sábado, agosto 04, 2012

CAPELA SENHOR DO BONFIM



No começo da década de vinte, vez por outra, nas férias do grupo escolar, na companhia de meu pai, numa arrancada de sete léguas puxadas, viagem a cavalo, a gente ia a São Gonçalo do Pará, em visita aos nossos parentes residentes na Aldeia do Curral, 3 quilômetros além do arraial.

  No retorno a Itaúna, deixando São Gonçalo pela Rua da Barragem, a gente passava por Buriti, Braúnas, atingindo logo à frente à fazenda Campo alegre, que ficava à margem da estrada boiadeira, ao sopé da serra do mesmo nome. A estrada real prosseguia avante e ia contornando a serra avançando em seguida o vale do Rio São João, em demanda da fazenda da Vargem, de propriedade do Sr. Nhô Zé, grande fazendeiro daquelas bandas.

Precisamente defronte aos currais da fazenda Campo Alegre, a gente deixava a estrada e ganhava umas trilhas tortuosas que subiam encosta acima, até atingir o cume da serra, que não era realmente muito elevada, constituída mais por chapadões íngremes e extensos. Os cavaleiros e pedestres passavam por aquele atalho, apesar da subida por veredas sinuosas, mas que diminuía a viagem em alguns quilômetros. Quando a gente atingia o alto, avistava-se ao longe, bem distante mesmo para uma viagem a cavalo, a silhueta da Capela Senhor do Bonfim, bem no ápice da serra do mesmo nome; com o sol a pino, percebia-se o cintilar da capelinha branca lá no topo da montanha.  Naquele instante a saudade de casa apertava mais o coração da gente! ...

E pensava: - Meus Deus, ainda teremos que viajar tantas léguas para que possamos chegar a casa, lá no nosso cantinho da Rua Direita!

Olhando sempre a imagem da Capela, enquanto ela podia ser vista, a gente ia guiando o animal, descendo a serra passo a passo, por aquelas trilhas pedregulhosas, em direção à fazenda do Nhô-Zé, que se avistava lá em baixo, no vargedo, não muito distante do Rio São João. E enquanto ia descendo a vertente da montanha, meu pensamento ia percorrendo os lugares por onde deveríamos passar, como: Fazenda da Vargem, Brejo Alegre, Pedra, Fazenda da Bagagem, Subida da Serrinha (ao lado da usina do caixão) e finalmente a chegada à Fazenda do retiro, do Sr. Astolfo Dornas. Realmente, depois de algumas horas de viagem, passávamos efetivamente pelos lugares acima mencionados.

Logo após a nossa passagem pela Fazenda do Retiro, atravessávamos a ponte de madeira sobre o Rio São João. Em seguida transpúnhamos também a estrada- de- ferro e já bastante cansados, os animais iam subindo vagarosamente o trecho íngreme da Rua Santana. Dali, olhando a nossa retaguarda, avistava-se lá no alto da serra, a Capela Senhor do Bonfim, agora vista, bem perto da gente! E meu pensamento retrocedia na viagem até o cume da serra Campo Alegre, concluindo com certa alegria, que havíamos deixado para trás uma lasca de chão!

E íamos em frente Rua Santana afora, Largo dos Passos, Rua 15 de Novembro até a pracinha do Juca Flávio, e depois de atravessarmos a praia, chegávamos afinal ao nosso querido cantinho da Rua Direita, já com o lusco-fusco da noite, quando os pirilampos começavam a emitir aqui e ali a sua luz fosforescente. Graças a Deus estava novamente em casa, junto de minha mãe e de meus irmãos. E dias seguidos a silhueta da Capela Senhor do Bonfim, ficava gravada em meu subconsciente como uma imagem amiga! ...

Graças, Senhor, por essas reminiscências! ...



Texto do livro : FAGUNDES, Osório Martins. Fragmentos de Um Passado, págs. 625/626,  1977.



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