quinta-feira, janeiro 04, 2018

BANANEIRA

Gosto de metáforas. Costumo comparar os homens e as famílias com as bananeiras. Não pensem que estou a chamar a espécie humana de " banana". É outra história.

A bananeira só dá frutos uma vez. Daí a expressão: " fulano é bananeira que já deu cacho". Vegetal razoavelmente simples, sem a nobreza de uma jabuticabeira ou qualquer árvore de porte, a bananeira, humilde e subalterna, se bem plantada em cova funda, produzirá um belo cacho de frutas, com muitas pencas. Não tem sementes. As mudas crescem ao redor da planta mãe, daí a necessidade de cova funda.

Cortada a primeira e colhidos os frutos, dentro de algum tempo teremos nova planta a produzir. É o ciclo da vida que se repete, perpetuando a espécie. Simples e inteligente. Não requer muitos cuidados. Somente boa terra, bom adubo e limpeza ao redor para afastar fungos e pragas. Frutos deliciosos, fartos e nutritivos. No quesito inteligência para ser comido, a banana é imbatível. Portátil, higiênica e bem embalada. Uma campeã.

Voltemos à comparação com os humanos. Em tempos de poucas famílias, de famílias múltiplas e de gêneros iguais, de famílias desfeitas e outras modernices que teimam em impingir aos tradicionais, a banana nos fornece um exemplo único. Produz em cachos, tal como os cocos e as uvas.

Comparemos o engaço do cacho aos chefes da família. Pai e mãe, a reunir a seu redor, filhos, noras, genros, netos, e bisnetos, para os mais longevos. Como acontece com as bananas, alguns frutos se deterioram mais rápido. Descartados, significam uma perda, que não chega a significar o fim da família.

Com o passar do tempo, os membros da família se reúnem de tempos em tempos em torno de pais e mães. São as bananas ao redor do engaço. Ao morrer um dos primitivos, o cacho passa a perder unidade. Com a morte de pai e mãe, a família não se une mais. Como nas bananas, é hora de descartar o engaço. Não serve para mais nada. É o fim de uma família tradicional, como a conhecemos e igual àquela em que fomos criados.

Pensei muito nesta metáfora, no último episódio de doença pelo qual passei. Durante todo tempo tive ao meu lado o núcleo familiar. Mulher, filhos, netos, sobrinhos, primos e até a única tia que tenho a graça de ainda ter.  A presença de entes queridos ao lado do doente o anima a reagir. Como já disse em escrito anterior, o meu filho é um craque. Senhor de todas as " expertises" para cuidar.

 

Em tempos de famílias estranhas e esdrúxulas é sempre bom pensar como eu. Que bom ter nascido como as bananeiras. Simples, filho de família tradicional, capaz de render bons frutos e poder desfruta-los na necessidade.

Que Deus os mantenha unidos e me proporcione por mais algum tempo o papel de engaço.

 

Uma nota

O mundo de hoje seria uma refeição completa para Nelson Rodrigues. Uma multidão impensável de idiotas. Gente capaz de passar doze horas em um frio polar, espremido numa multidão, à espera de uma bola que desce num trilho, para marcar o início de um novo ano.

Multidões espremidas e afanadas na praia de Copacabana à espera da passagem do ano e do show de Anitta (com dois tts). Idem em São Paulo à espera do Latino. Em Belo Horizonte, uma multidão em torno da Pampulha, a esperar a chegada de 2018, na beira do Patrimônio Mundial da Unesco mais fedorento que existe. Trata-se do " efeito manada”. Se o vizinho vai, fulano também, sicrano, etc., por não eu? Um espanto!!! 

Texto: Urtigão (nascido em Rio Piracicaba desde de 1943) é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nas décadas de 50 e 60. Causo verídico enviado especialmente para o blog Itaúna Décadas em 02/01/2018.

Organização: Charles Aquino 


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