segunda-feira, fevereiro 03, 2020

ESTAÇÃO FERROVIÁRIA

Ramon MARRA*

Ali estava eu novamente, não sei quantas vezes estive ali em toda minha vida. Aquele lugar era parte da minha história e estar ali era nova oportunidade de ser por inteiro, mesmo que em muitos momentos estivesse em pedaços.

Naquele dia em especial a estação ferroviária estava gelada. Não havia o calor humano, o trem chegara vazio e não havia quem esperasse e nem quem partisse. 

Somente eu ali, sozinho com minhas imaginações, com minhas fantasias, com minhas ilusões.

A estação ferroviária era meu enigma, era meu refúgio, era simbolismo da minha nostalgia, de um tempo em que o coração pulsava a espera dos sonhos que vinham e dos amores que partiam.

Das alegrias das chegadas e das dores das despedidas. 

Dos beijos não dados, dos acenos de adeus que não precisavam ter acontecidos.

Dos sorrisos largos e as vezes tristonhos dados das janelas entreabertas dos vagões em movimento.

Dos acentos que deixavam o coração machucado a espera de um retorno que jamais poderia acontecer

Da poltrona vazia na chegada que remetia o pensamento a ausência de quem tanto esperávamos.

Ali cresci, ali amei, ali vi a história passar. Em muitos momentos tudo sendo dito e em alguns as melhores coisas da gente ficando escondidas e engasgadas em nossos corações, em nossas almas.

A estação hoje está em pedaços, ela foi destruída e com ela se foram as lágrimas não derramadas, foram as flores não compartilhadas, foram as cartas não lidas, foram as poesias não proclamadas.

Mas nos corações dos transeuntes muita coisa ainda escondida, há para se revelar. O coração pode suportar como uma represa a fantasia que está à espera de se transformar em realidade.

Talvez para sempre, muitos as deixarão represadas. Porque deixá-la seguir o fluxo seria um ato de libertação. E toda liberdade tem seu custo.

Assim como o trem que segue o fluxo, mas tem como obstáculos os trilhos, assim também deixar o coração falar a verdade requer construir uma nova estação.

Nela fatalmente aconteceriam novamente muitos encontros e despedidas.

Mas de repente....

Acordei do meu transe vi que já era tarde.

Lá estou eu voltando pra casa, volto-me mais uma vez para a estação e com o coração apertado, dou um breve adeus. Ali tenho que voltar, pois a história precisa continuar.

Alguém precisa canta-la!

Alguém precisa!

Alguém!


*Pós-Graduação em Psicopedagogia
Texto: Ramon Marra / Santanense -  Itaúna/MG
Organização & Fotografia: Charles Aquino