Ramon
MARRA*
Ali
estava eu novamente, não sei quantas vezes estive ali em toda minha vida. Aquele
lugar era parte da minha história e estar ali era nova oportunidade de ser por
inteiro, mesmo que em muitos momentos estivesse em pedaços.
Naquele
dia em especial a estação ferroviária estava gelada. Não havia o calor humano,
o trem chegara vazio e não havia quem esperasse e nem quem partisse.
Somente
eu ali, sozinho com minhas imaginações, com minhas fantasias, com minhas
ilusões.
A
estação ferroviária era meu enigma, era meu refúgio, era simbolismo da minha
nostalgia, de um tempo em que o coração pulsava a espera dos sonhos que vinham
e dos amores que partiam.
Das
alegrias das chegadas e das dores das despedidas.
Dos
beijos não dados, dos acenos de adeus que não precisavam ter acontecidos.
Dos
sorrisos largos e as vezes tristonhos dados das janelas entreabertas dos vagões
em movimento.
Dos
acentos que deixavam o coração machucado a espera de um retorno que jamais
poderia acontecer
Da
poltrona vazia na chegada que remetia o pensamento a ausência de quem tanto
esperávamos.
Ali
cresci, ali amei, ali vi a história passar. Em
muitos momentos tudo sendo dito e em alguns as melhores coisas da gente ficando
escondidas e engasgadas em nossos corações, em nossas almas.
A
estação hoje está em pedaços, ela foi destruída e com ela se foram as lágrimas
não derramadas, foram as flores não compartilhadas, foram as cartas não lidas,
foram as poesias não proclamadas.
Mas
nos corações dos transeuntes muita coisa ainda escondida, há para se revelar. O
coração pode suportar como uma represa a fantasia que está à espera de se
transformar em realidade.
Talvez
para sempre, muitos as deixarão represadas. Porque deixá-la seguir o fluxo
seria um ato de libertação. E toda liberdade tem seu custo.
Assim
como o trem que segue o fluxo, mas tem como obstáculos os trilhos, assim também
deixar o coração falar a verdade requer construir uma nova estação.
Nela
fatalmente aconteceriam novamente muitos encontros e despedidas.
Mas
de repente....
Acordei
do meu transe vi que já era tarde.
Lá
estou eu voltando pra casa, volto-me mais uma vez para a estação e com o
coração apertado, dou um breve adeus. Ali tenho que voltar, pois a história
precisa continuar.
Alguém
precisa canta-la!
Alguém
precisa!
Alguém!
*Pós-Graduação
em Psicopedagogia
Texto:
Ramon Marra / Santanense - Itaúna/MG
Organização
& Fotografia: Charles Aquino