sábado, março 24, 2018

ESPANTA-COIÓ

Nos meus tempos de criança em Itaúna, a cidade tinha várias fábricas de foguetes. Uma ou duas ficavam na estrada para os Garcias. Se a memória não me trai, era  a fábrica de propriedade dos irmãos Mauro Soares Nogueira (Quincas do Jove), Joaquim Soares Nogueira (Quincas do Jove) e Osmário Soares Nogueira. 
No Campo Vermelho ficava somente a cartonagem dos fogos que eram produzidos na estrada para o bairro dos Garcias, sendo funcionário, Thales  Santos, cujo estabelecimento vendido posteriormente ao comerciante José Rosa dos Santos. 
Negócio arriscado para quem trabalhava nele. Maioria de mulheres num ofício totalmente artesanal, lidando com pólvora e outros materiais explosivos e inflamáveis. Lembro-me ainda de um acidente numa das fábricas que ficava logo acima do bairro do Serrado, em direção aos Garcias. Matou quatro operárias de maneira brutal.
Foguetes, bombas, escandalosas, traques, foguetes de vara, busca-pé, estrelas e outros artigos saídos da lavra dos fogueteiros da época eram imprescindíveis em festas de igreja, barraquinhas, inaugurações, comícios e sobretudo na chegada de autoridades no município.
Em jogos de futebol os foguetes não eram muito encontradiços. O comércio de fogos vivia sem qualquer fiscalização e a compra dos artefatos ao alcance de qualquer um. Não havia restrições (salvo engano) e mesmo nós,menores de idade tínhamos acesso aos diversos produtos da pirotecnia.
Preferíamos os busca-pés os traques e os espanta-coió. Menos perigosos e até mais divertidos, notadamente os primeiros. Soltados na praça, em dia de barraquinhas, eram um prato cheio de diversão. Corriam soltos no meio do povaréu, na altura dos joelhos, fazendo com que as moças levantassem as saias para se livrarem dos importunos busca-pés.
Uma farra, num tempo no qual, avistar-se um joelho feminino era uma enorme proeza e gratificação.
Foguetes de vara eram os preferidos da molecada. Soltados com maestria pelo " Parente", dublê de coveiro e fogueteiro, subiam com um assobio alto e depois explodiam com estampido, liberando a vara. Os moleques corriam para buscá-la, caísse onde caísse. Era quase uma competição.
Melhor ainda, foguetório na chegada de autoridades. A cidade toda enfeitada e grande parte do povo na estação da Rede Mineira de Viação. Banda de música, trem de ferro e foguetório. Nada mais bonito e mais alegre. Uma típica manifestação mineira que se perdeu no tempo como os foguetes, as bandas de música e os trens de ferro. Tenho imensa saudade, só igualável ao som do sino da estação e o apito solene do Chefe do Trem. Coisas do meu tempo!!!
(ps.: qualquer dia desses conta o episódio do maior foguetório da cidade . No dia em que o Brasil ganhou a primeira Copa do Mundo)

Urtigão (desde 1943). Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda que viveu em Itaúna nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado).
Acervo: Shorpy