Estudar Pitangui
é essencial para compreender a história de Itaúna.
A Revista de
História da UEG publicou o artigo hoje (28/07/2025). O estudo investiga como
libertos e suas comunidades articularam fé, reputação, palavra empenhada e
estratégias jurídicas para acessar crédito, consolidar vínculos sociais e
afirmar sua dignidade em uma sociedade colonial marcada por hierarquias.
Com base em
fontes documentais como testamentos, registros matrimoniais, e as chamadas
Ações de Alma — processos judiciais em que o juramento religioso era utilizado
como instrumento de cobrança de dívidas — o artigo evidencia como a
religiosidade popular e o sincretismo afro-cristão sustentavam formas de
economia moral e resistência simbólica.
As irmandades
leigas, especialmente as compostas por pessoas negras e pardas, são analisadas
como instâncias centrais de apoio espiritual, solidariedade comunitária e
regulação econômica. Ao integrar práticas religiosas, compromissos de palavra e
redes de crédito informal, o texto contribui para uma historiografia que
reconhece a atuação dos libertos como agentes históricos fundamentais na
construção das sociabilidades no interior mineiro do século XVIII.
A leitura do
artigo ganha ainda mais relevância ao se considerar que a atual cidade de
Itaúna (MG) teve suas origens no antigo arraial de Santana do Rio São João
Acima, que esteve juridicamente subordinado à vila de Pitangui durante o
período colonial. Esse arraial, situado às margens do rio São João, funcionava
como ponto estratégico de paragem e passagem de tropeiros, comerciantes e
viajantes que, partindo da Corte (Rio de Janeiro), cruzavam o interior das
Minas em direção à Picada de Goiás, uma das principais rotas coloniais rumo ao
centro-oeste.
Esse papel
geográfico e logístico inseria o arraial de Santana nas dinâmicas econômicas,
religiosas e culturais de Pitangui, influenciando a formação das primeiras
irmandades, práticas devocionais e relações creditícias locais. Entender,
portanto, a “Pitangui” — com suas estruturas jurídicas, valores
comunitários e redes espirituais — é fundamental para compreender as origens
históricas de Itaúna e os traços de resistência e ancestralidade que ainda
marcam sua cultura popular.
Disponível em: Revista UEG
Imagem: Revista História da UEG