quinta-feira, agosto 04, 2022

FAZENDA DA CACHOEIRA (SANTANENSE)

 
A narrativa escrita por Iracema Fernandes apresenta a formação do bairro da Cachoeira, em Sant’Ana, onde foi instalada a primeira fábrica de tecidos, conhecida como Tecidos Santanense. O texto destaca a transformação urbana e social decorrente da construção da fábrica, bem como os desafios enfrentados pela comunidade local.

Inicialmente, descreve-se a construção de várias casas ao redor da fábrica e a existência de um convento que abrigava vinte e uma moças, além de sua rígida rotina. Antônio Mourão leva sua sobrinha Jesuína para trabalhar na fábrica, garantindo a proteção dela com o gerente, Moreira. Jesuína se adapta bem ao ambiente e faz amizades rapidamente.

Entretanto, a tranquilidade é perturbada por eventos noturnos assustadores que deixam as moças em pânico. Jesuína acredita que os acontecimentos podem estar relacionados à sua promessa não cumprida de uma missa em memória de seu pai. Após realizarem a cerimônia religiosa, o mistério persiste até que o gerente, Moreira, descobre que um cão raivoso havia entrado no convento, sendo necessário matá-lo para restabelecer a paz.

A narrativa também aborda as precárias condições de vida dos primeiros operários, que moravam nas antigas senzalas adaptadas da fazenda do Coronel Manoel José Gonçalves do Souza Moreira. As casas, mal divididas e insalubres, eram propensas à disseminação de doenças como tuberculose. Gradualmente, essas antigas estruturas foram substituídas por novas construções, melhorando as condições de vida e saúde dos moradores.

O texto oferece uma visão detalhada do processo de urbanização e industrialização em uma pequena comunidade, destacando tanto os avanços quanto os desafios enfrentados. A construção da fábrica de tecidos é apresentada como um marco de progresso, trazendo desenvolvimento econômico e social. No entanto, o texto também não omite as dificuldades, como as condições insalubres das habitações dos operários e os problemas de saúde decorrentes. 

A narrativa sobre o convento e os eventos sobrenaturais adiciona uma dimensão humana e emocional à história, mostrando como crenças e tradições influenciam o comportamento das personagens. A resolução do mistério com o cão raivoso ilustra a intersecção entre o misticismo e a realidade cotidiana. Além disso, a transformação gradual das antigas senzalas em habitações mais dignas reflete um processo de modernização e melhoria das condições de vida, evidenciando o impacto positivo da industrialização, apesar de seus percalços iniciais. O texto pode ser visto como uma celebração do progresso e da capacidade de superação da comunidade local, enfatizando a importância da perseverança e da adaptação diante das mudanças e desafios. No entanto, também sugere uma crítica implícita às condições iniciais dos trabalhadores e à lenta resposta às necessidades de higienização e saúde pública, temas que permanecem relevantes em discussões sobre industrialização e urbanização.

A conclusão do texto destaca a perseverança e o espírito de desafio necessários para superar as adversidades iniciais. A fábrica e a comunidade local prosperaram significativamente ao longo do tempo, transformando-se em um símbolo de progresso e desenvolvimento.



FAZENDA DA CACHOEIRA

SOUSA. Iracema Fernandes de

Cachoeira era o bairro no qual se construía a primeira fábrica de tecidos em Sant’Ana. Já haviam sido construídas várias casas, onde a Rua de Baixo tomava toda lateral da indústria. Do outro lado já havia o convento que abrigava vinte e uma moças e mais: Abadessa, conselheira e cozinheira. O regime era rígido, moço ali não entrava; só podiam fazer serestas com o máximo respeito. Era a ordem do gerente. O Antônio Mourão levou a sobrinha para pedir o emprego e, se o conseguisse, queria também recomendar-lhe a proteção daquela menina. Jesuína era ajuizada e sabia trabalhar como tecelã. Seu Moreira, o gerente, assumiu a responsabilidade conforme o pedido do amigo.

Chegando ao convento, logo se fez amiga das colegas e superiora. Passado um mês de trabalho, a casa começou a ficar mal assombrada! Era um barulho à noite, que ninguém conseguia dormir. As moças suavam de medo sem descobrir o que havia. As tábuas do assoalho davam a impressão: de se arrancarem todas.

Jesuína disse para as colegas: — “Eu prometi à alma de meu pai uma missa, logo no primeiro pagamento de meu novo emprego. O pagamento já se deu e eu, que precisava de tantas coisas, não me apressei a pagar a promessa. Quem sabe ele estará me lembrando do que eu não cumpri?” As colegas se reuniram e ajudaram a pagar a espórtula da missa e foram todas assistir à cerimônia religiosa. Dona Joaquina, a Abadessa, foi ter com seu Moreira, para relatar o que estava ocorrendo. O gerente mandou chamar dois rapazes de sua confiança, para descobrirem o mistério. Qual não foi a surpresa, ao encontrarem um cão raivoso que, tendo entrado assoalho a dentro não dera conta de sair.” Foi preciso matá-lo a tiros, para se retirar, sem ofender a ninguém. Assim, acabou: o pesadelo que tanto fez sofrer as moças daquele pensionato.

A fazenda da Cachoeira, onde foi construída a fábrica de Tecidos Santanense, era de propriedade de Coronel Manoel José Gonçalves do Souza Moreira, pai do então gerente, Manoel José Gonçalves de Souza Moreira. As casas da Rua de Baixo, onde abrigavam os primeiros operários, eram a senzala da fazenda, dividida para as famílias: apenas três ou quatro cômodos. Como a divisão era de uns três metros de altura, os percevejos, pulgas e por fim a tuberculose, achavam facilidades para comunicarem em todas as casas. Houve uma ocasião em que muita gente tinha medo até de passear, em visita aos amigos temendo assim o contágio.

 A casa do engenho onde se fabricavam rapaduras e cachaça para abastecer a vila, até bem pouco ainda existia na entrada do bairro. Com o correr do tempo a senzala fora demolida. Construía-se uma casa nova para uma família, destruía-se em seguida uma parte da antiga morada. E assim, gradativamente, uma por uma, até alcançar a completa higienização da indústria. No princípio tudo é assim mesmo, exigindo perseverança e espírito de desafio para vencer. Foi o que aconteceu. Venceu e prosperou vertiginosamente.




Iracema Fernandes de Souza



Referências:

Texto: Iracema Fernandes de Sousa. Itaúna através dos tempos. Editora Lemi S/A., BH, 1ªed, 1984, p.17,18.

Organização e resumo: Charles Aquino

Dica e apoio a leitura: Jaime Machado Júnior.

P.S.: A escrita de Iracema é tão rica em detalhes, e suas histórias são tão agradáveis, que o texto precisou ser registrado por completo.

CORREIO E TELÉGRAPHO EM ITAÚNA

   O historiador João Dornas Filho nos informa que em 17 de fevereiro de 1877, o correio de Sant Anna do Rio São João Acima foi estabelecido pelo governo local. O Sr. Aureliano Nogueira Machado foi nomeado para dirigir os correios nesse mesmo dia, sendo demitido em 8 de fevereiro de 1887. No entanto, foi reconduzido em 22 de março de 1890 e novamente demitido em 23 de janeiro de 1890.

Entre 3 de fevereiro de 1887 e 22 de março de 1887, o Sr. João Dornas dos Santos esteve à frente da agência. O correio vinha ao Bomfim duas vezes por semana a cavalo, e por muitos anos antes disso, Antônio Silvino Barbosa foi o carteiro. Em 15 de dezembro de 1897, o Sr. Joaquim Marra da Silva renunciou ao cargo de agente, após estar no cargo desde 28 de junho de 1890. Seu substituto foi o Sr. João de Araújo Santiago, que ocupou o cargo de 23 de janeiro de 1890 a 28 de junho de 1890.

Em 17 de maio de 1900, Benjamim Telesphoro de Paula Santos foi libertado e Donata Umbelina de Carvalho tornou-se agente no mesmo dia. Ela ocupou o cargo até 3 de agosto de 1900, quando Benjamim Rodrigues de Carvalho foi exonerado. Ele foi libertado a pedido em 14 de agosto de 1901.

O autor ressalta que em 23 de janeiro de 1902, o nome da Agência Josias Gonçalves de Souza foi alterado para Villa de Itaúna. O Sr. Josias Gonçalves de Souza foi nomeado agente em 14 de agosto de 1901 e liberado em 17 de março de 1910. Em 1º de fevereiro de 1932, Ernest Moreira dos Santos assumiu a função de telegrafista. Estava na empresa desde a sua criação, em 17 de março de 1910, como agente postal-telégrafo Péricles Rodrigues Gomide. A nomeação como agente data de 17 de março de 1910. Desde então, é tesoureiro da empresa. Em 25 de dezembro de 1930, d. Margarida Nogueira tornou-se a atual assistente. Ela substituiu Helena de Carvalho, que foi a primeira auxiliar em 1928. Antes disso, o Sr. Abel Augusto Desland ocupou o cargo de auxiliar, mas foi substituído em 1929 por d. Helena de Carvalho. A função de estafeta distribuição de correspondência também foi extinta em 18 de maio de 1928, cujo o senhor Abel Desland também auxiliava.

Em 1920 era criada a agência postal de Santanense. A filial do Telégrafo Nacional foi inaugurada em 28 de maio de 1922, tendo Ernesto Moreira dos Santos como seu primeiro telegrafista. Continua a trabalhar nos correios, tendo estado de férias e de licença. Edson Brandão ajudou a melhorar os equipamentos das estações enquanto era supervisor em exercício, substituindo Alberto Meira.

 CORREIO DE ITAÚNA: ESTAFETA


REFERÊNCIAS:

Resenha: Charles Aquino

FILHO, João Dornas. Itaúna: Contribuição para a História do Município, 1936, p.73,74.

Acervo: Shorpy (Fotografia meramente ilustrativa)