sábado, dezembro 29, 2012

CINE REX: CINEMATOGRÁFICA

MÁQUINA CINEMATOGRÁFICA - CINE REX
Cinema em Itaúna

   A máquina cinematográfica GAUMONT GRAN PRIX 1900, fabricada na França em 1900, é uma peça histórica significativa que foi utilizada no CINE REX em Itaúna a partir de 1918. Pertencente à família do Sr. Crispim Magalhães, o CINE REX desempenhou um papel fundamental na vida cultural da cidade, situado onde hoje se encontra o Edifício Benfica, na Praça Dr. Augusto Gonçalves. Essa máquina não é apenas um artefato tecnológico, mas um testemunho da evolução do cinema e da importância das exibições cinematográficas na formação do imaginário coletivo da época.
   A doação da máquina ao Museu Municipal de Itaúna pelo Sr. Ledo Magalhães assegura a preservação desse patrimônio histórico, permitindo que futuras gerações compreendam a relevância do CINE REX e da máquina cinematográfica na história local. A fotografia de Charles Aquino e o vídeo registrado por Hamilton Pereira no Museu Municipal de Itaúna complementam essa memória, oferecendo um olhar detalhado sobre a máquina e seu contexto histórico.
   Este esforço de preservação é crucial, pois revela a interseção entre tecnologia, cultura e memória coletiva. A GAUMONT GRAN PRIX 1900 não é apenas um instrumento de projeção, mas um símbolo de inovação e entretenimento que marcou uma era. Sua presença no CINE REX, e agora no museu, permite uma reflexão sobre o impacto do cinema na sociedade e a importância de conservar tais artefatos para manter viva a história cultural de cidades como Itaúna.

Marca GAUMONT GRAN PRIX 1900, fabricada na França em 1900. Esta Máquina foi usada a partir de 1918 no CINE REX, que pertencia a família do Sr. Crispim Magalhães.
O cinema localizava-se onde hoje está o Edifício Benfica, na Praça Dr. Augusto Gonçalves em Itaúna.
Doação: Sr. Ledo Magalhães


Fotografia: Charles Aquino
Fonte: Museu Municipal de Itaúna
Vídeo: Registro do Museu Municipal de Itaúna por Hamilton Pereira. 

quarta-feira, dezembro 26, 2012

EMANCIPAÇÃO SANTANENSE PARTE II

REVOLTA!!!

 Esperamos que todos os itaunenses, dignos do nome, se unam conosco e combatam o ISENSATO PROJETO. À liderança udenista itaunense, principalmente, cabe todo trabalho de fazer fracassar a iniciativa. Àquelas que tiveram tão nefanda Ideia que pensem um pouco em Itaúna pois todos eles foram nascidos aqui. É em ocasiões assim que a gente tem saudade do Cel.Manoelzinho, do Záu, do Major Senocrit e outros lutadores.

Publicamos abaixo as declarações do C.I. José Lima, presidente do PSD e grande industrial sobre o grande problema. No próximo número publicaremos as declarações do Dr. Hely Gonçalves de Sousa, Presidente da UDN local e grande político local. Este jornal só cessará a campanha, quando vitoriosa. Quero externar minha opinião, sem considerar o fato de ser político militante e Presidente do PSD, atendendo apenas aos meus impulsos de cidadão itaunense, patriota, devotado à sua terra, e, principalmente, filho daquele próspero Bairro. 

Nasci em Santanense e muito me orgulha deste fato, tão marcante em minha vida. Mas, não posso conceder, agora, que, por uma simples ficção jurídica, totalmente divorciada da realidade, eu deixei de ser também itaunense.

Itaúna e Santanense são uma coisa só. Frutos da mesma árvore. Tem as mesmas tradições, o mesmo passado, e a mesma origem comum. Santanense sempre foi o Bairro mais importante de Itaúna. Hoje tão bem cuidado, com o asfalto que lhe deu o ilustre e digno Governador Magalhães Pinto, constitui realmente justo orgulho de nossa terra. 

A fábrica de tecidos, pioneira em Santana, é na região, que tanto projeta o nome de Itaúna além de nossas fronteiras, tão identificada com o nome de nossa terra, não pode, um dia para outro, ser arrancada de nosso meio, onde produz tanto e tamanho benefícios pra nossa gente e para a nossa cidade. Quero crer mesmo que tal providência está sendo tomada sem o devido cuidado e com um pouco de precipitação.

 Itaúna e Santanense, ambos, a cidade e o bairro, muito se prejudicarão com a concretização desta ideia. Juntos, só poderão progredir e crescer. Somando suas forças darão ao nosso município uma pujança que há de nos colocar em posição muito privilegiada em nosso Estado. Divididos, estaremos mal colocados, com pouca expressão e em lugar sem relevância. Unidos, seremos os primeiros na produção, no pagamento de impostos federais e estaduais e muito poderemos pedir e reivindicar para nossa terra e sua laboriosa população. 

Nada altera repórter, interrompeu o ilustre entrevistado, perguntando-lhe o que devia ser feito para impedir a emancipação do Bairro!

Devemos nos unir, sem coloração política, sem outros interesses que não sejam o de defender Itaúna e Santanense, UDEN, PSD, PTB, MTR, PR, PSP, povo e autoridades, todos, unidos, devemos nos dirigir ao Sr. Governador, aos nossos ilustres deputados, dará quem nos defendam e impeçam que tal esbulho aconteça. 

Os ilustres e dignos membros da diretoria da UDN municipal, que tanta força tem junto ao Sr. Governador Magalhães Pinto, sob a liderança de meu particular amigo Ronan Soares, muito poderão fazer para que Itaúna e Santanense permaneçam unidas e identificadas, conforme nosso passado rico de tradições e de glórias comuns.

De minha parte, coloco-me ao inteiro dispor não só de “FOLHA DO OESTE”, sempre disposta a defender os reais interesses de Itaúna, para ao lado de nosso povo, trabalhando com os demais partidos e autoridades, tudo fazer para que não se rompam os laços que sempre uniram Santanense e Itaúna.

Referência:

Pesquisa e organização: Charles Aquino

Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira

Fonte Impressa: Jornal (Folha do Oeste, Sábado 25 maio 1963, nº 442, p.1. Ano 20.

TEXTO: Sebastião Nogueira Gomide - PIU 

terça-feira, dezembro 25, 2012

BATE-PAUS


O texto fornecido oferece um relato histórico detalhado da Revolução de 1930 sob a perspectiva dos habitantes de Itaúna, Minas Gerais. Ele destaca como a cidade, na época com cerca de 5 mil habitantes, foi impactada por eventos nacionais, especialmente pela mobilização das forças locais em apoio à revolução, ainda que com conhecimento limitado sobre o contexto geral do país. A narrativa é construída a partir de testemunhos orais de moradores e figuras importantes da cidade, como Benevides Garcia e o padre Waldemar, e revela tanto o envolvimento popular quanto a visão crítica sobre as promessas não cumpridas pela Revolução de 1930.

O texto enfatiza como a falta de comunicação eficaz na época deixava a população de Itaúna alheia aos eventos maiores do país. Notícias chegavam com atraso, e a população dependia, em grande parte, do que se transmitia localmente. Isso reflete a realidade de muitas cidades do interior naquela época, onde a comunicação limitada condicionava a percepção dos fatos.

 A formação dos "Bate-Paus", grupo civil liderado por Arthur Vilaça, é um elemento principal que ilustra a improvisação local frente à ausência de forças policiais regulares. O uso de porretes em vez de armas de fogo indica a precariedade dos recursos disponíveis, e o nome dado ao grupo reflete a criatividade e a adaptabilidade dos moradores. Esse destacamento improvisado mostra o espírito comunitário e a necessidade de autodefesa em tempos de instabilidade.

Os relatos de pessoas como Benevides Garcia e Cirilo José Gomes trazem uma perspectiva pessoal e emocional sobre os eventos. A menção ao temor e à resistência em participar, como a relutância de Cirilo em usar o lenço vermelho que simbolizava o apoio à Revolução, revela a complexidade das lealdades políticas na época. Esses depoimentos fornecem uma visão intimista e concreta da experiência vivida pelos itaunenses durante a Revolução.

A Revolução de 1930, embora vista com esperança por alguns, como expressa pela Dona Nair ao rezar pelo sucesso do movimento, foi posteriormente vista com ceticismo e até decepção. A dissolução da Câmara Municipal e a nomeação de um conselho consultivo pelo Governo estadual destacam as mudanças políticas locais, mas o sentimento geral, como resumido pelo Dr. Coutinho e o padre Waldemar, é de que a Revolução falhou em cumprir suas promessas. 

O texto termina com uma comparação interessante entre a Revolução de 1930 e a de 1964, sugerindo que a primeira teve mais participação popular, enquanto a segunda foi imposta de maneira mais autoritária. Ambas, no entanto, são vistas como movimentos que, no final, não realizaram as reformas esperadas.

O texto é uma rica fonte de história oral, capturando as memórias e sentimentos de pessoas que viveram um momento crucial na história do Brasil, mas que o vivenciaram de uma maneira muito particular em uma pequena cidade do interior. A obra contribui para uma compreensão mais ampla de como a Revolução de 1930 foi experimentada em diferentes partes do país, longe dos grandes centros urbanos. Além disso, oferece uma crítica implícita às promessas não cumpridas das revoluções, o que se conecta a uma reflexão sobre a eficácia das mudanças políticas na vida das pessoas comuns.

  
BATE PAUS -  30's
Em 1930, pouquíssimas pessoas em Itaúna sabiam o que estava acontecendo no resto do país. No meio das ruas esburacadas de nossa cidade que na época  contava com uma população estimada em 5 mil habitantes.

Só se sabia que o Batalhão itaunense da Força Pública de Minas Gerais – hoje Polícia Militar – tinha sido convocado para reforçar as tropas mineiras na luta contra as forças federais aquarteladas no 12º RI, na Capital.

Padre Waldemar, que na época estudava no seminário em Belo Horizonte, conta que às cinco horas da manhã do dia 4 acordou com sinos da igreja batendo e logo depois ouviu os primeiros tiros.

“Eu estava no último ano do seminário e o colégio ficava a 3 km do quartel do 12. Não tive medo do que poderia acontecer. Deus queria assim ...”

Em Itaúna, com o destacamento policial todo fora. Arthur Vilaça, então chefe do executivo municipal e presidente da Câmara dos Vereadores, convocou seus melhores funcionários e formou o destacamento policial de civis para guarnecer a cidade.

Aqueles jovens e fortes senhores que dali por diante manteriam a cidade em ordem ficaram sendo conhecidos como os “ Bate – Paus”.

Eles foram chamados assim , porque na falta de armas de fogo, os destacamentos provisórios de cada município , usavam um porrete de madeira.

Benevides Garcia, 79 anos, fotógrafo e chofer da praça dos mais antigos daqui , era motorista da Câmara na época e lembra como foi convocado: “O Arthur Vilaça mandou que eu comandasse os “Bate-Paus” como sargento e o Enoque como cabo. Entrei contra a minha vontade.

Nada foi discutido entre nós sobre o que estava acontecendo. Só esperávamos a vitória da Revolução.” Outro que também entrou contra sua própria vontade foi o Sr. Cirilo José Gomes, que não concordava com o fato de ter que amarrar no pescoço , lenço vermelho que os identifica.

Os “Bate- Paus” não tiveram muito trabalho para prender os bêbados que viviam aprontando arruaça pela cidade, até apareceu por aqui um bandido muito temido na redondeza. Um tal de Domingos Boca –de-Fogo. 

“ Até a polícia tinha medo dele”, conta Cirilo. Eu, o Benevides e o Gérson conseguimos prendê-lo. Era noite clara e ele se escondeu numa fazenda no caminho da Várzea da Olaria. 

A gente estava numa baratinha e ele a cavalo. Quando nós chegamos , ele já estava debaixo de uma árvore. O Benevides saltou e deu voz de prisão, eu entrei pelo lado esquerdo, bati a mão no arreio do cavalo e a outra no braço dele.

Se o homem desce para o lado esquerdo como nós todos do lado direito, ele sapecava fogo e matava todo mundo “

  As adesões ao movimento revolucionário e as notícias que vinham pelo trem com muito atraso, não chegavam a amedrontar a população.

O Doutor Coutinho, que já exercia a medicina na época conta que “as adesões eram naturais quase ninguém foi contra. O poder em Itaúna aderiu sem finalidades.

Os donos das duas fábricas, que já existiam, queriam era fazer dinheiro”. Dona Nair, sua esposa conta que os que tinham mais instrução chegavam a ficar um pouco sobressaltados. “Chegamos até a rezar pelo sucesso da Revolução.

Quando o Getúlio subiu ao poder, saímos em passeata pelas ruas cantando mais ou menos assim: Vivo Getúlio ele é o nosso orgulho. Viva a Aliança é a nossa esperança! 

Todos os homens, as mulheres e crianças participaram. Só não entravam na  passeata as pessoas da sociedade ...”

Vitoriosa a Revolução, em 23 de outubro a Câmara foi dissolvida, tendo o Sr. Arthur Contagem Vilaça continuando como prefeito do Poder Legislativo Municipal foi substituído por um conselho consultivo nomeado pelo Governo estadual. Entre os membros desse Conselho, estava o Dr. Coutinho.

No balanço geral, todas estas pessoas que aqui viveram esse grande momento da história de nossa República, concordam que muitas promessas feitas pelos revolucionários não foram até hoje cumpridas. 

Por outro lado, afirmam que alguns benefícios , a Revolução trouxe. No entender do padre Waldemar, “toda a obra humana tem os seus defeitos.

A Revolução moralizou determinados setores, mas muita gente se aproveitou dela para subir ao poder sem muito esforço.” As  reformas trazidas pela revolução não chegaram a modificar a situação.

Para o doutor Coutinho “eles propunham muito e acabaram não fazendo nada. Para a época algumas coisas foram resolvidas mas a situação ficou na mesma.

No entanto, a Revolução de 30 teve mais participação popular, enquanto essa de 64 não teve nenhuma. Nenhuma das duas porém, cumpriram os seus propósitos”.





Pesquisa e análise : Charles Aquino

Texto e fonte: Jornal Panorama Itaunense, pág. 9 (Década 80)

Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC

sexta-feira, dezembro 21, 2012

ZONA BOHEMIA

FOLHA DO OESTE
Registrada sob o nº 403
Fundador: Sebastião Nogueira Gomide
____________________________________________
Nùmero 82       Itaúna, 15 De Novembro de 1952    Ano 8
____________________________________________

Eu e a Zona Bohemia

Recebemos a carta que abaixo transcrevemos sem comentários.

Exmo. Sr. redator da FOLHA DO OESTE

Sendo um leitor assíduo de seu jornal, admirando profundamente as crônicas do mesmo, venho pedir-lhe para que faça uma reclamação através da FOLHA DO OESTE, que é o seguinte:

Sou um homem que tenho viajado por quase todo o brasil, e conheço a zona boemia das diversas cidades por onde passei e as mulheres são tratadas com justiça conforme o procedimento das mesmas. E aqui nesta cidade as pobres mulheres, são perseguidas com a maior crueldade.

Mesmo aquelas que têm procedimento irrepreensível, a ponto das pobres mulheres não ter licença de sair à rua para comprar o indispensável. Isto é uma barbaridade, estão sendo tratadas como verdadeiros animais.

Eu sou um homem casado vivo bem com minha família , não me interessa qualquer mulher , faço isso apenas por instinto de humanidade, elas não tem onde morar. Moram em casebres onde não tem água sem o mínimo conforto, misturadas com as famílias sem a menor liberdade.

Quero que o Sr. faça um apelo  ao  Sr. Prefeito desta cidade de Itaúna, para fazer  uma vila para elas, mais afastadas das famílias, para que elas tenham liberdade e mais conforto. E ao Sr. Delegado que faça justiça castigando as que errarem, pois existe a polícia é para manter ordem, mas com espírito de justiça e humanidade.

As mulheres por si já sofrem pela vida que levam, sendo criminosas pelo destino que cumprem e assim sem liberdade de espécie alguma estão sujeitas a passar  fome com os filhos pequenos pois quase todas tem filhos para tratar.

J.P.C


Digitalização conforme original 
Fonte pesquisa Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira -  ICMC
Fotografia meramente ilustrativa

segunda-feira, dezembro 17, 2012

EMANCIPAÇÃO SANTANENSE PARTE I

REVOLTA!!!

O Deputado Alvimar Mourão, atendendo aos pedidos de uma meia dúzia de políticos udenistas itaunenses derrotados nas eleições municipalistas passadas, apresentou um projeto à CEDAJE da Assembleia Legislativa do Estado, elevando Santanense à cidade com o nome Governador Magalhães Pinto. O novo município anexará Garcias e as suas divisas virão até junto ao Hospital antigo. Fica, pois, uma cidade emendada a outra!!! O projeto está causando uma verdadeira revolta em toda Itaúna...

Dividir Itaúna em duas, porque não gostam do Prefeito! Se a moda pega, toda cidade do mundo poderá ser dividida em duas ou mais. O fato está causando uma revolta imensa à população itaunense. Já telefonamos ao ilustre deputado João Gomes Moreira que prometeu zelar pelos interesses de Itaúna, não deixando passar tal absurdo. 

Santanense foi elevado a bairro juntamente com Lourdes, Garcias, Vargem da Olaria, Graças e Serrado pela lei nº 169 de 04/11/1952. E o interessante e que o Dr. Jozé Luiz Guimarães, devido a ausência do Prefeito proibiu que nos fornecesse o nº e a data desta lei. – Só depois de um requerimento ao Prefeito, disse ele. Felizmente, porém conseguimos a lei. É que nem todos dentro da Prefeitura têm mentalidade primária.

FOLHA DO OESTE

Enviou ao deputado Alvimar Mourão o seguinte telegrama:

<Deputado Alvimar Mourão>

Assembleia Legislativa Belo Horizonte

Em nome população Itaúna venho protestar seu projeto tornado Santanense município fracionando nossa terra (pt) Não concordamos por todos os meios (pt) Por que não apresenta projeto tornando Catalão, Porto Velho Velho e Niterói cidades? A gente precisa saber perder (pt)

Cidade Revoltada

Sebastião Gomide

Diretor <Folha do oeste>

 

Referência:

Pesquisa, arte e organização: Charles Aquino

Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira

Fonte Impressa: Jornal (Folha do Oeste, Sábado 25 maio1963, nº 442, p.1. Ano 20.  

TEXTO: Sebastião Nogueira Gomide - PIU - Jornalista itaunense

Imagem ilustrativa acervo: Professor Marco Elísio (In Memoriam)

quarta-feira, dezembro 12, 2012

MUSEU ITAÚNA: SINO BRASIL IMPÉRIO

SINO BRASIL IMPÉRIO
No coração da história do Brasil Imperial, ergue-se uma relíquia que ressoa ecos de um passado vibrante e imponente: o sino fundido em bronze, datado do período do Império brasileiro. Este sino, em toda a sua grandiosidade, exibe em alto relevo o brasão imperial, um símbolo tangível do Poder Imperial e da Igreja Católica, unidos em uma celebração de fé e autoridade.

Pertencente a antiga “Igreja Matriz da praça” erigida por mãos negras, por volta de 1840, o sino testemunhou gerações de devoção e resistência. Esta igreja, um marco de fé e esperança para a comunidade negra da época, serviu como um santuário espiritual até ser demolida em 1934. No lugar onde se erguia a velha construção, a atual Igreja Matriz de Sant'Ana tomou forma, continuando a ser um farol de fé para os fiéis.

O sino, abrigado no Museu Municipal de Itaúna, não é apenas um artefato de metal. É um testemunho sonoro da história, um guardião de memórias que reverbera as vozes dos que buscaram consolo e celebração sob seu toque. Ele fala de um tempo em que o Império e a Igreja caminhavam de mãos dadas, moldando o destino de uma nação nascente.

Ao contemplar este sino, somos transportados para uma era de construção e transformação, onde cada badalada marcava o compasso da vida e da fé. Ele nos lembra da força e da resiliência daqueles que o moldaram, carregando consigo a esperança de um futuro melhor. Através das gerações, o sino do Brasil Império continua a soar, ecoando as histórias daqueles que vieram antes de nós, mantendo viva a chama da nossa rica herança cultural.


Imagem tirada no Museu Municipal de Itaúna
Organização e texto: Charles Aquino
Vídeo: Registro do Museu Municipal de Itaúna por Hamilton Pereira. 



terça-feira, dezembro 11, 2012

BAR AZUL

Velhos tempos de um Bar Azul
...”Ao longo do tempo, "Bar" acabou se tornando uma referência para um lugar de bate papo, encontros profissionais, momentos de descontração e lazer. E foi em meados da década de 40, no balcão do bar do Sr. José Gonçalves de Araújo, mais conhecido popularmente como "Zé da Ramira", que vários itaunenses compartilharam momentos únicos.
Zé da Ramira, deu início à sua vida de comerciante com 19 anos, logo após sair do tiro de guerra. Hoje com 86 anos de idade, é um dos mais antigos no seguimento de bares em Itaúna.
Durante sua trajetória, ele foi o idealizador do Tropicália, Bar do União, Bar do Automóvel Clube, Escondidinho, dentre outros. Zé da Ramira nunca escolheu os nomes de seus bares, essa tarefa ficava para os próprios clientes. Ele foi também o fundador do famoso "Bar Azul", tema constante do nosso artigo. O bar ficava na praça Dr. Augusto Gonçalves - considerado o ponto mais nobre da cidade naquela época. O museu de Itaúna exibe fotos centenárias, um acervo de fotografias de pessoas populares, que mostram também o antigo prédio do bar.
Mas por que o nome BAR AZUL? 
 Simplesmente porque o imóvel era azul, dizem os saudosistas. Toda cidade pequena possui sempre grandes momentos, repassados a todas as gerações. Falar do Bar Azul é resgatar um passado cheio de histórias marcantes. O aposentado Carmo Lúcio de 72 anos, ainda lembra das brincadeiras de carnaval. Ele conta que as moças andavam num automóvel pela cidade fantasiadas, depois iam dançar nos Clubes. Naquele tempo havia Serestas e quando um rapaz queria namorar uma moça, tomava a iniciativa nos parques que apareciam na cidade ocasionalmente, através do "Correio Elegante" ou enviando alguma música.
Mulher entrava em bar? Nem pensar! As mulheres daquele tempo passavam longe dos bares e quem passava perto abaixava a cabeça. Época dos Rádios... só os ricos tinham rádio em casa, as pessoas costumavam ir na casa de Adolfo Mendes Pai, para escutar as Telenovelas ou noticiários. Vários cantores faziam sucesso: Nelson Barbosa, Cascatinha, Nelson Gonçalves e muitos outros que conquistaram um público grande.
O "point" era a Praça da Matriz, palco de quase todos os acontecimentos da cidade: Missa, Bares, Comércio, Política...
Outra curiosidade, é que o Bar Azul foi o primeiro bar a ter sinuca em Itaúna. O Automóvel Clube, foi o primeiro a vender revistas pois não existia banca. O Automóvel recebia a alta elite, onde se discutia política e futebol, e permitia a entrada de mulheres. O Bar do Plínio da década de 60, conhecido hoje como Bar do Sandoval, foi o pioneiro no atendimento 24h na cidade.
E já que o assunto gira em torno de bar e lugares que provocam saudade, entre as décadas de 30-60, vários se destacaram: Petisqueira, Bar do Cilico, Bar do Grilo – "Ponto dos políticos", O Século XX, o famoso Cine Rex, Matinê 10h, entre outros. Naquele tempo não existia violência, a cidade crescia lentamente.
Por todos esses anos Zé da Ramira tocou com paixão os bares que possuiu, e hoje seu nome virou referência e alusão aos velhos tempos. O bar do Zé da Ramira deu um novo sabor ao dia a dia dos itaunenses. Um empreendedor nato no comércio e na cozinha. "O mais importante era fazer o cliente se sentir bem no bar, ser amigo" palavras do Zé.
Foi ele mesmo o criador do "galeto na brasa", o prato mais famoso e gostoso, que nem precisamos detalhar muito; porque não será difícil descobrir quem nunca saboreou o que o Sr. Zé prepara com muito carinho. Para ele uma satisfação; para os clientes: um amigo. Ele mesmo gosta de preparar o tira gosto de alguns clientes, outros já trazem o tira gosto pronto de casa. A confiança é tanta que cada cliente faz o controle do seu consumo.
Um grande homem, simples e profissional, dono de uma bagagem de conhecimentos invejável. Um bar simples - de conteúdo raro, é a marca de Zé da Ramira em todos esses anos. ”
Janine Lorenzo



NOTA:
Antes de postar este texto, procurei o senhor José Gonçalves de Araújo mais conhecido por Zé da Ramira para saber sobre quem foi o fundador do Bar Azul. Ele confirmou que fundou o Bar Azul e logo vendeu para o Sr. Odorico Gonçalves Drumond Filho, mais conhecido como Neném Drumond que foi proprietário até a demolição do imóvel para construção do Edifício Benfica. Por ter sido uma conversa formal e amigável com o Zé da Ramira, não pedi nenhum documento que possa comprovar ou ao menos gravei nossa conversa.
Charles Aquino

  

quinta-feira, dezembro 06, 2012

LOCOMOTIVA ITAÚNA

Chega a Itaúna o primeiro comboio da Estrada de Ferro Oeste de Minas, 
arrastado pela locomotiva de número 14 e conduzida pelo maquinista Manuel Rodrigues. *

Inventário das Locomotivas a Vapor no Brasil

Editado em português e inglês sob coordenação da jornalista Regina Perez.
O livro relaciona todas as 419 locomotivas a vapor que restaram no Brasil.
Cada máquina foi fotografada no local em que estava no momento da pesquisa de campo, que em sua maior parte foi realizada pelo pesquisador Sérgio Mártire e o fotógrafo Américo Vermelho. 

ITAÚNA MG                                                   Baldwin

LOCALIZAÇÃO....................Praça Pública
Responsável............................Prefeitura
Procedência............................ EF Oeste de Minas, Rede Mineira De Viação Férrea Centro – Oeste

Fabricante.................. The Baldwin Locomotive Works
País……………………...……Estados Unidos
Data da Fabricação…………. Agosto de 1919
Bitola...................................... 1,00 m
Configuração das rodas.......... 4-6-0
Diâmetros dos cilindros.......... 38 cm
Curso dos pistões.................... 51 cm
Comprimento...........................16,92 m
Nº de série............................... 52260
Prefixo..................................... 227
Estado da locomotiva.............. Estática
Data do levantamento............. Setembro 2005

REFERÊNCIAS:
Inventário das Locomotivas a Vapor no Brasil  / Pág.: 157 - Regina Perez
Organização para o Blog: Charles Aquino
Acervo: Prefeitura Municipal de Itaúna, Charles Aquino
* FILHO, João Dornas. Efemérides Itaunenses, 1951, p. 35

terça-feira, dezembro 04, 2012

ROTARIANOS ITAÚNA


Homenagem dos Rotarianos de Itaúna

Por ocasião do centenário da proclamação da República, em nome dos três Rotary Clubes de Itaúna, inaugurou-se na Praça Luiz Ribeiro, em 15 de Novembro de 1989 com a presença de autoridades e convidados,  uma Placa comemorativa, com os nomes de todos, construída com a ajuda da Cia. Industrial Itaunense, do SENAI (Afonso Greco e Luiz Lage), e colocada no monumento edificado pela Prefeitura, na primeira gestão do prefeito Osmando Pereira da Silva"

Digitalização e comentários: Juarez Nogueira Franco


quarta-feira, novembro 28, 2012

CATÁSTROFE NA PEDREIRA


O texto relata um trágico acidente ocorrido no dia 7 de fevereiro de 1933, em Itaúna, durante a construção da nova Matriz. Trabalhadores extraíam pedras para os alicerces quando uma explosão inesperada de dinamite ocorreu. O acidente feriu gravemente Antônio Martins, que perdeu três dedos da mão esquerda e sofreu lesões no ventre. Dois de seus colegas, Zeno Pereira e Alfredo Morais, estavam presentes, mas tiveram menos danos—Zeno sofreu um leve ferimento e Alfredo saiu ileso.

Antônio Martins, um trabalhador pobre com família para sustentar, compartilha sua experiência de sujeitar-se a perigos para prover sustento, refletindo a dura realidade dos operários da época. Ele narra com gratidão o atendimento médico que recebeu e expressa alívio por estar se recuperando.

O texto destaca o sacrifício desses trabalhadores anônimos, cujas vidas e esforços ajudaram a erguer a nova igreja da cidade. O autor faz um apelo para que as gerações futuras se lembrem do suor e sangue desses homens na construção desse importante marco da cidade de Itaúna.

CATÁSTROFE NA PEDREIRA DE ITAÚNA

Terça-feira do ano de 1933 do dia 7 de fevereiro, o velho relógio da Matriz realejava  2 horas da tarde. Ao sopé da colina do rosário, alguns trabalhadores suavam e tressuavam sob a soalheira do estival , na extração de pedras para a nova Matriz, quando lhes interrompeu a labuta súbita uma explosão.
A notícia alarmou logo a cidade. Fomos entrevistar na Santa Casa uns dos feridos. Na portaria, recebeu-nos amavelmente o dr. José  Drumond, que nos conduziu até a enfermaria dos homens, onde, entre outros leitos ocupados por enfermos, nos mostrou um , cheio de ataduras. É este, disse-nos o dr. Drumond. E fiquem à vontade.
Antônio Martins, o nosso entrevistado, assim nos narrou a catástrofe:
- O sr. sabe, diz ele. Quem é pobre e tem família que criar, filhinhos ainda pequenos, há de sujeitar a serviços perigosos, como trabalhar em pedreiras. Faltava material para os alicerces da nova Matriz. Depois de bloquear a rocha, eu e mais dois companheiros – Zeno Pereira e Alfredo Morais – preparávamos a dinamite para ser colocada na mina. De repente, não sei por efeito do calor , a bomba explodiu em minas mãos.  Não sei como, dei um salto enorme. Caí a alguma distância, sentindo-me gravemente ferido e banhado em sangue.  Zeno e Alfredo desapareceram para mim. Os outros companheiros, após um momento de hesitação, acudiram nos gritando socorro. Fui levado à Farmácia Brasil, onde o dr. Hely Nogueira me medicamentou ligeiramente.
Às 3 horas da tarde , eu entrava carregado na Santa Casa. Aqui estou até hoje, sentindo-me bem melhor, graças a Deus.
- E os seus dois companheiros. É grave o estado deles?
-Não senhor. Estiveram aqui. Zeno Pereira sofreu ligeiro ferimento. O outro Alfredo, dizem que não ficou ferido.
Antonio Martins , o nosso entrevistado ficou com ambas as mãos feridas. Delas , a esquerda muito estragada, da qual três dedos foram amputados. A explosão alcançou-lhe também o ventre.
Antonio , como os seus companheiros de serviços, é homem trabalhador. Tem as faces encovadas e tristes. O corpo, amorenado de sol, mostra algumas cicatrizes dos acidentes de que tem sido vítima , no seu penoso mourejar diurno.
Sobre o casario branco de Itaúna, alvejar  a expressão ascética da Nova Matriz, é preciso que nosso pósteros se lembrem de que aqueles alicerces, aquelas paredes, foram argamassa  das também com o suor e o sangue desses heróis anônimos do trabalho ...


Fonte: Jornal de Itaúna, Ano I, 12 de fevereiro de 1933, nº 29.
Pesquisa: Charles Aquino
Acervo: Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC

terça-feira, novembro 27, 2012

DOUTOR COUTINHO

"Humanista, grande médico, homem honrado e caridoso"

Dr. COUTINHO, tratado na família como "NICO", nasceu em Ouro Preto no dia 12 de abril de 1898, filho de Pedro Artur de Souza Coutinho e Felicíssima Ricardina Coutinho. Seus avós paternos, Cel. João Batista de Souza Coutinho e dona Francisca de Assis de Azeredo de Sousa Coutinho eram originários de Barão de Cocais. Seu avô materno Antônio Augusto Pereira Lima, nasceu na Fazenda do Marzagão, em Itabira do Campo (Itabirito), também terra natal de sua avó, dona Anna Josephina França.

No ano de 1907, Pedro Artur (Doca), que era funcionário público, transferiu-se com a família para Belo Horizonte, onde o menino Antônio Augusto (nome em homenagem ao avô materno) prosseguiu seus estudos no curso primário com a professora particular Ana Cintra, renomada educadora mineira, sua amiga, enquanto ela viveu, pela troca de correspondência mantida ao longo de muitos anos.  Sempre aplicado e compenetrado, criado em ambiente de alta religiosidade, foi jovem e adulto temente a Deus. No curso secundário, estudou no Colégio D. Viçoso.

Com a mudança do Colégio Azevedo para a capital, do velho mestre, seu amigo Caetano de Azeredo Coutinho, terminou nestes seus estudos, os quais lhe permitiram aspirar uma carreira de nível superior e concretizar seus sonhos de juventude. Estudioso, desde cedo aplicou-se no conhecimento do francês, que lhe era familiar. Não saía das bibliotecas onde os melhores livros didáticos estavam escritos nessa língua. Submeteu-se ao exame de admissão na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, em 1916, onde ingressou, vindo a ser, nos primeiros anos, preparador da Cadeira de Anatomia. No terceiro ano, trabalhou como interno no Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia. 

Ao término do quarto ano, transferiu-se para a Faculdade da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, como interno no Serviço de Ginecologia, oportunidade em que escreveu um sério trabalho, denominado "Prenhez Ectópica (Tubária). Formou-se em 1922. Logo foi convidado pelo seu antigo chefe na Faculdade, professor Augusto Brandão, para clinicar na cidade de Campinas (SP), mas recusou o convite, porque esteve em Belo Horizonte, em visita aos seus pais e recebeu de seu tio Agripino Augusto Pereira Lima um convite para trabalhar em Itaúna, onde chegou no dia 18 de janeiro de 1923.  A Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, inaugurada em 19 de março de 1921, dez dias depois, perdeu seu provedor, Dr. Augusto Gonçalves, vítima de um derrame cerebral, vindo a falecer 20 de Maio de 1924. 

Dr. COUTINHO ficou morando na casa de seu tio, farmacêutico Agripino Lima. Este o levou a conhecer o renomado médico Dr. Dorinato de Oliveira Lima, que o convidou para ser seu auxiliar, como cirurgião. Optando pela ginecologia, Dorinato lhe disse não ser inclinado para tal especialidade, pediu-lhe então que examinasse pacientes na enfermaria de mulheres. Paradoxal, Dorinato obteve em Paris seu diploma de pós-graduação justamente em ginecologia e obstetrícia. Dr. COUTINHO, com os recursos disponíveis - dedo, vista e ouvido - examinou algumas e, por um capricho do destino, constatou prenhez tubária em uma delas. Dorinato espantou-se porque tratava-se de um diagnóstico difícil.

Dr. COUTINHO, assumindo o caso, utilizou pela primeira vez em Minas Gerais, a Raquianestesia, injetando no canal medular uma ampola de Percaine, que trouxera do Rio, obtendo êxito completo no tratamento da paciente. A partir de então, Dr. COUTINHO ganhou a confiança de Dorinato que lhe entregou todos os casos de ginecologia do Hospital. Dorinato, seduzido pela política se transferiu para Belo Horizonte e, como é do conhecimento geral, Dr. COUTINHO, além de clínico geral, assumiu a chefia do setor cirúrgico da Santa Casa. Fez da Medicina um sacerdócio, dando combate sem quartel à doença, sua inimiga de todas as horas. Perseguia-a onde estivesse, tanto na fazenda como na cidade. Ia ao encalço dela pelas estradas da roça, montado em cavalo ou burro. 

E as cirurgias sucediam-se, uma atrás da outra, quando para a Santa Casa afluíam doentes de Divinópolis, Cajuru, Pará de Minas, Cláudio, Mateus Leme, Itaguara, Itatiaiuçu, Bonfim e muitos outros lugares. Em 1931, o jovem João Guimarães Rosa, formado em Medicina, foi residir em Conquista (Itaguara) e tornou-se frequentador da Santa Casa de Itaúna e da residência do Dr. COUTINHO. Tornaram-se grandes amigos. Dr. COUTINHO fez o parto de sua filha Vilma. Publicou em 1932 o livro "A Messe de um Decênio", em que relatou passagens dos 10 anos iniciais de sua atividade profissional, leitura que se recomenda a todos que desejarem conhecer o homem e médico que foi.

Casou-se, em 15 de setembro de 1924, com NAIR CHAVES, de rara beleza, "Miss Itaúna", de tradicionais famílias, descendente dos fundadores do município, distinguida na época com uma serenata de "Catulo da Paixão Cearense", em visita à cidade. O casal teve dez filhos, sendo que uma menina, primogênita, AUXILIADORA, morreu criança, aos quatro anos. Os outros são: HELÊNIO ENÉAS, falecido, médico, ex-membro da Academia Brasileira de Medicina; RÔMULO AUGUSTO, falecido, foi Secretário de Segurança do Estado de Minas Gerais; JUAREZ CARLOS, falecido, farmacêutico prático; EVANDRO ALBERTO, agrônomo; MARCO ELÍSIO, professor universitário; JAIRO CÉLIO, ex-gerente da extinta Caixa Econômica Estadual, MARIA ÂNGELA, casada com Achilles Ferreira, aposentado, ex-gerente do extinto Banco da Lavoura e do extinto Banco Real; ÂNGELA MARIA, formada na Universidade de Itaúna e HELDER MAGNUS, falecido, era alto funcionário da CEMIG. Todos se casaram.

Foi professor de francês e psicologia educacional na Escola Normal Oficial de Itaúna, onde sua esposa foi excelente Diretora. No período em que a Escola foi desoficializada, por sete anos, ele e Dª NAIR, como vários outros dedicados professores, lecionaram suas matérias sem remuneração alguma.

Sua primeira participação na vida pública de Itaúna foi na vitoriosa Revolução de 1930, dela um dos vigorosos propagandistas e defensores, ao lado de outros idealistas, como Artur Vilaça, Dr. Hely Nogueira e José Augusto dos Santos (Juca do Bá). Lutaram na Aliança Liberal, liderada por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, contra o governo central da República Velha e outros 17 Estados da Federação. Foi nomeado e participou do primeiro Conselho Consultivo, em substituição à extinta Câmara Municipal.

Líder integralista, ao lado do Monsenhor Hilton Gonçalves de Souza, acreditou nos ideais de Plínio Salgado. Foi Prefeito no período de 14 de dezembro de 1947 a 31 de janeiro de 1951, o primeiro após a reconstitucionalização do país com a queda de Getúlio Vargas. Trabalhou, incessantemente, em favor do desenvolvimento harmônico e global do município. No cargo, deu atenção especial aos problemas vinculados à área de saneamento básico. 

O abastecimento de água, a extensão da rede de esgotos, o combate às moléstias endêmicas, como a malária, merecera investimentos prioritários em seu mandato. Trouxe a Itaúna o famoso professor CARVALHO LOPES, que entrevistei para a Folha do Oeste, e nos deu água de primeira qualidade, por alguns anos, com os poços subterrâneos. Deu atenção especial à educação, eis que foi, em vida, autêntico educador. Dedicou-se também à tarefa de melhorar as condições de vida, na área rural, destacando-se seu empenho na construção de estradas vicinais. Ocorreu em seu mandato, logo no início, uma das maiores enchentes do rio São João, que passou à história como a "enchente do Dr. Coutinho". 

O município entrou em estado de calamidade pública. A tragédia deu frutos: elaborou-se o melhor Plano Diretor já feito para a cidade, lamentavelmente não executado pelo seu sucessor, por falta de recursos, e projetou-se a construção da Barragem do Benfica, resultados de sua atuação junto aos Governos estadual de Milton Campos, onde seu compadre Pedro Aleixo era Secretário do Interior, e federal de Gaspar Dutra, de onde trouxe técnicos para estudar e viabilizar a solução dos problemas, como o Dr. Camilo Menezes, Diretor Geral do Departamento Nacional de Obras e Saneamento.

Nas negociações, envolveu a Companhia Industrial Itaunense, que se responsabilizou pelo levantamento topográfico da bacia, e, afinal, em sociedade com a Companhia Tecidos Santanense construíram, de 1954 a 1958, a importante e vital obra para Itaúna, a Barragem do Benfica.

Juntamente com o prefeito Lincoln Nogueira Machado, Artur Vilaça e outros, o Dr. COUTINHO tudo fez para trazer para Itaúna uma indústria de grande porte, a Companhia Nacional de Ferro Puro - CNFP, que seria instalada onde é hoje o Bairro Padre Eustáquio. Uma enorme empresa, organizada em São Paulo, com o capital de 16 mil contos de réis. Lançou-se a pedra fundamental da iniciativa com as bênçãos do virtuoso Padre Eustáquio Van Lieshout. A ideia não vingou, mas ficou, para sempre, conosco o nome do santo sacerdote que ganhou, merecidamente, o título, dado pela nossa Câmara Municipal, de "Cidadão Honorário". Seu nome enobrece o Distrito Industrial da Fazendinha.

Nasceu para servir, foi um dos fundadores do Rotary de Itaúna e seu Presidente. Foi bom para Itaúna, para sua família, e, especialmente para a sua legião de clientes, alunos e amigos. Grande orador, altíssimo nível cultural, jamais saiu de sua terra de adoção. Esposo e pai, construiu edificante lar. Romântico, idealista, sempre digno e ético, jamais foi um Sancho Pança e muitas vezes foi um D. Quixote, deixou marcas profundas na história do município e um grande número de descendentes, herdeiros dos exemplos e das nobres qualidades maternas e paternas.

Faleceu aos 84 anos, aos 10 dias do mês de Junho de 1982, às 7:30 horas de uma manhã ensolarada, no dia de Corpus Christi, data santa tão vinculada ao grande morto, autêntico cristão. Continua vivo na memória dos legítimos Itaunenses.



REFERÊNCIAS:
Texto: Guaracy de Castro Nogueira
Acervo: Professor Marco Elísio
Instituto Cultural Maria de Castro Nogueira - ICMC
Pesquisa: Charles Aquino, graduando em História pela Universidade do Estado de Minas Gerais / FUNEDI Campus da Fundação Educacional De Divinópolis.
Colaborador: Juarez Nogueira Franco