terça-feira, agosto 30, 2016
domingo, agosto 07, 2016
CHAFARIZ DE ITAÚNA
A importância do
chafariz ia além de sua função de fornecimento de água. Esses locais eram
pontos de encontro onde diferentes classes sociais se reuniam para buscar água
e, ao mesmo tempo, interagir. Pessoas conversavam e até colocavam as notícias em dia fazendo seus "fuxicos". Assim, os chafarizes desempenhavam um papel
de comunicação informal, sendo centros de sociabilidade e troca de informações.
Esse aspecto mostra que, além de resolver uma necessidade básica da população,
eles eram fundamentais para a formação de laços sociais nas comunidades.
A comparação entre Vila Rica e a cidade do Rio de Janeiro no final do século XVIII ressalta o contraste no número de chafarizes entre as duas regiões, evidenciando o avanço de Minas Gerais em termos de abastecimento de água pública. Enquanto Vila Rica, com uma população de 8 mil habitantes, tinha dezoito chafarizes, a capital da Colônia, com cerca de 30 mil habitantes, possuía apenas onze.
Isso
mostra como o planejamento urbano e o investimento em infraestrutura em Minas
Gerais eram mais desenvolvidos em relação ao Rio de Janeiro. O chafariz também
fomentava o desenvolvimento de profissões relacionadas ao abastecimento e uso
de água, como aguadeiros e lavadeiras. Isso transformava esses monumentos em
pontos estratégicos de atividades econômicas urbanas, servindo para além de um
simples abastecimento de água, mas também para sustentar práticas cotidianas e
artesanais que estruturavam a vida da cidade.
De acordo com a
classificação de Claudia Lopes, os chafarizes podiam ser funcionais,
decorativos ou monumentais. Os funcionais eram utilitários e simples,
localizados fora dos centros comerciais e administrativos. Já os decorativos
tinham elementos ornamentais que valorizavam a paisagem urbana. Por fim, os
monumentais eram grandes obras de arte, com complexos elementos barrocos e
localizados em pontos de destaque das cidades.
Em Sant'Anna de
São João Acima, a construção de um chafariz em 1880, autorizada pela Assembleia
Legislativa Provincial de Minas Gerais, demonstra o empenho da administração
pública em melhorar o abastecimento de água e, ao mesmo tempo, em valorizar o
espaço urbano. O valor de quatro contos de réis destinado a essa construção
revela o grande investimento financeiro necessário para essas obras de
infraestrutura, o que indica a importância que esse tipo de empreendimento
tinha para as autoridades da época.
Expandindo essa
análise, podemos refletir sobre a relevância dos chafarizes não apenas como
fontes de água, mas também como símbolos de poder público e de urbanização.
Eles eram um marco de desenvolvimento e civilidade, demonstrando como o espaço
público era pensado e utilizado em sociedades do passado. A presença de
monumentos como esses reafirma a centralidade da água na organização da vida
cotidiana, não apenas como recurso, mas como elemento de articulação social,
política e cultural.
Ao considerar a
construção de um chafariz em Sant'Anna de São João Acima, é possível perceber
que a obra pública transcende o simples objetivo de fornecer água. Ela se
insere em um contexto mais amplo de desenvolvimento urbano e social, refletindo
o papel das infraestruturas públicas na promoção do bem-estar coletivo e na
construção da identidade das cidades. O investimento em chafarizes demonstra o
reconhecimento da água como um recurso vital e estratégico para a vida urbana,
mas também como um meio de promover a coesão social, a estética urbana e o
desenvolvimento econômico.
Em suma, os
chafarizes eram mais do que estruturas utilitárias; eles eram elementos
integradores do espaço público, promovendo tanto a funcionalidade quanto a
beleza e a sociabilidade nas cidades. Eles simbolizavam a interseção entre o
cotidiano e o extraordinário, entre o pragmático e o ornamental, moldando a
paisagem urbana e as relações humanas em torno de um recurso essencial: a água.
Fotografia ilustrativa.
Jornal: A Actualidade - Ouro Preto, 1880. n° 127 p.3.
quarta-feira, julho 20, 2016
PROFESSOR PLÁCIDO TEIXEIRA COUTINHO
A História da Educação em Sant’Anna de São João Acima (hoje Itaúna), termo da Vila de Pitangui, pertencente à Comarca do Rio das Velhas, foi construída a partir de um grande esforço coletivo, tanto de professores quanto da comunidade que possuíam o mesmo ideal e desejo de ter um ensino local, isso "bem antes do Governo do Estado cogitar da instrução intensiva" (DORNAS, 1951, p.156). A criação da primeira escola pública no século XIX, regida pelo mestre Francisco Zeferino[1] foi determinada pela Lei Mineira nº 511 de 3 de julho de 1850 que no seu Artigo 3°, §3.º, estabelecia a criação das "Cadeiras do 1º gráo de instrucção primaria para o sexo masculino na Freguezia de Sant'Anna de São João Acima, Municíop de Pitangui" (Livro da Lei Mineira, 1850).
No ano de 1831, foi realizado o primeiro censo no distrito de Sant'Anna de São João Acima, com dados de 2.757 habitantes existentes na vila, sendo 869 mulatos, 843 brancos, 552 crioulos, 448 pretos e 45 africanos. O censo fornecia diversos dados como o número de quarteirões e fogos [2]; o nome e profissão dos moradores; sua cor e país de origem; se eram livres ou escravos; filhos legítimos ou expostos[3], estado civil, idade e ocupação profissional. (Itaúna em Detalhes, 2003.Fascículo:22).
No quesito Ocupação (profissão), já figurava o nome de dois Mestres das Primeiras Letras: Quintilianno Jose Pinto, pardo, casado, da idade de 29 anos, morador no Quarteirão de número 1 e Fogo de número 2; Serafim Cardoso, branco, casado, da idade de 55 anos, morador no Quarteirão de número 10 e Fogo de número 6. (Poplin-Minas 1830). Importante observar que, no distrito de Sant'Ana, várias tentativas de ensino foram montadas pela iniciativa privada e mesmo com as dificuldades enfrentadas naquela época, a cidade mostrou ser um grande Polo Educacional.
Em 13 de maio de 1889, era instalada a primeira escola noturna do arraial, a Sociedade Progresso Santanense, na qual, o Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira e o farmacêutico João de Araújo Santiago, ministravam aulas gratuitas, sendo somente remunerado o professor Joaquim Marra da Silva (DORNAS, 1936, p.42).
A Cia. Tecidos Santanense, também conhecida como Fábrica da Cachoeira, estabelecida após o ano d 1891, possuía uma escola dentro da fábrica, sendo ministradas aulas pela professora Jesuína Americana Brasileira e Silva[4]. Já no ano de 1893, era inaugurado o Externato Santanense, pela iniciativa dos senhores Joaquim Augusto Pereira Lima, Francisco Santiago, Cornélio Lima e Joaquim Marra da Silva, o instituto funcionou, porém, pouco tempo. Sobre estes estabelecimentos de iniciativa privada, Ruy Lourenço Filho ressalta: Não confundamos o aspecto de administração geral, que envolve o aspecto político-social, com o da administração escolar, considerada pelo tipo, forma e funcionamento das instituições de ensino.
Dois tipos fundamentais existem: o da escola isolada e o da escola agrupada. O primeiro é o da escola de um só professor, a que se entregam 40, 50 ou às vezes, mais crianças. Funciona quase sempre em prédio improvisado. A segunda toma o nome de “escolas reunidas” [...]. Aqui o prédio oferece melhores condições de conforto e higiene, mesmo quando adaptado [...]. O material é menos precário. Aí temos a escola comum dos meios urbanos. (FILHO,2002 v.6, p.45).
No dia 8 de dezembro de 1873 na capital de Minas Gerais, Ouro Preto, era realizada uma reunião dos irmãos da ordem de São Francisco de Assis, para celebrar uma grande festa em consagração "à N.S. da Conceição, padroeira da mesma ordem, com uma grande e variada exposição, cujo resultado será applicado às obras da capella". Um dos vários irmãos devotos que iria recolher assinaturas para ajudar nas obras da capela local era um jovem de dezoito anos de idade de origem portuguesa, Plácido Teixeira Coutinho, que no ano de 1877, contemplava a notícia da sua aprovação do processo de naturalização de cidadão brasileiro, expedida pelo Ministério do Império (Diário do Rio de Janeiro, 1877).
Passados alguns anos, casado e pai de família, o senhor Plácido estava residindo na freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, termo de São João Del Rei, exercendo a profissão de professor público de instrução primária. No dia 23 de maio de 1881, entrava com pedido à inspetoria geral da instrução pública, solicitando sua transferência para a freguesia de Mateus Leme, termo do Pará, solicitação esta, aceita no dia 27 de maio do mesmo ano. A notícia da transferência do professor Plácido para outra freguesia, não agradou a várias pessoas. Em carta publicada no jornal A Província de Minas, aos 10 de julho do ano de 1881, intitulada Os pais de famílias, via-se claramente a insatisfação e tristeza que a ausência do professor Plácido estaria causando aos pais e alunos daquele local. O motivo desta insatisfação se encontrava retratado na carta: o professor estaria sofrendo grande pressão e perseguição do subdelegado, o Sr. João José Gomes, da freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, para que deixasse o cargo à disposição.
De fato, assim que o professor conseguiu carta de transferência, o filho do subdelegado, Joaquim Ernesto Gomes partiu às presas para o termo de São João Del Rei e constava que "veio nomeado interinamente para reger a cadeira com promessa de ser provido nella oportunamente". Naquela mesma carta os autores ainda expõem que: o filho do subdelegado, ao contrário do professor Plácido, havia captado a antypathia geral, e sobre tudo tido e havido como um chapado analfabeto, sem o menor conhecimento das regras da grammatica e da orthographia, da arithimetica e do systema métrico, da geografia e até do catecismo romano, semelhante nomeação é a morte da escola pública nesta infeliz freguesia pela falta indubitável de frequência, que já se vão dando com a retirada de alguns meninos para as escolas de Nazareth e de Bom Sucesso, na certeza de que forem lecionados pelo tal Joaquim Ernesto Gomes (A Província de Minas, 1881).
Passados quase sete anos, desde a transferência para a freguesia de Mateus Leme, no dia 26 de janeiro de 1888 era anunciado no jornal A Província de Minas os resultados finais dos exames aplicados nos anos de 1886 e 1887 na Escola Pública Matheus Leme pelo professor Plácido, cujo, alunos eram avaliados em três tipos de grau de classificação: Aprovados com Distinção; Aprovados Plenamente e Aprovados Simplesmente. Sobre os tipos de grau de classificação dos exames, assim expressa a doutoranda Fernanda Cristina C. da Rocha, que pesquisou o Grupo Escolar Rocha nos anos 1910-1916:
Não é
possível precisar o que significava cada grau de classificação dos alunos no
GEPR. Parece-me que o grau era conferido de acordo com a nota alcançada no
exame final. Porém, não é possível saber se a direção seguia rigorosamente as
determinações legais. Segundo o regimento, se os alunos lançassem nota igual ou
superior a cinco, seriam considerados aprovados. Alcançando nota 5 eram
aprovados simplesmente, se obtivessem nota de 6 a 9 eram aprovados plenamente e
nota 10, aprovados com distinção. Os alunos que não alcançassem média 5 nos
exames de final de ano seriam considerados não preparados, e repetiriam o ano (ROCHA,2016, p.39).
No dia 28 de setembro do ano de 1889, o jornal A Província de Minas, anunciou que a Instrução Pública estaria exonerando, a pedido, o professor Plácido Teixeira Coutinho de trabalhos escolares na freguesia de Vargem Grande, termo de Juiz de Fora e concedendo sua mudança para o distrito de São Caetano, termo de Queluz. Ali permaneceria o professor Plácido por um período de três anos, sendo transferido depois, a pedido, para o distrito de Sant’Anna do São João Acima (hoje Itaúna), termo do Pará (Jornal A Ordem, 1892).
Recém-chegado ao distrito de Sant'Ana, o professor Plácido Teixeira Coutinho ministrava aulas noturnas gratuitas para alunos da primeira instrução primária, tendo de início matriculados nove alunos. A época da sua chegada, no início de 1893, as escolas isoladas formadas pela inciativa privada em Sant'Anna do São João Acima, somadas com presença da escola do Estado, eram responsáveis pela cidade e gozavam de grande privilégio na parte educacional. Após cinco anos morando no distrito de Sant'Ana do São João Acima (hoje Itaúna), o professor Plácido TeixeiraCoutinho de cinquenta e quatro anos de idade, mudaria o seu destino.
Em uma manhã do dia 7 de dezembro de 1899, aproximadamente às 10 horas, o desespero beirava ao insuportável do limite e a falência da esperança tornava-se presente. Com isso, "sua morte foi proveniente de suicídio por um tiro de garrucha disparado no ouvido", dentro do cemitério da cidade, sendo o declarante do óbito o Sr. Lindolfo Antônio da Silva. O jornal O Pharol do ano de 1902 noticiou que: "por conta do governo do Estado, vae ser internada no hospício nacional a louca Elisa de Oliveira Coutinho. A desventurada mocinha perdeu a razão por ser iludida com promessa de casamento". Esse teria sido o amargo motivo que há três anos, seu pai ao saber da história e "ralado de desgostos, suicidou-se".
O professor Plácido Teixeira Coutinho brindou com o destino o golpe amargo da vida, todavia, suas atitudes educativas foram luzes!
REFERÊNCIAS:
ELABORAÇÃO E PESQUISA: Charles
Aquino
ACERVO: Maria Lúcia Mendes, Professor Marco Elísio, Charles Aquino
FILHO, João Dornas. Efemérides
Itaunense. Coleção Vila Rica. Ed. João Calazans. Belo Horizonte, MG, 1951.
APM. Arquivo Público Mineiro:
Coleção Leis Mineiras (1835-1889). Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/leis_mineiras/brtacervo.php?cid=1168
. Acesso em: 20/07/2016.
ITAÚNA em detalhes: Enciclopédia
Ilustrada de Pesquisa.
POPLIN-MINAS 1830: Lista
Nominativa: Distrito de Santana do Rio São João Acima, Topônimo Atual: Itaúna,
Termo Pitangui, Comarca Rio das Velhas. Disponível em:
http://www.poplin.cedeplar.ufmg.br
.Acesso em:20/07/2016.
FILHO, Ruy Lourenço Lourenço Org. Tendências da Educação Brasileira:
Coleção Lourenço Filho v.6, Brasília-DF, Inep/MEC, 2002.
MOREIRA, Lúcio Aparecido. AS FONTES
DO MEDO NA EDUCAÇÃO: estudo de caso de uma Escola construída onde existiu um
cemitério. Belo Horizonte, 2013, p.23.
ROCHA, Fernanda Cristina Campos: A
repetência e a reprovação em um grupo escolar mineiro, nas primeiras décadas do
século xx. Revista Intersaberes, vol.11, n.22. Jan –abr 2016. Disponível:http://www.grupouninter.com.br/intersaberes/index.php/revista/article/view/1001
. Acesso em: 20/07/2016.
GIL, Natália e CALDEIRA. Sandra: escola Isolada e Grupo Escolar: a
variação das categorias estatísticas no discurso oficial do governo brasileiro
e de Minas Gerais. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/estatisticaesociedade/article/view/24543 . Acesso em:
20/07/2016.
SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves. ITAÚNA: sua trajetória política, social, religiosa, econômica e cultural, desde a criação do Arraial de Santana do São João Acima, em 14 de outubro de 1765, até a data do centenário de instalação do município:1765-2002.
Fontes impressas Hemeroteca Digital Brasileira:
A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de
Julho de 1881 – nº 64, p.1.
A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de
junho de 1881 – nº 55, p.2.
A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de
Maio de 1881 – nº 54, p.2
A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de
Maio de 1881 – nº 54, p.3
A ORDEM – Ouro Preto, 9 de julho de
1892 – nº 164, p.3
A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 10
de Julho de 1881 – nº 56, p.3.
A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 26
de Janeiro de 1888, n° 511, p.4.
A PROVINCIA DE MINAS – Ouro Preto, 28
de Setembro de 1889 – nº 613, p.2.
DIARIO DE MINAS – 22 de Agosto de
1866 – nº 62, p.1.
DIARIO DE MINAS – Ouro Preto, 16 de
Outubro de 1873 – n° 147, p.4.
DIARIO DO RIO DE JANEIRO – Rio de
Janeiro, 4 de Julho de 1877 – N°178
LIBERAL MINEIRO – Ouro Preto, 17 de
Junho de 1884 – nº 67, p.2.
MINAS GERAES – Ouro Preto, 18 de
Março de 1893 – nº 75, p.1.
MINAS GERAES – Ouro Preto, 22 de Março
de 1893 – nº 79, p.3.
O PHAROL – Juiz de Fóra, 7 de maio de
1902 – nº 116, p.1.
[1]O homem que exigia dos paes dos meninos que estes levassem um toco de madeira para se assentarem e uma garrafa d’agua para se dessedentarem, deixando fama de grande algoz dos seus alunos. FILHO. João Dornas: Itaúna – Contribuição para a História do Município, 1936, p.40.
[2] FOGO: Casa ou residência. O
distrito possuía 400 fotos, cujo, levantamento incluía os filhos casados e
escravos dos moradores.
[3] EXPOSTO: Recém-nascido abandonado
pela mãe em outra casa; enjeitado. Geralmente eram colocados nas portas das
casas, entregues a orfanatos administrados por freiras.
[4] Jesuína Americana Brasileira e Silva era proprietária de uma escola no distrito de Itatiaiuçu e havia trabalhado em outras escolas nos distritos de Mateus Leme e Entre Rios.
quarta-feira, julho 13, 2016
PRIMEIRO MUSEU DE ITAÚNA
Aos 20 de julho de 1890, segundo informa o historiador Guaracy, o cel. Chico Franco era um grande apreciador das belas artes e organizou, juntamente com outros companheiros, a Companhia de Teatro Santanense, tendo o objetivo de construir um prédio destinado a apresentações teatrais e outras diversões públicas.
Naquela ocasião, porque a amante do conde tinha fugido com outro e levado do mesmo o dinheiro disponível, este ficou desesperado e suicidou-se. Então, ao invés do acervo voltar ao seu local de origem, foi deixado lá, tomando rumo ignorado. De tudo, ficou esta história talvez não verdadeira, mas bem bolada, como dizem os italianos.
De ordinário é o libambo lançado na mão direita; porque temem os funidores que, ficando livre a mão direita, podem os escravos com outro ferro, ou ainda abrir com pau o anel que os prende. O libambo das escravas é outro; em separado; e soltas as crianças, a que se dá o nome de crias. MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164.
Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.
segunda-feira, julho 04, 2016
CAPELA SANTANENSE
A história da Capela de Santanense é um testemunho de devoção e perseverança da comunidade local, refletindo o espírito coletivo e a dedicação dos moradores e líderes religiosos ao longo dos anos. A ideia de construir uma capela no povoado de Santanense existia há muitos anos, sendo constantemente lembrada, mas frequentemente adiada. Foi somente em 27 de março de 1930, durante a Assembleia Geral Ordinária da Companhia de Tecidos Santanense, que o primeiro passo definitivo foi dado. Nesta ocasião, o Sr. Juvenal Antônio Pereira apresentou uma proposta que foi prontamente aprovada: a Companhia de Tecidos Santanense contribuiria com a quantia de 3.000 réis para a construção da capela, assim que uma oportunidade se apresentasse.
Finalmente,
em 17 de abril de 1932, as obras da capela foram iniciadas. Este dia foi
marcado por uma missa campal celebrada pelo Reverendo Padre Ignácio Campos,
então vigário de Itaúna. Na presença dos diretores da Companhia de Tecidos
Santanense, acionistas e operários, a primeira pedra da capela foi abençoada
solenemente conforme o Ritual Romano. Após a cerimônia, uma ata foi lavrada,
assinada pelos presentes e colocada dentro da pedra fundamental junto com
jornais e moedas da época, simbolizando o início oficial da construção.
As principais assinaturas incluíam: Diretor presidente da Companhia: José Gonçalves de Sousa; Diretor gerente da Companhia: Augusto Gonçalves de Sousa e o Prefeito Municipal: Farmacêutico Arthur Contagem Vilaça. A comunidade recebeu a doação de uma área de 810 metros quadrados para a construção da capela e um lote de 8x45 metros para a casa paroquial. As escrituras dessas doações foram registradas no cartório José Santiago, sob o número 2.560, no livro 3-H, página 176. A construção da capela custou aproximadamente 18.000 cruzeiros, com a Companhia de Tecidos Santanense contribuindo com cerca de metade desse valor.
Com a capela concluída, o Sagrado Coração de Jesus foi proclamado padroeiro do povoado. A imagem foi abençoada e entronizada em 19 de junho de 1933. Em 17 de junho de 1934, a capela foi solenemente abençoada pelo Reverendo Padre José Augusto Bastos, então vigário de Itaúna. Desde então, a festa do Coração de Jesus era celebrada anualmente com grande pompa.
O
serviço espiritual da capela foi inicialmente dirigido pelo Padre Ubaldo
Anselmo da Silveira, capelão da Santa Casa "Manoel Gonçalves", que
dedicou-se de 1933 a 1937. Padre Ubaldo, conhecido por sua bondade e dedicação
às crianças, organizou com sucesso a missa dialogada das crianças. Em março de
1937, o Reverendo Padre Everaldo Molengraaff foi nomeado auxiliar do vigário de
Itaúna e demonstrou grande interesse por Santanense, introduzindo uma missa
dominical e organizando o catecismo para as crianças, que floresceu com
alegria.
Em 30 de janeiro de 1943, às 19 horas, na Igreja Matriz de Itaúna, Padre José Ferreira Neto foi empossado como vigário de Santanense. Naquela época, o povoado contava com pouco mais de mil habitantes, número que cresceu para cerca de quatro mil nos anos subsequentes. A Capela de Santanense não foi apenas um edifício religioso, mas um marco da fé e do empenho comunitário, representando a união e a espiritualidade que moldaram e continuaram a inspirar a vida do povoado.