As festas e comemorações –sejam cívicas,
sociais ou religiosas- fazem parte da existência humana. É necessário celebrar.
É preciso comemorar- “co-memore”= com a memória, ou seja, trazer à lembrança ou
simplesmente festejar.
A vida humana é um sopro sobre a Terra e essa sensação
de finitude leva-nos à entrega até mesmo irracional aos festins e bacanais. A
quebra das rígidas regras e normas sociais se faz necessária para a loucura e o
devaneio darem um pouco de sentido a tudo.
E
dentre tantas festas do calendário temos o Carnaval. O
Carnaval é uma festa originária do cristianismo ocidental e que acontece antes
da Quaresma. Normalmente envolve uma festa pública com desfiles combinando
alguns elementos circenses, máscaras e até mesmo personagens do antigo teatro
italiano, como pierrô, arlequim e colombina.
As pessoas se fantasiam durante a
festa, permitindo-lhes perder a sua individualidade cotidiana e experimentar um
sentido elevado de unidade social.
A origem
do Carnaval se perde no tempo. Entre os antigos egípcios havia as
festas de Ísis e do boi Ápis; entre os hebreus, a festa das sortes; entre os gregos antigos, as bacanais; na Roma Antiga,
as lupercais, as saturnais.
Na Idade Média, o Carnaval não durava apenas alguns dias, mas quase
todo o período entre o Natal e
o início da Quaresma.
Nesses dois meses, as populações católicas usavam os muitos feriados dos
santos como uma saída para suas frustrações diárias. No entanto, a Igreja Católica já condenava
o que chamava de "devastação diabólica" e "rituais pagãos".
No ano 325, o primeiro Concílio de Niceia tentou
acabar com estas festas pagãs.
O Carnaval moderno, feito de desfiles e
fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XX e a cidade de Paris
foi o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo.
O Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa, em
fevereiro, geralmente, ou em março, conforme o seu cálculo, próximo da lua nova. E não se trata de festa própria do
Brasil: o carnaval acontece em diversos países do mundo, cada um conforme sua
própria Cultura; como exemplo, o famoso e clássico Carnaval de Veneza, com máscaras
e trajes luxuosos do séc. XVIII, como uma grande celebração barroca.
Na nossa
ITAÚNA – outrora Sant’ana do Rio São João Acima de Pitanguy- o carnaval vem de
longa data. Começou pela influência portuguesa do Entrudo (Entrudo era uma festa antiga, anterior ao atual Carnaval).
Segundo
pesquisas do Historiador Charles Aquino, temos notícia do Entrudo do ano de1880. No dia 3 de fevereiro daquele ano, a comemoração do entrudo no arraial de
Santana de São João Acima resultou em uma grande confusão.
Aconteceu porque pretendendo
José Manoel de Oliveira brincar de entrudo com a filha de Paulino Caetano
Alves, a seguiu levando um limão de cheiro e jogou na moça. O pai “indignado agrediu com uma faca e não
podendo feri-lo com ela, armou uma espingarda e com esta disparou-lhe um tiro
fazendo-lhe com ele ofensas constantes”.
A
história transformou-se em um processo com de mais de 80 páginas. No ano de
1885, Paulino Caetano Alves, o pai da moça, respondia pelos atos praticados
naquele dia de festa carnavalesca em Santana do São João Acima; tal
procedimento resultou para o denunciado um processo que o torna réu.
No
dia 19 de novembro de 1885, depois de ouvirem 5 testemunhas e analisarem o
caso, o julgamento foi a Júri Popular, tendo por unanimidade de votos a favor
da absolvição do réu, Paulino Caetano Alves.
Bem distante deste
imbróglio carnavalesco do Séc. XIX, encontramos nas páginas do Jornal “FOLHA DO
OESTE” a reportagem de Cosme Silva, no ano de 1980: “A grata surpresa do
carnaval itaunense.
O Bloco veio de Santanense, pela sua primeira vez, deu o
seu recado, todo mundo cantou o seu samba, bem organizado na rua e não tenha
dúvidas se os líderes de lá quiserem no próximo ano poderá surgir uma Escola de
Samba que vai dar trabalho. ”
E no carnaval de Itaúna,
aconteceram também os famosos bailes carnavalescos nos diversos clube:
Automóvel Clube, União Operária e Flor do Momo...Dividindo assim a Sociedade
entre a elite, os trabalhadores e os “homens de cor” – expressão utilizada na
época e eivada de racismo para se designar os então afrodescendentes.
E as névoas do Tempo nos
fazem rever o desfile subindo a rua Silva Jardim, com os diversos blocos
caricatos: o eterno Farrapos da Lagoinha – o mais irreverente bloco de “sujos”
da cidade - Bloco da Saudade, Cuecões, Caveira, Bloco do Tutu, Demorô e o
Alfaces com seu trio elétrico que causou grande sensação entre os jovens de
outrora. A Banda Suja do Adelino e sua alegria contagiante.
E nossas
antológicas Escolas de Samba (um capítulo à parte nessa História): Unidos da Ponte, Império dos Castores, Os
Pães e o Clube dos Zulus- exibindo as belas e encantadoras fantasias em negro e
dourado e ricas plumagens e sambas enredo que fizeram história (leia-se
Raimundo Rabello, o nosso ilustre Confrade Mundico e diversos outros).
E
figuras singulares como o Miss Itaúna e o histórico “bloco do Eu Sozinho”,
sempre em elaboradas e mágicas fantasias que o Newton Regal preparava com grande
esmero e carinho, para o encanto de quem o via na avenida...Eterno o seu
“Carlitos”.
Outros tempos, outros
costumes. Foram-se as escolas de samba e os altos custos de um carnaval mais
para ser admirado e assistido do que realmente aproveitado pelo povo. E a festa
de Momo foi tomando outros formatos, conforme as intempéries do Tempo. Pelos
bairros da cidade, um pré-carnaval que agitou as noites das barrancas.
Como o “Babalu”
de Santanense, “As Piedosas” no bairro da Piedade, “As Virgens” do Pe.
Eustáquio com o Rosse Andrade e o “Pau de Gaiola” do Afonsinho (verdadeira
apoteose carnavalesca e familiar que literalmente lota a Praça da Lagoinha e
adjacências na quinta-feira que antecede a festança).
Um “Esplendor e Glória” que vem com seu
General da Banda Tadeu Nolasco repaginando nosso carnaval há alguns anos e
resgatando a tradição das marchinhas com a Banda “Barril de Chope” (Walter
Júnior e companheiros), sempre desfilando na contramão da avenida Jove Soares.
Por trás de cada
agremiação, uma história de foliões abnegados que lutam para pôr o bloco na
rua. Carnaval de rua, de foliões ou dos que preferem o sossego das cachoeiras,
dos sítios e dos muitos retiros espirituais também. Vale tudo! Do axé, passando
pelo samba, ao aleluia e as marchinhas (as de outrora; muitas censuras por este
tempo de mimimis).
E aqui me despeço com o
compositor Antônio dos Santos: “Você pensa que cachaça é água/cachaça não é
água não/cachaça vem do alambique/e água vem do ribeirão. ”
Referências:
Texto: Professor Luiz Mascarenhas
Organização e Arte: Charles Aquino
Acervo: Shorpy