sábado, março 30, 2024

PROFESSORA JESUÍNA

   1866 - 1960

   Nascida em 1866, Jesuína Americana Brasileira e Silva era filha de Jerônimo José Garcia Americano e Jacinta Cândida de Jesus Garcia. Em 23 de fevereiro de 1884, casou-se com Francisco de Paula Machado em Santana do Rio de São João Acima, hoje Itaúna, Minas Gerais. Ao longo da união foram abençoados com a chegada de 10 filhos: Pergentina (1884), Perilla (1886), Perminio (1888), Percília (1890), Petrina (1892), Pervínia (1894), Perina (1897), Peraclyto (1899), Perkyns (1902) e Perosi (1904).

    É provável que Jesuína Americana Brasileira e Silva, conceituada educadora, tenha iniciado sua trajetória docente antes de 1885. Nesse mesmo ano, foi designada professora interina da "cadeira feminina" do distrito de Itatiaiuçu, conseguindo eventualmente a posição permanente. Em 1888, passou triunfalmente em concurso, conquistando o estimado papel de “professora efetiva” em São João del-Rey. Em 1892, solicitou formalmente a transferência para Campos, zona rural de Santana do Rio São João Acima. Posteriormente, em 1893, o presidente da Câmara Municipal do Bonfim concedeu aprovação à nomeação de Custódia Dornas Lacerda como substituta e dirigente da cadeira masculina de Instrução Primária de Itatiaiuçu, durante o período sabático concedido a Jesuína, professora titular.

    Em 1898, o governo do estado registrou oficialmente um decreto prevendo um aumento salarial adicional de 5% para Jesuína, professora da Fábrica da Cachoeira, também conhecida como Companhia de Tecidos Santanense, pertencente ao distrito de Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna/MG. No ano seguinte, 1899, foi nomeada instrutora do distrito de Mateus Leme, então sob jurisdição do município de Pará de Minas.

    De 1909 a 1910, Jesuína atuou como professora de “instrução primária da cadeira mista” localizada no distrito de Itatiaiuçu, que pertencia ao município de Itaúna/MG. De 1911 a 1926, continuou a carreira docente em “escolas isoladas” do distrito de São Sebastião do Gil, vinculado ao município de Desterro de Entre Rios, Minas Gerais. Jesuína faleceu em 1960 na capital mineira e foi sepultada na quadra 43, jazigo 183 do cemitério do Bonfim. A educadora Jesuína Americana Brasileira e Silva deixou um legado substancial na educação de seus descendentes e alunos.

O IMPACTO E CONTRIBUIÇÕES DE JESUÍNA PARA EDUCAÇÃO

   O impacto e a importância das contribuições de Jesuína Americana Brasileira e Silva para a educação em Minas Gerais justificam um exame minucioso para compreender plenamente a extensão de sua influência e a importância que ela ocupa na história educacional da região. Numa época em que o acesso à educação formal era escasso para as mulheres e muito menos a oportunidade de se tornarem educadoras, Jesuína iniciou a sua carreira.

   Sua tenacidade e capacidade de superar barreiras sociais e de gênero são evidentes em seu papel como professora interina e mais tarde como professora permanente. A jornada docente de Jesuína a levou a vários locais e ambientes educacionais, desde áreas rurais como até áreas industriais. Esta diversidade de experiências demonstra a sua adaptabilidade e compromisso inabalável em fornecer educação a diversas populações, independentemente das circunstâncias locais.

   A competência e dedicação de Jesuína ao trabalho foram oficialmente reconhecidas pelo governo do estado, por meio de aumento salarial. Este ato não só demonstra o cumprimento dos seus deveres, mas também destaca o seu desempenho excepcional numa época em que os recursos e o apreço pelos educadores eram escassos. A extraordinária perseverança de Jesuína é evidente na sua extensa carreira de mais de quatro décadas, à medida que continuou a dedicar-se ao ensino enquanto se adaptava a uma variedade de instituições e circunstâncias. Este compromisso sublinha o seu compromisso com a educação.

   Numa profissão predominantemente dominada por homens durante o século XIX e início do século XX, Jesuína emergiu como uma mulher notável e que se destacou. Suas realizações servem de fonte de inspiração para mulheres e abriram caminho para futuras gerações de educadores. Através da sua dedicação à educação de crianças em diversas áreas, Jesuína desempenhou um papel vital nas mudanças sociais da sua época. O conhecimento que ela transmitiu não apenas transformou indivíduos em cidadãos mais informados e capacitados, mas também contribuiu para o avanço das comunidades que ela servia.

   Ao longo de sua carreira, Jesuína encontrou diversos obstáculos, incluindo recursos limitados e necessidade de mudança. No entanto, a sua determinação face a estes desafios é uma parte fundamental do seu legado duradouro, demonstrando que uma forte devoção à educação pode triunfar sobre a adversidade. O comprometimento profissional e a busca pela excelência de Jesuína servem de exemplo notável para os demais. O profundo impacto do seu trabalho é evidente no respeito e reconhecimento que conquistou durante a sua vida e depois dela.

   Jesuína Americana Brasileira e Silva ocupa inegavelmente um lugar significativo na história educacional de Minas Gerais. Seu impacto vai muito além do mero número de alunos que ela instruiu; reside na inspiração que ela inspira tanto nos educadores como nos alunos, enfatizando o valor da dedicação à educação, da determinação face aos desafios e da profunda capacidade do ensino para provocar a transformação. A sua notável jornada e trajetória profissional servem como um testemunho convincente da profunda influência que um educador dedicado pode ter na sociedade, catalisando o progresso e promovendo o crescimento através do poder da educação.



Referências:

Pesquisa, texto e arte: Charles Aquino

Acervo MyHeritage: Família Barbosa & Hemétrio, Machado de Oliveira Web Site

SINEC - sistema de Necrópoles do município de Belo Horizonte

Fontes impressas Hemeroteca Digital Brasileira:

LIBERAL MINEIRO, Ouro Preto, 11 de julho de 1885, nº 81, p.2.

LIBERAL MINEIRO, Ouro Preto, 14 de julho de 1885, nº 82, p.1.

LIBERAL MINEIRO, Ouro Preto, 6 de agosto de 1885, nº 93, p. 2.

O BAEPENDYANO, Caxambu, 18 de abril de 1886, nº 415, p. 2.

A PROVÍNCIA DE MINAS, Ouro Preto, 15 de abril de 1886, nº 319, p.1.

MINAS GERAIS, Ouro Preto, 10 de setembro de 1892, nº137, p. 9

MINAS GERAIS, Ouro Preto, 27 de outubro de 1893, nº 291, p.1.

MINAS GERAIS, Ouro Preto, 21 junho de 1898, nº 125, p.3.

O PHAROL, Juiz de Fora, 28 de julho de 1899, nº 28, p.2.

ALMANAK LAEMMERT, 1909, p. 54.

ALMANAK LAEMMERT, 1910, p.77.

ALMANAK LAEMMERT, 1911-1912, p.3093.

ALMANAK LAEMMERT, 1917, p.2897.

ALMANAK LAEMMERT, 1918, p. 2895.

ALMANAK LAEMMERT, 1919-1920, 2896.

ALMANAK LAEMMERT, 1921-1922, p.4199.

ALMANAK LAEMMERT, 1922-1923, p. 4199.

ALMANAK LAEMMERT, 1925, p. 244.

ALMANAK LAEMMERT, 1926, p. 281.

 

domingo, março 24, 2024

COMÉRCIO TRANSATLÂNTICO

Censo em 1831 Sant'Ana do Rio São João Acima (Itaúna/MG)


Dia 25 de março — "Dia Internacional em Memória das Vítimas da Escravidão e do Comércio Transatlântico de Escravos" é reconhecido pelas Nações Unidas. Esta data significativa serve como um lembrete dos esforços globais em curso para erradicar as injustiças enraizadas no comércio de escravos. Enfatiza também o papel crucial da educação no reconhecimento do profundo impacto deste acontecimento histórico na nossa sociedade moderna e na abordagem das suas consequências duradouras. Ao longo da história, mais de 15 milhões de indivíduos, incluindo homens, mulheres e crianças, foram transportados à força através do Atlântico.
    Numa mensagem de vídeo, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, enfatizou a importância de honrar a memória dos milhões de indivíduos afrodescendentes que suportaram as atrocidades da escravatura e do comércio transatlântico de escravos. Salientou ainda que este comércio estabeleceu e perpetuou um sistema mundial de exploração que persistiu durante mais de quatro séculos, devastando profundamente famílias, comunidades e economias.
    Ao refletir sobre a resiliência daqueles que sofreram sob a crueldade dos traficantes e proprietários de escravos, Guterres reconhece as contribuições significativas feitas pelos indivíduos escravizados para a cultura, o conhecimento e as economias dos países para os quais foram transportados à força. Embora o comércio transatlântico de escravos tenha terminado há mais de dois séculos, o chefe da ONU reconhece que as ideologias prejudiciais da supremacia branca que o alimentaram ainda persistem hoje.
    Guterres sublinha a necessidade urgente de desmantelar as consequências duradouras da escravatura e do comércio transatlântico de escravos, combatendo ativamente o racismo, a injustiça e as desigualdades, e promovendo comunidades e economias inclusivas que proporcionem oportunidades iguais para todos viverem em paz e dignidade.

Secretário-geral da ONU, António Guterres


"Os compartimentos de um navio negreiro. Gravura publicada em 1830 no livro Notices of Brazil in 1828 and 1829, de R. Washl. Domínio público, Arquivo Nacional – Ministério da Justiça".


Saiba mais em: PEDRA NEGRA


Referências:
Organização, texto e arte: Charles Aquino

ONU News: https://news.un.org/pt/story/2021/03/1745582

UFMG Cedeplar - Poplin-Minas

Imagens ilustrativa: Johann Moritz Rugendas

Imagem Ilustrativa: MultiRio – História do Brasil, O tráfico negreiro. 

sexta-feira, março 22, 2024

DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Todos os anos, no dia 21 de março, é (re)lembrado o Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. A Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu esta data em memória das manifestações contra a Lei do Passe na África do Sul. Foi neste dia de 1960 que eclodiram os protestos contra a lei que impunha restrições à circulação da população negra. Infelizmente, estes protestos foram recebidos com força brutal por parte do exército sul-africano, resultando no trágico “massacre de Sharpeville”, onde 69 pessoas perderam a vida e outras 186 ficaram feridas. Reconhecendo a importância deste evento, a ONU declarou oficialmente o dia 21 de março como um dia para aumentar a conscientização sobre a discriminação racial em 1966.

Após o ano de 2023, o dia 21 de março também passa a ser (re)lembrado como o Dia Nacional das Tradições de Raízes Africanas e das Nações do Candomblé. A Lei 14.519/23 foi sancionada em 2023 pelo presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva.


SAIBA MAIS: 


Referências:




Imagem Ilustrativa: Pinterest

Organização e Pesquisa: Charles Aquino

segunda-feira, março 11, 2024

sábado, março 09, 2024

AFRO-ITAUNENSES


Como cidadão itaunense e descendente de herança afro-brasileira, senti-me obrigado a sair da zona de estudos e expressar publicamente minha preocupação e indignação. Acredito que a frase acima não confrontou apenas a narrativa histórica do  município de Itaúna, mas também a ancestralidade de seus habitantes, que inclui a escravização de minha trisavó paterna, o nascimento da minha bisavó após a promulgação da Lei do Ventre Livre, e o eventual nascimento de meu avô, que só conseguiu o direito ao registro oficial de nascimento aos 25 anos em 1937, que posteriormente fixaram residência em Itaúna, local de descanso final de uma jornada marcante, deixando um valioso legado para seus descendentes — o direito à educação. 
   
Ao realizar pesquisas rotineiras para elaboração de meus trabalhos, me deparei com um texto complexo em todos os sentidos que está disponível no site da Prefeitura de Itaúna/MG. Assim, a narrativa histórica se apresentou confusa dificultando uma compreensão mais precisa. Após uma segunda leitura minuciosa, finalmente comecei a entender que o texto se tratava da “permuta de padroeiras” no município do século XIX. Mesmo tentando compreender a informação de que as “igrejas foram trocadas” naquela época, imagino que seria difícil transposição de duas construções, no entanto, dadas as informações de livros de história do município que registram esse acontecimento, percebi que seria uma troca de oragos, e não das edificações. 

Portanto, seria aceitável considerar isso como um mero “deslize histórico”, podendo até ser enviada uma mensagem à Secretaria de Cultura e Turismo de Itaúna, pedindo a retificação do texto, cujo material apresentado, nem sequer tiveram a preocupação de fornecer as referências adequadas e necessárias. À medida em que realizava a leitura mais atenta do texto, descobri que as informações, em parte, eram meramente baseadas em “achismos”, ou seja, um texto totalmente abstrato e desconecto da história do município. Porém, o mais alarmante ainda estava por vir, pois neste texto trazia uma declaração de que os negros naquela época “roubavam” dentro da igreja do arraial de Santana do Rio São João Acima, hoje Itaúna. Eis aqui, parte do trecho retirado do texto que está disponível no site da prefeitura de Itaúna:

“As igrejas foram trocadas. O problema é que os padres queriam manter as padroeiras. Sant'ana, dos portugueses, agora era dos negros. Senhora do Rosário, dos negros, virou padroeira dos brancos. Os negros não aceitaram. Toda noite, entravam na Matriz e roubavam a Imagem de Nossa Senhora do Rosário e levavam para a nova Capela, no alto do Morro. Sendo lenda ou não, fato é que essa história inspirou a festa mais tradicional da cidade: o Reinado.”

Como mencionado no texto acima, sendo lenda ou não, se registrou que os pretos que faziam parte da comunidade de Itaúna eram ladrões. Neste momento ficou evidente que os (in)responsáveis desta informação, estavam totalmente equivocados. Este incidente representa, no meu ponto de vista, uma violação e rompimento significativo do limite histórico, cultural e ético em toda a história do município, minando as extensas pesquisas e documentações registradas por historiadores e pesquisadores ao longo dos anos. Vale ressaltar que no censo inicial realizado em 1831, aproximadamente 70% da população do arraial de Santana (hoje Itaúna) era de herança afrodescendente. 

Até o momento presente, não encontrei nenhum registro ou declaração de qualquer historiador ou publicação que indique ou declare que os pretos naquela época, tenham praticado roubos à paróquia de Santana de Itaúna. Ao analisar cuidadosamente essa “barbárie histórica”, expresso a minha mais profunda frustação e a minha preocupação com a gestão e divulgação da história do nosso município.  É provável que muitos indivíduos que pesquisaram a história de Itaúna, neste período em que continua disponível essa matéria no site da Prefeitura, tenham encontrado essas informações, que supostamente seriam de “utilidade pública”, principalmente para a comunidade itaunense. No entanto, este não é o caso. 

É imprescindível que essas informações sejam prontamente corrigidas. Proponho que os textos sejam referenciados de forma completa e correta. Além disso, recomendo expressar um sincero pedido de perdão por esta violação histórica da memória dos ancestrais e descendentes afro-brasileiros da comunidade itaunense, que são bens culturais inestimáveis, tangíveis e intangíveis, transmitidos através de gerações. Neste sentido, invoco as palavras do artista Belchior e peço permissão para incorporar duas palavras em sua canção “Roupa Velha Colorida”: No presente a mente, o corpo é diferente, e o passado de “insultos e acusações” é uma roupa que não nos serve mais... precisamos rejuvenescer!” Só assim, acredito que terei tranquilidade para retornar meus estudos e pesquisas, mas mantendo-me vigilante.  
Charles Aquino, em 6 de março 2024






Reinado em Itaúna


Nota: Ao apurar a postagem no site da Prefeitura hoje (11/03/2024), houve uma reformulação no texto, mas até o momento não foi registrada nenhuma nota referente à postagem antiga. Disponível em: Conjunto Arquitetônico do Morro do Rosário



Organização e pesquisa: Charles Aquino
Imagem meramente ilustrativa: Pinterest


sábado, março 02, 2024

EDUCADORA ITAUNENSE DE PRESTÍGIO

ELSA NOGUEIRA GOMIDE


Itaúna é feliz pela qualidade de seus filhos. Entre estes avultam muitas mulheres notáveis. Elsa Nogueira Gomide, filha de Péricles Gomide e de Eponina Gomide — família de artistas. Gente de teatro, da imprensa e da literatura. Irmã do saudoso Piu da “Folha do Oeste” e, também, do sempre lembrado e sempre atual Pancrácio Fidelis, cronista imortal pela verve humorística. Soube relatar com espírito crítico, mas ameno nosso passado, com seus aspectos humanos e pitorescos.

Elsa, normalista, educadora e corajosa, superando na sua época preconceitos, sempre vitoriosa nos desafios que enfrentou. No Grupo Escolar Dr. Augusto Gonçalves, com a professora Dona Didina do Capitão Oscar, nunca ganhou menos do que a nota máxima. Terminou o primário com distinção e medalha de ouro. Continuou com o mesmo sucesso na Escola Normal sob competente direção do saudoso professor Anselmo Barreto.

Estagiária na arte de ensinar, depois professora primária, nomeada com salários de ontem e de hoje, sempre pouco condizentes com a importância do magistério, partiu para outras atividades. Aprendeu o alfabeto Morse com o telegrafista Ernesto e conviveu, no mesmo prédio com seu pai, o Lique, dublê de dentista e ator teatral, também agente do correio. Foi normalista, através de concurso público, em 1940, telegrafista para servir em Belo Horizonte. Jovem, solteira, enfrentou a capital, aos 22 anos, numa época em que as moças viviam agarradas às barras das saias de suas severas e exigentes mães.

Fez brilhante carreira como funcionária pública, jamais apadrinhada por prestígio político de quem quer que seja. Nos concursos públicos estava sempre nos primeiros lugares, assegurando-lhe nomeação por sua capacidade e competência. Assim foi para o Rio de Janeiro como escriturária, em pleno regime ditatorial, para servir na Diretoria do Pessoal no Ministério da Educação e Saúde. Na capital federal, não perdeu tempo. Nas horas vagas cursava línguas, fez estágio na Biblioteca Nacional.

Voltou para Belo Horizonte a serviço do Setor Pessoal dos Correios. Viveu muitos anos na capital mineira. Redemocratizado o país, no governo Dutra, enfrentou novo concurso do DASP em 1948, tornando-se Oficial de Administração. Retornou ao Ministério de Educação, sua casa de trabalho, ocupando vários cargos de confiança. Chefe de Seção, também responsável pela fiscalização da vida escolar dos estabelecimentos federais de todo país.

O Ministro Tarso Dutra precisou de alguém de alto nível e de sua confiança pessoal, fora dos quadros políticos, para exercer a função de Diretora do Departamento de Assuntos Universitários, em momento difícil, em que pesavam acusações sobre a pouca transparência naquele importante setor de ensino superior federal. Afastou os políticos e lá colocou uma técnica de seu ministério. A escolhida foi nossa ilustre e distinta conterrânea Elsa Gomide, que lá deveria ficar uns dois meses, até que crise fosse superada. Durante quase um ano e meio o cargo ficou em suas mãos competentes e limpas. Neste período tornou-se a madrinha da Universidade de Itaúna. Ela abriu as portas do Ministério para a nascente universidade — considerada até então como clandestina pelo Egrégio Conselho Federal de Educação — criada pelo Conselho Estadual, à revelia do Conselho Federal.

Deixando o cargo de Diretora do DAU, Elsa continuou como assessora de seu substituto, o ilustre Professor Edson Machado de Sousa, de quem me tornei amigo, por influência dela, à época em que fiz parte da Diretoria da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Minas Gerais. Naqueles tempos duros e difíceis em que a Universidade vivia sua pobreza franciscana, Elsa, em 1969, concedeu-nos a primeira verba federal, Cr$ 101.000,00(cento e um mil cruzeiros) — valor da época. Desde então, a Universidade, ao longo de dez anos, foi aquinhoada com as verbas federais. Nos anos de 1970 e 1971 recebemos, respectivamente, Cr$ 154.745,70 e Cr$ 323.155,00, graças a sua intervenção e prestígio.

Elsa aposentou-se em 1970, mas tamanha sua capacidade técnica e administrativa, continuou servindo, reconvocada pelos ministros que se sucederam. Tornou-se secretária particular da Ministra Ester de Figueiredo Ferraz. Com o término do mandato da ministra, Elsa foi requisitada para servir como assessora do Conselho Federal de Educação. Graças à sua influência, sempre olhando com carinho e boa vontade aos nossos apelos, essa generosa e notável servidora pública, com honestidade e incomum senso patriótico, tudo fez para que recebêssemos os seguintes valores do Governo Federal — 1973 (600 mil cruzeiros), 1974 (600 mil cruzeiros), 1975 (700 mil cruzeiros), 1976 (400 mil cruzeiros), 1977 (500 mil cruzeiros) e 1978 (700 mil cruzeiros).

Elsa aposentou-se em 1988. Foi a itaunense que mais ajudou a Universidade de Itaúna em momentos difíceis. Criada pelo Governador Magalhães Pinto, através de seu representante para os atos consultivos, Dr. Miguel Augusto Gonçalves de Souza, a Fundação recebeu do Estado um papel, apólice da dívida pública, sem correção monetária, que poucos anos depois nada valia. Seu patrimônio ficou reduzido a zero. Graças aos nossos esforços perante o poder público municipal e ajuda dos Governadores Aureliano Chaves e Francelino Pereira na área estadual, conseguimos recriar seu patrimônio — porque fundação não existe sem patrimônio. Recursos financeiros nós só tínhamos os provenientes das anuidades dos alunos e das verbas conseguidas pela cidadã itaunense Elsa Nogueira Gomide. A ajuda financeira que recebíamos de empresas e da Prefeitura transformávamos em bolsas de estudo para operários e alunos carentes.

É enorme a dívida de gratidão dos itaunenses gratos e reconhecidos para com esta notável cidadã, humilde e simples, que nasceu para servir sem jamais desejar ser servida.     

 

Referências:

Texto: Guaracy de Castro Nogueira (In Memoriam)*

Fonte e imagem: Jornal Folha do Povo, Ed. nº266 de 21 de setembro 2002, p.2.

Organização, pesquisa e adaptação do texto para o blog: Charles Aquino