Cássio estudou em escolas públicas de Itaúna e posteriormente no Colégio Loyola, em Belo Horizonte, recebendo uma formação jesuíta que influenciou profundamente seus valores éticos. Formou-se em Direito na Universidade Católica de Minas Gerais, onde também lecionou por muitos anos.
Atuou como advogado sindical, defendendo trabalhadores durante o regime
militar. Foi um dos protagonistas da histórica greve dos metalúrgicos de
Contagem em 1968 e participou ativamente da resistência contra o autoritarismo.
Eleito deputado estadual e federal, destacou-se por seu compromisso com os direitos trabalhistas e pela participação na campanha das Diretas Já, um marco na redemocratização do Brasil. Sua atuação sempre priorizou pautas sociais, reforçando sua luta por uma sociedade mais justa. Após anos de dedicação à advocacia e à política, ingressou na magistratura como Juiz do Trabalho, ampliando seu impacto no sistema de justiça brasileiro.
Cássio Gonçalves foi uma figura que levou os valores de sua cidade natal para os mais altos níveis de representatividade nacional. Com ética e determinação, ele deixou um legado de transformação social e inspiração para novas gerações. Sua história demonstra como a força de vontade e o compromisso com a justiça podem impactar comunidades locais e nacionais.
Convidamos você a conhecer e se
aprofundar na história desse grande itaunense, um exemplo de dedicação à
justiça e à coletividade. Essa é uma oportunidade única de explorar a vida de um cidadão que
marcou a história de Itaúna, Minas Gerais e do Brasil!
PROFESSOR CÁSSIO
GONÇALVES
Cássio
Gonçalves nasceu em 20 de agosto de 1937, na cidade de Itaúna, Minas Gerais, em
uma casa pertencente à Companhia de Tecidos Santanense, onde seu pai era
gerente. Ele foi o quarto filho de Augusto Gonçalves de Souza e Petrina
Guimarães Gonçalves. Aos quatro meses de idade, perdeu a mãe, vítima de tifo, e
foi criado por uma tia, a quem chamava de "mãe". Essa figura materna
desempenhou um papel crucial em sua criação, proporcionando estabilidade
emocional e influenciando significativamente seu desenvolvimento. A ligação de
sua família com a Companhia de Tecidos Santanense, fundada por membros da
família, reflete o contexto social e econômico no qual Cássio
cresceu, marcado pela presença de uma classe industrial emergente em Itaúna.
Esse ambiente contribuiu para moldar sua percepção sobre organização social,
trabalho e progresso.
Cássio
iniciou sua educação em escolas públicas de Itaúna, onde experimentou o valor
da educação enquanto ferramenta de mobilidade social e transformação. Ainda
jovem, seu pai mudou-se para Belo Horizonte na década de 1930, mas ele
permaneceu em Itaúna sob os cuidados da tia, até que, em 1948, ela decidiu
levar Cássio para a capital mineira para que ele tivesse acesso às mesmas
oportunidades educacionais que seus irmãos. Em Belo Horizonte, ele ingressou no
Colégio Loyola, onde recebeu uma formação jesuíta que moldaria sua visão de
mundo e seus valores éticos. Essa formação destacou a importância de combinar a
educação intelectual com um compromisso ético, algo que influenciaria sua vida
pessoal e pública.
No Loyola,
Cássio concluiu o curso ginasial e científico. Apesar de considerar-se um aluno
medíocre, ele demonstrava um crescente interesse pelas questões sociais e pelos
debates éticos. Por orientação prática, decidiu cursar Direito na Universidade
Católica de Minas Gerais, onde sua formação foi aprofundada por aulas de
Filosofia ministradas pelo Padre Orlando Vilela e de Cultura Religiosa pelo
Padre Viegas. Esses professores o introduziram a discussões sobre ética,
justiça e o papel do cristão na sociedade. Foi também na universidade que
Cássio deu os primeiros passos em sua militância política, ingressando no
movimento estudantil. Convidado por colegas da Juventude Universitária Católica
(JUQUE), ele se tornou vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes
(DCE) e, posteriormente, assumiu a presidência. Essa experiência consolidou
suas habilidades de liderança e o aproximou de debates sociais mais amplos.
A infância e
formação de Cássio Gonçalves foram marcadas pela combinação de desafios
pessoais, como a perda precoce da mãe, e oportunidades proporcionadas por sua
família e pela educação. Sua trajetória em Itaúna e Belo Horizonte moldou
valores como resiliência, coletividade e um profundo compromisso com a justiça
social, que o acompanhariam ao longo de sua vida. Esses primeiros anos foram
fundamentais para construir a base ética e intelectual que guiaria sua atuação
como advogado, educador e político.
Durante o período universitário,
Cássio Gonçalves consolidou sua formação política e social, marcando o início
de sua militância ativa. Estudando Direito na Universidade Católica de Minas
Gerais, ele foi profundamente influenciado pelas aulas de Filosofia e Cultura
Religiosa, que abordavam temas como justiça, ética e o papel social do cristão.
Essas reflexões, somadas à formação jesuíta que recebeu no Colégio Loyola,
reforçaram sua visão de que a fé e a ação social estavam interligadas. Cássio
encontrou no movimento estudantil uma plataforma para articular essas ideias,
ingressando na Juventude Universitária Católica (JUQUE), que era parte de um
movimento maior vinculado à Ação Católica.
Convidado por colegas da
universidade, Cássio tornou-se vice-presidente do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) e, posteriormente, assumiu a presidência. Essa posição o
colocou em contato com temas centrais do debate político e social da época,
como a campanha “O Petróleo é Nosso” e a luta por uma educação acessível e de
qualidade. Foi também nesse período que ele estreitou laços com outras
lideranças estudantis e religiosas, como Betinho (Herbert José de Souza) e
Vinícius Caldeira Brant, figuras influentes no cenário nacional. Sua atuação
estudantil o preparou para os desafios políticos que enfrentaria nos anos
seguintes.
Os anos 1960 foram marcados por
intensa radicalização ideológica, tanto no Brasil quanto no mundo, o que
refletiu diretamente na trajetória de Cássio. O Concílio Vaticano II
(1962-1965) foi um divisor de águas para a juventude católica, trazendo uma
nova abordagem sobre o papel da Igreja na luta por justiça social. Esse
contexto influenciou diretamente Cássio, que se aproximou dos dominicanos,
grupo que defendia um compromisso cristão mais engajado com as questões
sociais. Contudo, a Ação Católica, enquanto instituição religiosa, restringia a
participação em atividades políticas formais, levando Cássio e outros
militantes a migrarem para a Ação Popular (AP), criada em 1961. A AP buscava
integrar os valores cristãos a uma agenda política mais ampla, voltada para a
justiça social e os direitos dos trabalhadores.
Nesse ambiente de intensa
polarização, Cássio enfrentou desafios ideológicos significativos, incluindo
disputas com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que dominava parte dos
sindicatos e movimentos sociais. Enquanto os comunistas baseavam suas ações em
uma visão marxista, Cássio e seus colegas da AP defendiam o cristianismo social
como uma alternativa viável para combater as desigualdades. Apesar das
diferenças, havia momentos de colaboração estratégica, especialmente nas
eleições sindicais, onde alianças temporárias eram necessárias.
A militância estudantil e
política de Cássio não foi apenas um campo de aprendizado prático, mas também
um espaço para desenvolver sua habilidade em liderar e negociar. Ele
desempenhou um papel crucial na articulação de jovens católicos e movimentos
sociais em prol de mudanças estruturais na sociedade brasileira. Essa fase de
sua vida, marcada pela transição da juventude católica para a política
institucional, solidificou seus valores éticos e comprometeu-o definitivamente
com a luta por justiça social, sendo um prelúdio para sua atuação sindical e
parlamentar nos anos seguintes.
A atuação sindical de Cássio
Gonçalves foi um marco em sua trajetória, destacando seu compromisso com os
direitos dos trabalhadores em um dos períodos mais difíceis da história
brasileira: o regime militar. Em 1963, ele iniciou sua atuação como advogado do
Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, além de representar sindicatos de
trabalhadores mecânicos e de material elétrico. Seu trabalho o colocou na linha
de frente da defesa de categorias importantes, especialmente durante a
repressão que se intensificou após o golpe militar de 1964.
Com o advento do golpe, os
sindicatos enfrentaram intervenções do regime, que buscava neutralizar qualquer
forma de oposição organizada. Em 1964, Cássio perdeu temporariamente sua
posição no sindicato devido a uma dessas intervenções, mas em 1967 retomou sua
atuação como advogado sindical. Nesse período, ele também começou a articular
estratégias de resistência ao autoritarismo, conectando-se com trabalhadores e
movimentos sociais que buscavam manter vivas as reivindicações por melhores
condições de trabalho e justiça social. Seu papel foi ampliado pela conexão com
a Ação Popular (AP), movimento que já havia se destacado em disputas sindicais,
derrotando o Partido Comunista em algumas eleições.
Um dos episódios mais marcantes
de sua atuação sindical foi sua participação na greve dos metalúrgicos da
Belgo-Mineira em 1968. A greve, que começou na trefilaria da Belgo-Mineira, em
Contagem, surpreendeu tanto os líderes sindicais quanto o governo, marcando a
primeira grande paralisação por reivindicações salariais desde o golpe. Os
trabalhadores tomaram o controle da fábrica e detiveram diretores da empresa,
uma ação ousada que aumentou a tensão e atraiu a atenção das autoridades. Como
advogado do sindicato, Cássio foi chamado a intervir, desempenhando um papel
crucial na mediação do conflito. Ele conseguiu negociar a liberação dos
diretores, o que evitou uma escalada ainda maior e manteve o foco da greve nas
reivindicações salariais.
A greve da Belgo-Mineira
rapidamente se espalhou para outras indústrias, incluindo a Mannesmann, e
chamou a atenção do governo federal. O ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho,
entrou em contato diretamente com os líderes sindicais, incluindo Cássio, para
tentar encontrar uma solução. As negociações resultaram na concessão de um
abono salarial emergencial de 10% para todos os trabalhadores brasileiros, uma
vitória significativa que demonstrou a eficácia da organização sindical em um
contexto de repressão.
Cássio também enfrentou os
desafios ideológicos dentro do movimento sindical. A coexistência de diferentes
correntes, como comunistas e cristãos, exigia habilidade para navegar pelas
divergências e construir alianças estratégicas. Sua liderança contribuiu para
consolidar os sindicatos como espaços de resistência e organização, mesmo sob a
constante vigilância do regime militar. Além das greves e das negociações,
Cássio sofreu diretamente as consequências da repressão política. Essa
experiência reforçou seu compromisso com os trabalhadores e fortaleceu sua
visão sobre a importância da resistência em tempos de adversidade.
A atuação sindical de Cássio
Gonçalves deixou um legado duradouro para os trabalhadores e para a história do
Brasil. Ele foi não apenas um advogado, mas um estrategista e articulador,
capaz de transformar lutas locais em movimentos com impacto nacional. Sua
dedicação aos sindicatos e sua capacidade de mediar conflitos, mesmo em um
cenário de repressão, o posicionaram como uma liderança ética e eficaz,
comprometida com a construção de uma sociedade mais justa. A experiência
acumulada durante esses anos seria fundamental em sua futura atuação
parlamentar, onde continuaria a defender os direitos trabalhistas e a justiça
social.
O golpe militar de 1964 foi um
divisor de águas na vida de Cássio Gonçalves, transformando sua atuação
política e pessoal em uma jornada de resistência e resiliência. Até então, ele
acreditava na força dos movimentos sociais e na capacidade de mobilização dos
estudantes, trabalhadores e organizações como a Ação Popular (AP), da qual
fazia parte. Contudo, a brutalidade do regime autoritário e a repressão que se
seguiu surpreenderam Cássio e seus colegas, revelando a fragilidade das
estruturas de oposição frente ao golpe.
O golpe trouxe consigo uma série
de intervenções em sindicatos e organizações sociais, que foram desarticulados
pelo regime militar. Em maio de 1964, Cássio foi preso em Belo Horizonte, sendo
levado ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e posteriormente
transferido para a penitenciária Estevão Pinto. Sua prisão foi marcada pela
violência e pela arbitrariedade, refletindo a ausência de qualquer respeito às
garantias legais. Cássio descreveu o momento como um dos mais difíceis de sua
vida, não apenas pelo trauma pessoal, mas também pela incerteza sobre o futuro
de sua família e de sua luta política.
Apesar disso, sua esposa,
Beatriz, desempenhou um papel fundamental na busca por sua libertação,
utilizando contatos familiares e políticos. A intervenção de um general e,
ironicamente, do então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, foram
decisivas para sua soltura. Mesmo assim, o período de prisão deixou marcas
profundas em Cássio, reforçando sua determinação de continuar resistindo ao
autoritarismo.
Enquanto enfrentava a repressão
direta, a Ação Popular também sofria com o confisco de documentos e a
vigilância crescente. O escritório de advocacia de Cássio, que servia como base
para as atividades da AP, foi invadido pelas autoridades, e todo o material
relacionado à organização foi apreendido. Essa ação não apenas prejudicou a
estrutura do movimento, mas também expôs seus membros, aumentando os riscos de
novas prisões e perseguições.
Apesar das adversidades, Cássio
não abandonou a luta. Ele participou ativamente da proteção de colegas
perseguidos, como no caso do deputado Dazinho, que escapou da Assembleia
Legislativa após ser cercada pela polícia militar. Dazinho encontrou refúgio temporário
na casa de Cássio e de outros membros da rede de solidariedade, antes de ser
preso novamente. Esse episódio exemplifica a união e o comprometimento das
lideranças opositoras, mesmo diante do risco constante.
Além das ações diretas de
resistência, Cássio permaneceu ativo no campo sindical, utilizando sua
experiência jurídica para defender trabalhadores e articular mobilizações em um
ambiente cada vez mais hostil. Ele compreendeu que, em tempos de repressão, os
sindicatos e os movimentos sociais precisavam se reorganizar para garantir que
a voz das classes trabalhadoras não fosse silenciada.
O período que se seguiu ao golpe
de 1964 foi marcado pela intensificação da repressão, especialmente após o Ato
Institucional nº 5 (AI-5) em 1968, que consolidou o autoritarismo no Brasil.
Mesmo assim, Cássio continuou sua luta por justiça social e democracia,
mantendo-se como uma liderança ética em tempos sombrios. Ele sabia que, para
resistir, era necessário coragem, articulação e um compromisso inabalável com
os valores democráticos.
A experiência de Cássio durante o
golpe de 1964 e a perseguição política que se seguiu deixou um legado de
resistência e esperança. Seu trabalho incansável em defesa dos trabalhadores e
sua postura de enfrentamento ao autoritarismo demonstraram que, mesmo nos
momentos mais difíceis, a luta pela justiça e pela liberdade não pode ser
abandonada. Esse capítulo de sua vida foi uma prova de sua resiliência e um
prelúdio para sua atuação política na redemocratização do Brasil.
A entrada de Cássio Gonçalves na
política institucional, iniciada com sua eleição como deputado estadual em 1978
pelo MDB, representou a continuidade de sua longa trajetória de luta em defesa
da democracia e da justiça social. Como deputado estadual durante a 9ª
Legislatura (1979-1983), ele destacou-se por sua atuação combativa em uma
Assembleia Legislativa amplamente dominada pela Arena, o partido de sustentação
do regime militar. Esse período foi marcado pela transição lenta e controlada
para a democracia, e Cássio tornou-se uma das vozes progressistas que
desafiavam as estruturas conservadoras da política mineira.
Na Assembleia, ele priorizou
pautas voltadas para a educação, saúde e direitos trabalhistas, alinhadas ao
compromisso histórico do MDB com a ampliação dos direitos sociais. Cássio
enfrentava um ambiente político hostil, onde o governo do estado, liderado por
Francelino Pereira, buscava limitar a atuação da oposição. Ainda assim, ele
conseguiu consolidar sua reputação como um parlamentar que articulava demandas
populares e resistia às tentativas de silenciamento.
Em 1982, Cássio foi eleito
deputado federal pelo PMDB, assumindo o mandato no início de 1983, período em
que o Brasil vivia intensas mobilizações populares em busca da
redemocratização. Como parlamentar, ele participou ativamente da campanha das
Diretas Já, uma das maiores mobilizações cívicas da história brasileira, que
clamava pelo retorno das eleições diretas para presidente. Estar presente em
comícios como o de Belo Horizonte, em fevereiro de 1984, e o histórico ato na
Candelária, no Rio de Janeiro, marcou profundamente sua visão política. Os
comícios reuniam milhões de brasileiros em um momento único de esperança, mas a
derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional foi uma das maiores
frustrações de sua carreira política. Para Cássio, aquele resultado revelou as
barreiras que ainda precisavam ser superadas para que o Brasil alcançasse a
plena democracia.
Durante seu mandato na Câmara dos
Deputados, Cássio foi membro da Comissão de Trabalho e Legislação Social, onde
reforçou sua experiência prévia como advogado sindical. Ele trabalhou em
propostas que buscavam a melhoria das condições de trabalho, a garantia de
direitos trabalhistas e o fortalecimento das políticas sociais. Algumas dessas
iniciativas foram transformadas em normas jurídicas, consolidando sua
contribuição legislativa para a justiça social. Seu trabalho na comissão
refletia o compromisso com as classes trabalhadoras que ele representava desde
sua atuação sindical.
Contudo, o ambiente político do
período pós-ditadura também trouxe novos desafios. O PMDB, que havia sido o
principal partido de oposição ao regime militar, crescia rapidamente,
incorporando diversas correntes ideológicas. Essa expansão, embora necessária
para a transição democrática, criou um partido heterogêneo, muitas vezes com
conflitos internos. Para Cássio, o apoio do PMDB à extensão do mandato de José
Sarney foi um ponto de ruptura. Ele considerava que a decisão representava uma
traição aos princípios democráticos pelos quais o partido havia lutado.
A insatisfação de Cássio com os
rumos do PMDB culminou em sua participação na fundação do PSDB em 1988. Para
ele, o PSDB representava uma oportunidade de renovação política e de
fortalecimento de valores alinhados à social-democracia, como a ética na política
e o compromisso com a justiça social. Ele se uniu a lideranças como Fernando
Henrique Cardoso e Mário Covas, ajudando a consolidar o partido em Minas
Gerais. Cássio acreditava que o PSDB poderia ser uma alternativa progressista
ao pragmatismo que começava a dominar o cenário político brasileiro.
Ao longo de sua carreira
parlamentar, Cássio Gonçalves demonstrou uma capacidade única de conectar sua
experiência sindical e jurídica com sua atuação legislativa. Ele via a política
como um instrumento para transformar a sociedade, e não como uma carreira ou um
fim em si mesma. Sua dedicação às Diretas Já, sua atuação na Comissão de
Trabalho e seu papel na reorganização partidária foram reflexos de sua visão
ética e comprometida com as necessidades da população.
Cássio encerrou sua carreira
parlamentar com a convicção de ter contribuído significativamente para o
processo de redemocratização do Brasil. Ele testemunhou de perto os desafios e
as conquistas de uma sociedade em transição e trabalhou incansavelmente para
garantir que os valores democráticos prevalecessem. Para ele, a política era
uma extensão de sua luta por justiça social, e sua atuação como parlamentar
consolidou seu lugar na história como uma liderança ética e comprometida com o
bem comum.
Cássio Gonçalves foi um líder
político e social cuja trajetória reflete o legado de um cidadão que manteve
suas raízes em Itaúna enquanto contribuía de maneira significativa para Minas
Gerais e para o Brasil. Advogado, professor e defensor dos direitos sociais,
ele encarnou o papel de um itaunense comprometido com a justiça e a democracia,
levando os valores de sua cidade natal para os mais altos níveis de
representatividade política.
Com uma carreira diversificada,
Cássio atuou como advogado de sindicatos durante períodos críticos da história
brasileira, como o golpe de 1964, defendendo trabalhadores e enfrentando as
adversidades da repressão política. Além disso, dedicou-se ao magistério,
lecionando na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Minas Gerais,
onde inspirou gerações de profissionais do direito com sua experiência prática
e seu profundo compromisso com a ética e a justiça. Formado em Ciências
Jurídicas e Sociais pela mesma instituição em 1960, ele uniu sua base acadêmica
ao seu desejo de transformação social, fazendo da educação uma ferramenta
poderosa de conscientização e mudança.
Na política, sua trajetória
incluiu mandatos como deputado estadual (1979-1983) e deputado federal
(1983-1987), cargos nos quais teve papel de destaque. Como deputado estadual,
eleito pelo MDB, Cássio integrou a 9ª Legislatura da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais, participando de debates fundamentais com foco em justiça social e
direitos trabalhistas. Sua atuação o levou à Câmara dos Deputados, onde, pelo
PMDB, assumiu o mandato em 1983. Durante esse período, destacou-se como membro
da Comissão de Trabalho e Legislação Social, trabalhando pela formulação de
leis que beneficiaram trabalhadores e classes menos favorecidas. Ele apresentou
diversas proposições legislativas e relatórios, alguns dos quais foram
transformados em normas jurídicas, contribuindo para o fortalecimento da
legislação social brasileira.
Cássio Gonçalves, após uma longa
e diversificada carreira que incluiu a advocacia sindical, a atuação
parlamentar e a militância política, tomou uma decisão significativa: ingressar
na magistratura. A motivação veio durante a posse de um filho de Antônio Lins
como Juiz do Trabalho, evento que o inspirou a se dedicar ao concurso público
para a Justiça do Trabalho. Sua posse como Juiz ocorreu em julho de 1992,
marcando uma nova etapa em sua vida profissional.
A transição de Cássio para o
cargo de Juiz foi bem recebida, especialmente considerando sua trajetória
anterior. Ele deixou de lado o papel de político e optou por conquistar,
através do mérito, um espaço na magistratura. Essa mudança reforçou sua imagem
como um profissional ético e comprometido com os valores da justiça.
Durante sua atuação como Juiz do
Trabalho, Cássio se dedicou a aplicar a lei com imparcialidade, sempre guiado
por sua vasta experiência no campo jurídico e por sua visão de justiça social.
Sua passagem pela magistratura foi marcada por decisões embasadas e pelo
compromisso com a celeridade e a eficácia nos processos, mesmo em um sistema
frequentemente criticado pela lentidão.
Após sua aposentadoria, Cássio
aceitou um novo desafio ao assumir o cargo de coordenador dos juízes
aposentados da Associação Brasileira dos Magistrados (AMB). Ele encarava essa
posição como uma oportunidade de contribuir para uma campanha nacional em prol
da reforma do Judiciário. Seu objetivo era promover mudanças estruturais que
permitissem decisões mais rápidas e eficientes, beneficiando tanto os
operadores do direito quanto a sociedade em geral.
Infelizmente, apesar de sua
intenção e empenho, Cássio não encontrou espaço para implementar suas ideias
dentro da AMB. Essa frustração, contudo, não apagou sua determinação e o legado
de uma carreira marcada pela luta por justiça e transformação social. Sua
experiência na magistratura, somada à sua atuação como advogado e político,
consolidou sua trajetória como uma liderança que buscou, em todas as esferas de
atuação, contribuir para um sistema mais justo e equitativo.
Embora tenha alcançado
reconhecimento em níveis estadual e nacional, Cássio nunca perdeu de vista suas
raízes itaunenses. Sua infância em Itaúna, marcada pelo contato com a indústria
local e pela convivência comunitária, moldou seus valores de coletividade e
justiça social. O ambiente socioeconômico da cidade foi uma base importante
para sua visão política, que ele aplicou tanto em sua atuação parlamentar
quanto em seu trabalho como advogado e educador. Cássio levou o nome de Itaúna
a cenários amplos, exemplificando como lideranças locais podem impactar em
nível nacional.
No âmbito legislativo, sua
contribuição foi marcante. Ele apresentou iniciativas voltadas para o
fortalecimento dos direitos sociais e a melhoria das condições de trabalho e
vida da população. Como relator de projetos, influenciou debates importantes,
garantindo que os interesses das classes mais vulneráveis fossem representados.
Cássio Gonçalves personifica o
espírito de Itaúna por sua determinação, ética e compromisso com a
coletividade. Sua trajetória como advogado, professor e político exemplifica
como lideranças locais podem desempenhar papéis transformadores na construção de
uma sociedade mais justa e democrática. Seu legado, enraizado em sua cidade
natal, continua a inspirar aqueles que buscam promover mudanças em suas
comunidades e no país, mostrando que o compromisso com os valores humanos pode
transcender fronteiras e gerações.
Referências:
Pesquisa, arte e
texto: Charles Aquino
ALMG - Assembleia
Legislativa de Minas Gerais. Entrevista de Cássio Gonçalves: Memória
e Poder Política. Cássio Gonçalves, 2010. Disponível em: <https://www.almg.gov.br/comunicacao/tv-assembleia/videos/video?id=1319613&tagLocalizacao=87>
. Acesso em: 02/10/2024.
Acervo/Imagem: Câmara
do Deputados. Cássio Gonçalves – Biografia. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/deputados/131875/biografia>
. Acesso em: 01/11/2024.