terça-feira, agosto 30, 2016

ORGANISTAS MATRIZ DE SANTANA


As organistas da Matriz de Sant’Ana


Padre Rodrigo Botelho Moreira Júnior
Administrador Paroquial da Paróquia
Nossa Senhora Aparecida Itaúna - MG


“Laudate eum in tympano & chorus: laudate eum in chordis & organo.”
“Louvai ‘a Deus’ com tímpanos e coros: louvai-o com as cordas e com o órgão.”

A música sempre esteve presente no culto cristão. Por meio da música e dos instrumentos musicais os fiéis louvam a Deus. A inteligência humana alcança a Deus e este nos responde com a sua graça.
O órgão de tubos foi inventado antes de Cristo, na Grécia. A ideia do instrumento tem a ver com a produção de ar que sustenta várias flautas acionadas por teclas. Em Itaúna nunca tivemos um instrumento assim. Mas contávamos com a ajuda do “irmão” do órgão, o harmônio. Um instrumento de teclas e palhetas, como as de um acordeão, sopradas por um fole. A Matriz de Sant’Ana possuía um rico harmônio com vários registros de sons. Este instrumento foi irreparavelmente danificado pelo tempo. Contudo, antes de encerrar a sua carreira, o harmônio já havia sido substituído por um órgão eletrônico da marca Minami na década de 1970. Quem o comprou para a paróquia foi o Padre José Ferreira Netto, ajudado pelos coristas do Coral Pio XII, que mais tarde veio a se tornar o Coral João XXIII.
As nossas organistas foram todas instruídas pelo antigo harmônio. O instrumento musical é também um professor, ele ensina o discípulo como tocá-lo. O repertório, lembremo-nos que passamos pelo Concílio Vaticano II, era executado, em sua maioria, em latim. Imaginemos que um repertório na língua vernácula foi sendo constituído ao longo dos anos: em escalas diferentes, antes e depois do Concílio. Resgatando do passado os nossos cantos em latim, nosso povo vê neles hoje uma obra de arte, mas, na verdade, antes de tudo, eles são um gesto de fé.
A música, como nos lembra o Concílio Vaticano II, é a nobilíssima serva da liturgia. E, serviram à liturgia, as nossas organistas: D. Maria Sebastiana Nunes, D. Cyrene Morávia de Carvalho, D. Anna Alves Vieira dos Reis e D. Nycia D’Aurea.

D. Maria Sebastiana Nunes

Vem, te rogo
Jesus
meu divino e eterno amor.

Nasceu aos 20 de Janeiro de 1894. Foi casada com o Professor Gabriel Nunes de Souza, ex-Diretor da Escola Normal. Moravam na antiga casa onde funcionava o Restaurante Casa Nobre, bem de frente à Praça Dr. Augusto Gonçalves, onde existe um estacionamento hoje. Era lá que ensinava a alguns alunos “as primeiras letras musicais” ao piano.
Às nossas mãos chegaram, das três missas em latim compostas por ela, duas: Missa em honra a Santa Teresinha, com alguns versos faltosos do “Agnus Dei” (cuja copista é D. Anna Alves); e a Missa de Aleluia, composta no crepúsculo de sua vida e impressa por sua família em 1965. Falecera aos 13 de maio de 1964 em Esmeraldas.
Na apresentação da Missa de Aleluia encontramos estes dizeres de João Guimarães Alves: “Desde os nove anos de idade compôs e executou músicas ao harmônio, muito embora não tivesse recebido, a rigor, uma instrução musical. Sua vocação, sua intuição e bom gosto supriam as deficiências do ensino, que não recebeu. Aplicou-se no entendimento e na transmissão da mensagem da música por irresistível impulso e esforço próprio. (...) Lecionou música em Sabinópolis (para cuja formação e progresso o Prof. Gabriel Nunes de Souza muito lutou ao lado de Sabino Barroso), em Virginópolis, Peçanha, Itaúna e Esmeraldas, cidades essas nas quais deixou vários discípulos. Sua produção musical, (...) é volumosa, incluindo três missas, numerosas peças sacras, hinos escolares e músicas profanas de elevada inspiração. Tudo, se reunido, daria alentado volume”.

D. Cyrene Morávia de Carvalho

Oh! Coração, Sagrado Oasis
de teus filhos que são fiéis.
Oh! Coração que d’amor fazes
cair-nos crentes aos teus pés.

Nasceu na cidade de São Vicente Ferrer, aos 25 de maio de 1913. Desde criança, aprendeu a dominar bem a arte da interpretação ao piano. Veio para Itaúna ainda bem jovem, por causa do trabalho de seu pai que era Engenheiro da Rede Ferroviária, o Sr. Ângelo Gonzaga de Morávia Júnior. Nas terras itaunenses casou-se com o Sr. Manoel Gonçalves de Carvalho.
D. Cyrene tocava em importantes bailes na cidade de Itaúna e a sua fé aliada à sua fama trouxeram-na para a Igreja onde começou a tocar o harmônio e cantar as missas e ofícios litúrgicos. Vizinha da Família Corradi, era organista do Coral onde também cantava o maestro Hermínio Corradi. Muito provavelmente estamos diante da primeira organista da cidade de Itaúna, pois, D. Maria Sebastiana Nunes e D. Anna Alves chegaram depois. D. Cyrene, já doente, foi preparando o espaço para elas chegarem.
Ela pertencia ao Apostolado da Oração e conservava a fé mesmo nos momentos de provações. Já idosa e debilitada, recebia a comunhão em casa – o seu desejo era o de nunca se afastar de Deus. Sempre agiu com solicitude para com as necessidades da Igreja: auxiliava as crianças nas coroações e acompanhava de perto os trabalhos pastorais.
No dia 3 de julho de 2010, aos 97 anos, faleceu D. Cyrene.
No Livro Harpa de Sião, página 46, número 34, onde se encontra a música intitulada “Teu coração é meu cenáculo”, encontramos a letra de D. Cyrene para marcar um pequeno lembrete: “para a missa amanhã 7-6-942”. No mesmo livro na página 93, número 96, cuja música intitulada é “Louvemos Maria”, D. Cyrene pôs outro lembrete: “1/2 ponto abaixo”, indicando uma transposição que faria ao harmônio. Na página final da partitura “Inviolata” de autor ignoto, cópia datada de 27 de novembro de 1951, encontramos estes dizeres: “Ao Coral Hermínio Corradi; Lembrança de Cyrene Morávia de Carvalho”.

D. Anna Alves Vieira dos Reis

Adeus, Imaculada!
Mãe da Consolação.
Doce prenda amada do
meu sincero amor.

Mestre em Educação pela Universidade de Itaúna, Pedagoga, Professora... e, sim, organista! Nascida em Itaúna aos 10 de fevereiro de 1937, teve a sua infância ambientada pelo casario da Rua João de Cerqueira Lima e pela linha férrea.  Sua educação musical também foi ornamentada pelo buril de Maria S. Nunes. Por vezes, D. Maria, ficava lá embaixo, na nave da Igreja, junto ao povo, ouvindo deleitosamente sua discípula tangendo lá do coro da Matriz o antigo harmônio.
Além do harmônio da Matriz de Sant’Ana, D. Anna Alves tocava outro harmônio que pertencia à Casa de Caridade Manoel Gonçalves (acervo do Museu Municipal Francisco Manoel Franco em Itaúna) e ainda, um outro harmônio, que pertencia a Igreja do Coração de Jesus em Santanense (sua caixa e palhetas estão conservadas, mas o teclado não pode ser preservado por causa dos cupins).
Além destes instrumentos, Padre José Ferreira Netto adquiriu um pequeno teclado elétrico que era acoplado à uma espécie de mala. Ele era facilmente transportado para as comunidades rurais. A comunidade de N. Sra. de Lourdes do Córrego do Soldado ouviu o som deste instrumento tocado pela D. Anna.
Contralto de mão cheia, ou melhor, de voz cheia, e corista experiente, tendo passado uma vez os olhos na partitura, não precisava ocupa-los novamente para reler a pauta, já fazia de cor e, por ser coisa sagrada, “de coração”. Por vezes, de tanto traquejo com a partitura, cantava o contralto e ainda tocava o harmônio – fazia as duas coisas juntas, o que é muito difícil. Ao lado de Maria Concebida Viana, a Dunga, cantora e “puxadora” de enredo de samba da nossa terra, entoavam os graves e soleníssimos versos iniciais do “Agnus Dei” da Missa “in honorem Sancti Michaelis Archangelis”.
Ainda encontramos D. Anna Alves andando pelas ruas com a sua pasta de partituras e estudos musicais nas mãos. Este gesto reflete a verdade de que da música seremos eternos aprendizes.

D. Nycia D’Aurea

Sou feliz pois Cristo habita
firme no meu coração.
Ele é quem me dá consolo
na tristeza ou na aflição.

Nascida em Campo Belo no dia 19 de outubro de 1929, recebeu as primeiras instruções ao piano ainda criança no Conservatório de Música em Lavras-MG. Chegou à Itaúna no ano de 1949 e na década de 1970 recebeu das mãos do Padre José Netto a chave do harmônio. Foi D. Nycia quem fez a passagem do harmônio para o órgão eletrônico.
Dedicou-se com afinco à música na Paróquia de Sant’Ana. Vinda da Igreja Presbiteriana apaixonou-se pela fé católica e expressou-a muito bem em sua música e em jeito de ser. Não foi difícil adaptar ao harmônio ou ao órgão as orientações recebidas ao piano. Seu talento fez suprir, com facilidade, o número limitado de teclas do harmônio e as mãos acostumaram-se rapidamente à leveza das teclas do órgão.
De berço italiano, herdou da família, por parte do pai, Gofredo D’Aurea, o temperamento forte, mas como dizem os italianos: “questo è il paese dove tutte le parole sono dolci o sono amare sono sempre parole d'ammore” (Este é o país onde todas as palavras, sejam doces ou amargas, são sempre palavras de amor). O Padre Amarildo se recorda, e muito bem, dos momentos embravecidos da D. Nycia; na verdade, todos nós nos lembramos... Contudo, lembramo-nos ainda mais dos sorrisos, da exigência por excelência, dos ensaios e ensinos, das conversas, daquela voz bonita que, no Domingo de Páscoa, na Missa das sete da manhã, cantava com o Côro João XXIII a música de Bach, “Jesus, Alegria dos Homens”.
D. Nycia tocou outros órgãos em Itaúna. Estes instrumentos ainda ocupam lugar de destaque em algumas Igrejas da cidade. Recordamos vê-la tocar o órgão da Matriz de Nossa Senhora de Fátima no bairro Padre Eustáquio, o órgão da Matriz do Coração de Jesus em Santanense, o órgão da Gruta Nossa Senhora de Itaúna e o órgão da comunidade Maria Mãe da Igreja na Vila Tavares.
Mezzo-soprano, voz de peito, nunca precisou de microfone para fazer ressoar a sua voz pela nave da Igreja Matriz de estilo Neo-Gótico, arquitetura que colabora bastante com a ressonância do som. Tinha rápida leitura de partituras, por vezes, antes das missas ou ensaios, estava a D. Nycia aprendendo o que, em bem pouco tempo, cantaria na missa, como se tivesse ensaiado aquela peça muitas vezes. Ela não tinha medo do novo: saltava do latim para o português e do clássico ao contemporâneo com muita facilidade.
Quando o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso veio à Itaúna, no dia 7 de dezembro de 2001, foi ela quem executou, com mãos firmes e precisas, o Hino Nacional Brasileiro. Com certeza, uma grande emoção invadiu o seu coração ao saber que, por meio da sua arte, poderia oferecer esta honraria àquele chefe de Estado.
Hoje, D. Nycia mora em Lavras-MG e vem visitar-nos às vezes.

Agradecimentos

Sanctus, Sanctus, Sanctus
Sine fine,
Sanctus

Quatro senhoras, quatro esposas, quatro mães, quatro organistas, quatro mulheres de Deus. Ainda ressoam nos ouvidos de muitos itaunenses as músicas tocadas e cantadas por elas. Itaúna lhes deve muito... Somos mui gratos por tudo o que fizeram. Não sei se lhes é sabido, mas as senhoras nos ajudaram a rezar. Deus lhes pague o que fizeram com tanto amor.



http://www.paroquiadesantana.com.br/site/index.php/noticias/160-as-organistas-da-matriz-de-sant-ana

domingo, agosto 07, 2016

CHAFARIZ DE ITAÚNA

ÁGUAS DO CHAFARIZ DE ITAÚNA

1880

Símbolo de abundância de água, o chafariz era local também de sociabilidade e pessoas a parolar. Frequentado por vários tipos de classes, além de buscar água, o local servia para colocar a conversa em dia, enquanto esperavam que seus tonéis fossem enchidos, os responsáveis aproveitavam para “espalhar notícias e principalmente as difamações sobre seus patrões ”.

Segundo nos informa Marjolaine Carles, Vila Rica (hoje Ouro Preto) “dava um banho´d’agua” no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais final do século XVIII, a capital tinha dezoito chafarizes mais tantos outros espalhados pelas redondezas da sede do governo, o qual contava com uma população de 8 mil habitantes.  Neste ponto, o Rio de Janeiro, Capital da Colônia, perdia de muito longe para Minas Gerais, tinha somente apenas onze chafarizes para cerca de 30 mil habitantes. 

Nestes chafarizes, além de ofertas de abundantes águas e boas prozas, eram locais de grande proliferação de atividades urbanas – domésticas, artesanais, industriais, sustentando profissões de aguadeiros e lavadeiras.  A isto, segundo nos informa Claudia Lopes, o chafariz era uma obra pública e tinha a importância e caráter, sendo classificados em três grupos: funcionais, decorativos e monumentais[1].

    Em Sant’Anna de São João Acima (hoje Itaúna), a Assembleia Legislativa Provincial de Minas Geraes, autorizava o projeto de nº 181  para construção de um chafariz:

Art. Único. Fica o governo autorizado a despender a quantia de 4:000$000 (quatro contos de réis) com a construção de um chafariz no arraial de Sant’ Anna de São João Acima, pertencente ao município do Pará, comarca de Sete Lagoas; revogadas as disposições.
Sala das sessões, 22 de outubro de 1880 -  Costa Sena, Amaro, José Rufino, Ferras Junior, Ovídio de Andrade, Drummond.

O valor de quatro contos de reis, para a construção de um chafariz em Sant’ Anna de São João Acima naquele período, seria uma quantia muito expressiva e opulenta.  

O papel social e urbano dos chafarizes em Minas Gerais no final do século XVIII e início do XIX, destacando o chafariz como um símbolo não apenas de abundância de água, mas também como um espaço de convivência social e desenvolvimento urbano. Em locais como Vila Rica (atual Ouro Preto) e o arraial de Sant'Anna de São João Acima (atual Itaúna), essas estruturas desempenhavam funções vitais, tanto práticas quanto simbólicas.

A importância do chafariz ia além de sua função de fornecimento de água. Esses locais eram pontos de encontro onde diferentes classes sociais se reuniam para buscar água e, ao mesmo tempo, interagir. Pessoas conversavam e até colocavam as notícias em dia fazendo seus "fuxicos". Assim, os chafarizes desempenhavam um papel de comunicação informal, sendo centros de sociabilidade e troca de informações. Esse aspecto mostra que, além de resolver uma necessidade básica da população, eles eram fundamentais para a formação de laços sociais nas comunidades.

A comparação entre Vila Rica e a cidade do Rio de Janeiro no final do século XVIII ressalta o contraste no número de chafarizes entre as duas regiões, evidenciando o avanço de Minas Gerais em termos de abastecimento de água pública. Enquanto Vila Rica, com uma população de 8 mil habitantes, tinha dezoito chafarizes, a capital da Colônia, com cerca de 30 mil habitantes, possuía apenas onze. 

Isso mostra como o planejamento urbano e o investimento em infraestrutura em Minas Gerais eram mais desenvolvidos em relação ao Rio de Janeiro. O chafariz também fomentava o desenvolvimento de profissões relacionadas ao abastecimento e uso de água, como aguadeiros e lavadeiras. Isso transformava esses monumentos em pontos estratégicos de atividades econômicas urbanas, servindo para além de um simples abastecimento de água, mas também para sustentar práticas cotidianas e artesanais que estruturavam a vida da cidade.

De acordo com a classificação de Claudia Lopes, os chafarizes podiam ser funcionais, decorativos ou monumentais. Os funcionais eram utilitários e simples, localizados fora dos centros comerciais e administrativos. Já os decorativos tinham elementos ornamentais que valorizavam a paisagem urbana. Por fim, os monumentais eram grandes obras de arte, com complexos elementos barrocos e localizados em pontos de destaque das cidades.

Em Sant'Anna de São João Acima, a construção de um chafariz em 1880, autorizada pela Assembleia Legislativa Provincial de Minas Gerais, demonstra o empenho da administração pública em melhorar o abastecimento de água e, ao mesmo tempo, em valorizar o espaço urbano. O valor de quatro contos de réis destinado a essa construção revela o grande investimento financeiro necessário para essas obras de infraestrutura, o que indica a importância que esse tipo de empreendimento tinha para as autoridades da época.

Expandindo essa análise, podemos refletir sobre a relevância dos chafarizes não apenas como fontes de água, mas também como símbolos de poder público e de urbanização. Eles eram um marco de desenvolvimento e civilidade, demonstrando como o espaço público era pensado e utilizado em sociedades do passado. A presença de monumentos como esses reafirma a centralidade da água na organização da vida cotidiana, não apenas como recurso, mas como elemento de articulação social, política e cultural.

Ao considerar a construção de um chafariz em Sant'Anna de São João Acima, é possível perceber que a obra pública transcende o simples objetivo de fornecer água. Ela se insere em um contexto mais amplo de desenvolvimento urbano e social, refletindo o papel das infraestruturas públicas na promoção do bem-estar coletivo e na construção da identidade das cidades. O investimento em chafarizes demonstra o reconhecimento da água como um recurso vital e estratégico para a vida urbana, mas também como um meio de promover a coesão social, a estética urbana e o desenvolvimento econômico.

Em suma, os chafarizes eram mais do que estruturas utilitárias; eles eram elementos integradores do espaço público, promovendo tanto a funcionalidade quanto a beleza e a sociabilidade nas cidades. Eles simbolizavam a interseção entre o cotidiano e o extraordinário, entre o pragmático e o ornamental, moldando a paisagem urbana e as relações humanas em torno de um recurso essencial: a água.




[1] - Funcionais: monumentos utilitários com pouquíssima ornamentação e quase nenhuma preocupação estética, geralmente afastados dos centros administrativo e comercial da vila. Exemplos: ponte do padre faria e chafariz da rua das cabeças
- Decorativos: começa a haver uma maior preocupação com a ornamentação das ruas, sendo que nesses monumentos já aparecem elementos em cantaria, ainda que pequenos. Exemplos: ponte do pilar, chafariz do rosário e chafariz da rua barão de ouro branco.
- Monumentais: obras que ocupavam posição de destaque na paisagem da cidade,sendo de grandes proporções e merecendo extremo cuidado no desenho e execução. Apresentamse bem ornamentados, dotando de diversos elementos barrocos. Exemplos: ponte de antônio dias, chafariz de marília e chafariz dos contos.


Referências:

CARLES, Marjolaine.  Fontes sob controle: Revista de História, 2013.

LOPES, Claudia. Arquitetura oficial no período colonial: um estudo sobre as pontes e chafarizes de Ouro Preto. 

Fotografia ilustrativa.

Jornal: A Actualidade -  Ouro Preto, 1880. n° 127 p.3.

Elaboração e Pesquisa: Charles Aquino, graduando em História pela UEMG/Divinópolis 6º período.


quarta-feira, julho 20, 2016

PROFESSOR PLÁCIDO TEIXEIRA COUTINHO


ATITUDE EDUCATIVA E FALÊNCIA DA ESPERANÇA

 A História da Educação em Sant’Anna de São João Acima (hoje Itaúna), termo da Vila de Pitangui, pertencente à Comarca do Rio das Velhas, foi construída a partir de um grande esforço coletivo, tanto de professores quanto da comunidade que possuíam o mesmo ideal e desejo de ter um ensino local, isso "bem antes do Governo do Estado cogitar da instrução intensiva" (DORNAS, 1951, p.156).  A criação da primeira escola pública no século XIX, regida pelo mestre Francisco Zeferino[1] foi determinada pela Lei Mineira nº 511 de 3 de julho de 1850 que no seu Artigo 3°, §3.º, estabelecia a criação das "Cadeiras do 1º gráo de instrucção primaria para o sexo masculino na Freguezia de Sant'Anna de São João Acima, Municíop de Pitangui" (Livro da Lei Mineira, 1850).

 No ano de 1831, foi realizado o primeiro censo no distrito de Sant'Anna de São João Acima, com dados de 2.757 habitantes existentes na vila, sendo 869 mulatos, 843 brancos, 552 crioulos, 448 pretos e 45 africanos. O censo fornecia diversos dados como o número de quarteirões e fogos [2]; o nome e profissão dos moradores; sua cor e país de origem; se eram livres ou escravos; filhos legítimos ou expostos[3], estado civil, idade e ocupação profissional. (Itaúna em Detalhes, 2003.Fascículo:22). 

No quesito Ocupação (profissão), já figurava o nome de dois Mestres das Primeiras Letras: Quintilianno Jose Pinto, pardo, casado, da idade de 29 anos, morador no Quarteirão de número 1 e Fogo de número 2; Serafim Cardoso, branco, casado, da idade de 55 anos, morador no Quarteirão de número 10 e Fogo de número 6. (Poplin-Minas 1830). Importante observar que, no distrito de Sant'Ana, várias tentativas de ensino foram montadas pela iniciativa privada e mesmo com as dificuldades enfrentadas naquela época, a cidade mostrou ser um grande Polo Educacional. 

Em 13 de maio de 1889, era instalada a primeira escola noturna do arraial, a Sociedade Progresso Santanense, na qual, o Dr. Augusto Gonçalves de Souza Moreira e o farmacêutico João de Araújo Santiago, ministravam aulas gratuitas, sendo somente remunerado o professor Joaquim Marra da Silva (DORNAS, 1936, p.42).

 A Cia. Tecidos Santanense, também conhecida como Fábrica da Cachoeira, estabelecida após o ano d 1891, possuía uma escola dentro da fábrica, sendo ministradas aulas pela professora Jesuína Americana Brasileira e Silva[4]. Já no ano de 1893, era inaugurado o Externato Santanense, pela iniciativa dos senhores Joaquim Augusto Pereira Lima, Francisco Santiago, Cornélio Lima e Joaquim Marra da Silva, o instituto funcionou, porém, pouco tempo. Sobre estes estabelecimentos de iniciativa privada, Ruy Lourenço Filho ressalta: Não confundamos o aspecto de administração geral, que envolve o aspecto político-social, com o da administração escolar, considerada pelo tipo, forma e funcionamento das instituições de ensino. 

Dois tipos fundamentais existem: o da escola isolada e o da escola agrupada. O primeiro é o da escola de um só professor, a que se entregam 40, 50 ou às vezes, mais crianças. Funciona quase sempre em prédio improvisado. A segunda toma o nome de “escolas reunidas” [...]. Aqui o prédio oferece melhores condições de conforto e higiene, mesmo quando adaptado [...]. O material é menos precário. Aí temos a escola comum dos meios urbanos. (FILHO,2002 v.6, p.45).

 No dia 8 de dezembro de 1873 na capital de Minas Gerais, Ouro Preto, era realizada uma reunião dos irmãos da ordem de São Francisco de Assis, para celebrar uma grande festa em consagração "à N.S. da Conceição, padroeira da mesma ordem, com uma grande e variada exposição, cujo resultado será applicado às obras da capella". Um dos vários irmãos devotos que iria recolher assinaturas para ajudar nas obras da capela local era um jovem de dezoito anos de idade de origem portuguesa, Plácido Teixeira Coutinho, que no ano de 1877, contemplava a notícia da sua aprovação do processo de naturalização de cidadão brasileiro, expedida pelo Ministério do Império (Diário do Rio de Janeiro, 1877).

 Passados alguns anos, casado e pai de família, o senhor Plácido estava residindo na freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, termo de São João Del Rei, exercendo a profissão de professor público de instrução primária. No dia 23 de maio de 1881, entrava com pedido à inspetoria geral da instrução pública, solicitando sua transferência para a freguesia de Mateus Leme, termo do Pará, solicitação esta, aceita no dia 27 de maio do mesmo ano. A notícia da transferência do professor Plácido para outra freguesia, não agradou a várias pessoas.  Em carta publicada no jornal A Província de Minas, aos 10 de julho do ano de 1881, intitulada Os pais de famílias, via-se claramente a insatisfação e tristeza que a ausência do professor Plácido estaria causando aos pais e alunos daquele local. O motivo desta insatisfação se encontrava retratado na carta: o professor estaria sofrendo grande pressão e perseguição do subdelegado, o Sr. João José Gomes, da freguesia de São Gonçalo do Ibituruna, para que deixasse o cargo à disposição. 

De fato, assim que o professor conseguiu carta de transferência, o filho do subdelegado, Joaquim Ernesto Gomes partiu às presas para o termo de São João Del Rei e constava que "veio nomeado interinamente para reger a cadeira com promessa de ser provido nella oportunamente"Naquela mesma carta os autores ainda expõem que: o filho do subdelegado, ao contrário do professor Plácido, havia captado a antypathia geral, e sobre tudo tido e havido como um chapado analfabeto, sem o menor conhecimento das regras da grammatica e da orthographia, da arithimetica e do systema métrico, da geografia e até do catecismo romano, semelhante nomeação é a morte da escola pública nesta infeliz freguesia pela falta indubitável  de frequência, que já se vão dando com a retirada de alguns meninos para as escolas de Nazareth e de Bom Sucesso, na certeza de que forem lecionados pelo tal Joaquim Ernesto Gomes (A Província de Minas, 1881).

Passados quase sete anos, desde a transferência para a freguesia de Mateus Leme, no dia 26 de janeiro de 1888 era anunciado no jornal A Província de Minas os resultados finais dos exames aplicados nos anos de 1886 e 1887 na Escola Pública Matheus Leme pelo professor Plácido, cujo, alunos eram avaliados em três tipos de grau de classificação: Aprovados com Distinção; Aprovados Plenamente e Aprovados SimplesmenteSobre os tipos de grau de classificação dos exames, assim expressa a doutoranda Fernanda Cristina C. da Rocha, que pesquisou o Grupo Escolar Rocha nos anos 1910-1916:

 Não é possível precisar o que significava cada grau de classificação dos alunos no GEPR. Parece-me que o grau era conferido de acordo com a nota alcançada no exame final. Porém, não é possível saber se a direção seguia rigorosamente as determinações legais. Segundo o regimento, se os alunos lançassem nota igual ou superior a cinco, seriam considerados aprovados. Alcançando nota 5 eram aprovados simplesmente, se obtivessem nota de 6 a 9 eram aprovados plenamente e nota 10, aprovados com distinção. Os alunos que não alcançassem média 5 nos exames de final de ano seriam considerados não preparados, e repetiriam o ano (ROCHA,2016, p.39).

 No dia 28 de setembro do ano de 1889, o jornal A Província de Minas, anunciou que a Instrução Pública estaria exonerando, a pedido, o professor Plácido Teixeira Coutinho de trabalhos escolares na freguesia de Vargem Grande, termo de Juiz de Fora e concedendo sua mudança para o distrito de São Caetano, termo de Queluz. Ali permaneceria o professor Plácido por um período de três anos, sendo transferido depois, a pedido, para o distrito de Sant’Anna do São João Acima (hoje Itaúna), termo do Pará (Jornal A Ordem, 1892). 

Recém-chegado ao distrito de Sant'Ana, o professor Plácido Teixeira Coutinho ministrava aulas noturnas gratuitas para alunos da primeira instrução primária, tendo de início matriculados nove alunos. A época da sua chegada, no início de 1893, as escolas isoladas formadas pela inciativa privada em Sant'Anna do São João Acima, somadas com presença da escola do Estado, eram responsáveis pela cidade e gozavam de grande privilégio na parte educacional. Após cinco anos morando no distrito de Sant'Ana do São João Acima (hoje Itaúna), o professor Plácido TeixeiraCoutinho de cinquenta e quatro anos de idade, mudaria o seu destino.

Em uma manhã do dia 7 de dezembro de 1899, aproximadamente às 10 horas, o desespero beirava ao insuportável do limite e a falência da esperança tornava-se presente. Com isso, "sua morte foi proveniente de suicídio por um tiro de garrucha disparado no ouvido", dentro do cemitério da cidade, sendo o declarante do óbito o Sr. Lindolfo Antônio da Silva. O jornal O Pharol do ano de 1902 noticiou que: "por conta do governo do Estado, vae ser internada no hospício nacional a louca Elisa de Oliveira Coutinho. A desventurada mocinha perdeu a razão por ser iludida com promessa de casamento"Esse teria sido o amargo motivo que há três anos, seu pai ao saber da história e "ralado de desgostos, suicidou-se".

 O professor Plácido Teixeira Coutinho brindou com o destino o golpe amargo da vida, todavia, suas atitudes educativas foram luzes!


 REFERÊNCIAS:

ELABORAÇÃO E PESQUISA: Charles Aquino

ACERVO: Maria Lúcia Mendes, Professor Marco Elísio, Charles Aquino

FILHO, João Dornas. Efemérides Itaunense. Coleção Vila Rica. Ed. João Calazans. Belo Horizonte, MG, 1951.

 APM. Arquivo Público Mineiro: Coleção Leis Mineiras (1835-1889). Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/leis_mineiras/brtacervo.php?cid=1168  . Acesso em: 20/07/2016.

 ITAÚNA em detalhes: Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa.

POPLIN-MINAS 1830: Lista Nominativa: Distrito de Santana do Rio São João Acima, Topônimo Atual: Itaúna, Termo Pitangui, Comarca Rio das Velhas. Disponível em: http://www.poplin.cedeplar.ufmg.br  .Acesso em:20/07/2016.

FILHO, Ruy Lourenço Lourenço Org. Tendências da Educação Brasileira: Coleção Lourenço Filho v.6, Brasília-DF, Inep/MEC, 2002.

MOREIRA, Lúcio Aparecido. AS FONTES DO MEDO NA EDUCAÇÃO: estudo de caso de uma Escola construída onde existiu um cemitério. Belo Horizonte, 2013, p.23.

ROCHA, Fernanda Cristina Campos: A repetência e a reprovação em um grupo escolar mineiro, nas primeiras décadas do século xx. Revista Intersaberes, vol.11, n.22. Jan –abr 2016. Disponível:http://www.grupouninter.com.br/intersaberes/index.php/revista/article/view/1001 . Acesso em: 20/07/2016.

GIL, Natália e CALDEIRA. Sandra: escola Isolada e Grupo Escolar: a variação das categorias estatísticas no discurso oficial do governo brasileiro e de Minas Gerais. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/estatisticaesociedade/article/view/24543 . Acesso em: 20/07/2016.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves. ITAÚNA: sua trajetória política, social, religiosa, econômica e cultural, desde a criação do Arraial de Santana do São João Acima, em 14 de outubro de 1765, até a data do centenário de instalação do município:1765-2002.

Fontes impressas Hemeroteca Digital Brasileira:

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de Julho de 1881 – nº 64, p.1.

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 2 de junho de 1881 – nº 55, p.2.

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de Maio de 1881 – nº 54, p.2

A ACTUALIDADE – Ouro Preto, 31 de Maio de 1881 – nº 54, p.3

A ORDEM – Ouro Preto, 9 de julho de 1892 – nº 164, p.3

A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 10 de Julho de 1881 – nº 56, p.3.

A PROVÍNCIA DE MINAS – Ouro Preto, 26 de Janeiro de 1888, n° 511, p.4.

A PROVINCIA DE MINAS – Ouro Preto, 28 de Setembro de 1889 – nº 613, p.2.

DIARIO DE MINAS – 22 de Agosto de 1866 – nº 62, p.1.

DIARIO DE MINAS – Ouro Preto, 16 de Outubro de 1873 – n° 147, p.4.

DIARIO DO RIO DE JANEIRO – Rio de Janeiro, 4 de Julho de 1877 – N°178

LIBERAL MINEIRO – Ouro Preto, 17 de Junho de 1884 – nº 67, p.2.

MINAS GERAES – Ouro Preto, 18 de Março de 1893 – nº 75, p.1.

MINAS GERAES – Ouro Preto, 22 de Março de 1893 – nº 79, p.3.

O PHAROL – Juiz de Fóra, 7 de maio de 1902 – nº 116, p.1.

 [1]O homem que exigia dos paes dos meninos que estes levassem um toco de madeira para se assentarem e uma garrafa d’agua para se dessedentarem, deixando fama de grande algoz dos seus alunos. FILHO. João Dornas: Itaúna – Contribuição para a História do Município, 1936, p.40.

[2] FOGO: Casa ou residência. O distrito possuía 400 fotos, cujo, levantamento incluía os filhos casados e escravos dos moradores.

[3] EXPOSTO: Recém-nascido abandonado pela mãe em outra casa; enjeitado. Geralmente eram colocados nas portas das casas, entregues a orfanatos administrados por freiras.

[4] Jesuína Americana Brasileira e Silva era proprietária de uma escola no distrito de Itatiaiuçu e havia trabalhado em outras escolas nos distritos de Mateus Leme e Entre Rios.

quarta-feira, julho 13, 2016

PRIMEIRO MUSEU DE ITAÚNA

O primeiro museu de Itaúna pertenceu ao comerciante Cel. Francisco Manoel Franco, mais conhecido como Chico Franco, cujo acervo situava-se em sua própria residência, no antigo beco do Padre João (hoje Rua cel. Francisco Manoel Franco, esquina com avenida Getúlio Vargas).

O historiador João Dornas Filho informa em seu livro Efemérides Itaunenses que não deixando nunca de atender à sua vocação de antiquário inteligente e arguto, o que lhe permitiu organizar um pequeno museu, no qual se encontravam peças de elevado valor histórico e real, como belíssima coleção de moedas de cobre do Império Romano e da Colônia do Brasil , e moedas de prata e ouro do Império brasileiro; uma lança autêntica usada pelos cavaleiros da Idade Média; uma curiosíssima miniatura da primeira Constituição do Império, contida numa boceta circular para se trazer no bolso; louças da China e da Índia; armas antigas desde o arco e flecha dos selvagens brasileiros até colubrinas e fuzis mais recentes; quadros, bustos, bibelôs, joias, etc.

Sendo o Curador de seu próprio museu, Chico Franco participava de vários eventos relacionados à exibição de objetos de valores histórico, cultural e artísticos. No ano de 1885 em sua cidade natal, Sabará, o antiquário participou de uma Exposição Regional Sabarense, sendo presenteado com uma medalha de prata e menção honrosa por apresentar os seguintes artefatos: Uma bengala de madeira feita a canivete, uma caveira de veado com chifres cobertos de pelo, dois machados de pedra indígena e uma palma marítima [1].

No livro Itaúna: Contribuição Para a História do Município, o historiador João Dornas Filho exibe uma fotografia [2] referente a dois instrumentos de tortura para escravos, que pertenceram ao museu do Chico Franco, sendo estes: uma Peia de Ferro[3] e um Libambo [4].

O cel. Franco, segundo o historiador itaunense Guaracy de Castro Nogueira, foi uma das personalidades mais atuantes do distrito de Sant’Ana do São João Acima (hoje Itaúna), nas duas últimas décadas do século passado. No ano de 1857, aos 6 de janeiro, nascia Francisco Manoel Franco, que mais tarde se casou, em primeiras núpcias, com a senhora dona Amélia Gonçalves de Sousa, vindo a falecer em 1885. Ainda no mesmo ano, desposou a senhora dona Aurora Gonçalves de Sousa, irmã da falecida. 

No ano de 1878, chegava à Sant’Ana de São João Acima (hoje Itaúna), o cel. Franco, tornando-se um comerciante bem-sucedido na cidade, onde conseguiu adquirir um bom patrimônio e fortuna, todavia, prestou à sua terra adotiva os mais assinalados serviços.  No ano de 1889, em 21 de abril, diretamente vinculado ao Centro Republicano de Ouro Preto, o cel. Franco foi eleito primeiro-secretário.

 Aos 20 de julho de 1890, segundo informa o historiador Guaracy, o cel. Chico Franco era um grande apreciador das belas artes e organizou, juntamente com outros companheiros, a Companhia de Teatro Santanense, tendo o objetivo de construir um prédio destinado a apresentações teatrais e outras diversões públicas.

Comerciante bem estruturado na cidade e de visão empreendedora, já no ano de 1891 aos 23 de outubro, em casa do cidadão Antônio Pereira de Matos, situada à rua Direita (hoje Getúlio Vargas), com vários acionistas presentes e demais autoridades da cidade, assinavam e declaravam constituída a primeira Acta da Assembleia Geral de Instalação da Companhia de Tecidos Santannense [5].  Neste momento, o cel. Francisco Franco era empossado no Conselho Fiscal da empresa, mediante o estatuto da companhia, no Capítulo VIII, Art.40, sendo também, um dos acionistas com o número de 50 ações.

Alcançada a emancipação política e instalado o município em 2 de janeiro de 1902, foi nomeado Coletor Federal, cargo este, que exerceu durante várias épocas até a sua aposentadoria. Participou, em 14 de abril de 1918 da fundação do Clube Itaunense, precursor do atual Automóvel Clube, cujo objetivo era proporcionar diversão aos seus associados e manter um salão para leitura.  O cel. Francisco Manoel Franco veio a falecer no dia 27 de novembro de 1941, com 84 anos de idade.


Por Guaracy de Castro Nogueira: História Oral [6]

Segundo Ilca Dornas de Araújo, neta do cel. Francisco Manoel Franco, quando este morreu, o interventor do Estado Benedito Valadares Ribeiro (hoje seria o cargo de Governador do Estado de Minas Gerais) não quis deixar o acervo do coronel saísse do Estado de Minas Gerais. Foi quando veio a Itaúna um conde siciliano e a referida coleção foi negociada verbalmente e levada para São Paulo.

Naquela ocasião, porque a amante do conde tinha fugido com outro e levado do mesmo o dinheiro disponível, este ficou desesperado e suicidou-se. Então, ao invés do acervo voltar ao seu local de origem, foi deixado lá, tomando rumo ignorado. De tudo, ficou esta história talvez não verdadeira, mas bem bolada, como dizem os italianos.

Apreciando a relação das referidas peças, feita pelo escritor João Dornas Filho, concluímos que as mesmas se realçavam principalmente por ser cunho curioso. Portanto ligavam-se sob dado aspecto à arte e História e não condiziam com nosso contexto local e regional, valorizando o que era autenticamente nosso. Numa reunião ocorrida no gabinete do prefeito Osmando Pereira da Silva, foi de nossa iniciativa a proposta de dar ao atual Museu Municipal de Itaúna o ilustre nome de Francisco Manoel Franco.


Acesso ao Acervo do Chico Franco

Vídeo: Registro do Museu Municipal de Itaúna por Hamilton Pereira. 


Referências:
Organização, Pesquisa e Arte: Charles Aquino
Biblioteca Nacional. Disponível em :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >
FGV: Fundação Getúlio Vargas: Disponível em< http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral
FILHO. João Dornas. Itaúna: Contribuição para história do município. 1936,p.34.
FILHO. João Dornas. Efemérides Itaunenses,1951, p.13-14
LOPES. Nei: Dicionário Afro-Brasileiro, p.133.
MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164
Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248
Jornal: Província de Minas. Ouro Preto, 5 de dezembro de 1885 N° 294

[1] Jornal: A Província de Minas, p.1.
[2] A fotografia destes instrumentos poderá ser vista também no site da Biblioteca Nacional no endereço do Link :< http://acervo.bndigital.bn.br/sophia/index.html >, com o título: Instrumentos de tortura para os escravos [iconográfico], do Museu do cel. Francisco Manoel Franco.

[3] Peia de Ferro: Instrumento para tortura de escravos. Constava de uma espécie de algema ou corrente que prendia os pés do escravo. LOPES, Nei: Dicionário Afro-Brasileiro, p.133.

[4] Libambo: Que em língua bunda significa corrente que era colocado ao pescoço. Nesta corrente de ferro, vai-se perdendo de pouco em pouco espaço cada um dos pretos escravos da maneira seguinte: pelo anel da corrente no espaço competente fazem os sertanejos, e os do comboio passar um pedaço de ferro e com ele à força de pancada fazem outro anel; e sobrepondo as pontas de ferro uma a outra, fica a mão do escravo presa, e metida nesta nova argola.

De ordinário é o libambo lançado na mão direita; porque temem os funidores que, ficando livre a mão direita, podem os escravos com outro ferro, ou ainda abrir com pau o anel que os prende. O libambo das escravas é outro; em separado; e soltas as crianças, a que se dá o nome de crias.  MOURA. Clóvis: Dicionário da escravidão negra no Brasil, p.164.

[5] Jornal: O Estado de Minas. Ouro Preto, 17 de novembro de 1891. Nº 248

[6] O QUE É HISTÓRIA ORAL?
A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC.

As entrevistas de história oral são tomadas como fontes para a compreensão do passado, ao lado de documentos escritos, imagens e outros tipos de registro. Caracterizam-se por serem produzidas a partir de um estímulo, pois o pesquisador procura o entrevistado e lhe faz perguntas, geralmente depois de consumado o fato ou a conjuntura que se quer investigar.

Além disso, fazem parte de todo um conjunto de documentos de tipo biográfico, ao lado de memórias e autobiografias, que permitem compreender como indivíduos experimentaram e interpretam acontecimentos, situações e modos de vida de um grupo ou da sociedade em geral. Isso torna o estudo da história mais concreto e próximo, facilitando a apreensão do passado pelas gerações futuras e a compreensão das experiências vividas por outros.

Fundação Getúlio Vargas: Disponível em> http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral

segunda-feira, julho 04, 2016

CAPELA SANTANENSE


A história da Capela de Santanense é um testemunho de devoção e perseverança da comunidade local, refletindo o espírito coletivo e a dedicação dos moradores e líderes religiosos ao longo dos anos. A ideia de construir uma capela no povoado de Santanense existia há muitos anos, sendo constantemente lembrada, mas frequentemente adiada. Foi somente em 27 de março de 1930, durante a Assembleia Geral Ordinária da Companhia de Tecidos Santanense, que o primeiro passo definitivo foi dado. Nesta ocasião, o Sr. Juvenal Antônio Pereira apresentou uma proposta que foi prontamente aprovada: a Companhia de Tecidos Santanense contribuiria com a quantia de 3.000 réis para a construção da capela, assim que uma oportunidade se apresentasse.

Finalmente, em 17 de abril de 1932, as obras da capela foram iniciadas. Este dia foi marcado por uma missa campal celebrada pelo Reverendo Padre Ignácio Campos, então vigário de Itaúna. Na presença dos diretores da Companhia de Tecidos Santanense, acionistas e operários, a primeira pedra da capela foi abençoada solenemente conforme o Ritual Romano. Após a cerimônia, uma ata foi lavrada, assinada pelos presentes e colocada dentro da pedra fundamental junto com jornais e moedas da época, simbolizando o início oficial da construção.

As principais assinaturas incluíam: Diretor presidente da Companhia: José Gonçalves de Sousa; Diretor gerente da Companhia: Augusto Gonçalves de Sousa  e o Prefeito Municipal: Farmacêutico Arthur Contagem Vilaça. A comunidade recebeu a doação de uma área de 810 metros quadrados para a construção da capela e um lote de 8x45 metros para a casa paroquial. As escrituras dessas doações foram registradas no cartório José Santiago, sob o número 2.560, no livro 3-H, página 176. A construção da capela custou aproximadamente 18.000 cruzeiros, com a Companhia de Tecidos Santanense contribuindo com cerca de metade desse valor.

Com a capela concluída, o Sagrado Coração de Jesus foi proclamado padroeiro do povoado. A imagem foi abençoada e entronizada em 19 de junho de 1933. Em 17 de junho de 1934, a capela foi solenemente abençoada pelo Reverendo Padre José Augusto Bastos, então vigário de Itaúna. Desde então, a festa do Coração de Jesus era celebrada anualmente com grande pompa. 

O serviço espiritual da capela foi inicialmente dirigido pelo Padre Ubaldo Anselmo da Silveira, capelão da Santa Casa "Manoel Gonçalves", que dedicou-se de 1933 a 1937. Padre Ubaldo, conhecido por sua bondade e dedicação às crianças, organizou com sucesso a missa dialogada das crianças. Em março de 1937, o Reverendo Padre Everaldo Molengraaff foi nomeado auxiliar do vigário de Itaúna e demonstrou grande interesse por Santanense, introduzindo uma missa dominical e organizando o catecismo para as crianças, que floresceu com alegria.

Em 30 de janeiro de 1943, às 19 horas, na Igreja Matriz de Itaúna, Padre José Ferreira Neto foi empossado como vigário de Santanense. Naquela época, o povoado contava com pouco mais de mil habitantes, número que cresceu para cerca de quatro mil nos anos subsequentes. A Capela de Santanense não foi apenas um edifício religioso, mas um marco da fé e do empenho comunitário, representando a união e a espiritualidade que moldaram e continuaram a inspirar a vida do povoado.


Organização e pesquisa: Charles Aquino
Fonte: Paróquia do Coração de Jesus de Santanense: Histórico da Paróquia de Santanense, pag.26