Inicialmente, descreve-se a
construção de várias casas ao redor da fábrica e a existência de um convento
que abrigava vinte e uma moças, além de sua rígida rotina. Antônio Mourão leva
sua sobrinha Jesuína para trabalhar na fábrica, garantindo a proteção dela com
o gerente, Moreira. Jesuína se adapta bem ao ambiente e faz amizades
rapidamente.
Entretanto, a tranquilidade é
perturbada por eventos noturnos assustadores que deixam as moças em pânico.
Jesuína acredita que os acontecimentos podem estar relacionados à sua promessa
não cumprida de uma missa em memória de seu pai. Após realizarem a cerimônia
religiosa, o mistério persiste até que o gerente, Moreira, descobre que um cão
raivoso havia entrado no convento, sendo necessário matá-lo para restabelecer a
paz.
A narrativa também aborda as
precárias condições de vida dos primeiros operários, que moravam nas antigas
senzalas adaptadas da fazenda do Coronel Manoel José Gonçalves do Souza
Moreira. As casas, mal divididas e insalubres, eram propensas à disseminação de
doenças como tuberculose. Gradualmente, essas antigas estruturas foram
substituídas por novas construções, melhorando as condições de vida e saúde dos
moradores.
O texto oferece uma visão detalhada do processo de urbanização e industrialização em uma pequena comunidade, destacando tanto os avanços quanto os desafios enfrentados. A construção da fábrica de tecidos é apresentada como um marco de progresso, trazendo desenvolvimento econômico e social. No entanto, o texto também não omite as dificuldades, como as condições insalubres das habitações dos operários e os problemas de saúde decorrentes.
A narrativa sobre o convento e os eventos sobrenaturais adiciona uma dimensão humana e emocional à história, mostrando como crenças e tradições influenciam o comportamento das personagens. A resolução do mistério com o cão raivoso ilustra a intersecção entre o misticismo e a realidade cotidiana. Além disso, a transformação gradual das antigas senzalas em habitações mais dignas reflete um processo de modernização e melhoria das condições de vida, evidenciando o impacto positivo da industrialização, apesar de seus percalços iniciais. O texto pode ser visto como uma celebração do progresso e da capacidade de superação da comunidade local, enfatizando a importância da perseverança e da adaptação diante das mudanças e desafios. No entanto, também sugere uma crítica implícita às condições iniciais dos trabalhadores e à lenta resposta às necessidades de higienização e saúde pública, temas que permanecem relevantes em discussões sobre industrialização e urbanização.
A conclusão do texto destaca a perseverança e o espírito de desafio necessários para superar as adversidades iniciais. A fábrica e a comunidade local prosperaram significativamente ao longo do tempo, transformando-se em um símbolo de progresso e desenvolvimento.
Cachoeira
era o bairro no qual se construía a primeira fábrica de tecidos em Sant’Ana. Já
haviam sido construídas várias casas, onde a Rua de Baixo tomava toda lateral
da indústria. Do outro lado já havia o convento que abrigava vinte e uma moças
e mais: Abadessa, conselheira e cozinheira. O regime era rígido, moço ali não
entrava; só podiam fazer serestas com o máximo respeito. Era a ordem do
gerente. O Antônio Mourão levou a sobrinha para pedir o emprego e, se o conseguisse,
queria também recomendar-lhe a proteção daquela menina. Jesuína era ajuizada e
sabia trabalhar como tecelã. Seu Moreira, o gerente, assumiu a responsabilidade
conforme o pedido do amigo.
Chegando
ao convento, logo se fez amiga das colegas e superiora. Passado um mês de
trabalho, a casa começou a ficar mal assombrada! Era um barulho à noite, que
ninguém conseguia dormir. As moças suavam de medo sem descobrir o que havia. As
tábuas do assoalho davam a impressão: de se arrancarem todas.
Jesuína
disse para as colegas: — “Eu prometi à alma de meu pai uma missa, logo no
primeiro pagamento de meu novo emprego. O pagamento já se deu e eu, que
precisava de tantas coisas, não me apressei a pagar a promessa. Quem sabe ele
estará me lembrando do que eu não cumpri?” As colegas se reuniram e ajudaram a
pagar a espórtula da missa e foram todas assistir à cerimônia religiosa. Dona
Joaquina, a Abadessa, foi ter com seu Moreira, para relatar o que estava
ocorrendo. O gerente mandou chamar dois rapazes de sua confiança, para descobrirem
o mistério. Qual não foi a surpresa, ao encontrarem um cão raivoso que, tendo
entrado assoalho a dentro não dera conta de sair.” Foi preciso matá-lo a tiros,
para se retirar, sem ofender a ninguém. Assim, acabou: o pesadelo que tanto fez
sofrer as moças daquele pensionato.
A fazenda da Cachoeira, onde foi construída a fábrica de Tecidos Santanense, era de propriedade de Coronel Manoel José Gonçalves do Souza Moreira, pai do então gerente, Manoel José Gonçalves de Souza Moreira. As casas da Rua de Baixo, onde abrigavam os primeiros operários, eram a senzala da fazenda, dividida para as famílias: apenas três ou quatro cômodos. Como a divisão era de uns três metros de altura, os percevejos, pulgas e por fim a tuberculose, achavam facilidades para comunicarem em todas as casas. Houve uma ocasião em que muita gente tinha medo até de passear, em visita aos amigos temendo assim o contágio.
A casa do engenho
onde se fabricavam rapaduras e cachaça para abastecer a vila, até bem pouco
ainda existia na entrada do bairro. Com o correr do tempo a senzala fora
demolida. Construía-se uma casa nova para uma família, destruía-se em seguida
uma parte da antiga morada. E assim, gradativamente, uma por uma, até alcançar
a completa higienização da indústria. No princípio tudo é assim mesmo, exigindo
perseverança e espírito de desafio para vencer. Foi o que aconteceu. Venceu e
prosperou vertiginosamente.
Referências:
Texto: Iracema
Fernandes de Sousa. Itaúna através dos tempos. Editora Lemi S/A., BH, 1ªed,
1984, p.17,18.
Organização e resumo:
Charles Aquino
Dica e apoio a leitura: Jaime Machado Júnior.
P.S.: A
escrita de Iracema é tão rica em detalhes, e suas histórias são tão agradáveis,
que o texto precisou ser registrado por
completo.