Gosto de
metáforas. Costumo comparar os homens e as famílias com as bananeiras. Não
pensem que estou a chamar a espécie humana de " banana". É outra
história.
A bananeira só dá
frutos uma vez. Daí a expressão: " fulano é bananeira que já deu
cacho". Vegetal razoavelmente simples, sem a nobreza de uma jabuticabeira
ou qualquer árvore de porte, a bananeira, humilde e subalterna, se bem plantada
em cova funda, produzirá um belo cacho de frutas, com muitas pencas. Não tem
sementes. As mudas crescem ao redor da planta mãe, daí a necessidade de cova
funda.
Cortada a
primeira e colhidos os frutos, dentro de algum tempo teremos nova planta a
produzir. É o ciclo da vida que se repete, perpetuando a espécie. Simples e
inteligente. Não requer muitos cuidados. Somente boa terra, bom adubo e limpeza
ao redor para afastar fungos e pragas. Frutos deliciosos, fartos e nutritivos.
No quesito inteligência para ser comido, a banana é imbatível. Portátil,
higiênica e bem embalada. Uma campeã.
Voltemos à
comparação com os humanos. Em tempos de poucas famílias, de famílias múltiplas
e de gêneros iguais, de famílias desfeitas e outras modernices que teimam em
impingir aos tradicionais, a banana nos fornece um exemplo único. Produz em
cachos, tal como os cocos e as uvas.
Comparemos o
engaço do cacho aos chefes da família. Pai e mãe, a reunir a seu redor, filhos,
noras, genros, netos, e bisnetos, para os mais longevos. Como acontece com as
bananas, alguns frutos se deterioram mais rápido. Descartados, significam uma
perda, que não chega a significar o fim da família.
Com o passar do
tempo, os membros da família se reúnem de tempos em tempos em torno de pais e
mães. São as bananas ao redor do engaço. Ao morrer um dos primitivos, o cacho
passa a perder unidade. Com a morte de pai e mãe, a família não se une mais.
Como nas bananas, é hora de descartar o engaço. Não serve para mais nada. É o
fim de uma família tradicional, como a conhecemos e igual àquela em que fomos
criados.
Pensei muito
nesta metáfora, no último episódio de doença pelo qual passei. Durante todo
tempo tive ao meu lado o núcleo familiar. Mulher, filhos, netos, sobrinhos,
primos e até a única tia que tenho a graça de ainda ter. A presença de entes queridos ao lado do
doente o anima a reagir. Como já disse em escrito anterior, o meu filho é um
craque. Senhor de todas as " expertises" para cuidar.
Em tempos de
famílias estranhas e esdrúxulas é sempre bom pensar como eu. Que bom ter
nascido como as bananeiras. Simples, filho de família tradicional, capaz de
render bons frutos e poder desfruta-los na necessidade.
Que Deus os
mantenha unidos e me proporcione por mais algum tempo o papel de engaço.
Uma nota
O mundo de hoje seria uma refeição completa para Nelson Rodrigues. Uma multidão impensável de idiotas. Gente capaz de passar doze horas em um frio polar, espremido numa multidão, à espera de uma bola que desce num trilho, para marcar o início de um novo ano.
Multidões espremidas e afanadas na praia de Copacabana à espera da passagem do ano e do show de Anitta (com dois tts). Idem em São Paulo à espera do Latino. Em Belo Horizonte, uma multidão em torno da Pampulha, a esperar a chegada de 2018, na beira do Patrimônio Mundial da Unesco mais fedorento que existe. Trata-se do " efeito manada”. Se o vizinho vai, fulano também, sicrano, etc., por não eu? Um espanto!!!
Texto: Urtigão
(nascido em Rio Piracicaba desde de 1943) é pseudônimo de José Silvério
Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico
enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 02/01/2018.
Organização: Charles Aquino