sábado, março 31, 2018

RENASCER

Plantaram-me um dia na vida
E deram solo fértil
Para minhas raízes

Deram-se águas límpidas
Como alimento 
Deram-se ar puro
Para respirar

Deram-me o direito de viver
E eu vivi
Deram-me espaço
Para florescer

E eu me espalhei
Por esse espaço
Tentaram me tirar
O direito de viver

Podaram-me na raiz
Resisti
Tentaram reduzir
O meu espaço
Em vão

A primavera
Se fazia presente em mim
E eu refloresci
Com mais força
Com mais vigor

Reconquistei meu espaço
E me lancei nele
E através dele
Eu busco o infinito



Nota de Falecimento
2018

Anunciamos a morte de uma enorme e linda árvore plantada na Praça Luiz Ribeiro. Acreditamos que este bem natural, certamente fazia parte do nosso desprezado e esquecido Patrimônio Cultural de Itaúna.

Nota 1
Prefeitura Municipal de Itaúna – 2013

Em agosto, para dar maior mobilidade ao trânsito em um dos pontos mais movimentados a Praça Luiz Ribeiro foi dividida ao meio e o trânsito liberado no local. A modificação está ligada à nova passagem de nível pela Jove Soares e a alteração de fluxos da passagem da rua Silva Jardim, próximo à praça Luiz Ribeiro.
A intervenção foi realizada por meio de uma via de mão única, facilitando a conversão dos veículos nas ruas Manoel Corrêa e Avenida Getúlio Vargas. A Silva Jardim passou a receber maior volume de veículos com alterações já realizadas com a abertura da nova entrada da cidade.
 A intervenção atingiu apenas 35% da área da antiga praça, mostrando que o projeto foi elaborado pensando em todas as dimensões. O monumento e 70% das árvores foram mantidos (as outras 30% foram replantadas).

Texto extraído do Jornal do Município de Itaúna / Edição especial 2013.


Nota 2
Aline Moura* em 21/03/2018:

Fico igualmente triste com a morte dessa árvore, mas esclareço que as obras realizadas na Praça onde a árvore estava NÃO foram realizadas nesta gestão como foi colocado equivocadamente em alguns comentários.
Realmente as obras prejudicaram o sistema radicular da espécie que acabou a levando a um estado fitossanitário irreversível, com brocamento de caule e tumoramento de galhos.
A árvore estava sendo monitorada desde o ano passado, inclusive com visita de uma doutora em árvores. Como a condição estava insegura e o local oferece trânsito intenso, tivemos que agir rapidamente, pois a queda de galhos maiores já estava constante.
O laudo está disponível na gerência de meio ambiente. Informo ainda que na sexta feira plantaremos outra paineira no mesmo Jardim da praça.

 *Gerente de Proteção ao Meio Ambiente na empresa Prefeitura Municipal de Itaúna



Poema: Vera Alice Rodrigues dos Santos, extraído do livro Antologia dos Poetas Itaunense. BH- Lemi/Itaúna. Diretoria de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade de Itaúna, 1990. p.127.
Organização: Charles Aquino
Acervo: Maria Izabel Silva (Bel de Abreu) e Charles Aquino


sexta-feira, março 30, 2018

TEMPO

TEMPO
Luiz Mascarenhas

O Tempo urge, dizem
Dizem que o Tempo urge
Urge o Tempo
O Tempo Urge
Quero o Tempo
Quero o Tempo
Numa garrafa
Fechado, lacrado, tampado
Quero fechar o Tempo
Para os que amo
Parar o Tempo
Para os meus sonhos
Acelerar o Tempo
Tempo
Que Tempo?
Urge o Tempo
Esvai o Tempo
Tempo sem tempo
Tempo dos sonhos
Tempo dos medos
Tempo dos tempos
Idos, vividos, chorados
Amados, amargurados
Tempo
Tempo com tempo
Tempo de sorrir
Tempo de sentir
Tempo de amar
Amar o tempo
Tempo de viver
Sem tempo
Para morrer
Morrer de sol
Morrer de mar
Morrer de amar




Acervo: Shorpy

BONFIM

CAPELA DO BONFIM

Professor Luiz Mascarenhas

Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Hoje tuas janelas mudas
Nuas diante da lua
São como olhos cegos
De um passado que grita
Aos ouvidos moucos de agora


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Hoje choram tuas paredes
Enegrecidas pela fuligem das cinzas
Resistem loucamente aos loucos
Do tempo presente


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Quer socorro
Quer amparo
Quer laus perene
Quer respeito afinal


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Da velha porta carcomida
Ouço trepidante gemido
Que grita
Que atravessa séculos
Que emudece corações


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
A lua ilumina ruínas
O silêncio grita seu nome
As almas rondam essa casa
Pesarosas de nós mesmos


Capela do Bonfim
Que querei de mim?
Ruína, escombros, cacos
De telhas, de madeiras
De almas aflitas
Itaúna hoje grita


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
O opróbrio cobre meu rosto
A vergonha de ti fitar
Hoje é grande
Grande é meu pesar


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Terços, murmúrios,
Preces e louvores
Quantas dores...
Quantos dissabores...


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?
Alma aflita e latente
Gosto amargo e demente
Ressurge em vultos
O passado
Nos condena


Capela do Bonfim
Que quereis de mim?


Fotografia: Guto Aeraphe


terça-feira, março 27, 2018

TURÍBULO

Missa em Sant’Ana

Estive em Itaúna no último fim de semana. No sábado, 24/03/2018, recebi um convite para assistir à missa solene. Missa em português abrilhantada pelo Coro Santana, entoando Cantos Gregorianos acompanhados por um organista.
Confesso que tive uma grata surpresa. Os cânticos em latim, fizeram passar rapidamente o tempo, sem que eu me dessa conta das horas. Aliás, qual a urgência que eu tinha? Nenhuma. Passaria mais duas horas na igreja, enlevado pelo cantar de Belas e afinadas vozes e os acordes do órgão, entregue a um ótimo instrumentista.
Além da boa música, tive outras belas surpresas. Um grande número de coroinhas, crianças, incluindo meninas e adolescentes. O padre, apesar de jovem soube muito bem comandar a celebração, auxiliado por um acolito de competência.
Foi uma inesquecível volta no tempo. Imagens cobertas por panos roxos, a igreja bem pintada e conservada. O cheiro do incenso, emanado pelos turíbulos. O tilintar das sinetas e a missa retornando ao tempo em que fui jovem, bem solene e cerimoniosa, como nunca devia ter deixado de ser.
A matriz razoavelmente cheia. Não como antigamente, tempo no qual, além dos bancos e até os corredores e portas ficavam apinhados. Parece-me ser um bom começo. Gente de várias idades e não somente velhos como eu, maioria nas celebrações atuais.
Sou um católico pródigo e displicente. Não sou assíduo nas igrejas como já fui na infância e juventude. Acredito que se tivesse a oportunidade de assistir missas como a que presenciei em Itaúna, talvez eu deixasse a preguiça de lado e iria empregar meu ócio na igreja e nas cerimônias católicas. Louve-se o trabalho da paróquia, do pároco e dos paroquianos. Meus cumprimentos ao professor Luiz Mascarenhas, um dos responsáveis pelo coro. Música soberba. Grata surpresa e ótimas lembranças!!!

Urtigão (desde 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado.



sábado, março 24, 2018

ESPANTA-COIÓ

Nos meus tempos de criança em Itaúna, a cidade tinha várias fábricas de foguetes. Uma ou duas ficavam na estrada para os Garcias. Se a memória não me trai, era  a fábrica de propriedade dos irmãos Mauro Soares Nogueira (Quincas do Jove), Joaquim Soares Nogueira (Quincas do Jove) e Osmário Soares Nogueira. 
No Campo Vermelho ficava somente a cartonagem dos fogos que eram produzidos na estrada para o bairro dos Garcias, sendo funcionário, Thales  Santos, cujo estabelecimento vendido posteriormente ao comerciante José Rosa dos Santos. 
Negócio arriscado para quem trabalhava nele. Maioria de mulheres num ofício totalmente artesanal, lidando com pólvora e outros materiais explosivos e inflamáveis. Lembro-me ainda de um acidente numa das fábricas que ficava logo acima do bairro do Serrado, em direção aos Garcias. Matou quatro operárias de maneira brutal.
Foguetes, bombas, escandalosas, traques, foguetes de vara, busca-pé, estrelas e outros artigos saídos da lavra dos fogueteiros da época eram imprescindíveis em festas de igreja, barraquinhas, inaugurações, comícios e sobretudo na chegada de autoridades no município.
Em jogos de futebol os foguetes não eram muito encontradiços. O comércio de fogos vivia sem qualquer fiscalização e a compra dos artefatos ao alcance de qualquer um. Não havia restrições (salvo engano) e mesmo nós,menores de idade tínhamos acesso aos diversos produtos da pirotecnia.
Preferíamos os busca-pés os traques e os espanta-coió. Menos perigosos e até mais divertidos, notadamente os primeiros. Soltados na praça, em dia de barraquinhas, eram um prato cheio de diversão. Corriam soltos no meio do povaréu, na altura dos joelhos, fazendo com que as moças levantassem as saias para se livrarem dos importunos busca-pés.
Uma farra, num tempo no qual, avistar-se um joelho feminino era uma enorme proeza e gratificação.
Foguetes de vara eram os preferidos da molecada. Soltados com maestria pelo " Parente", dublê de coveiro e fogueteiro, subiam com um assobio alto e depois explodiam com estampido, liberando a vara. Os moleques corriam para buscá-la, caísse onde caísse. Era quase uma competição.
Melhor ainda, foguetório na chegada de autoridades. A cidade toda enfeitada e grande parte do povo na estação da Rede Mineira de Viação. Banda de música, trem de ferro e foguetório. Nada mais bonito e mais alegre. Uma típica manifestação mineira que se perdeu no tempo como os foguetes, as bandas de música e os trens de ferro. Tenho imensa saudade, só igualável ao som do sino da estação e o apito solene do Chefe do Trem. Coisas do meu tempo!!!
(ps.: qualquer dia desses conta o episódio do maior foguetório da cidade . No dia em que o Brasil ganhou a primeira Copa do Mundo)

Urtigão (desde 1943). Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda que viveu em Itaúna nas décadas de cinquenta e sessenta do século passado).
Acervo: Shorpy


sexta-feira, março 23, 2018

A CRIAÇÃO

A CRIAÇÃO


Entre um gélido espanto
A tortura do medo
Num surto colossal
Negras cerdas ao vento

Adão, pasmado,
Vislumbra o pântano e o arvoredo
E o mar sanhudo e a terra em viço
e o céu cinzento...

A criação, a criação...

Paira de Norte a Sul
Recôndito segredo
Esplendor e glória:
é o sol no firmamento

Geme, soturno, o mar,
Dorme, frio, o rochedo
vibram na imensidão
Força e movimento

Eis súbito, a floresta e os céus
irados, rugem...
As feras uivam, o mar se agita
O Éden estremece

Ao tiro dos trovões
Num céu de ferrugem
Era o assombro de Deus
Na imensidão da treva...

A criação, a criação...

Era o bem e o mal
O castigo e a prece
Surgia nua e bela,
Entre rugidos, Eva...

A criação, a criação...


 

Autor da canção: Pepe Chaves: Disponível em: https://www.viafanzine.jor.br/site_vf/dornas/textos1.htm

Instrumentação: Pepe Chaves (Vocais e violão), Marcial Fernandes (Efeitos vocais e especiais), Gravação: Marcial Sound Estúdio (Itaúna-MG), Técnica: Marcial Fernandes, Arranjos e Produção: Pepe Chaves, Interpretação: Pepe Chaves. Esta canção foi composta em 2001.




segunda-feira, março 19, 2018

terça-feira, março 06, 2018

BANDA ELFOS

Décadas 80/90
 LOUCURA
Música: Adilson Rodrigues e Fernando Chaves
Produção: Adilson Rodrigues e Pepe Chaves
Guitarra e Vocal: Fernando Chaves
Baixo e Vocal: Adilson Rodrigues
Bateria: Pepe Chaves
Gravado ao vivo  show realizado em Itaúna 
Fotografia: Antônio Gomes