Pepe CHAVES*
José
Guimarães Chaves, mais tarde conhecido como Zezito Chaves, nasceu no dia 07 de
setembro de 1932, na Fazenda dos Coqueiros, zona rural de Itaúna-MG. Ele foi o
primogênito dos 12 filhos de José Policarpo de Mendonça Chaves e sua esposa
Iolanda Guimarães Chaves. A mãe desejou concebê-lo na fazenda de seus pais,
Toinzinho Guimarães e Dona Zulmira, onde poderia contar com o auxílio da mãe.
Nascido
aos pés da frondosa Serra do Minério, na divisa dos municípios de Itaúna e
Itatiaiuçu, o menino acabou por permanecer por ali durante os próximos anos.
Isso, porque a sua avó Zulmira se apegara tanto a ele, que não permitiu seu
retorno junto aos pais para o centro de Itaúna, onde o casal residia.
Assim,
os pais naturais José Chaves e Iolanda retornaram à cidade, onde tiveram seus
outros 11 filhos e naquela fazenda, Dona Zulmira e Toinzinho, seus padrinhos,
passaram a criar o menino Zezito como se fosse um de seus filhos. Tanto que,
anos mais tarde, a considerável partilha patrimonial do casal foi igualmente
estendida ao neto, realmente tido como filho por eles. E ali, na Fazenda dos
Coqueiros, sob os olhares da sua querida “Madrinha”, o menino Zezito foi
crescendo, ao lado dos filhos e netos de Zulmira.
Distante
dos seus pais e dos demais irmãos, o seu tio Delzir Batista Guimarães (depois,
ao lado da esposa Irene) lhe supriu a figura do pai na roça em que foi criado,
como ele me confessaria mais tarde. Ainda que visitasse sempre os pais e os
irmãos quando viajava a Itaúna, a sua proximidade diária com Delzir e filhos
lhe proporcionou conviver com outro lar, dentro de sua própria família.
A
partir dos anos de 1940, o adolescente Zezito passou a estudar no Colégio
Santana, situado no centro de Itaúna. Ele me contou que nessa época, acordava
às 4h30 da manhã e ia para o pasto pegar o cavalo, arriá-lo para cobrir
aproximadamente 15 quilômetros até a sua escola. No entanto, não se sentia
ambientado na sala de aula. Sua paixão pelos veículos e motores tirava a sua
concentração das matérias. “Eu tentava prestar atenção nas aulas, mas quando
ouvia um ronco de motor lá fora, eu perdia a concentração”, me disse certa vez,
sobre sua fascinação.
Um
dia teve a ideia de levar queijos feitos na fazenda para vender em Itaúna. E
deu certo, pois, aproveitando as viagens para o colégio, deixava os queijos em
vendas da cidade e pôde assim, ir juntando dinheiro para realizar o sonho de
consumo de toda a sua vida: comprar um caminhão e trabalhar com fretamento de
cargas.
Assim, aos 17 anos, ele juntou todas as
economias dos anos anteriores, conseguiu um empréstimo, que pagou algum tempo
depois, e comprou o seu primeiro caminhão, em 1949. Era um velho Studake, ano
1946, com o qual fez os seus primeiros serviços. Com ele começou a fazer
transportes de cargas em Itaúna, até que, cinco anos mais tarde ele conseguiu
adquirir um caminhão mais robusto, um Dodge, ano 1952.
Foi aí que começou a fazer viagens mais longas
e permanecer vários dias fora de sua amada Itaúna. Alguns anos mais tarde,
Zezito comprou o seu primeiro Alpha Romeu (FNM), o popular Fenemê. Mais tarde
veio adquirir outros caminhões dessa mesma marca, sendo um deles em sociedade
com um amigo e dirigido por um motorista contratado. Seu último foi um FMN, ano
1956, do qual, tive notícias, faz pouco tempo, que estaria rodando ainda, na
cidade de Goiânia.
Na
cabine de seu caminhão Zezito viu o mundo passar como um filme à sua frente.
Outras terras, pessoas, costumes e culturas. Na bagagem, trazia sempre muitas
histórias de viagens compartilhadas com a família e amigos. Foram muitas
experiências longe de casa, felizmente, sem nenhum acidente ou assalto, mas com
repletas de aventuras e desventuras.
Em
31 de dezembro de 1963, ele se casou com Neusa Mendes, filha de José Mendes e
Maria Viana Mendes, com quem teve os filhos, José Geraldo Chaves, Joel Jorge
Chaves e Marco Antônio Chaves, que lhe deram 12 netos, dos quais, pôde conhecer
apenas o primeiro.
Seu
grande coração o fez parar por inúmeras vezes nas beiras de estrada,
sentindo-se na obrigação de socorrer algum caminhoneiro desconhecido, usando
sempre de suas habilidades mecânicas ou experiências de viagens.
Certa
vez, ele me contou, “Eu estava perto de Maravilhas (MG), era uma tarde com uma
chuva muito grossa. Vi um caminhão parado na beira da estrada e desci para ver
o que aconteceu. O dono do caminhão estava sem saber o que fazer, o motor parou
e ele não entendia de mecânica. Eu fui ver o que era e encontrei o defeito,
consegui consertar. Ele mal pôde acreditar quando o motor voltou a funcionar e
me agradeceu muito, quis me dar gorjeta, mas recusei.
Quando
eu já estava indo embora, ele me perguntou, porque eu parei ali, naquela chuva
danada para socorrê-lo, se eu nem o conhecia. Respondi que devemos ser assim,
uns pelos outros, pois podia acontecer de um dia ele me socorrer. Ele sorriu e
disse que isso seria muito difícil, pois ele era do estado do Mato Grosso,
estava voltando para lá. Mas, o mundo dá voltas, meu filho.
Pois, alguns anos
depois, meu caminhão quebrou justamente no interior do Mato Grosso e quem parou
na estrada para me rebocar? Sim, ele, o mesmo caminhoneiro que eu socorri anos
atrás em Maravilhas. Quando ele me viu não pôde acreditar que era mesmo eu e a
gente riu muito. E lembro que, depois de me socorrer, ele ainda falou: ‘você
tinha razão’”.
Este era o seu espírito amigo, dentro e fora
das estradas, sempre leal e prestativo. Seu caráter juntamente com sua
personalidade única cultivou uma considerável legião de admiradores e amigos em
Itaúna, entre tantas outras cidades do Brasil por onde ele passou.
Seu
carisma se estendeu também a diversas pescarias realizadas com alguns dos seus
amigos, pelo Brasil Central e no Sul da Bahia. Por vezes, Zezito e amigos
alugaram ônibus (sempre dirigido por ele) e, em comboios com carros e canoas na
bagagem, iam pescar noutros estados, de onde traziam muitos pescados.
Depois
de trabalhar como caminhoneiro por quase 30 anos, ele vendeu seu último Fenemê,
o verde escuro, em meados da década de 1970 e aposentou dos caminhões, passando
a dirigir somente carros de passeio. Alugou uma garagem na Praça da Matriz de
Itaúna e ali passou a vender carros usados, que eram “melhorados” por ele. No
local, onde hoje está situado o restaurante “Água na Boca”, ele também prestava
cordiais serviços mecânicos para os amigos. Sua garagem se tornou uma espécie
de clube particular.
Por
quase 10 anos naquele local, Zezito reunia ali os amigos para jogar conversa
fora, planejavam as pescarias, avaliava veículos e motores para terceiros. Café
e cachaça sempre havia ali para os visitantes, que costumavam destilar um pouco
de humor apurado em tantos causos e piadas ouvidos e contados por Zezito. E
ali, eu e meus irmãos pudemos também aprender lições de vida com alguns de seus
amigos, como José Marinho de Faria, Joaquim “Sumatra” Medeiros, José Eloi, Jair
Oliveira, Klebão, Napoleão, Luiz de Toleto, José Muné, Arnaldo Marques entre
tantos outros que não vêm à memória agora.
Zezito
Chaves faleceu em 03 de setembro de 1987, quatro dias antes de completar 56
anos de idade. Ele sofreu um ataque cardíaco fulminante na garagem de sua casa,
enquanto consertava um motor de canoa para um amigo, na manhã de um sábado
ensolarado. Sua ausência ainda é sentida por muitas pessoas que ainda encontro
e, por vezes, relembram saudosas histórias protagonizadas ou contadas pelo
Zezito.
Posso
dizer que tive a honra de ser seu filho, sobretudo, por guardar alguns de seus
traços físicos e de sua personalidade ímpar. Como pai, digo que ele foi
excepcionalmente atencioso, preocupando-se diuturnamente em nos transmitir
noções básicas, de justiça, de honestidade, de desprendimento ao próximo, entre
tantas outras. Sua maior herança, sem dúvida, foi sua sensatez e inteligência
racionalmente peculiar, o que lhe concebia uma grande capacidade para ensinar e
convencer.
Sem
dúvida, o Zezito foi um professor sem diploma, do qual, algumas pessoas tiveram
o prazer de interagir em algumas das suas realísticas e bem-humoradas aulas.
Referências:
*
Pepe Chaves é editor da Rede Via Fanzine de portais.
Acervo:
Álbum de família Pepe Chaves
Colaborador:
Joaquim Medeiros (Sumatra)
Para
o Itaúna em Décadas em 16/10/2012
Organização
para o Blog Itaúna Décadas: Charles Aquino