segunda-feira, dezembro 16, 2024

PROFESSOR CÁSSIO GONÇALVES

Conheça a História Inspiradora de Cássio Gonçalves: Um Ícone de Itaúna e do Brasil.
 Sua trajetória é marcada por desafios vencidos com coragem, lutas sociais e dedicação à justiça e à democracia. 
   Sua infância foi moldada por desafios pessoais, como a perda precoce da mãe, e por oportunidades educacionais proporcionadas pela família e pela comunidade. 
   Essa base sólida de valores o guiou ao longo de sua vida como advogado, professor, sindicalista, parlamentar e magistrado.

 Cássio estudou em escolas públicas de Itaúna e posteriormente no Colégio Loyola, em Belo Horizonte, recebendo uma formação jesuíta que influenciou profundamente seus valores éticos. Formou-se em Direito na Universidade Católica de Minas Gerais, onde também lecionou por muitos anos.

  Atuou como advogado sindical, defendendo trabalhadores durante o regime militar. Foi um dos protagonistas da histórica greve dos metalúrgicos de Contagem em 1968 e participou ativamente da resistência contra o autoritarismo.

 Eleito deputado estadual e federal, destacou-se por seu compromisso com os direitos trabalhistas e pela participação na campanha das Diretas Já, um marco na redemocratização do Brasil. Sua atuação sempre priorizou pautas sociais, reforçando sua luta por uma sociedade mais justa. Após anos de dedicação à advocacia e à política, ingressou na magistratura como Juiz do Trabalho, ampliando seu impacto no sistema de justiça brasileiro. 

  Cássio Gonçalves foi uma figura que levou os valores de sua cidade natal para os mais altos níveis de representatividade nacional. Com ética e determinação, ele deixou um legado de transformação social e inspiração para novas gerações. Sua história demonstra como a força de vontade e o compromisso com a justiça podem impactar comunidades locais e nacionais.

Convidamos você a conhecer e se aprofundar na história desse grande itaunense, um exemplo de dedicação à justiça e à coletividade. Essa é uma oportunidade única de explorar a vida de um cidadão que marcou a história de Itaúna, Minas Gerais e do Brasil!

 

PROFESSOR CÁSSIO GONÇALVES

Cássio Gonçalves nasceu em 20 de agosto de 1937, na cidade de Itaúna, Minas Gerais, em uma casa pertencente à Companhia de Tecidos Santanense, onde seu pai era gerente. Ele foi o quarto filho de Augusto Gonçalves de Souza e Petrina Guimarães Gonçalves. Aos quatro meses de idade, perdeu a mãe, vítima de tifo, e foi criado por uma tia, a quem chamava de "mãe". Essa figura materna desempenhou um papel crucial em sua criação, proporcionando estabilidade emocional e influenciando significativamente seu desenvolvimento. A ligação de sua família com a Companhia de Tecidos Santanense, fundada por membros da família, reflete o contexto social e econômico no qual Cássio cresceu, marcado pela presença de uma classe industrial emergente em Itaúna. Esse ambiente contribuiu para moldar sua percepção sobre organização social, trabalho e progresso.

Cássio iniciou sua educação em escolas públicas de Itaúna, onde experimentou o valor da educação enquanto ferramenta de mobilidade social e transformação. Ainda jovem, seu pai mudou-se para Belo Horizonte na década de 1930, mas ele permaneceu em Itaúna sob os cuidados da tia, até que, em 1948, ela decidiu levar Cássio para a capital mineira para que ele tivesse acesso às mesmas oportunidades educacionais que seus irmãos. Em Belo Horizonte, ele ingressou no Colégio Loyola, onde recebeu uma formação jesuíta que moldaria sua visão de mundo e seus valores éticos. Essa formação destacou a importância de combinar a educação intelectual com um compromisso ético, algo que influenciaria sua vida pessoal e pública.

No Loyola, Cássio concluiu o curso ginasial e científico. Apesar de considerar-se um aluno medíocre, ele demonstrava um crescente interesse pelas questões sociais e pelos debates éticos. Por orientação prática, decidiu cursar Direito na Universidade Católica de Minas Gerais, onde sua formação foi aprofundada por aulas de Filosofia ministradas pelo Padre Orlando Vilela e de Cultura Religiosa pelo Padre Viegas. Esses professores o introduziram a discussões sobre ética, justiça e o papel do cristão na sociedade. Foi também na universidade que Cássio deu os primeiros passos em sua militância política, ingressando no movimento estudantil. Convidado por colegas da Juventude Universitária Católica (JUQUE), ele se tornou vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, posteriormente, assumiu a presidência. Essa experiência consolidou suas habilidades de liderança e o aproximou de debates sociais mais amplos.

A infância e formação de Cássio Gonçalves foram marcadas pela combinação de desafios pessoais, como a perda precoce da mãe, e oportunidades proporcionadas por sua família e pela educação. Sua trajetória em Itaúna e Belo Horizonte moldou valores como resiliência, coletividade e um profundo compromisso com a justiça social, que o acompanhariam ao longo de sua vida. Esses primeiros anos foram fundamentais para construir a base ética e intelectual que guiaria sua atuação como advogado, educador e político.

Durante o período universitário, Cássio Gonçalves consolidou sua formação política e social, marcando o início de sua militância ativa. Estudando Direito na Universidade Católica de Minas Gerais, ele foi profundamente influenciado pelas aulas de Filosofia e Cultura Religiosa, que abordavam temas como justiça, ética e o papel social do cristão. Essas reflexões, somadas à formação jesuíta que recebeu no Colégio Loyola, reforçaram sua visão de que a fé e a ação social estavam interligadas. Cássio encontrou no movimento estudantil uma plataforma para articular essas ideias, ingressando na Juventude Universitária Católica (JUQUE), que era parte de um movimento maior vinculado à Ação Católica.

Convidado por colegas da universidade, Cássio tornou-se vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e, posteriormente, assumiu a presidência. Essa posição o colocou em contato com temas centrais do debate político e social da época, como a campanha “O Petróleo é Nosso” e a luta por uma educação acessível e de qualidade. Foi também nesse período que ele estreitou laços com outras lideranças estudantis e religiosas, como Betinho (Herbert José de Souza) e Vinícius Caldeira Brant, figuras influentes no cenário nacional. Sua atuação estudantil o preparou para os desafios políticos que enfrentaria nos anos seguintes.

Os anos 1960 foram marcados por intensa radicalização ideológica, tanto no Brasil quanto no mundo, o que refletiu diretamente na trajetória de Cássio. O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi um divisor de águas para a juventude católica, trazendo uma nova abordagem sobre o papel da Igreja na luta por justiça social. Esse contexto influenciou diretamente Cássio, que se aproximou dos dominicanos, grupo que defendia um compromisso cristão mais engajado com as questões sociais. Contudo, a Ação Católica, enquanto instituição religiosa, restringia a participação em atividades políticas formais, levando Cássio e outros militantes a migrarem para a Ação Popular (AP), criada em 1961. A AP buscava integrar os valores cristãos a uma agenda política mais ampla, voltada para a justiça social e os direitos dos trabalhadores.

Nesse ambiente de intensa polarização, Cássio enfrentou desafios ideológicos significativos, incluindo disputas com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que dominava parte dos sindicatos e movimentos sociais. Enquanto os comunistas baseavam suas ações em uma visão marxista, Cássio e seus colegas da AP defendiam o cristianismo social como uma alternativa viável para combater as desigualdades. Apesar das diferenças, havia momentos de colaboração estratégica, especialmente nas eleições sindicais, onde alianças temporárias eram necessárias.

A militância estudantil e política de Cássio não foi apenas um campo de aprendizado prático, mas também um espaço para desenvolver sua habilidade em liderar e negociar. Ele desempenhou um papel crucial na articulação de jovens católicos e movimentos sociais em prol de mudanças estruturais na sociedade brasileira. Essa fase de sua vida, marcada pela transição da juventude católica para a política institucional, solidificou seus valores éticos e comprometeu-o definitivamente com a luta por justiça social, sendo um prelúdio para sua atuação sindical e parlamentar nos anos seguintes.

A atuação sindical de Cássio Gonçalves foi um marco em sua trajetória, destacando seu compromisso com os direitos dos trabalhadores em um dos períodos mais difíceis da história brasileira: o regime militar. Em 1963, ele iniciou sua atuação como advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de Belo Horizonte, além de representar sindicatos de trabalhadores mecânicos e de material elétrico. Seu trabalho o colocou na linha de frente da defesa de categorias importantes, especialmente durante a repressão que se intensificou após o golpe militar de 1964.

Com o advento do golpe, os sindicatos enfrentaram intervenções do regime, que buscava neutralizar qualquer forma de oposição organizada. Em 1964, Cássio perdeu temporariamente sua posição no sindicato devido a uma dessas intervenções, mas em 1967 retomou sua atuação como advogado sindical. Nesse período, ele também começou a articular estratégias de resistência ao autoritarismo, conectando-se com trabalhadores e movimentos sociais que buscavam manter vivas as reivindicações por melhores condições de trabalho e justiça social. Seu papel foi ampliado pela conexão com a Ação Popular (AP), movimento que já havia se destacado em disputas sindicais, derrotando o Partido Comunista em algumas eleições.

Um dos episódios mais marcantes de sua atuação sindical foi sua participação na greve dos metalúrgicos da Belgo-Mineira em 1968. A greve, que começou na trefilaria da Belgo-Mineira, em Contagem, surpreendeu tanto os líderes sindicais quanto o governo, marcando a primeira grande paralisação por reivindicações salariais desde o golpe. Os trabalhadores tomaram o controle da fábrica e detiveram diretores da empresa, uma ação ousada que aumentou a tensão e atraiu a atenção das autoridades. Como advogado do sindicato, Cássio foi chamado a intervir, desempenhando um papel crucial na mediação do conflito. Ele conseguiu negociar a liberação dos diretores, o que evitou uma escalada ainda maior e manteve o foco da greve nas reivindicações salariais.

A greve da Belgo-Mineira rapidamente se espalhou para outras indústrias, incluindo a Mannesmann, e chamou a atenção do governo federal. O ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, entrou em contato diretamente com os líderes sindicais, incluindo Cássio, para tentar encontrar uma solução. As negociações resultaram na concessão de um abono salarial emergencial de 10% para todos os trabalhadores brasileiros, uma vitória significativa que demonstrou a eficácia da organização sindical em um contexto de repressão.

Cássio também enfrentou os desafios ideológicos dentro do movimento sindical. A coexistência de diferentes correntes, como comunistas e cristãos, exigia habilidade para navegar pelas divergências e construir alianças estratégicas. Sua liderança contribuiu para consolidar os sindicatos como espaços de resistência e organização, mesmo sob a constante vigilância do regime militar. Além das greves e das negociações, Cássio sofreu diretamente as consequências da repressão política. Essa experiência reforçou seu compromisso com os trabalhadores e fortaleceu sua visão sobre a importância da resistência em tempos de adversidade.

A atuação sindical de Cássio Gonçalves deixou um legado duradouro para os trabalhadores e para a história do Brasil. Ele foi não apenas um advogado, mas um estrategista e articulador, capaz de transformar lutas locais em movimentos com impacto nacional. Sua dedicação aos sindicatos e sua capacidade de mediar conflitos, mesmo em um cenário de repressão, o posicionaram como uma liderança ética e eficaz, comprometida com a construção de uma sociedade mais justa. A experiência acumulada durante esses anos seria fundamental em sua futura atuação parlamentar, onde continuaria a defender os direitos trabalhistas e a justiça social.

O golpe militar de 1964 foi um divisor de águas na vida de Cássio Gonçalves, transformando sua atuação política e pessoal em uma jornada de resistência e resiliência. Até então, ele acreditava na força dos movimentos sociais e na capacidade de mobilização dos estudantes, trabalhadores e organizações como a Ação Popular (AP), da qual fazia parte. Contudo, a brutalidade do regime autoritário e a repressão que se seguiu surpreenderam Cássio e seus colegas, revelando a fragilidade das estruturas de oposição frente ao golpe.

O golpe trouxe consigo uma série de intervenções em sindicatos e organizações sociais, que foram desarticulados pelo regime militar. Em maio de 1964, Cássio foi preso em Belo Horizonte, sendo levado ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e posteriormente transferido para a penitenciária Estevão Pinto. Sua prisão foi marcada pela violência e pela arbitrariedade, refletindo a ausência de qualquer respeito às garantias legais. Cássio descreveu o momento como um dos mais difíceis de sua vida, não apenas pelo trauma pessoal, mas também pela incerteza sobre o futuro de sua família e de sua luta política.

Apesar disso, sua esposa, Beatriz, desempenhou um papel fundamental na busca por sua libertação, utilizando contatos familiares e políticos. A intervenção de um general e, ironicamente, do então governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, foram decisivas para sua soltura. Mesmo assim, o período de prisão deixou marcas profundas em Cássio, reforçando sua determinação de continuar resistindo ao autoritarismo.

Enquanto enfrentava a repressão direta, a Ação Popular também sofria com o confisco de documentos e a vigilância crescente. O escritório de advocacia de Cássio, que servia como base para as atividades da AP, foi invadido pelas autoridades, e todo o material relacionado à organização foi apreendido. Essa ação não apenas prejudicou a estrutura do movimento, mas também expôs seus membros, aumentando os riscos de novas prisões e perseguições.

Apesar das adversidades, Cássio não abandonou a luta. Ele participou ativamente da proteção de colegas perseguidos, como no caso do deputado Dazinho, que escapou da Assembleia Legislativa após ser cercada pela polícia militar. Dazinho encontrou refúgio temporário na casa de Cássio e de outros membros da rede de solidariedade, antes de ser preso novamente. Esse episódio exemplifica a união e o comprometimento das lideranças opositoras, mesmo diante do risco constante.

Além das ações diretas de resistência, Cássio permaneceu ativo no campo sindical, utilizando sua experiência jurídica para defender trabalhadores e articular mobilizações em um ambiente cada vez mais hostil. Ele compreendeu que, em tempos de repressão, os sindicatos e os movimentos sociais precisavam se reorganizar para garantir que a voz das classes trabalhadoras não fosse silenciada.

O período que se seguiu ao golpe de 1964 foi marcado pela intensificação da repressão, especialmente após o Ato Institucional nº 5 (AI-5) em 1968, que consolidou o autoritarismo no Brasil. Mesmo assim, Cássio continuou sua luta por justiça social e democracia, mantendo-se como uma liderança ética em tempos sombrios. Ele sabia que, para resistir, era necessário coragem, articulação e um compromisso inabalável com os valores democráticos.

A experiência de Cássio durante o golpe de 1964 e a perseguição política que se seguiu deixou um legado de resistência e esperança. Seu trabalho incansável em defesa dos trabalhadores e sua postura de enfrentamento ao autoritarismo demonstraram que, mesmo nos momentos mais difíceis, a luta pela justiça e pela liberdade não pode ser abandonada. Esse capítulo de sua vida foi uma prova de sua resiliência e um prelúdio para sua atuação política na redemocratização do Brasil.

A entrada de Cássio Gonçalves na política institucional, iniciada com sua eleição como deputado estadual em 1978 pelo MDB, representou a continuidade de sua longa trajetória de luta em defesa da democracia e da justiça social. Como deputado estadual durante a 9ª Legislatura (1979-1983), ele destacou-se por sua atuação combativa em uma Assembleia Legislativa amplamente dominada pela Arena, o partido de sustentação do regime militar. Esse período foi marcado pela transição lenta e controlada para a democracia, e Cássio tornou-se uma das vozes progressistas que desafiavam as estruturas conservadoras da política mineira.

Na Assembleia, ele priorizou pautas voltadas para a educação, saúde e direitos trabalhistas, alinhadas ao compromisso histórico do MDB com a ampliação dos direitos sociais. Cássio enfrentava um ambiente político hostil, onde o governo do estado, liderado por Francelino Pereira, buscava limitar a atuação da oposição. Ainda assim, ele conseguiu consolidar sua reputação como um parlamentar que articulava demandas populares e resistia às tentativas de silenciamento.

Em 1982, Cássio foi eleito deputado federal pelo PMDB, assumindo o mandato no início de 1983, período em que o Brasil vivia intensas mobilizações populares em busca da redemocratização. Como parlamentar, ele participou ativamente da campanha das Diretas Já, uma das maiores mobilizações cívicas da história brasileira, que clamava pelo retorno das eleições diretas para presidente. Estar presente em comícios como o de Belo Horizonte, em fevereiro de 1984, e o histórico ato na Candelária, no Rio de Janeiro, marcou profundamente sua visão política. Os comícios reuniam milhões de brasileiros em um momento único de esperança, mas a derrota da emenda Dante de Oliveira no Congresso Nacional foi uma das maiores frustrações de sua carreira política. Para Cássio, aquele resultado revelou as barreiras que ainda precisavam ser superadas para que o Brasil alcançasse a plena democracia.

Durante seu mandato na Câmara dos Deputados, Cássio foi membro da Comissão de Trabalho e Legislação Social, onde reforçou sua experiência prévia como advogado sindical. Ele trabalhou em propostas que buscavam a melhoria das condições de trabalho, a garantia de direitos trabalhistas e o fortalecimento das políticas sociais. Algumas dessas iniciativas foram transformadas em normas jurídicas, consolidando sua contribuição legislativa para a justiça social. Seu trabalho na comissão refletia o compromisso com as classes trabalhadoras que ele representava desde sua atuação sindical.

Contudo, o ambiente político do período pós-ditadura também trouxe novos desafios. O PMDB, que havia sido o principal partido de oposição ao regime militar, crescia rapidamente, incorporando diversas correntes ideológicas. Essa expansão, embora necessária para a transição democrática, criou um partido heterogêneo, muitas vezes com conflitos internos. Para Cássio, o apoio do PMDB à extensão do mandato de José Sarney foi um ponto de ruptura. Ele considerava que a decisão representava uma traição aos princípios democráticos pelos quais o partido havia lutado.

A insatisfação de Cássio com os rumos do PMDB culminou em sua participação na fundação do PSDB em 1988. Para ele, o PSDB representava uma oportunidade de renovação política e de fortalecimento de valores alinhados à social-democracia, como a ética na política e o compromisso com a justiça social. Ele se uniu a lideranças como Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, ajudando a consolidar o partido em Minas Gerais. Cássio acreditava que o PSDB poderia ser uma alternativa progressista ao pragmatismo que começava a dominar o cenário político brasileiro.

Ao longo de sua carreira parlamentar, Cássio Gonçalves demonstrou uma capacidade única de conectar sua experiência sindical e jurídica com sua atuação legislativa. Ele via a política como um instrumento para transformar a sociedade, e não como uma carreira ou um fim em si mesma. Sua dedicação às Diretas Já, sua atuação na Comissão de Trabalho e seu papel na reorganização partidária foram reflexos de sua visão ética e comprometida com as necessidades da população.

Cássio encerrou sua carreira parlamentar com a convicção de ter contribuído significativamente para o processo de redemocratização do Brasil. Ele testemunhou de perto os desafios e as conquistas de uma sociedade em transição e trabalhou incansavelmente para garantir que os valores democráticos prevalecessem. Para ele, a política era uma extensão de sua luta por justiça social, e sua atuação como parlamentar consolidou seu lugar na história como uma liderança ética e comprometida com o bem comum.

Cássio Gonçalves foi um líder político e social cuja trajetória reflete o legado de um cidadão que manteve suas raízes em Itaúna enquanto contribuía de maneira significativa para Minas Gerais e para o Brasil. Advogado, professor e defensor dos direitos sociais, ele encarnou o papel de um itaunense comprometido com a justiça e a democracia, levando os valores de sua cidade natal para os mais altos níveis de representatividade política.

Com uma carreira diversificada, Cássio atuou como advogado de sindicatos durante períodos críticos da história brasileira, como o golpe de 1964, defendendo trabalhadores e enfrentando as adversidades da repressão política. Além disso, dedicou-se ao magistério, lecionando na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Minas Gerais, onde inspirou gerações de profissionais do direito com sua experiência prática e seu profundo compromisso com a ética e a justiça. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela mesma instituição em 1960, ele uniu sua base acadêmica ao seu desejo de transformação social, fazendo da educação uma ferramenta poderosa de conscientização e mudança.

Na política, sua trajetória incluiu mandatos como deputado estadual (1979-1983) e deputado federal (1983-1987), cargos nos quais teve papel de destaque. Como deputado estadual, eleito pelo MDB, Cássio integrou a 9ª Legislatura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, participando de debates fundamentais com foco em justiça social e direitos trabalhistas. Sua atuação o levou à Câmara dos Deputados, onde, pelo PMDB, assumiu o mandato em 1983. Durante esse período, destacou-se como membro da Comissão de Trabalho e Legislação Social, trabalhando pela formulação de leis que beneficiaram trabalhadores e classes menos favorecidas. Ele apresentou diversas proposições legislativas e relatórios, alguns dos quais foram transformados em normas jurídicas, contribuindo para o fortalecimento da legislação social brasileira.

Cássio Gonçalves, após uma longa e diversificada carreira que incluiu a advocacia sindical, a atuação parlamentar e a militância política, tomou uma decisão significativa: ingressar na magistratura. A motivação veio durante a posse de um filho de Antônio Lins como Juiz do Trabalho, evento que o inspirou a se dedicar ao concurso público para a Justiça do Trabalho. Sua posse como Juiz ocorreu em julho de 1992, marcando uma nova etapa em sua vida profissional.

A transição de Cássio para o cargo de Juiz foi bem recebida, especialmente considerando sua trajetória anterior. Ele deixou de lado o papel de político e optou por conquistar, através do mérito, um espaço na magistratura. Essa mudança reforçou sua imagem como um profissional ético e comprometido com os valores da justiça.

Durante sua atuação como Juiz do Trabalho, Cássio se dedicou a aplicar a lei com imparcialidade, sempre guiado por sua vasta experiência no campo jurídico e por sua visão de justiça social. Sua passagem pela magistratura foi marcada por decisões embasadas e pelo compromisso com a celeridade e a eficácia nos processos, mesmo em um sistema frequentemente criticado pela lentidão.

Após sua aposentadoria, Cássio aceitou um novo desafio ao assumir o cargo de coordenador dos juízes aposentados da Associação Brasileira dos Magistrados (AMB). Ele encarava essa posição como uma oportunidade de contribuir para uma campanha nacional em prol da reforma do Judiciário. Seu objetivo era promover mudanças estruturais que permitissem decisões mais rápidas e eficientes, beneficiando tanto os operadores do direito quanto a sociedade em geral.

Infelizmente, apesar de sua intenção e empenho, Cássio não encontrou espaço para implementar suas ideias dentro da AMB. Essa frustração, contudo, não apagou sua determinação e o legado de uma carreira marcada pela luta por justiça e transformação social. Sua experiência na magistratura, somada à sua atuação como advogado e político, consolidou sua trajetória como uma liderança que buscou, em todas as esferas de atuação, contribuir para um sistema mais justo e equitativo.

Embora tenha alcançado reconhecimento em níveis estadual e nacional, Cássio nunca perdeu de vista suas raízes itaunenses. Sua infância em Itaúna, marcada pelo contato com a indústria local e pela convivência comunitária, moldou seus valores de coletividade e justiça social. O ambiente socioeconômico da cidade foi uma base importante para sua visão política, que ele aplicou tanto em sua atuação parlamentar quanto em seu trabalho como advogado e educador. Cássio levou o nome de Itaúna a cenários amplos, exemplificando como lideranças locais podem impactar em nível nacional.

No âmbito legislativo, sua contribuição foi marcante. Ele apresentou iniciativas voltadas para o fortalecimento dos direitos sociais e a melhoria das condições de trabalho e vida da população. Como relator de projetos, influenciou debates importantes, garantindo que os interesses das classes mais vulneráveis fossem representados.

Cássio Gonçalves personifica o espírito de Itaúna por sua determinação, ética e compromisso com a coletividade. Sua trajetória como advogado, professor e político exemplifica como lideranças locais podem desempenhar papéis transformadores na construção de uma sociedade mais justa e democrática. Seu legado, enraizado em sua cidade natal, continua a inspirar aqueles que buscam promover mudanças em suas comunidades e no país, mostrando que o compromisso com os valores humanos pode transcender fronteiras e gerações.

Entrevista - ALMG: Memória e Poder - 16/09/2010

Referências:

Pesquisa, arte e texto: Charles Aquino

ALMG - Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Entrevista de Cássio Gonçalves: Memória e Poder Política. Cássio Gonçalves, 2010. Disponível em: <https://www.almg.gov.br/comunicacao/tv-assembleia/videos/video?id=1319613&tagLocalizacao=87> . Acesso em: 02/10/2024.

Acervo/Imagem: Câmara do Deputados. Cássio Gonçalves – Biografia. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/deputados/131875/biografia> . Acesso em: 01/11/2024.