo, com suas músicas, risos e acrobacias, simbolizava o
lazer e o encontro comunitário, rompendo a rotina de uma cidade que vivia entre
o sagrado e o trabalho.
Por fim, a Rua
Melo Viana (11) completa o registro visual, margeada por casas simples e
árvores frondosas, sugerindo o cotidiano tranquilo da população que começava a
se acostumar ao ritmo urbano do novo século. Cada telhado, cada rua e cada
sombra captada nessa fotografia compõem um mosaico de memórias e permanências
que ainda hoje ecoam na Itaúna contemporânea.
quarta-feira, março 18, 2015
QUEIMA DO JUDAS
A tradicional
"Queima do Judas" é um costume que ainda resiste em diversas
comunidades Católicas e Ortodoxas ao redor do mundo. Introduzida na América
Latina pelos espanhóis e portugueses, essa prática tornou-se uma expressão
cultural única e marcante.
O Judas, um
boneco de proporções humanas e tamanho avantajado, era confeccionado com tecido
e recheado com materiais inflamáveis, como palha, algodão, capim seco, bombril,
traques e busca-pés. Esse boneco simbolizava a traição de Judas Iscariotes a
Jesus Cristo, e sua queima era uma forma de expiação simbólica dessa traição.
Em Itaúna, a
"Queima do Judas" era um evento aguardado com grande expectativa. O
boneco era transportado para a praça principal da cidade em um caminhão,
seguido por uma animada procissão de crianças e jovens que celebravam com
entusiasmo. O Judas era então colocado em um local estratégico, onde à noite, a
comunidade se reunia para participar das festividades.
As noites de
“Sábado de Aleluia” eram especialmente vibrantes. Homens e mulheres vestiam-se
elegantemente, passeavam pela praça e proseavam, enquanto aguardavam o momento
culminante da queima. A celebração era enriquecida com uma atmosfera de
socialização e alegria, onde os laços comunitários se fortaleciam.
O ponto alto da
noite chegava com a leitura do "Testamento do Judas". Esse testamento
era uma peça satírica, carregada de humor e críticas sociais, que arrancava
risadas e reflexões dos presentes. Cada linha do testamento era uma
oportunidade de revisitar os acontecimentos do ano, sempre com um olhar crítico
e bem-humorado.
A queima do
Judas, então, era iniciada. O boneco, repleto de materiais inflamáveis, ardia
em chamas, acompanhado de fogos de artifício e explosões que iluminavam a
noite. O espetáculo de luz e som marcava o encerramento das festividades,
deixando na memória de todos os presentes a vivacidade e a importância daquela
tradição.
Infelizmente,
após longos anos de celebrações grandiosas, a "Queima do Judas" em
Itaúna caiu no ostracismo. Mudanças culturais e sociais, além de novas formas
de entretenimento, fizeram com que essa tradição perdesse parte de seu vigor.
No entanto, a memória das noites de “Sábado de Aleluia” permanece viva nos
corações dos itaunenses, como um símbolo de uma era em que a comunidade se unia
em torno de um boneco para celebrar a vida, a crítica e a renovação.
https://orcid.org/0009-0002-8056-8407



